Sem embargo de ser um dos melhores manuais de filosofia para o 10º ano do ensino secundário em Portugal , o «Essencial Filosofia 10º ano» da Santilhana Constância Editores contém alguns equívocos. Sobre os valores, estipula o manual:
«Os valores são uma realidade diferente dos factos, acontecimentos objectivos que ocorrem diante de nós. Os factos incluem três categorias: a dos objectos, a dos acontecimentos e a dos seres.(...)
«Os valores não são seres reais, como os factos, nem seres ideais como as ideias.» (Amândio Fontoura e Mafalda Afonso, Custódia Martins (consultora), «Essencial Filosofia 10º ano», Santilhana Constância, pág 113; o itálico é posto por nós).
Há aqui alguns equívocos. Todas as coisas materiais, ou pelo menos um número infinito delas, são valores, económicos ou biofísicos. Uma árvore carregada de frutos é um valor. Há que recordar a tripla distinção de Max Scheler, o mais portentoso filósofo na teoria dos valores: há o valor de coisa (exemplo: uma maçã, uma pedra mármore), o valor de função (exemplo: mastigar e saborear a maçã, ter o mármore como soleira da porta) e o valor de estado (exemplo: ficar saciado com a maçã, sentir a beleza do mármore na entrada da casa.
Dizer que «Os valores não são seres reais, como os factos, nem seres ideais como as ideias.» é um erro. Uma revolução antifascista como a de 25 de Abril de 1974 a 11 de Março de 1975 foi um facto ou uma série de factos, um ser ou acontecimento real, e foi um valor positivo para os trabalhadores e um valor negativo para a oligarquia portuguesa. As ideias são valores: as ideias de beleza e fealdade, de justiça e de injustiça, de capitalismo e de socialismo marxista, de deuses e demónios são valores estéticos, éticos, políticos, religiosos.
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