O Feng Shui (em chinês: Vento- Água) ou ciência e mística chinesa das correspondências entre os pontos cardeais e os diversos planos da vida de cada pessoa e as divisões de uma casa baseia-se na dualidade Yang (Verão, Luz, Sul, Movimento, Alto) / Yin (Inverno, Escuridão, Norte, Imobilidade, Baixo).
ACHAR O DRAGÃO E O TIGRE EM UM TERRENO
Escreve o estudioso de Feng Shui Ernest J. Eitel :
«Em primeiro lugar, deve ser entendido que há na crosta terrestre duas correntes diferentes, que eu chamarei de magnéticas: uma masculina, outra feminina; uma positiva, outra negativa; uma favorável, a outra desfavorável. Uma é alegoricamente chamada de dragão azul, e a outra, tigre branco. O dragão azul deve sempre ficar à esquerda; e o tigre branco sempre à direita de qualquer lugar considerado de bom agouro. Assim sendo, esse é o primeiro afazer do geomante: procurar um local propício, achar um bom dragão, e seu complemento, o tigre branco, ambos discerníveis por certas elevações do solo.»
«Outra regra é que em terreno profundamente monótono, numa planície perfeitamente nivelada, ou em declives constantes, onde não há sinal de dragão ou tigre, não será possível encontrar nenhum bom sítio. »
«Uma terceira regra é observar a diferença entre terreno masculino e terreno feminino. As fortes elevações são chamadas masculinas, ao passo que o terreno irregular de ondulação suave é feminino. Em terreno onde as características masculinas prevalecem, o lugar favorável é no ponto com características femininas, visíveis ao olho ou indicadas pela bússola, ao passo que num local globalmente classificado como feminino, o melhor lugar para um túmulo ou casa deve ter indicações de predomínio masculino. Mas os prognósticos mais favoráveis pertencem ao ponto onde haja uma transição de masculino para feminino ou de feminino para masculino, e onde as vizinhanças combinam - como indicado pela bússola - características masculinas e femininas na proporção certa, que os livros de Feng Shui afirmam ser 3 / 5 masculino para 2 / 5 feminino. Onde, porém, as indicações femininas excedem as masculinas, há influências malignas, contrapondo-se a quaisquer outras configurações favoráveis»
(Ernest J. Eitel, Feng-Sui, A Ciência do Paisagismo Sagrado na China Antiga, Editora Ground, 5ª edição, São Paulo, pags 36-37; o destaque a negrito é posto por mim).
OS DOIS SOPROS DA NATUREZA, A MÁ INFLUÊNCIA DAS ROCHAS E A BOA INFLUÊNCIA DOS ARBUSTOS
Depois de abordar o misterioso «livro» do céu, feito de planetas e constelações, onde está escrito o destino dos indivíduos e de abordar as proporções numéricas da natureza, Eitel sublinha que há dois sopros da natureza, o benéfico, vindo do dragão, e o maléfico, vindo do tigre branco, que as linhas curvas e sinuosas são boas, em geral, e as linhas rectas são más, em geral:
«Agora chegamos à terceira divisão do sistema de Feng-shui, a doutrina do sopro da natureza. A natureza, como já tive oportunidade de apontar antes, é vista pelo observador chinês como um organismo vivo e que respira, e não nos podemos surpreender, portanto, ao encontrar os chineses discutindo a inalação e a exalação do alento da natureza. De facto, com a distinção destes dois sopros, o de expansão, como o chamam, e o de reversão, explicam quase todo o tipo de fenómeno da natureza. (....)
«Sempre que houver uma colina ou montanha elevando-se abruptamente do solo, e erguendo-se em linhas rectas, ou mostrando um aspecto extremamente anguloso, sem encostas graduais, haverá aí um sopro perigoso. Falando genericamente, todas as linhas rectas aão maus sinais, mas mais especialmente quando uma linha recta aponta directamente para o ponto em que um local foi escolhido.» (...)
«Como as linhas rectas das serras são causadoras de más influências, o mesasos mo se dá com as correntes de água que correm em linha recta. A água, no sistema de Feng- Shui é sempre vista como símbolo da riqueza e da abundância. Sempre que a água correr em linha recta, fará com que as propriedades das pessoas que vivem perto dela se escoem depressa, da mesma maneira que a água. As linhas tortuosas são indicações de sopros benéficos e servirão para reter o sopro vital, onde quer que ele exista.»
«Outra indicação da existência de um sopro maligno são as rochas destacadas, a menos que sejam protegidas por árvores e arbustos. Há muitos casos, dados nos livros de geomancia, de túmulos situados perto de rochas, mas estando estas protegidas por vegetação densa; o túmulo em questão exercendo ao longo de várias gerações a mais benéfica influência, acumulando honrarias, riqueza, longevidade, progénie, e tudo o mais sobre as famílias cujos ancestrais foram enterrados ali. Mas aos poucos, a descrença no Feng-Shui, ou a avidez, ou o ódio de um inimigo malicioso, fez com que as árvores caíssem e os arbustos que protegiam as rochas fossem cortados, causando imediatamente a desgraça e a pobreza a estas famílias; foram privadas de suas honrarias, seus emolumentos, sua riqueza dispersou-se, e seus descendentes foram lançados às agruras da vida para passar fome.»
(Ernest J. Eitel, Feng-Sui, A Ciência do Paisagismo Sagrado na China Antiga, Editora Ground, 5ª edição, São Paulo, pags 55-59; o destaque a negrito é posto por mim).
Esta correlação pode ou não ser considerada superstição mas respeita o princípio das correspondências macrocosmo-microcosmo em que tudo está ligado segundo leis especiais: a boa sorte da família liga-se ao estado dos túmulos dos antepassados, os arbustos ligam-se à boa energia espiritual, as rochas à má energia.
A FORMA DO TERRENO E DA CASA E A POSIÇÃO DE MOBILIÁRIO DESTA
Também a forma do terreno e da casa nele construída podem ter um bom chi ou um mau cha.
«Um terreno que possui o seu lado direito (Tigre) menor que o lado esquerdo (Dragão) é considerado como possuidor de um aspecto desfavorável de Feng ShuiA forma mais favorável de uma casa, em Feng-shui, é a retangular, dentro da qual o chi pode fluir suavemente através da casa toda. Casas que possuem porções vazias como uma casa em forma de H tendem a ter uma influência adversa sobre eventos futuros e sobre alguns de seus ocupantes, dependendo da parte da casa que está "faltando".
(Victor L. Dy, Feng Shui Básico, manual completo da milenar ciência chinesa aplicado à vida moderna, Editora Ground, São Paulo, págs 120).
O fogão é o símbolo da riqueza da família. O seu posicionamento na cozinha influi, segundo o Feng Shui, no destino da família.
«Uma janela atrás do fogão não fornece rectaguarda. Pior se houver um poço em linha com a janela (em áreas rurais). (...) Aqui se aplica o princípio de que cada elemento importante de uma casa deve ter uma rectaguarda.»
«Veremos agora como o adágio "Como em frente, assim atrás" se aplica a um fogão. Actualmente, a taxa de divórcios está subindo e há inúmeros casos de famílias desagregadas. Uma das causas de tais tragédias familiares pode ser traçada pela localização do fogão. A Fig. 135 mostra uma pia colocada em frente ao fogão. O chi da água , proveniente da pia, e o chi do fogo. proveniente do fogão, possuem frequências opostas. As energias conflituantes afectarão o temperamento da mulher, que geralmente cozinha.»
(Victor L. Dy, Feng Shui Básico, manual completo da milenar ciência chinesa aplicado à vida moderna, Editora Ground, São Paulo, págs 196).
Por que razão os autores dos manuais escolares de filosofia não reproduzem textos como estes, sobre o Feng Shui, textos que se revestem de grande interesse como matéria de reflexão? Porque na área da filosofia mundial institucional vivemos sob uma ditadura ideológica - uma estreita democracia que vai do liberalismo de direita de Robert Nozick ao liberalismo de centro-esquerda de John Rawls, tudo muito bem delimitado nos arames da democracia liberal, a mais favorável aos livre-pensadores, diga-se. Porque a ignorância da vastidão filosófica é a marca destas universidades portuguesas, brasileiras, francesas, alemãs, britânicas, norte-americanas, etc, da pós-modernidade, a marca destes catedráticos de fraca qualidade, muitos deles jovens, arrivistas e arrogantes, de 30, 35 e 45 anos de idade que se julgam investidos de um «saber sobrenatural» só porque fizeram um «doutoramento» (equivalente a obter um título de sacerdote na igreja católica) . Porque o Feng Shui, utilizando a lei da analogia e o princípio de que tudo se relaciona com tudo segundo leis específicas, incomoda os medíocres que mandam na nossa sociedade.
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Eis um teste de filosofia do 11º ano de escolaridade em Portugal, evitando as perguntas de escolha múltipla em que o aluno coloca um X na hipótese que supõe estar certa e fica dispensado de explanar as suas ideias num corpo discursivo coerente.
Agrupamento de Escolas nº1 de Beja
Escola Secundária Diogo de Gouveia, Beja
TESTE DE FILOSOFIA, 11º ANO TURMA B
11 de Março de 2015. Professor: Francisco Queiroz
“
.”.A ciência é a nossa religião. O que sucede no seu interior é a Boa Nova (Evangelho). O que sucede extramuros de ela são idiotices pagãs… A força motriz (das ciências actuais, originadas no século XVII) foi o nascimento de novas classes que se tinham visto excluídas do campo do conhecimento e que converteram a dita exclusão em proveito próprio, afirmando que o conhecimento era o que elas possuíam, e não o dos seus adversários. Uma vez mais esta ideia foi aceite por todos, nas artes, na ciência, na religião, até ao ponto de que hoje temos uma religião sem ontologia, uma arte sem conteúdos, e uma ciência sem sentido». (Paul Feyerabend, Diálogo sobre o método).
1) Explique estes pensamentos de Feyerabend, integrando a noção de IDEOLOGIA .
2) Explique, como, segundo a gnosiologia de Kant, se formam o fenómeno GALO, o conceito empírico de GALO.
3)Relacione, justificando:
A) Categorias e antinomias da razão em Kant e conjecturas em Popper.
B) Inteligência do homem primitivo do mito, inteligência do cientista do século XX, métodos da ciência, na perspectiva do anarquismo epistemológico em Paul Feyerabend.
C) Dualismo Yang-Yin, quatro forças fundamentais da natureza, realismo/idealismo não solipsista.
CORRECÇÃO DO TESTE ESCRITO (COTADO PARA 20 VALORES)
1)«A ciência é a nossa religião» significa que a mentalidade científica actual é dogmática como a teologia, acreditando em dogmas que não podem ser postos em causa, como por exemplo, « O Big Bang deu-se há 15 000 milhões de anos e foi o começo do universo», «as vacinas conferem imunidade», «os astros não comandam o comportamento humano». Os cientistas de hoje são os bispos e papas da nova religião da ciência. As ciências actuais nasceram com o emergir da burguesia industrial e financeira actual e por isso estão impregnadas de ideologia - sistema de ideias e valores de uma classe social- neste caso, a burguesia. A ciência e a tecnologia do automóvel como veículo de transporte individual ou familiar insere-se na ideologia individualista da burguesia: «Enriquece, compra um carro próprio, viaja livremente».
Que significa dizer que hoje temos uma religião sem ontologia? Significa que temos um conjunto de ritos cujo simbolismo profundo já perdemos, em cuja filosofia original já não penetramos. Por exemplo, ignoramos que o facto de a pia de baptismo de antigas igrejas e catedrais ser octogonal é porque o oito significava a oitava esfera que, em alguma gnose, era a esfera de Sofia, a Virgem Maria do cristianismo, a Stela Maris representada na rosa dos ventos ou estrela de oito pontas que orientava os navegantes (as almas) perdidos . Constroem-se hoje igrejas com uma arquitectura moderna ignorando o número de oiro (1,618), número mágico de proporção entre o comprimento e a largura e a altura de um compartimento. Que significa dizer que hoje impera uma arte sem conteúdos? Significa, por exemplo, que uma tela branca salpicada de pontos vermelhos é um quadro sem conteúdo, um significante sem significado. Que significa dizer que há uma ciência sem sentido? Significa, por exemplo, que há uma medicina que não percebe o sentido da febre - acção de autodefesa do organismo, expulsando as toxinas através do suor ou de urinas escuras - e manda reprimir os sintomas, tomando anti piréticos. (VALE QUATRO VALORES).
2) Segundo a gnoseologia de Kant, o fenómeno galo forma-se na sensibilidade, no espaço exterior ao meu corpo físico, do seguinte modo: de '«fora» da sensibilidade, os númenos afectam esta fazendo nascer nela um caos de matéria (exemplo: madeira, ferro, areia, etc, em um magma) que as duas formas a priori da sensibilidade, o espaço (com figuras geométricas) e o tempo (com a duração, a sucessão e a simultaneidade) moldam, fazendo nascer uma ou mais fenómenos de galos. O entendimento, com as categorias de unidade, pluralidade, necessidade, confere consistência ao fenómeno galo. Não existe númeno galo, galo é fenómeno na sua totalidade.
O conceito de galo forma-se no entendimento, faculdade que pensa mas não sente, do seguinte modo: a imaginação, situada entre a sensibilidade e o entendimento, transporta desde aquela a este as imagens de galo e as categorias do entendimento de pluralidade e unidade recebem as diversas imagens e transformam-na numa só imagem abstracta, o conceito empírico de galo. (VALE QUATRO VALORES)
3)A) As categorias ou conceitos puros são estruturas a priori do entendimento como por exemplo: unidade, pluralidade, necessidade-contingência. A razão, segundo Kant,dado que não se apoia em factos empíricos, e se aventura no desconhecido, especulando, gera a antinomia - as afirmações contrárias entre si - «O mundo teve um princípio, o mundo nunca principiou» sem conseguir chegar a uma conclusão. Ora ambas estas coisas se conjugam com a teoria de Popper segundo a qual as teses das ciências empíricas são conjecturas, isto é suposições, sujeitas à falsificabilidade e revisibilidade: a categoria de realidade entrou na formulação da conjectura «O número atómico do enxofre é dezasseis»; estando a conjectura marcada pelo cepticismo, ela condiz, por exemplo, com a antinomia «o mundo é eterno, o mundo não é eterno» (QUATRO VALORES).
3) B) A inteligência do homo sapiens primitivo do mito é holística: ligado à natureza, percebendo o bater do relógio cósmico, o primitivo escuta o silêncio e rejeita uma civilização de tecnologia avançada em que milhares de automóveis atravessam a cada minuto as ruas de uma cidade, os túneis e viadutos, fazendo ruído e poluindo o ar com gases. A medicina natural do primitivo, com a utilização de plantas curativas que purificam o sangue e qualquer orgão do corpo, e reflectida ainda na medicina dos séculos XVII-XIX que usava métodos tradicionais como medir as pulsações, ou utilizar as sanguessugas para chuparem sangue das pessoas e reduzir osa riscos de AVC, opõe-se de certo modo à medicina actual, cheia de análises, biópsias e radiografias que Feyerabend classifica como «estupidez». A inteligência do cientista do século XX é, para Feyerabend, fragmentária, de um racionalismo deficiente porque não apreende a realidade como um todo físico e metafísico. Para Feyerabend, a dança da chuva feita por povos indígenas do México funciona desde que feita invocando os deuses com sinceridade e com o ritualismo apropriado mas para o cientista universitário actual é «mera estupidez», «crença anticientífica».
Feyerabend diz que há múltiplos métodos válidos, incluindo os das ciências tradicionais que deveriam entrar as universidades e ter tanto estatuto como as tecnociências que lá estão instaladas: a cura pelos cristais, a cura pelas pirâmides, a fitoterapia, o feng shui, a acupunctura, a astrologia, etc, são tão ou mais importantes que os raios laser, as cirurgias, as análises laboratoriais. Isto é o anarquismo epistemológico, a ausência de doutrinas-chefes: todas estão ao mesmo nível de poder social, não há um conjunto de ciências «superiores» que excluem as outras rotulando-as de «atrasadas, anticentíficas, perigosas» e absorvem os financiamentos estatais e privados. (VALE QUATRO VALORES).
3-C) O dualismo Yang Yin, segundo o taoísmo, é a luta de contrários que constitui a estrutura da vida e do universo: Yang é luz, calor, movimento, verão, fluxo da onda, dia, expansão, som, masculino; Yin é escuridão, frio, repouso, inverno, refluxo da onda, noite, contração, silêncio, feminino. O electromagnetismo, uma das quatro forças fundamentais da natureza, - as outras são a gravidade, a força fraca e a força fraca - comportando a luz, os raios X e o microondas, é yang porque expande, projecta longe as partículas ao passo que a gravidade é yin, porque atrai, puxa para dentro. A força nuclear forte que agrega protões e neutrões é yin, mantém o núcleo coeso, ao passo que a força nuclear fraca é yang visto que desintegra o núcleo produzindo radioactividade . O realismo é a teoria que sustenta que há um mundo de matéria fora das mentes humanas e pode ser considerado espacialmente yang porque está fora. O idealismo não solipsista é a teoria que sustenta que apenas existem muitas mentes humanas e cada uma delas inventa um mundo material irreal dentro dela e pode ser considerado yin porque a matéria está dentro da mente. (VALE QUATRO VALORES).
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Os temas de alquimia incluídos neste texto conexionam-se com a visita de estudo a Sevilha que o liceu de Beja (ESDG) realiza anualmente. Nenhum manual do 10º ano de filosofia do ensino secundário em Portugal inclui textos sobre alquimia, filosofia hermética, astrologia - temas obrigatórios para quem queira pensar a sério filosofia - o que diz da qualidade bastante medíocre desses manuais. E diz do clima de monolitismo cinzento e da estreiteza de horizontes impostos pelos catedráticos de filosofia analítica e fenomenologia que dominam a universidade e a construção de manuais escolares do 10º e 11º ano. Vive-se um clima de censura na universidade portuguesa e mundial, pretensamente racionalista, comparável à censura da inquisição: é proibido, dentro das universidades, pensar e investigar os astros como causa dos acontecimentos sociais e políticos!
A maioria dos actuais professores universitários são incompetentes, anti filosóficos. A universidade está infiltrada de doutorados que são alunos «marrões» que fizeram «copy paste» de trabalhos dos «mestres», fizeram o «beija-mão», pagaram milhares em propinas e foram cooptados. Os doutoramentos em filosofia enfermam de erros graves, em regra, e superabundam em verniz retórico. É um show-off. Vamos ao nosso teste que, certamente, ensina algo a muitos desses ignorantes donos de cátedras e autores ou co-autores de manuais escolares, agentes da burguesia inculta e endinheirada que domina o Estado e o sistema de ensino.
Agrupamento de Escolas nº1 de Beja
Escola Secundária Diogo de Gouveia, Beja
TESTE DE FILOSOFIA, 10º ANO TURMA B
9 de Fevereiro de 2015. Professor: Francisco Queiroz
"Os alquimistas falavam em dois princípios originais da matéria e da Grande Obra, aos quais se aplicam as noções de Yang e de Yin. O templo cristão na idade média foi construído segundo o princípio das correspondências microcosmo-macrocosmo, que exprime a lei dialética do uno. Alguns dizem que isto é puro subjectivismo, outros são cépticos sobre a gnose e preferem o pragmatismo pois detestam os factos metafísicos.”
1) Explique, concretamente este texto.
2) Relacione, justificando:
A) As quatro fases do processo alquímico e respectivas aves- símbolos, por um lado, e os quatro arkês segundo Pitágoras de Samos, por outro lado.
B) O imperativo categórico em Kant e o princípio moral do utilitarismo de Stuart Mill.
3) Enuncie a lei dialética da contradição principal e aplique-a a três ou quatro esferas (sefirós) da Árvore da Vida da Cabala judaica.
CORRECÇÃO DO TESTE ESCRITO (COTADO PARA 20 VALORES)
1) Os dois princípios de que os alquimistas falavam são o princípio masculino, representado pelo enxofre e pelo salitre, sólidos, designado de «homem vermelho» e o princípio feminino, o mercúrio filosófico, líquido e volátil, designado de «mulher branca». No taoísmo, yang significa princípio masculino, dilatação, calor, verão, vermelho, som e yin significa princípio feminino, contração, inverno, azul ou branco, silêncio. Embora o yang corresponda de modo geral ao enxofre e o yin ao mercúrio, a correspondência não é perfeita porque no taoísmo o sólido é o feminino e na alquimia o sólido é o masculino. (VALE TRÊS VALORES) O templo cristão da idade média obedecia ao princípio hermético das correspondências «o que está em baixo é como o que está em cima, o microcosmo espelha o macrocosmo»: o templo é um microcosmo que espelha o macrocosmo, o corpo gigantesco de Cristo que atravessa o universo. Na planta da catedral, a abside corresponde à cabeça de Cristo, o transepto aos braços abertos, o altar ao coração, as naves ao tronco e pernas. A catedral tinha a abside virada a Leste, onde nasce o Sol, símbolo de Cristo. A lei do uno diz que tudo se relaciona: Cristo com o Sol e com o templo em pedra, por exemplo. Outra expressão deste princípio é a correspondência entre a catedral e a natureza física envolvente: o altar equivale à montanha sagrada, as colunas às árvores, as abóbadas ao céu, as janelas de vitrais às estrelas e planetas, as paredes aos desfiladeiros, a pia baptismal aos lagos e mares (VALE TRÊS VALORES). Alguns dizem que isto é puro subjectivismo, isto é, verdade para uma só consciência - portanto discutível, aparentemente ilusão - outros são cépticos, isto é, duvidam da gnose, doutrina dualista que diz que há dois princípios na origem do universo, o Bem e o Mal, a Luz e as Trevas, o Espírito e a Matéria, e preferem o pragmatismo, ou seja, a doutrina que diz que a verdade está nos factos empíricos reais e na sua utilidade e que põe de parte a metafísica, os ideais utópicos, pois detestam os factos metafísicos, que estão além do mundo empírico quotidiano como «deus», «paraíso e inferno», «reencarnação da alma», etc (VALE TRÊS VALORES).
A) As quatro fases do processo alquímico e respectivas correspondências com a teoria de Pitágoras - esta é uma interpretação entre outras - são:
1ªNIGREDO ou fase negra, da putefração do cadáver. A ave é o corvo. Pode equiparar-se ao ponto que em Pitágoras representava o número um (Do vazio veio um ponto).
2ªALBEDO ou fase branca, da separação das impurezas.A ave é o cisne. Pode equiparar-se, na teoria de Pitágoras, à linha recta que representa o número dois e se forma da separação em dois do ponto, pontos que se vão afastando.
3ªCITREDO ou fase amarela e polícroma. A ave é o pavão. Pode equiparar-se ao plano, número três, segundo Pitágoras, que se formou quando um ponto se destaca da recta e se projecta sobre ela através de infinitas rectas. É esta multiplicidade de cores, onde existe Sol e Lua, que irá originar o lapis da última fase.
4ª RUBEDO ou fase vermelha na qual se produz o lapis ou elixir da longa vida ou pedra filosofal que permite ao homem regressar ao estado adâmico, adquirir um corpo andrógino desmaterializado, que atravessaria as pedras e a matéria densa e viveria no Paraíso Terrestre. A ave é o pelicano ou a fénix. Pode equiparar-se, na teoria de Pitágoras, ao tetraedro ou pirâmide de três lados, porque este sólido é o mais completo dos arkhês.
(VALE QUATRO VALORES)
B) O imperativo categórico é a verdadeira lei moral em Kant, é formado na razão ou eu numénico, que se opõe aos instintos corporais e ao eu fenoménico ou inferior. Enuncia-se assim: «Age de modo a transformares a tua máxima em princípio universal, como se fosse uma lei universal da natureza que não beneficia em particular ninguém, nem sequer a ti mesmo». Este imperativo é formal e autónomo, varia de pessoa a pessoa no seu conteúdo concreto. Para uns, o imperativo é dar sempre esmola aos pedintes, para outros é nunca dar esmola nem aceitar esmolas.
O princípio moral de Stuart Mill é o da maximização social do prazer: é bem promover a felicidade da maioria dos envolvidos numa situação, mesmo à custa da infelicidade da maioria ou do próprio autor da acção.
Teoricamente, é imoral, na doutrina de Kant, expropriar 20 famílias que vivem em casas de um bairro que a câmara municipal da cidade quer destruir para aí fazer uma circular rodoviária exterior para satisfazer 20 000 famílias que vivem nessa cidade porque cada pessoa é um fim em si mesma e deve-se aplicar a todas a mesma lei respeitando a sua dignidade. Mas, segundo a ética de Stuart Mill seria legítimo destruir esse bairro porque a felicidade da maioria (20 000 famílias) se sobrepõe à felicidade da minoria (20 famílias). Ainda que se classifique habitualmente a moral de Kant como «deontológica», centrada no dever («déon»), e a de Mill como «teleológica» («télos» é finalidade. em grego), centrada nos resultados da acção, a verdade é que esta última é igualmente «deontológica» porque para Mill os fins não justificam qualquer meio, há princípios morais a respeitar. (VALE QUATRO VALORES).
C) A lei dialética da contradição principal consiste em reduzir um conjunto de contradições a uma só composta por dois blocos, passando a ser secundárias entre si todas as contradições no interior de cada um dos blocos ou polos. Exemplo: na 2ª Guerra Mundial, a URSS aliou-se à Inglaterra, aos EUA, ao Canadá, Brasil e formaram o bloco dos Aliados, e a Alemanha aliou-se à Itália e Roménia fascistas e ao Japão formando o bloco do Eixo. A árvore da Vida, cabalística é composta por dez esferas ou sefirós que exprimem as qualidades conhecidas de Deus- porque há um Deus inatingível e incognoscível, o Ein Sof, ou Nada Infinito. A forma da árvore é um hexágono tendo por baixo um triângulo de vértice para baixo e no final, abaixo do triângulo, uma esfera isolada. Podemos escolher três esferas, duas do lado direito da árvore - a Sabedoria (Hocmah) e a Misericórdia (Chesed) - e uma do lado esquerdo - a Justiça- Severidade (Gueburah).. Neste caso a Justiça, de um lado, opõe-se à Sabedoria e à Misericórdia, do outro. (VALE TRÊS VALORES)
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Orlando Braga (20 de Fevereiro de 1958, ao início da madrugada), um intelectual monárquico e católico do Porto, um polemista temível, autor de blogs com críticas inteligentes e desassombradas à ideologia da globalização dos Bilderberg e da Trilateral e ao fascismo bonapartista dos mundialistas, à «apostasia do papa Francisco», e a muitos aspectos da vida política e cultural portuguesa, publicou em 6 de Outubro de 2014 o post «Erros do taoísmo» no seu blog espectivas.worldpress.com. Aí escreveu:
«.Depois de estudar as religiões (ou as “filosofias místicas orientais”, como está na moda dizer-se em vez de “religiões”) do Oriente, cheguei à conclusão de que o catolicismo é a forma religiosa mais evoluída. Temos, por exemplo, o Taoísmo que está na moda nos meios culturais de certas “elites”. Os conceitos de Yang e Yin partem do princípio de que “os opostos se complementam”, por um lado, e por outro lado de que “os opostos se anulam no Tao”. » (Orlando Braga)
Crítica minha: os opostos anulam-se no Tao? Não é verdade. O Tao não se divide em opostos enquanto origem, unidade primordial, princípio metafísico: mas, enquanto movimento «sinusoidal» da natureza divide-se em dois contrários, está composto de oscilações permanentes, de Yang (dilatação, calor, subir, fluxo, espírito) e de Yin (contração, frio, descer, refluxo, matéria), verão (Yang)- inverno (Yin), dia (Yang)-noite (Yin), diástole (Yang)- sístole (Yin), fluxo da onda (Yang)-refluxo da onda (Yin). Os opostos não se anulam, antes geram-se mutuamente no Tao, o que coincide com as doutrinas de Heráclito e Hegel do perpétuo devir como luta de contrários.
O TAOÍSMO NEGA A TRANSCENDÊNCIA?
Escreve ainda Orlando:
«Jesus Cristo não negou a existência dos opostos; pelo contrário, chamou-nos à atenção para eles. Mas Ele apelou para a transcendência, para além da imanência: os opostos eram por Ele considerados meios (para algo transcendente) e não fins em si mesmos (como acontece no Taoísmo). » (Orlando Braga)
Crítica minha: é um pouco confuso dizer que o taoísmo considera os opostos como fins em si mesmos e que não apela para a transcendência. O taoísmo não nega a transcendência: convida a contemplá-la como zona de obscuridade que é. E neste campo coincide com os cabalistas judaicos que falam do Ein-Sof (o Nada incognoscível) que é a divindade além do Deus revelado (Iavé, Eloim, etc) e com os místicos alemães que falam de Deus e da deidade como mestre Eckhart. No taoísmo, definido como um quietismo místico individualista («dominar o sopro vital pelo espírito é ser forte», escreveu Lao Tse) a alma sobe em direcção ao Tao, a Mãe do universo.
Lao Tse (601-517 a.C), filósofo do taoísmo escreveu:
«O Tao que se procura alcançar não é o próprio Tao;
o nome que se lhe quer dar não é o seu nome adequado.»
«Sem nome, representa a origem do universo;
com um nome, torna-se a mãe de todos os seres.
Pelo não-ser, atinjamos o seu segredo;
pelo ser, abordemos o seu acesso.
Não-Ser e Ser saindo de um fundo único só se diferenciam pelos seus nomes.
Esse fundo único chama-se Obscuridade.
Obscurecer esta obscuridade, eis a porta de toda a maravilha.» (Lao Tse, Tao Te King, Editorial Estampa, pag 13)
Sem os ritos do confucionismo chinês, religião de Estado, o taoísmo preconiza uma ascese que não é pura imanência mas a contemplação metafísica da natureza e o abandono do estudo livresco e da carreira política, a meditação («Aquele que fala não sabe/ aquele que sabe não fala. Cerra a tua abertura/fecha a tua porta/ cega o teu gume/ desata todos os nós/ funde numa só luz todas as luzes - diz Lao Tse) de tal modo que o santo poderia atingir uma "ilha dos bem aventurados" - do mesmo tipo da ilha de Avalon, onde estaria o Santo Graal, na quarta dimensão, como, possivelmente, Orlando Braga acreditará. Isto não é transcendência?
A LUZ COMO ONDA NÃO SE OPÕE À LUZ COMO FEIXE DE PARTÍCULAS? OS CONTRÁRIOS NÃO SE COMPLEMENTAM?
Escreve ainda Orlando Braga:
«Por outro lado, segundo o Cristianismo original, “aquilo que se opõe não se complementa”: dizer que “duas coisas que se opõem se complementam”, é uma contradição em termos. Só se complementam duas coisas que têm afinidades entre si, embora diferentes entre si. “Complementaridade” significa “diferença”, mas não propriamente “oposição”.
Por exemplo, a complementaridade onda / partícula, na física quântica, não significa que a onda se “oponha” à partícula: significa, em vez disso, que são estados diferentes de existência que encontram, na complementaridade, uma forma de ser. E se a existência se resumisse aos opostos (como defende o Taoísmo e Heraclito), não faria sentido a existência dos neutrões do átomo, que não se opõem a nada. » (Orlando Braga, «Erros do taoísmo», espectivas.worldpress.com; o destaque a negrito é posto por mim).
Orlando Braga não intuiu a lei dialética da unidade de contrários: em cada ente ou fenómenos há uma luta de contrários os quais, apesar de se oporem entre si, formam uma unidade (complementaridade). Aliás, na estrutura da luz, onda opõe-se a partícula: a luz não pode ser onda e partícula sob o mesmo aspecto ao mesmo tempo (princípio da não contradição). O termo opostos em Aristóteles tem uma acepção bastante mais vasta do que a que Orlando Braga lhe dá: contrário, contraditório, relativo e privativo. Aristóteles escreveu:
«E se a contradição, e a privação, e a contrariedade e os termos relativos são modos de oposição e o primeiro de eles é a contradição e se na contradição não há termo intermédio, enquanto que pode havê-lo entre os contrários, é evidente que contradição e contrariedade não são o mesmo.» (Aristóteles, Metafísica, Livro X, 1055 b, 1-5)
O neutrão é um intermédio de protão e electrão e opõe-se a ambos como semi-contrário - noção que já desenvolvi em outros posts deste blog. Há, por conseguinte, intermédios no modo de pensar dialético, o terceiro termo, a síntese existe. Convém esclarecer que um dos princípios do taoísmo é «em todo o Yang, há um pouco de Yin; em todo o Yin há um pouco de Yang» o que, traduzido em exemplos, dá fórmulas inquietantes como : em todo o homem, há um pouco de mulher; em toda a mulher, há um pouco de homem; em toda a bondade, há um pouco de maldade; em toda a maldade, há um pouco de bondade; em toda a democracia, há um pouco de totalitarismo; em todo o totalitarismo, há um pouco de democracia; em toda a monarquia há um pouco de república, em toda a república há um pouco de monarquia.
O NÃO-SER É UMA FORMA DO SER?
Afirma ainda Orlando Braga:
«Finalmente, e ao contrário do que defende o Taoísmo, os opostos não se anulam, porque se isso fosse verdade, teríamos que considerar, por exemplo, o Ser e o Não-ser em pé de igualdade de valor, isto é, teríamos que pensar que seria possível, por exemplo, a existência uma oposição entre o Ser e o Não-ser que redundasse na anulação dos dois. Ora, o Não-ser é uma forma de Ser; e por isso não pode haver uma oposição entre dois conceitos sendo que um deles está contido no outro.
O misticismo, em qualquer religião ou doutrina, só tem valor e é credível se partir de um princípio de respeito pela racionalidade e pela lógica. Foi também esse um dos legados que Jesus Cristo nos deixou através, por exemplo, das suas parábolas. » (Orlando Braga; o destaque a negrito é posto por mim).
Crítica minha: o não ser não é uma forma de ser. Já Parménides disse: «O ser é, o não ser não é...». Ser e não ser excluem-se mutuamente. O não existente não é uma forma de existente, pura e simplesmente está fora do círculo existencial. Quando o taoísmo fala em que o Tao abarca o ser e o não-ser, refere-se a ser e não-ser determinados (ser verão, não-ser verão, etc) e não a ser em abstracto. Porque ser e não ser, em abstracto, sem determinações, excluem-se em absoluto. Quanto à racionalidade e à lógica do evangelho de Cristo, que Orlando Braga enaltece, parece estar ausente em passagens do evangelho como esta:
«Eu vim trazer fogo à Terra, e que quero eu, senão que ele se acenda? Eu, pois, tenho de ser batizado num batismo, e quão grande não é a minha angústia, até que ele se cumpra? Vós cuidais que eu vim trazer paz à Terra? Não, vos digo eu, mas separação; porque de hoje em diante haverá, numa mesma casa, cinco pessoas divididas, três contra duas e duas contra três. Estarão divididas: o pai contra o filho, e o filho contra seu pai; a mãe contra a filha, e a filha contra a mãe; a sogra contra sua nora, e a nora contra sua sogra. (Lucas, XII: 49-53)
O taoísmo é místico em certa vertente, mas muito racional em outra. Se conhecesse o carácter político conservador do taoísmo de Lao Tse, que preconiza uma «ditadura sensata» sobre o povo, dando a este condições económicas dignas, talvez Orlando Braga não minimizasse esta filosofia em que, provavelmente, Salazar se inspirou. E sabe-se que Orlando alinha pela contra-revolução monárquica popular contra os excessos da esquerda e a deriva do centro para a esquerda. Eis o conselho de Lao Tse:
«Rejeita a sabedoria e o conhecimento,
Orlando Braga é prosélito do catolicismo e «de uma penada» liquida ou minimiza, sumariamente, o valor de outras religiões. Compreendo-o: também fui educado no preceito de que «ninguém se salva fora da igreja de Nosso Senhor Jesus Cristo». Mas, racionalmente, há que estudar as outras religiões sem clubismo, tanto quanto possível. Do cristianismo, só podemos dizer que gerou a democracia contemporânea baseada no sufrágio universal e gerou-a sobretudo pela via do protestantismo, que contestou a inquisição e o papado romano.
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Eis um teste de filosofia, o segundo do segundo período lectivo. Evitaram-se as escorregadias questões de escolha múltipla que, em muitos casos, não permitem ao aluno exibir e desenvolver o seu saber filosófico.
Agrupamento de Escolas nº1 de Beja
Escola Secundária Diogo de Gouveia, Beja
TESTE DE FILOSOFIA, 10º ANO TURMA A
12 de Março de 2014. Professor: Francisco Queiroz
“Aquele que se dedica ao estudo
Cresce de dia para dia.
Aquele que se dedica ao Tao
Diminui de dia para dia."
"Vai diminuindo sempre
Até chegar ao não-agir.
Pelo não-agir
Nada há que se não faça.” LAO TSE
1) Explique o significado deste poema característico do taoísmo, indicando se nele há Yang e Yin.
2) Defina os valores ético-políticos de AUTOGESTÃO, COGESTÃO, ESTADO DE DIREITO DEMOCRÁTICO, DIREITAS, ESQUERDAS.
.3) Relacione, justificando:
A) Esfera dos valores vitais e esfera dos valores espirituais em Max Scheler.
B) Imperativo categórico em Kant, eu numénico e estoicismo.
4) Considere o seguinte facto:
“Esta laranja está pousada na mesa, ao meio-dia.”
Aplique os conceitos de essência, acidente, protè ousía, a teoria aristotélica das quatro causas e o princípio microcosmo-macrocosmo ao objecto laranja.
CORRECÇÃO DO TESTE DE FILOSOFIA (COTADO PARA 20 VALORES)
1) O sentido da frase «aquele que se dedica ao estudo cresce de dia para dia» é simbólico: cresce em importância social e em saber livresco. Em contrapartida, aquele que se dedica ao Tao - isto é ao ritmo ondulatório da natureza: semear-regar-colher, inverno-primavera-verão-outono, vaivém das ondas, etc - leva uma vida simples e diminui em importância social («Olha, é um camponês sem estudos, sem curso superior»). O taoísta, seguidor da simplicidade do universo, contém-se, e chega ao não agir: não se exibe, não procura ir à televisão ou ser eleito para cargos políticos ou económicos em empresas. não faz grandes viagens, não lança guerras, etc. Através da quietude, do não agir, tudo se consegue. O Yang (fogo, dilatação, movimento) está no poema expresso no «cresce de dia para dia» e o Yin (água, contração, repouso) exprime-se no «diminui de dia para dia». (VALE TRÊS VALORES).
2) Autogestão, conceito anarquista, significa a gestão das fábricas, hipermercados, lojas, bairros, escolas feita pelos próprios trabalhadores, moradores ou estudantes dessas empresas ou instituições: a assembleia reune, decide os salários, as escalas de trabalho e férias, sem patrões nem directores. (VALE UM VALOR). Cogestão, conceito da esquerda moderada, é a gestão das empresas, que pertencem aos patrões, feitas por estes em conjunto com o sindicato ou a comissão de trabalhadores (VALE UM VALOR). Estado de direito democrático é a democracia parlamentar: um regime onde há liberdade de greve, de religião e ateísmo, de manifestação de rua e de imprensa, de eleição de um parlamento multipartidário que vota a formação de um governo sujeito à constituição do país e ao controlo do parlamento e dos tribunais (VALE UM VALOR). Esquerdas é o conjunto das correntes (socialistas, comunistas e anarquistas) que proclamam a igualdade social e económica, dentro do capitalismo de livre concorrência (socialistas) ou fora dele na ditadura do proletariado (comunistas leninistas) ou na autogestão operária (anarquistas). (VALE UM VALOR). Direitas é o conjunto das correntes (liberais, conservadores e fascistas ou monárquicos absolutistas) que proclamam o direito de propriedade privada das fábricas, terras, lojas, cadeias de televisão, etc, e o direito de enriquecer e haver desigualdades nítidas entre classes sociais, apoiando o Estado de direito democrático (liberais e conservadores) ou não (fascistas). (VALE UM VALOR)
3) A) Segundo Max Scheler, a esfera dos valores vitais refere-se aos estados anímicos e inclui os valores de: nobre e vulgar, amor-paixão e ciúme, cólera, inveja, sentimento de vitória e de derrota, de juventude e de velhice, de coragem e cobardia, de vaidade e humildade, de saúde e de doença, etc. Opõe-se-lhe a esfera de valores espirituais, essencialmente intelectual, que inclui os valores estéticos (belo, feio, sublime, horrível), os valores éticos (bem, mal, justo injusto) e os seus derivados do direito (legal, ilegal, etc) os valores do conhecimento da verdade (filosofia) e os derivados deste (ciências: matemática, física, biologia, história, etc). (VALE TRÊS VALORES).
3) B) O eu numénico é, na doutrina de Kant, o eu racional, desligado das paixões e interesses materiais (eu fenoménico ou empírico), gerador do imperativo categórico ou verdadeira lei moral que se enunciam assim: «Age de modo que a tua acção seja como uma lei universal da natureza», que a todos se aplica com imparcialidade, incluindo a ti mesmo. O estoicismo, tal como a ética de Kant, divide o homem numa dualidade: eu racional ou superior e eu corporal (fenoménico, em Kant) inferior. O estoicismo defende o lema. «Aguenta e abstém-te», isto é, não te revoltes contra o que o destino e os homens te reservam, quanto a estes últimos, instrui-os ou suporta-os visto que são teus irmãos. Defende ainda que és capaz de suportar a tortura, a mutilação do corpo e a dor se te concentrares no facto de que és apenas uma alma racional e podes atingir a ataraxia ou estado de impassibilidade. E sustenta a epochê ou suspensão do juízo: «Não vás mais além, no teu julgar, do que aquilo que as aparências te anunciam». As normas do estoicismo não coincidem por completo com o imperativo categórico de Kant visto que aquelas são concretas e este último é abstracto, formal, autónomo e pode, em alguns casos, ser revolucionário como, por exemplo, este imperativo: «Age de forma que a tua acção contribua para derrubar os regimes ditatoriais em qualquer parte do mundo e para levar a chama da liberdade e dos direitos humanos a todos os homens, sem teres interesses pessoais mesquinhos nisso.»(VALE QUATRO VALORES).
4) A essência da laranja é a sua forma estável: esférica (VALE UM VALOR). O acidente externo é a mesa onde está pousada e o sol alto do meio-dia (VALE UM VALOR). Esta laranja é uma proté ousía (primeira substância) porque Aristóteles parte do individual, concreto que é a primeira realidade no plano ontológico e não o arquétipo de laranja, a forma abstracta, como supunha Platão (VALE UM VALOR) . As quatro causas da laranja segundo Aristóteles:causa formal, a forma esférica; causa material, os gomos, as sementes, o sumo; causa eficiente, a laranjeira; causa final, reproduzir as laranjeiras e ser alimento dos humanos. (VALE UM VALOR) A laranja é um microcosmos que espelha o macrocosmos ou grande universo que é o planeta Terra, esférico como a laranja. (VALE UM VALOR)
© (Direitos de autor para Francisco Limpo de Faria Queiroz)
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