Sem embargo de ser um filósofo genial, Friederich Nietzsche (1844-1900) manifestou lacunas importantes sobre a filosofia antiga - ele, que se considerava um agente de ressurreição de um certo helenismo aristocrático, contra-revolucionário!
Além de um ataque néscio, infundado à astrologia, ou melhor, à ideia de que as revoluções planetárias no céu determinam a vida humana e biológica na terra, - ideia que hoje em dia a esmagadora maioria dos filósofos consagrados rejeita por ignorância dos princípios da astronomia- Nietzsche produziu uma obtusa interpretação das teses da escola eleática de Parménides e Zenão. Escreveu:
«Assim que se admite que o conteúdo empiricamente dado das nossas representações, buscando neste mundo sensível, é uma veritas aeterna, chega-se a contradições. Se existe um movimento absoluto, não há mais espaço; se existe o espaço absoluto, não há movimento; se há um ser absoluto, não há multiplicidade; se existe a multiplicidade absoluta, não há mais unidade.» (...)
«No entanto, Parménides e Zenão sustentam a verdade e o valor universal dos conceitos e rejeitam o mundo sensível enquanto o oposto dos conceitos verdadeiros e universalmente válidos, como se fosse uma objectivação do que é ilogicamente, do que é ilógico e contraditório. Em todas as demonstrações que fazem, partem do pressuposto absolutamente indemonstrável, ou mesmo improvável, de possuirmos na faculdade conceptual o decisivo critério àcerca do ser e do não ser, isto é, àcerca da realidade objectiva e do seu contrário (Friederich Nietzsche, A filosofia na idade trágica dos gregos, Edições 70, pág 73; o negrito é posto por mim).
Não se percebem os supostos paradoxos delineados por Nietzsche: por que razão havendo espaço absoluto não pode haver movimento? Porque razão o ser absoluto exclui a multiplicidade, se a característica de ser não é, em si mesma, una nem múltipla ou é ambas as coisas? Falta de claridade nestas pseudo aporias...
Por outro lado, Nietzschze lança a errónea afirmação de que «Parménides e Zenão sustentam o valor universal dos conceitos.». Isto é nuvem de confusão. Ambos os filósofos eleáticos negaram, no plano do ser (einai), os conceitos universais de nascimento e morte, múltiplo, movimento, aumento e diminuição, infinito, devir e outros.
Parménides afirmou: «Sem o Ser, tal como foi enunciado, não poderíamos pensar, não havendo nada fora do Ser, considerando que a Necessidade o ordenou uno e imóvel. Por este motivo, as coisas são simples nomes atribuídos pelos mortais, na sua incredulidade. Nascimento e morte, Ser e Não-Ser, mutabilidade e alteração das cores maravilhosas!» (Parménides, Fragmentos, da Natureza, in Filosofia grega pré-socrática, Pinharanda Gomes, Guimarães Editores, pag 222; a letra negrita é minha).
Zenão escreveu:« Se o ser fosse adicionado a outra coisa, não a tornaria maior, porque nenhuma coisa pode ser maior pela adição de infinito, de onde se segue que o aumento é nulo. Mas, se for subtraído a outra coisa esta não fica menor; tal como a anterior não fica maior. Assim se demonstra que nem o aumento nem a diminuição têm qualquer significado.» (Zenão, Fragmentos, in Filosofia grega pré-socrática, Pinharanda Gomes, Guimarães Editores, pag 232; a letra negrita é minha).
Constata-se, nas citações acima, que os conceitos universais de nascimento e morte, mudança do ser ao não ser e vice-versa, aumento e diminuição são rejeitados por Parménides e Zenão de Eleia na sua aplicação ao Ser.
Nietzsche supõe que Parménides e Zenão pensavam exclusivamente por conceitos. Parece ignorar uma fonte fundamental do pensamento: a intuição noética ou inteligível que fornece a noção do uno primordial, do devir, da luta de contrários e que desempenha, por assim dizer, o papel da «sensação» no plano do espírito racional.
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