Quarta-feira, 5 de Fevereiro de 2020
Teste de filosofia 11º ano (Janeiro de 2020)

 

 

Eis um teste de filosofia gizado por quem não perfilha as erróneas tabelas de verdade da lógica proposicional, esse refúgio dos inaptos para pensar ontologia e metafísica.

 

Agrupamento de Escolas nº1 de Beja
Escola Secundária Diogo de Gouveia , Beja
TESTE DE FILOSOFIA, 11º ANO TURMA A-D

30 de Janeiro de 2020. Professor: Francisco Queiroz


I

«Kant distinguiu o belo do sublime, e dividiu este último em três modalidades. Gaston Bachelard teorizou o ultra-objecto. O realismo crítico é uma modalidade do racionalismo

 

1)Explique estes pensamentos.

 

2)Relacione, justificando:

 

A) Falsificabilidade, princípio da testabilidade, corroboração e verificação na teoria de Karl Popper.

 

B) Impressões de sensação, impressões de reflexão, ideias e princípio da permanência em David Hume.

 

C) Objectividade extra anima, objectividade intra anima e subjectividade nas ciências.

 

D) Incomensurabilidade dos paradigmas segundo Khun e o anarquismo epistemológico de Feyerabend.

 

E) Os três níveis de um P.I.C. segundo Imre Lakatos e Acto e Potência em Aristóteles.

 

 3)Onde parece haver maior sublimação: nas artes de Apolo ou nas artes de Diónisos (terminologia de Nietzsche)? Justifique.

 

CORREÇÃO DO TESTE COTADO PARA UM TOTAL DE 20 VALORES

 

1) Kant sustentou que o belo é pequeno, cheio de adornos, de encanto visual como um jardim com canteiros de flores multicolores, como o dia luminoso, como a mulher loura, como a lógica, como a juventude e o sublime é grande, grandioso, metafísico como um bosque alto de carvalhos, como a noite estrelada, como o homem moreno, como a filosofia metafisica, como a velhice. O sentimento do belo existe na faculdade do gosto que não é racional embora universal, existente em todas as pessoas. Kant preconizou haver três formas do sublime: o sublime terrível, como por exemplo, a visão de um vulcão a expelir lava ou de um precipício imenso; o sublime nobre, em que a grandeza se combina com a simplicidade, como uma igreja gótica vazia, sem altares doirados; o sublime magnífico em que a grandeza se mistura com riquezas materiais como um palácio com paredes de ouro ou a capela sistina do Vaticano. (VALE TRÊS VALORES).

 

2) A. Falsificabilidade na teoria de Popper significa duas coisas: o carácter duvidoso das teses das ciências, exceptuando as matemáticas, que embora aceites podem vir a revelar-se falsas; a capacidade de testar experimentalmente (princípio da testabilidade: procura-se mais a excepção do que a regra vigente) ou contestar com novas ideias essas ciências, que não passam de conjecturas, de modo a falsificá-las, substituindo-as por outras. Para Popper é impossível a verificação das teses de uma ciência porque é impossível estudar os milhões de exemplos possíveis (mesmo que se veja só 100 000 cisnes brancos e 20000 cisnes negros, estes últimos existentes na Austrália, nada garante que não existam cisnes de cor azul, é impossível verificar). Portanto, só é possível a corroboração isto é a confirmação de hipóteses com alguns exemplos («Corroboramos que no mundo só há cisnes brancos e cisnes negros»). (A RESPOSTA VALE TRÊS VALORES)

 

2)B. Em David Hume as impressões de sensação são as percepções empíricas em acto (ex: a laranja que  estou a comer ), as impressões de reflexão são memórias das impressões de sensação (ex: lembro-me da laranja que comi), as ideias são cópias desbotadas dessas impressões (ex: a ideia de laranja, formada por abstração da memória). É graças ao princípio da permanência na memória e na imaginação que as ideias surgem e permanecem: a ideia de eu (ilusória), a ideia de alma (ilusória), a ideia de Alentejo e de Lisboa (realidades incognoscíveis em si, não sabemos se há mundo de matéria fora de nós). (VALE DOIS VALORES). 

 

2)C. Objectividade extra anima é a realidade material exterior a nós, fora da alma (anima), patente aos olhos de todos ou quase todos (os cegos não vêem). Exemplo: «Olhem, ali está a ponte Vasco da Gama ligando Lisboa a Alcochete». Objectividade intra anima é a verdade comum consensuada entre um numero infinito de mentes mas não patente no exterior aos olhos de todos. Exemplo: «A matéria compõe-se de átomos, invisíveis. 7x8 é igual a 56». Subjectividade é a verdade íntima de cada um que pode ser considerada mentira por outros. Exemplo: «Sinto que Jesus está no meu quarto quando fecho os olhos e rezo». (VALE DOIS VALORES).

 

2) D. Incomensurabilidade dos paradigmas é a impossibilidade de medir, comparando-os, o valor de paradigmas (modelos científicos) opostos, no global. Assim não podemos saber se a concepção da Terra esférica é superior em valor à concepção da Terra plana, ainda que alguns possam dizer que a primeira é mais exacta porque assente em fotografias tiradas do espaço e a segunda é mais fecunda porque leva a inteligir o cosmos de outra maneira. Paul Feyerabend era anarquista epistemológico, destruía a hegemonia das ciências universitárias capturadas por grupos de cientistas e industriais interessados em lucros e financiamentos estatais: para ele tanto valia a medicina operando com raios laser como o jejum ou o uso adequado de plantas curativas das medicinas tradicionais sagradas. Neste ponto, equipara-se a Kuhn, ao nivelar os paradigmas, o antigo e o contemporâneo. (VALE DOIS VALORES).

 

2)E. Os três níveis de um programa de investigação científica (P.I.C) são para Imre Lakatos: o núcleo duro (hard core), isto é, as teses imutáveis de uma ciência (exemplo: a série de números vai de menos infinito a mais infinito); o cinto protector (protective belt), isto é, as teses susceptíveis de revisibilidade ou eliminação (exemplo: o Big Bang foi o começo de tudo); a heurística, o conjunto de métodos e técnicas de investigação experimental (exemplo: a observação por microscópio, por telescópio, por câmaras em drones, etc.). O acto é para Aristóteles a realidade de algo neste momento e a potência é a realidade futura previsível ou imprevisível. O núcleo duro é só acto, o cinto protector é acto e potência (VALE TRÊS VALORES).

 

3) As artes plásticas - pintura, escultura, arquitectura - são do deus Apolo, deus da ordem e da beleza solar serena, segundo Nietzsche, e as artes não plásticas - música, dança, poesia, teatro - sáo de Diónisos, deus da desordem, das paixões, da embriaguez. Sublimação é espiritualização de um instinto, de uma energia sexual reprimida ou de violência destruidora reprimida. A resposta à questão é variável: pode considerar-se que nas artes de Apolo, caracterizadas por imobilidade e perfeição visual, a sublimação é maior ou também se pode considerar que nas artes dionisíacas como a música ou a poesia a sublimação dos instintos é mais forte que nas apolíneas. (VALE DOIS VALORES).

 

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f.limpo.queiroz@sapo.pt





publicado por Francisco Limpo Queiroz às 16:12
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Quinta-feira, 21 de Março de 2019
Teste de Filosofia do 11º ano (21 de Março de 2019)

 

É possível e desejável estruturar testes de filosofia sem perguntas de escolha múltipla, muitas das quais são deficientemente formuladas pelos professores que não pensam dialecticamente. O princípio macrocosmo-microcosmo não é abordado nos manuais de filosofia em voga capturados pela filosofia analítica que exclui o racionalismo metafísico, hostiliza a astrologia, a geometria sagrada, a numerologia, a medicina natural, a medicina holística, o feng shui, etc.

 

Agrupamento de Escolas nº1 de Beja
Escola Secundária Diogo de Gouveia

TESTE DE FILOSOFIA, 11º ANO TURMA A

21 de Março de 2019. Professor: Francisco Queiroz


I

“A cosmisação do espaço feita pelos povos primitivos ou pelos arquitectos das catedrais da Idade Média exprime o princípio da correspondência microcosmo-macrocosmo. David Hume estabeleceu existirem sete relações filosóficas e definiu uma certa posição face à indução amplificante que influenciou o falsificacionismo de Popper no século XX. A social-democracia e o liberalismo de direita divergem sobre o modelo económico de capitalismo e John Rawls fala em posição original, véu de ignorância e princípio maximin. »

 

1) Explique concretamente este texto.

 

II

2)Relacione, justificando:

A) Res extensa, em Descartes, e Arquétipos em Platão.

B)Anarquismo epistemológico de Paul Feyerabend e incomensurabilidade dos paradigmas em    Tomas Kuhn.

C) Obstáculo epistemológico em Bachelard e racionalismo.

D) Proposições sem sentido e proposições com sentido, segundo o Círculo de Viena.

E) Os três tipos de ciências, por um lado, corroboração e conjectura em Popper, por outro lado.

 

CORREÇÃO DO TESTE (COTADO EM 20 VALORES)

1) Cosmisação do espaço significa transformar o espaço físico, originariamente caótico, em um espaço ordenado, hierarquizado, um pequeno cosmos. Por exemplo, traçar o eixo norte-sul e o eixo este-oeste no solo e no cruzamento estabelecer o centro da aldeia onde será colocado o poste sagrado ou a cruz é cosmisar. A configuração das muralhas de castelos dos templários (microcosmo ou pequeno universo) reproduzia certas constelações (macrocosmo). As plantas das catedrais da Idade Média sugerem um Cristo cósmico de braços abertos na cruz. O princípio das correspondências diz: o que está em cima é como o que está em baixo, o microcosmo espelha o macrocosmo. (VALE TRÊS VALORES). As sete relações filosóficas de Hume são categorias a priori da mente humana: identidade, semelhança, proporção de quantidade, graus de qualidade, relações de tempo e lugar, contrariedade e causação. Hume duvidou da indução amplificante e no século XX Karl Popper adoptou esse cepticismo formulando a tese de que as ciências são conjuntos de conjecturas (hipóteses), podem ser falsificadas, isto é destruídas, por testes experimentais ou novos raciocínios. (VALE TRÊS VALORES). A social-democracia, no centro-esquerda, defende o capitalismo (propriedade privada dos meios de produção) na modalidade social: os ricos pagam grandes impostos de modo a criar subsídio de desemprego e rendimento social de inserção, pensões de invalidez e de velhice, ensino público gratuito, serviço nacional de saúde gratuito, eleições livres, multipartidarismo. O liberalismo de centro-direita defende o capitalismo puro, selvagem, sob a democracia parlamentar: privatizar os hospitais, transportes ferroviários e aéreos, os correios e quase todas as empresas, os empresários podem despedir facilmente os operários quase sem indemnização, devem pagar baixos impostos, acabar com o ensino e o serviço hospitalar gratuitos. John Rawls, inimigo do socialismo à esquerda e do capitalismo selvagem à direita, defende, com a democracia liberal, a posição original, isto é, uma grande assembleia de todos os cidadãos em que estes debatem e votam as leis em pé de igualdade, com um véu de ignorância (cada um ignora o grau de riqueza e a profissão dos outros) e de acordo com o princípio maximin, que estabelece o máximo consenso possível (exemplo: as leis protegem não só a maioria heterossexual mas também as minorias gay, lésbica e bissexual). (VALE TRÊS VALORES).

 

2)A) Res extensa é o comprimento, largura e altura no mundo material. Se aplicarmos isto à teoria de Platão diremos que a res extensa recebe as formas projectadas dos arquétipos ou modelos perfeitos de Bem, Belo, Árvore, Esfera, etc., existentes no Mundo Inteligível (VALE DOIS VALORES).

 

2)B) O anarquismo epistemológico de Paul Feyerabend coloca as ciências oficiais universitárias (biologia, química, física, matemática, electrónica, etc.) e as ciências e práticas antigas tradicionais (astrologia, medicina pelas plantas, aromaterapia, geoterapia, dança da chuva, etc.) ao mesmo nível. Kuhn coloca todos os paradigmas (exemplo: a teoria da terra esférica, a teoria da terra plana; a teoria da vacinação e a teoria antivacinação) no mesmo plano dizendo que são incomensuráveis, não se pode medir, no global, qual deles é mais verdadeiro. (VALE DOIS VALORES).

 

2)C) Obstáculo epistemológico é todo o entrave ao conhecimento científico, como por exemplo, a primeira experiência (muitas vezes enganadora), o realismo natural, a falta de tecnologia (falta de computadores, microscópios, raios laser, raios X, aviões, submarinos, etc.), os preconceitos raciais. O racionalismo, que sustenta ser a razão a grande fonte de conhecimento, marginalizando ou superando as percepções empíricas, detecta e combate os obstáculos epistemológicos (VALE DOIS VALORES).

 

2)D) Para o Círculo de Viena as proposições metafísicas como «Deus existe», «O Inferno é eterno» são destituídas de sentido porque não podem ser verificadas. Ao contrário, os enunciados empíricos como «O Alentejo é rico em olivais e montados de sobro» e «Lisboa bordeja o estuário do Tejo, a norte» têm sentido porque são verificáveis. (VALE DOIS VALORES)

 

2)E) Os três tipos de ciências são: formais (matemática, lógica pura); empírico-formais ou naturais, assentes em factos empíricos e leis deterministas, infalíveis (física e lei da gravitação universal; química e estrutura dos átomos; biologia e mitose e meiose, dois modos de divisão das células); hermenêuticas ou sociais assentes em factos empíricos mas intersubjectivas, que recebem diversas interpretações nos mesmos temas (psicologia, filosofia, sociologia, história, economia política, etc.). Popper sustentou que as empírico-formais e as hermenêuticas são conjuntos de conjecturas ou hipóteses que não podem ser verificadas com milhões de exemplos mas sim corroboradas, isto é, ilustradas com alguns exemplos falíveis. (VALE TRÊS VALORES).

 

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© (Direitos de autor para Francisco Limpo de Faria Queiroz)



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Quarta-feira, 2 de Fevereiro de 2011
Incoerências de "Filosofia em directo" de Desidério Murcho

O mediático tradutor e autor de manuais escolares de filosofia, o luso-brasileiro Desidério Murcho, no seu recente livro "Filosofia em directo", posto à venda em conjunto com a edição do jornal «Público» de 27 de Janeiro de 2011, explana em 96 páginas o que entende ser a natureza e os problemas da filosofia. O livrinho divide-se em nove capítulos: 1. Democracia; 2. Liberdade; 3. Autonomia; 4. Valor; 5. Sentido; 6.Realidade; 7. Contingência; 8. Raciocínio; 9. Verdade.

 

O livro é pouco esclarecedor sobre o que é a filosofia. Ausência de um quadro geral de referência à ontognoseologia e suas correntes fundamentais: realismo, idealismo, fenomenologia. Desidério evita a rocha de contornos bem marcados destas definições.. Não é o seu forte. Ausência de referência aos grandes contributos trazidos pelo rio da tradição filosófica: a matematização do mundo na filosofia pitagórica e galilaica; a formalização arquetípica do mundo nas filosofias de Platão, Aristóteles e da escolástica; a racionalização do mundo, em versão idealista de Kant, e em versão realista de Hegel e Marx; a sensorialização e insubstancialização do mundo por Hume, Mach, Avenarius, Russell, etc. Nada disto nos é referido. Sempre a velha preocupação de Desidério Murcho que faz lembrar os historiadores revisionistas que eliminam factos históricos: apagar a tradição filosófica, a filosofia que jorrou até nós pelas escadarias dos séculos, desde a Antiguidade.

 

PROCLAMAR O CEPTICISMO E APLICAR O MAIS ESTREITO DOGMATISMO

 

 Analisemos, com exemplos,  o tipo de argumentação desenvolvida por DM neste livro:

 

«Evolução

 

«Quem tiver a ideia de que a evolução biológica seria o fundamento do valor, comete igualmente dois erros. Primeiro, considera erradamente que o facto de termos certas preferências, explicáveis em termos de selecção natural, é razão suficiente para as aceitar. Isto é uma incompreensão dupla. Por um lado, as nossas preferências não são harmoniosas: temos de raciocinar arduamente para decidir entre elas - a evolução não decide por nós, qual Deus benevolente. Por outro, a origem biológica de uma preferência não lhe dá uma prerrogativa especial - a vontade que uma pessoa tem de fazer sexo com outra é obviamente biológica, mas nem por isso a outra está obrigada a aceitar.»

«Em segundo lugar, quem põe a teoria da evolução no lugar ocupado pelo Deus judaico-cristão, comete o erro biológico de crer que a evolução tem uma direcção ou propósito; nós teríamos então o dever de obedecer a este propósito da evolução, como se fosse um Deus. Mas a evolução biológica não tem qualquer propósito ou direcção. E, mesmo que o tivesse, daí não se concluiria que teríamos o dever de lhe obedecer. » (Desidério Murcho, Filosofia em directo, pag 48, Fundação Francisco Manuel dos Santos; o negrito é posto por mim).

 

Em primeiro lugar, Desidério não distingue, com clareza, valor, de preferência. O valor é um farol e a preferência um caminhar para esse farol.

 

Em segundo lugar, o facto de que «as nossas preferências não são harmoniosas: temos de raciocinar arduamente para decidir entre elas» não invalida que possa haver um pólo dominante na génese dos valores- e que esse polo seja a constituição biológica- e pólos dominados - a sociedade, a consciência moral e religiosa, etc. Também a teoria psicanalítica de Freud considera uma fonte genética dos valores, o id ou infra-ego, com o princípio do prazer, sem embargo dos conflitos que o super-ego, portador dos valores sociais, vindos de fora do indivíduo, causa ao reprimir o id.  Em suma, a desarmonia entre as preferências de valores não impede que a génese destes possa estar no instinto biológico. O argumento de que «a vontade que uma pessoa tem de fazer sexo com outra é obviamente biológica, mas nem por isso a outra está obrigada a aceitar.» é confuso, falacioso porque não se cinge ao conflito de preferências no seio do mesmo indivíduo mas recorre a uma vontade externa, a de outro.

 

Em terceiro lugar, Desidério Murcho, calçando as botas ferradas de um dogmatismo pouco filosófico, define a sua posição eliminando as outras, sem argumentar com fundamento. Ele opõe-se ao vitalismo ou ao biologismo teleológico, com uma petição de princípio: «a evolução biológica não tem qualquer propósito ou direcção porque é um substituto para a ideia de Deus.»

Falta demonstrar esta afirmação metafísica. A virtude filosófica de Desidério, se a possuir, e não fôr um sectário de uma corrente parcelar,  deveria ter a humildade de apresentar as duas teses que se opõem nesta matéria delicada e brumosa.

 

Poderia ter a liberalidade de citar, por exemplo, Bergson, que defende finalidade na evolução biológica:

 

«Em resumo, se nos exprimíssemos em termos de finalidade, diríamos que a consciência, depois de ter sido obrigada, para se libertar a si própria, a cindir a organização em duas partes complementares, vegetais e animais, procurou uma saída na dupla direcção do instinto e da inteligência. Não a encontrou com o instinto, e não a obteve, do lado da inteligência, senão através de um salto brusco do animal ao homem. De forma que, em última análise, o homem constituiria a razão de ser de toda a organização da vida no nosso planeta.» (Henri Bergson, A evolução criadora, pag 169, Edições 70).

 

Mas o mesmo tradutor que afirma que não há qualquer finalidade na evolução biológica contradiz-se ao escrever:

 

«Como sabemos então que sabemos seja o que for? Se estamos a perguntar como podemos garantir que sabemos quando cremos que sabemos, a resposta simples é nunca. Mas se raciocinarmos de maneira cuidadosa, podemos - cooperando cognitivamente com os nossos semelhantes - tomar medidas que diminuam o erro e aumentem o acerto.» (Desidério Murcho, Filosofia em directo, pag 88, Fundação Francisco Manuel dos Santos).

 

Há uma evidente inconsistência entre esta posição céptica e a posição dogmática acima expressa na tese de que «não há qualquer finalidade ou direcção na evolução biológica e esta não é a fonte dos valores». Se afirma que nunca podemos ter a certeza de nada, como pode garantir que estão errados os que sustentam que a vida orgânica é dotada de sentido e finalidades? É nesta caldeira de incoerência que ferve o pensamento de Murcho.

UMA PSEUDO-REFUTAÇÃO DO IDEALISMO 

 

Visando refutar o idealismo ontológico material e o cepticismo de que deriva, escreve DM:

 

«Declarar que todas as nossas convicções são ilusórias, precisamente porque não podemos excluir a hipótese do sonho, é fazer duas confusões.»

«Primeiro, não pode ser verdadeiro que todas as nossas convicções são ilusórias, porque nesse caso também a convicção de que todas as convicções são ilusórias seria ilusória; e se esta convicção for ilusória, então as outras convicções não serão ilusórias.Por outro lado, se insistimos que só esta convicção não é ilusória, teríamos de explicar o seu carácter de excepção. Se estamos convictos de que todas as nossas convicções são ilusórias, não é coerente estar convicto de que essa convicção em particular não é ilusória.» (Desidério Murcho, Filosofia em directo, pag 70, Fundação Francisco Manuel dos Santos; o negrito é posto por mim).

 

O idealismo material e o cepticismo não afirmam que todas as certezas são ilusórias: a ilusão é o carácter de quase todas, excepto o dogma base de que a realidade material é ilusória (idealismo) ou duvidosa (cepticismo). Desidério Murcho classifica de incoerência esta dualidade que, no fundo, é a dualidade observador-observado, máquina fotográfica/ fotos da paisagem. Não há nenhuma incoerência na doutrina idealista, ao nível racional: não há que explicar o carácter dogmático de excepção da tese «tenho a certeza de que toda a matéria e os entes dela formados são ilusão». É um axioma. Corresponde à divisão sujeito-objecto, que continua a existir no idealismo: o objecto material é aparência, o eu psico-espiritual é a realidade. O eu cognoscente é real para os idealistas, os entes materiais são ilusões, percepções corpóreas tridimensionais. Logo, não é possível aplicar os mesmos critérios de certeza e ilusão a estes dois níveis ontológicos.

 

A essência íntima das coisas é inexplicável: a explicação é sempre uma articulação de entidades em si mesmas incognoscíveis, no todo ou em parte. A pretensão de DM explicar tudo é anti filosófica: é um desvio logicista. Há mais mundo para além da lógica e da retórica. O inexprimível, o inefável, o alógico, existem. Há um intuir originário que está para além do "explicar", intuir esse que compreende mas não discursa, não explica. Lao Tse dizia: «Aquele que fala não sabe/ Aquele que sabe não fala.» Desidério raciocina mecanicamente na base do «8 ou 80», sem meio termo. Exige que, se há convicções ilusórias, todas as convicções sejam ilusórias - é a falácia da composição. O pensamento de Desidério é excessivamente linear, de superfície. Falta-lhe profundidade.

 

 

A CONFUSÃO SOBRE O QUE É VERDADE E SOBRE O QUE É CONHECIMENTO

 

Os equívocos de Desidério estendem-se às noções de verdade e conhecimento:

 

«Em suma, a verdade não é o mesmo que verificação ou confirmação. E também não é uma adequação entre o pensamento e a realidade, se por adequação entendermos uma cópia. A verdade é o que ocorre quando as nossas convicções representam correctamente a realidade. Nunca temos maneira de garantir a correcção da representação, mas nada se conclui daí excepto a nossa falibilidade. E o que torna as nossas representações verdadeiras ou falsas é a realidade.»(Desidério Murcho, Filosofia em directo, pag 94, Fundação Francisco Manuel dos Santos; o negrito é de minha autoria).

 

A verificação é o acto de encontro com a verdade. Portanto não é exacto dizer que verdade não é o mesmo que verificação: enquanto acto de descoberta (aletheia) a verdade coincide com a verificação, que é o abrir da verdade; enquanto objecto em si, interno ou externo, a verdade é diferente da verificação, do mesmo modo que actualização (passagem da potência ao acto) difere de acto. 

  Ademais, não é apenas a realidade que torna as nossas representações verdadeiras ou falsas: é também o aparelho interno cognoscente, isto é, os nossos orgãos dos sentidos e a nossa inteligência. Um cego não pode ver a relva verde que a realidade da paisagem diante de si lhe oferece.

 Sobre o conhecimento, escreve: 

 

«Quando confusamente se fala de conhecimento falso, o que está em causa é falar de algo que parece conhecimento, mas não é; e do mesmo modo que o dinheiro falso não é dinheiro, também o conhecimento falso não é conhecimento. Consequentemente, se a Terra não está imóvel, nunca se pôde saber que a Terra estava imóvel - apesar de muita gente ter tido a convicção de que sabia tal coisa.».»(Desidério Murcho, Filosofia em directo, pag 81, Fundação Francisco Manuel dos Santos).

 

Ao contrário do que afirma DM, dinheiro falso é dinheiro... sem validade legal. Certamente, no século XII, a generalidade das pessoas não conhecia, intelectual ou científicamente, que a Terra estava imóvel - conhecia, sensorialmente, a imobilidade da Terra - mas conhecia a teoria de que a Terra é imóvel. Mas hoje ninguém conhece factualmente que a Terra se move - para conhecer é preciso vê-la a mover-se. Hoje conhece-se, intelectualmente - um conhecimento indirecto, susceptível de dúvida - que a Terra gira em torno do seu eixo ao mesmo tempo que gira em volta do Sol. E nada impede que esta teoria seja falsificada, desmentida no futuro. Desidério Murcho fala como se a verdade nesta matéria estivesse conquistada de uma vez por todas. Não está.

Há, de facto, um conhecimento de verdades e de falsidades. O conhecimento não é apenas uma relação entre o sujeito e o objecto exterior, factivo ou factual. Não é apenas um conhecimento de verdades. É também uma relação entre a mente percepcionante e a representação (imagem sensorial, ideia, juízo) que nela se forma.

 

O conhecimento tem duas vertentes: a objectiva, isto é, a do referente ou objecto a conhecer; a subjectiva, isto é, a do símbolo, representação do objecto. O conhecimento do átomo ou dos quarks e leptões - exceptuando os átomos maiores, visíveis a microscópio - é a relação da mente com uma imagem conceptual nela elaborada. Parece que Desidério não questiona a existência de leptões. Ele respeita, venera a ciência instituída. Mas e se os leptões não existirem? Ser-se-á forçado a dizer que não havia conhecimento dos leptões, foi tudo uma fantasia. De facto, não se conheciam os leptões mas um conceito símbolo de tais supostas entidades.

 

É ERRADO O RACIOCÍNIO QUE SE AFASTA DO ÓBVIO?

DM escreve ainda:

 

«Erramos ao raciocinar sobretudo quando nos afastamos do óbvio e do simples. Quem não sabe raciocinar proficientemente, não vê o que há de errado com o raciocínio "Há uma causa de todas as coisas porque todas as coisas têm uma causa" , mas facilmente vê o erro do raciocínio "Há uma mãe de todas as pessoas porque todas as pessoas têm uma mãe". (Desidério Murcho, Filosofia em directo, pag 85, Fundação Francisco Manuel dos Santos; o negrito é posto por mim).

 

De facto, há vezes em que erramos no raciocínio ao afastarmo-nos do óbvio e do simples - por exemplo, é óbvio o raciocínio que diz´«Vacinar é infectar o sangue com vírus e toxinas, logo vacinar é mau para a saúde» . Mas há muitas outras vezes em que geramos um raciocínio profundo, ao afastar-nos daquilo que é óbvio ao senso comum. A teoria da relatividade de Einstein, contra o óbvio da teoria do espaço tridimensional feito de linhas rectas e planos, sustenta que o espaço é ondulatório, irregular, e encurva na proximidade de grandes massas.

ANDAMOS SÉCULOS A SUBSTITUIR O RACIOCÍNIO POR DEUS, PELA AUTORIDADE OU PELA OBSERVAÇÃO?

  

DM escreve ainda, como se tivesse descoberto o santo Graal da filosofia:

 

«O raciocínio está no centro da estrutura epistémica de seres falíveis. No entanto, a tentação ao longo dos séculos tem sido fingir que podemos abandonar o raciocínio paciente envolvido nos controlos e ajudas permanentes, substituindo-o por Deus, pela Autoridade ou pela Observação ou Experimentação. Mas não há fuga do raciocínio porque mesmo que Deus ou alguma autoridade nos fale, temos de raciocinar para concluir com base na observação ou na experimentação. E no raciocínio, como em tudo o resto, podemos cometer erros, porque somos falíveis.»(Desidério Murcho, Filosofia em directo, pag 84, Fundação Francisco Manuel dos Santos; o negrito é posto por mim).

 

Não faz sentido dizer que só o raciocínio está no centro da nossa estrutura epistémica. O centro do processo de conhecimento é triplo: raciocínio, intuição inteligível e intuição sensível. Que é o raciocínio sem a intuição inteligível? Um esqueleto descarnado. As intuições inteligíveis de números 3,7,8 e 18 é que permitem estruturar o seguinte raciocínio: « Se 3 adicionado de 7 perfaz 10, e dez adicionado de 8 dá 18, então 3 mais 7 mais 8 tem como resultado 18».

 

O raciocínio aristotélico «Há dois princípios, a forma e a matéria-prima, logo a combinação dos dois produz o composto, o ente individual» necessita previamente das intuições, inteligíveis ou sensíveis, de forma, matéria, composto, ente, indivíduo. O raciocínio sem as intuições ou conceitos que o musculam é vazio, é uma estrutura formal sem conteúdos. Há raciocínios metafísicos, antimetafísicos, etc, formalmente correctos que não conduzem necessáriamente à certeza. Porque esta só as intuições, sensíveis ou não, a fornecem. Ora o que DM faz é desprezar o papel fulcral da intuição inteligível (ideia, conceito) e  ignorar o carácter alógico desta.

 Quanto mais fala em raciocínio,menos DM raciocina!  Quanto mais brande a espada da lógica e do falibilismo, menos pensa!

 

 

A DISTINÇÃO SUBJECTIVO-OBJECTIVO NÃO EXISTE?  EXISTE, EM UM SENTIDO, NÃO EXISTE, EM OUTRO

 

DM sustenta ainda que subjectividade e objectividade não se distinguem, afirmando, com razão, que o que é subjectivo não é necessariamente errado ou incorrecto:

 

 «Tal como o consenso não implica a verdade, também a ausência de consenso não implica que o que está em causa é meramente subjectivo»(...)

 «A distinção entre objectividade e a subjectividade esconde geralmente uma confusão: pensar que da dificuldade de chegar a consenso se conclui que nenhuma convicção é genuinamente verdadeira, no mesmo sentido em que as verdades objectivas o são. ».»(Desidério Murcho, Filosofia em directo, pag 93-94, Fundação Francisco Manuel dos Santos; o negrito é posto por mim).

 

 Há uma certa nuvem de confusão nesta argumentação.Desidério Murcho não define com precisão o que entende por subjectivo, parece não se aperceber do desdobramento de sentidos deste termo. A distinção subjectivo e  objectivo não existe, de facto, quanto ao conteúdo substancial das nossas representações, isto é, objectivo e subjectivo não se distinguem epistemicamente - exemplo: eu posso estar perfeitamente certo, com toda a razão objectiva, ao defender, isolado, contra a «comunidade científica» que "a passagem de um planeta em 26º do signo de Sagitário causa, em regra, desaires para o PSD" - mas a distinção subjectivo-objectivo existe enquanto distinção numérica, por sim dizer, sociológica: o subjectivo é o pensamento singular, de um só indivíduo, o objectivo é o pensamento comum de muitos indivíduos.  

 

É POSSÍVEL PROVAR QUE DEUS NÃO É O FUNDAMENTO DO DEVER? ARBITRÁRIO OPÕE-SE A RAZOÁVEL?

 

DM desenvolve ainda o seguinte raciocínio sofístico contra a ideia de Deus como fundamento do dever: 

 

«Quem pensa que sem Deus, tudo seria permitido, considera que as nossas preferências não são suficientes para fundamentar o dever. Mas considera que as preferências de Deus o são. Interpretada literalmente, a ideia é implausível. Se a minha preferência, depois de passar pelo crivo do pensamento prudencial cuidadoso, não fundamenta o dever, a preferência de Deus ainda menos o poderia fazer. Se a minha preferência por beber água não me dá uma razão para beber água, a preferência de Deus não pode dar-me uma razão para a beber. Isto porque ou a preferência de Deus pela água é arbitrária, e nesse caso não me dá razão alguma para beber água precisamente por ser arbitrária, ou é razoável, e nesse caso é por ser razoável que me dá uma razão para beber água e não por ser uma preferência de Deus.» (Desidério Murcho, Filosofia em directo, pag. 44-45, Fundação Francisco Manuel dos Santos; o negrito é colocado por mim).

 

Neste estilo "light", saltando de ramo em ramo na árvore da retórica do "bem falar", se desenvolve a vazia argumentação de Desidério Murcho. Por que razão Deus ou deuses não poderiam fundamentar o dever? Não é implausível haver deuses, embora seja indemonstrável, empiricamente falando. A natureza biocósmica não nos revela que haja Deus ou deuses mas não nos proibe de pensar que existam. Por que razão a preferência de Deus por eu beber água não pode ser razoável? Por que razão a razoabilidade não pode brotar do próprio Deus? Em Hegel, a ideia absoluta ou Deus é absolutamente racional, razoável, apesar de inicialmente arbitrária, encarna em natureza e nas leis biocósmicas desta. Pode Desidério refutar Hegel, de modo inquestionável e vencedor? Não pode. Na metafísica pura, ateus, teístas, panteístas e panenteístas terçam armas, isto é, argumentos, sem que se possa descortinar, objectivamente, quem tem razão.

 

Arbitrário opõe-se sempre a razoável? Não. É outra confusão de Desidério Murcho. Eu posso conduzir arbitráriamente um automóvel sem destino fixo, dormindo aqui ou acolá, mas isso é razoável pois não ultrapasso a velocidade de 90 quilómetros por hora e levo os documentos, o dinheiro e a roupa suficiente para realizar essa viagem de uma ou várias semanas. A máxima de cada indivíduo é arbitrária, segundo Kant: depende do livre arbítrio de cada um. Mas o facto de ser arbitrária - por exemplo, a máxima: «Divulga a toda a gente as virtudes medicinais das tisanas de tília, hipericão, erva de são roberto, malva e outras» é arbitrária, escolhi-a mas outros escolherão outras máximas - não impede que seja razoável. Razoável, isto é, racional, prudente e experimentado, opõe-se a irrazoável, não a arbitrário.

 

 

www.filosofar.blogs.sapo.pt
f.limpo.queiroz@sapo.pt

 

© (Direitos de autor para Francisco Limpo de Faria Queiroz)

 



publicado por Francisco Limpo Queiroz às 14:32
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