Quinta-feira, 6 de Outubro de 2022
Francisco Gomá: Os valores não são

Francisco Gomá, académico espanhol, escreve sobre a fenomenologia de Max Scheler no domínio da ética: 

«Não podemos, liminarmente, colocar a pergunta: que são os valores porque os valores não são: simplesmente valem ou pretendem valer. Não têm cabimento na natureza como se fossem coisas ou maneiras de ser da coisa». (Historia de la ética 3 La ética contemporánea, Victoria Camps ed, pág 304)-

A posição de Scheler é diferente da de Platão. Este considerava muitos dos valores - o Belo, o Justo, o Triângulo, o número três, o Uno, o Homem e a Mulher Arquétipos, isto é, Ideais e imutáveis  - como coisas em si, autosubsistentes, embora imateriais, situadas no mundo inteligível. Scheler achava que os valores são co-criação humana, não existiriam se não houvesse humanidade.



publicado por Francisco Limpo Queiroz às 17:31
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Quinta-feira, 30 de Junho de 2011
Simon Blackburn: pobreza na definição de Valor

 

A definição de valor dada por Simon Blackburn no seu "Oxford Dictionary of Philosophy» é a seguinte:

 

«valor    Reconhecer um certo aspecto das coisas como um valor consiste em tê-lo em conta na tomada de decisões ou, por outras palavras, em estar inclinado a usá-lo como um elemento a ter em consideração na escolha e na orientação que damos a nós próprios e aos outros. Os que vêem os valores como subjectivos  consideram esta situação em termos de uma posição pessoal, adoptada como uma espécie de escolha e imune ao argumento racional (embora, muitas vezes, e curiosamente, merecedora de um certo tipo de respeito). Os que concebem os valores como algo objectivo supõem que, por alguma razão - exigências da racionalidade, da natureza humana, de Deus ou de outra autoridade - a escolha pode ser orientada e corrigida a partir de um ponto de vista independente »  (Simon Blackburn, Dicionário de Filosofia, Gradiva, pag 450).

 

 

Esta definição peca por ser vaga. Se reconheço que não posso ultrapassar um automóvel naquela curva apertada numa lomba, sem visibilidade do lado de lá, será a curva da estrada um valor, uma vez que determina a minha escolha da atitude enquanto condutor do meu veículo? Ou a curva é um suporte objectivo do meu valor de circular a alta velocidade na estrada? "Valor é um aspecto das coisas que nos obriga a decidir"... eis uma pobre definição de valor, esta, de Blackburn.

 

A meu ver, valor é uma qualidade ética, política, estética, científica, material, etc, que se compõe de uma ou duas dimensões: um "em si" e um "para nós". Cada valor possui ou gera um contra-valor diametralmente oposto formando uma bipolaridade axial, segundo a preferência de cada indivíduo ou comunidade. Assim, a beleza de um corpo é um valor em si e um valor para os que admiram e desejam esse corpo. O contra-valor do belo é o feio. O fio de cobre é um valor em si mesmo (um valor de bens, diria Max Scheler) e um valor para nós (o preço, a utilidade de que se reveste neste momento para as nossas casas e eletrodomésticos, etc).

 

Blackburn é intelectualmente muito pobre se comparado com Max Scheler, por exemplo. Há filósofos ditos não analíticos como Max Scheler que têm um poder de análise muito superior a filósofos analíticos como Simon Blackburn e outros. Fazem-nos sorrir aqueles que hoje se proclamam «analíticos» , como se esta palavra os salvaguardasse do erro, e revelam escassa capacidade de análise, isto é, miopia intelectual.

 

Scheler escreveu sobre os valores de forma muito mais clara e precisa do que Blackburn. Em matéria de clareza de pensamento, Scheler não fica abaixo de Marin Heidegger, talvez mesmo supere este. Cito algumas passagens de "Ética" do filósofo alemão falecido em 1928:

 

«Em primeiro lugar, cabe aqui o facto essencial de que todos os valores - éticos, estéticos, etc - se cindem em valores positivos e negativos (como pretendemos dizer por causa da simplicidade). Isso pertence à essência dos valores e é verdade independentemente do que nós possamos sentir exactamente as peculiares antíteses de valores (quer dizer, os valores positivos e negativos) como belo-feio, bom-mau, agradável-desagradável». (Max Scheler, Ética, Caparrós Editores, pag 145; o negrito é colocado por mim)

 

«Por outro lado, tão pouco há-de afirmar-se que a "superioridade" de um valor "signifique" unicamente que é o valor "que foi preferido". Pois, ainda que a superioridade de um valor seja dada "no" preferir, sem embargo essa superioridade é uma relação inserida na essência dos próprios valores respectivos. Por isso é algo absolutamente invariável a "hierarquia dos valores", enquanto que, em princípio, as "regras de preferência" variam ainda na história (variação que é muito distinta da apreensão de novos valores).» (Scheler, ibid, pag 153; o negrito é posto por mim).

 

«A beleza de uma paisagem ou de um tipo humano e o embelezamento do meu olhar nessa beleza são vivências claramente distintas, das quais a primeira é a base da segunda. A beleza não é um influxo vivido que a paisagem (desprovida de valor) exerce, mas é a sua beleza que actua, e essa sua acção transforma-se na mudança de um estado sentimental.» (Scheler, ibid, pag 349).

 

 

Não será, talvez por acaso, que não se encontra traduzida em português em edição acessível ao grande público a «Ética - novo ensaio de fundamentação de um personalismo ético» de Max Scheler: é uma obra demasiado profunda para as cabeças superficiais de muitos doutorados em filosofia que povoam as nossas universidades, cada vez mais pobres em pensamento, à medida que multiplicam os mestrados e doutoramentos em filosofia que fazem sobreviver, economicamente, a instituição.

 

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Sábado, 12 de Dezembro de 2009
O protótipo, o exemplar, a contrafigura e o caudilho na teoria de Scheler

Ao lermos Scheler, perguntamo-nos se não terá sido da vasta e rica obra deste que Carl Gustav Jung terá extraído as noções de arquétipo do inconsciente colectivo e do inconsciente individual.

  

Scheler distinguiu entre protótipo - por exemplo: o modelo de Pai, o modelo de Sábio - exemplar - por exemplo: o pai concreto, de nome X, que mais se aproxima do modelo; -  e contrafigura - por exemplo: o modelo de anti Pai, isto é, o pai que não assume autoridade moral e física mas que se torna um joguete na mão dos filhos, um simples camarada destes; o sábio anti universitário que diz que as universidades nada valem. O protótipo ou modelo não é um caudilho isto é um condutor de homens mergulhado na acidentalidade e na imperfeição da existência.

  

«En todos los "movimiento" reactivos de valores, por ejemplo, en el protestantismo, la Contrarreforma, el romanticismo, hay siempre la tendencia a crear simples contrafiguras de un ideal dominante: el "alma bella" del romanticismo es, así, una contrafigura del burgués del siglo XVIII, odiado y valorado como “filisteo”. En estos casos continúa existiendo la dependencia del ideal dominante. Las contrafiguras continúan teniendo una estructura semejante a la de los prototipos.»

 

(Max Scheler, Ética, Caparrós, Pág 735-736, nota de al pie de página).

 

 

«En el rebaño y en la masa, hay animales guías pero no prototipos. Un conocimiento no estimativo del objeto que sirve de prototipo (o de la persona prototipo) no da a éste, de ninguna manera, la condición de prototipo. Aquí también los valores están dados en principio antes que la imagen o el contenido significativo. El “padre”, la “madre”, el “tío”, el “príncipe”, etc, son en primer lugar, personas valiosas, con una cualidad determinada, y su elemento representativo y significativo no hace más que agruparse en torno de ese su núcleo de valor. (...) La conciencia de prototipo es enteramente prelogica y anterior a la aprehensión de esferas electivas sólo posibles  (Max Scheler, Ética, Caparrós, Pág 738 ).

  

O conhecimento do protótipo - Deus, Pai, Mãe, Amante, Irmão, Sábio, Conquistador, etc - é intuitivo e dá-se antes da formação do raciocínio lógico que arrasta consigo os mecanismos do juízo e do conceito.

 

 

O protótipo ou modelo não é um caudilho: ao contrário deste, o modelo não coage ou não conduz imperativa e sociologicamente, suscita a paixão da alma por um valor estético, moral, filosófico, científico ou religioso que se tem como perfeito.

 

« El caudillo puede ser un salvador o puede ser un demagogo sin escrúpulos; puede ser un conductor en sentido positivo valioso o un seductor, puede ser un caudillo de una liga virtuosa o de una banda de facinerosos. En la medida en que busca conducir y cuenta con un número de seguidores, es "caudillo" en sentido sociológico.»

 

«Muy distinto es el concepto de modelo. El "modelo" supone en sentido inmanente y permanente un concepto de valor. Todos consideran a su modelo, en la medida en que tienen uno y lo siguen, como lo bueno, lo perfecto, lo que debe ser.» (Max Scheler, in Scheler (1874-1928), Antonio Pintor-Ramos, Ediciones del Orto, Madrid, Págs. 72-73)

  

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Scheler: Kant não distingue intuição moral de querer moral

Na sua crítica a Kant, muito bem explanada em «Ética, Novo Ensaio de Fundamentação de um Personalismo Ético», Scheler faz ressaltar que Kant não distingue entre a intuição e o querer moral:

 

«A conexão de essências diz tão só que de todo o mal deve ser culpada, em geral, alguma pessoa autónoma; mas não é forçoso que seja aquela pessoa individual a cuja acção vai ligado o mal. A forma de transmissão, heterónoma para o indivíduo, do valor de um acto pessoal anterior e autónomo, fica excluída de antemão unicamente no giro subjectivista que Kant deu ao seu conceito de autonomia, segundo o qual a intuição e o querer moral não se distinguem, e o sentido das palavras bom e mau fica reduzido a uma lei normativa que a pessoa racional dá a si mesma ("autolegislação").» (Max Scheler, Ética, Caparrós Editores, Pág. 644).

 

 

Para Scheler há uma conexão de essências objectiva -  por exemplo: é um mal matar alguém à traição, em geral, e é um bem salvar alguém de morrer afogado, em geral -  que é prévia ao acto de querer e que se dá na intuição sentimental de valor. O subjectivismo de Kant consiste em não estabelecer essências objectivas de bem e de mal, de acto bom e de acto mau, mas em fazer derivar bem e mal do tipo de querer que há em cada indivíduo: se é um querer «idealista» , «racional», universalizante no propósito, desligado de egoísmos pessoais, gera um acto bom (assim, por exemplo, o militante da ETA que assassinasse um político espanholista realizaria o bem por agir segundo um "querer transpessoal", por uma causa; Kant recusava legitimar o assassínio mas está implícito na sua ética como uma possibilidade aceitável); se é um querer "egoísta", "materialista", "interessado", visando satisfazer o agente da acção, gera um acto mau (assim, dar um jantar de caridade gratuito a pessoas carenciadas para ser elogiado na televisão é um acto mau, ainda que mate a fome a centenas de pessoas).

 

 

Há, pois, em Kant, uma confusão entre o querer e o conteúdo ideal de valor no indivíduo. O valor deveria preceder ontologicamente o querer e resistir a este mas assim não é teorizado por Kant que subordina o valor à forma do querer e não a essências "materiais" a priori.

 

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Sábado, 31 de Outubro de 2009
Equívocos do «Dicionário Escolar de Filosofia» da Plátano Editora -II

Prosseguem as críticas aos erros e imprecisões do Dicionário Escolar de Filosofia da Plátano Editora.

 

CONFUSÕES SOBRE O LIBERTISMO, O COMPATIBILISMO E O INCOMPATIBILISMO

 


Os problemas metaéticos consubstanciados nos eixos do determinismo/indeterminismo, livre-arbítrio/ fatalismo recebem uma conceptualização equívoca, falaciosa:

 



«compatiblismo/incompatibilismo

 


«O problema do livre-arbítrio consiste em saber se a crença de que somos livres é compatível com a crença de que o mundo é governado por leis e que no mundo todos os acontecimentos, incluindo as nossas acções, são determinados pelas suas causas (ver causa/efeito). Em geral, existem dois tipos de teorias que respondem a este problema: as teorias compatibilistas e as teorias incompatibilistas.

 


O compatibilismo é uma concepção metafísica que afirma que o livre-arbítrio é compatível com o determinismo. A posição compatibilista pode ser expressa com a seguinte afirmação condicional: se tudo for determinado, é possível que exista livre-arbítrio.

 


O determinismo moderado é a teoria compatibilista mais influente. Um determinista moderado, como David Hume, aceita que a acção seja determinada por causas; no entanto, sustenta que essa acção pode ser livre se o agente, ao praticá-la, puder agir de outra forma e se tiver um controlo sobre o desejo e a crença que causam a acção. Por exemplo, entregar um telemóvel a um ladrão é uma acção livre caso nos seja possível recusar fazê-la e se o desejo de viver, assim como a crença de que entregar o telemóvel permite preservar a vida, forem as causas dessa acção. O incompatibilismo é o conjunto de concepções metafísicas que negam que o livre-arbítrio seja compatível com o determinismo. A posição dos incompatibilistas é a seguinte: se tudo for determinado, não é possível que exista livre-arbítrio. As duas teorias incompatibilistas mais importantes são o determinismo radical e o libertismo. Os deterministas radicais argumentam que o livre-arbítrio não existe porque todas acções são efeito de causas remotas e incontroláveis. Os libertistas afirmam que o livre arbítrio existe porque nem todas as acções são o efeito de causas remotas e incontroláveis. » APC (Dicionário Escolar de Filosofia).

 


. Há ´múltiplas confusões neste artigo. A primeira é a distinção artificial entre «determinismo moderado» e «determinismo radical»: António Paulo Costa (APC) não viu que a quantidade de determinismo que há em ambos é exactamente a mesma. Se o primeiro admite a lei da gravitação universal, o efeito de descida do açúcar no sangue por administração de insulina, a formação de cloreto de sódio por mistura de ácido clorídrico e sódio, o segundo admite o mesmo. O «moderado» e o «radical» não pertencem à natureza do determinismo em si mas enunciam, ambiguamente, o facto de este estar ou não envolto pela mola do livre-arbítrio que o pode pressionar de fora.

 

  

 

Outra confusão é a definição de libertismo: diz-se que é uma doutrina incompatiblista e que «o incompatibilismo é o conjunto das doutrinas metafísicas que negam que o o livre arbítrio  seja compatível com o determinismo» e mais adiante diz-se o inverso, isto é, que «os libertistas afirmam que o livre-arbítrio existe porque nem todas as acções são efeito de causas remotas e incontroláveis», ou seja, o libertismo é compatibilismo...

 

  

 

APC define assim determinismo moderado:

 

  

 

«O determinismo moderado é a teoria compatibilista mais influente. Um determinista moderado, como David Hume, aceita que a acção seja determinada por causas; no entanto, sustenta que essa acção pode ser livre se o agente, ao praticá-la, puder agir de outra forma e se tiver um controlo sobre o desejo e a crença que causam a acção.»

 

  

 

Ora isto é exactamente a definição que APC forneceu de libertismo, exceptuando o rótulo que lhe colou de "incompatibilismo". Então determinismo moderado e libertismo são exactamente o mesmo, segundo este nebuloso " Dicionário Escolar de Filosofia", verdadeira casa de fantasmas que se duplicam em aparições: ambos postulam determinismo na natureza e livre-arbítrio. Há uma falta de lógica essencial nesta classificação. Falta de reflexão.

 

  

 

METAFÍSICA É MUITO MAIS QUE ESTUDO CONCEPTUAL GERAL

 

 

 

Também a definição de metafísica neste Dicionário surge envolta em rolos de fumo de ambiguidade:

 

 

 

«metafísica

 


 

 

«O estudo dos aspectos conceptuais mais gerais da estrutura da realidade. Por exemplo: Serão todas as verdades relativas, ou haverá verdades absolutas? E o que é a verdade? Ao longo do tempo um ser humano muda de personalidade, fica fisicamente diferente, perde cabelo, etc. — como se pode então dizer que é a mesma pessoa? Será que a vida faz sentido? Será que temos livre-arbítrio? A ontologia é a disciplina da metafísica que estuda quais as categorias de coisas que há. Por exemplo: Será que há números, ou são meras construções humanas? Terão os universais, como a brancura, existência independente dos particulares, isto é, das coisas brancas? Serão as possibilidades não realizadas reais, ou meras fantasias? O que hoje em dia se chama "lógica filosófica" abrange em grande parte os temas da metafísica tradicional, introduzidos na obra Metafísica, de Aristóteles, designadamente o problema da identidade e persistência de objectos ao longo do tempo. A designação de "metafísica", contudo, não foi introduzida por Aristóteles, que usava a expressão "filosofia primeira", muito corrente ainda no séc. XVII, mas hoje pouco usada — o que é uma pena, pois não permite o trocadilho informativo que consiste em dizer que a filosofia primeira estuda as questões últimas. No sentido popular do termo, "metafísica" quer dizer algo totalmente diferente: o "estudo" de questões que transcendem a realidade material: ocultismo, espiritismo, etc. Em filosofia, a metafísica não é nada disto. »

 

  

 

«A metafísica é uma das disciplinas centrais e mais gerais da filosofia; muitas outras disciplinas abordam problemas metafísicos particulares. Por exemplo: a filosofia da acção estuda, entre outras coisas, o problema metafísico de saber o que é e como se individua uma acção (isto é, como se distinguem as acções umas das outras); a filosofia da ciência estuda, entre outras coisas, o problema ontológico de saber se as entidades inobserváveis postuladas pelas ciências (como os quarks) têm existência real e independente de nós, ou se são meras construções humanas. »

 

  

 

«Com o desenvolvimento da ciência moderna, a partir do séc. XVII, a metafísica começou a sofrer ataques por não produzir resultados à semelhança da ciência; afinal, era a ciência empírica, como a física, que produzia conhecimento seguro sobre a natureza última das coisas, e não a metafísica. Esses ataques começam com Kant. Posteriormente, algumas escolas de filosofia, como o positivismo lógico, encaravam a metafísica como coisa mítica do passado. Contudo, na filosofia contemporânea, a força dos problemas metafísicos voltou a impor-se, e o seu estudo floresceu uma vez mais. » DM (Dicionário Escolar de Filosofia).

 

 

 

Desidério Murcho (DM) define metafísica de forma ambígua: «o estudo dos aspectos conceptuais mais gerais  da estrutura da realidade.» Esta definição poderia aplicar-se à lógica, que não é própriamente metafísica, e estuda conceitos gerais da estrutura da realidade.

 

 

 

Desidério vive no mundo do símbolo lógico, num átrio pré filosófico - é um pouco como aquele frade, metido à força num convento, que, como não capta a transcendência de Deus, multiplica o estudo conceptual das regras monásticas, visando tranquilizar-se sobre o que para si é incompreensível -  e isso impede-o de conceber a verdadeira essência da metafísica que não é ser estudo conceptual  mas sim realidade transfísica.

 

 

 

Metafísica é, por exemplo, o lado transfísico do copo em que pego e do vinho que nele está contido. Não é um estudo de conceitos porque os conceitos são representações de realidades, excepto no hegelianismo. Há, decerto, conceitos de metafísica. Metafísica é realidade transfísica -o que não significa necessariamente seres sobrenaturais.

 

 

 

 Também se equivoca DM ao dizer que «a ontologia é a disciplina da metafísica que estuda as categorias do que há». A ontologia é a doutrina do ser e há ser fora da metafísica. Cada ciência possui ser metafísico e ser não metafísico e também nesta última medida é ontologia. O facto de a matemática comportar no seu ser números pares e ímpares é ontologia mas não necessariamente metafísica. 

 

ERRO LÓGICO SOBRE A RELAÇÃO DO QUANTIFICADOR EXISTENCIAL COM O QUANTIFICADOR UNIVERSAL

 

A definição de quantificador existencial na sua relação com quantificador universal está formalmente errada neste Dicionário:

 

«quantificador existencial

 

«Expressões como "alguns", "pelo menos um", etc., são quantificadores existenciais, simbolizados habitualmente na lógica clássica com um E ao espelho: . A negação de um quantificador existencial é um quantificador universal, porque negar que alguns filósofos são imortais é o mesmo do que afirmar que todos os filósofos são mortais. »Ver quantificador. DM

 

Se isto não é um desvario teórico de Desidério Murcho, e consiste numa tese geral da lógica proposicional que, supostamente, ele propaga, é um grave erro desta: a negação de uma proposição particular - proposição iniciada por um quantificador existencial do tipo «Algum», «Alguns», «Poucos», «Muitos» -não autoriza afirmar  a proposição universal inversa. Exemplo: a proposição «alguns deuses não são femininos» não é o mesmo que a proposição «todos os deuses são masculinos.» mas DM sustentaria que sim, por aquilo que acima escreveu; a proposição «alguns homens não são ignorantes» não é o mesmo que a proposição «todos os homens são sábios».  Portanto, ao invés do que defende DM, a negação de um quantificador existencial não é, não equivale automaticamente a um quantificador universal ("Todos", "Nenhuns").

 

Eis como o «campeão» da apologia da lógica proposicional entre os professores de filosofia do ensino secundário em Portugal, o campeão do combate à grande filosofia clássica (Platão, Hegel, Aristóteles, Tomás de Aquino, Heidegger, etc) que, equivocamente, baptiza de «história da filosofia»,  se revela um banal sofista, um decorador de fórmulas cujo sentido não assimilou...

 

O VALOR NAS COISAS NÃO INCLINA NECESSARIAMENTE A UMA ATITUDE FAVORÁVEL PARA COM ELAS

 

A definição de valor neste Dicionário é sesgada, fantasmagórica, muito pobre:

 

«valor

 

«Quando reconhecemos um valor nas coisas (por exemplo, considerando-as belas, justas ou sagradas), inclinamo-nos a ter uma atitude favorável para com elas que se reflecte nos nossos actos e escolhas (ver acção). Quem tem uma postura objectivista em relação aos valores julga que as coisas são valiosas independentemente de as valorizarmos, mas para um subjectivista as coisas são valiosas simplesmente porque as valorizamos. Atribuir valor instrumental a uma coisa é considerá-la valiosa apenas em virtude de esta ser um meio para alcançar aquilo que julgamos ter valor em si — isto é, aquilo que julgamos ter valor intrínseco. Ver hedonismo, objectivismo/subjectivismo, juízo de facto/juízo de valor.»  PG

 

Pedro Galvão (PG) já nos habituou à sua fuga diante das definições. Neste artigo não nos é dito o que é um valor. É substância?  Essência? Atitude? Qualidade?  Quantidade?  Nada diz. É uma onda do mar de vagueza...

 

 A frase :«Quando reconhecemos um valor nas coisas (por exemplo, considerando-as belas, justas ou sagradas), inclinamo-nos a ter uma atitude favorável para com elas que se reflecte nos nossos actos e escolhas (ver acção)»  é incorrecta, genericamente falando. Há valores positivos e negativos. Reconhecemos em Hitler e nos símbolos nazis um valor.. negativo e não nos inclinamos favoravelmente para eles.

 

A frase: «Quem tem uma postura objectivista em relação aos valores julga que as coisas são valiosas independentemente de as valorizarmos, mas para um subjectivista as coisas são valiosas simplesmente porque as valorizamos.» é ambigua. Falta definir objectivismo. Há o objectivismo extra animan e o objectivismo intra animan, este último o conceito de esse objectivum da Escolástica medieval. A qual se refere PG? Também subjectivismo não surge correctamente definido. Não se percebe o que é o mundo subjectivo. A definição de PG prima pela ausência de contornos claros e racionais.

 

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