Habitualmente, designa-se o utilitarismo de Mill como uma doutrina ética consequencialista opondo-o à chamada ética deontológica que, para a generalidade dos autores, tem como expoente máximo a ética de Kant. Se meditarmos com profundidade, descobrimos que há um erro nesta divisão não dialéctica: consequência e dever não são contrários entre si, consequencialismo e deontologia não se opõem, complementam-se até numa mesma teoria.
Se Kant formulou o imperativo categórico como imperativo do dever (deón: corrente, em grego), Mill formulou o imperativo da maximização altruísta do prazer assente no princípio da imparcialidade.
«No entanto, não parece que tenha de considerar-se a imparcialidade em si mesma como um dever, mas antes como um instrumento para outro dever; porquanto se admite que o favor e a preferência nem sempre são censuráveis, e, na realidade, os casos em que se condenam constituem mais uma excepção do que uma regra. »(John Stuart Mill, Utilitarismo, pag 74, Atlântida, Coimbra, 1961; o negrito é posto por mim).
A imparcialidade subordina-se à felicidade do maior número, na ética de Mill, ao contrário da ética de Kant em que a imparcialidade é um valor absoluto, por cima de todos, mesmo que gere infelicidade. Mill tem uma visão dialéctica - eivada de variação, movimento, consoante o tempo e a rede de correlações materiais, sociais, etc - ao passo que Kant tem uma visão antidialéctica, estática, rígida.
Mill escreveu sobre o princípio-dever dos utilitaristas:
«Porquanto este critério (utilitarista) não é o da maior felicidade do próprio agente mas o da maior soma de felicidade geral.»(John Stuart Mill, Utilitarismo, pag 27, Atlântida; o negrito é posto por mim).
«Proceder como desejaríamos que procedessem connosco, e amar o próximo como a nós mesmos - eis o ideal de perfeição da moral utilitarista. Como meios para conseguir a mais exacta aproximação deste ideal, o utilitarismo exigiria, em primeiro lugar, que as leis e disposições sociais colocassem a felicidade, ou (como praticamente podemos chamar-lhe) o interesse, de cada indivíduo, tanto quanto possível em harmonia com o interesse da comunidade; e, em segundo lugar, que a educação e a opinião, que tão vasto poder têm sobre o carácter humano, usassem desse poder para incutir na mente de cada indivíduo uma associação indissolúvel entre a sua própria felicidade e o bem de todos» (ibid, pag. 34-35; o negrito é posto por mim).
Os deveres do utilitarismo de Stuart Mill são, portanto:
1) Assegurar o prazer e uma existência digna à maioria - se não for possível à totalidade - das pessoas envolvidas numa dada situação (princípio da maior felicidade), através de regras e preceitos e de uma solução "ad hoc" eficaz. fruto de uma análise adequada da situação concreta.
2) Difundir os bons princípios ou preceitos do amor e da solidariedade universal que agilizam o princípio da Maior Felicidade, entre os quais o de a felicidade de cada um não dever ser egoísta mas implicar-se em expandir a felicidade aos outros e dos outros .
No fundo, o dever do utilitarista é realizar a felicidade para o maior número de pessoas. Isso é deontologia, fundada no princípio do prazer.
A ética de Mill é, sem dúvida, uma ética deontológica hedonista, se por hedonismo entendemos a filosofia que identifica o bem com o prazer,e o mal com a dor, de um ou muitos indivíduos. A ética de Kant, tal como a dos estóicos, é uma ética deontológica não hedonista, isto é, ascética, justiceira e, por vezes, dolorista.
A ética de Kant é, ao contrário do que se diz, uma ética consequencialista: ela visa não apenas o método da acção mas a consequência desta, que é irradiar um conteúdo, indeterminado a priori, sobre toda a humanidade. Trata-se de um consequencialismo formal - «ou comem todos ou não há moralidade» em linguagem popular - que, em cada caso individual, se transforma em consequencialismo material ou substancial.
É, de facto, um pouco idiota supor que Kant não visava finalidades, consequências, nas máximas (princípios subjectivos de cada indivíduo) elevadas a lei moral. Não é pelo aspecto consequencialista que as éticas de Kant e Mill se distinguem, essencialmente.
in «Dicionário de Filosofia e Ontologia, Dialética e equívocos dos filósofos», de Francisco Queiroz, págs 503-504
Encontram-se à venda na livraria «Modo de Ler», Praça Guilherme Gomes Fernandes, centro da cidade do Porto, as nossas 0bras:
Dicionário de Filosofia e Ontologia, Dialética e Equívocos dos Filósofos, de Francisco Limpo Queiroz,
Astrologia Histórica, a nova teoria dos graus e minutos homólogos,de Francisco Limpo Queiroz,
Astrología y guerra civil de España de 1936-1939, de Francisco Limpo Queiroz
Eis um teste de filosofia fora do estereótipo dos testes que os autores dos manuais escolares da Porto Editora, Leya, Santillana, Areal Editores, etc, divulgam. E sem questões de escolha múltipla que, frequentemente, são incorrectamente concebidas por quem não domína o método dialético e desliza para a horizontalidade da filosofia analítica vulgar. Os conteúdos deste teste de filosofia referentes a alquimia, cabala e princípio das correspondências macrocosmos-microcosmos integram-se na rubrica «Os grandes temas da filosofia» e são relativos a uma visita de estudo ao centro histórico de Sevilha em que se fez hermenêutica de monumentos antigos e seus pormenores artísticos.
Agrupamento de Escolas nº1 de Beja
Escola Secundária Diogo de Gouveia, Beja
TESTE DE FILOSOFIA, 10º ANO TURMA A
11 de Fevereiro de 2016. Professor: Francisco Queiroz.
I
"A filosofia da alquimia, que aceita as noções de pleroma, kenoma e hebdómada, sustenta a divisa «solve e coagula» e a existência de três princípios/ substâncias do universo material. Na Grande Obra Alquímica, que traduz a lei dialética do uno, há quatro fases correspondendo uma ave a cada uma. O princípio das correspondências macrocosmo-microcosmos foi usado na construção da catedral medieval."
1)Explique, concretamente este texto.
2) Relacione, justificando:
A) Seis esferas da árvore cabalística dos Sefirós, as respectivas qualidades, cores e planetas associados a cada uma, e a planta do templo cristão medieval.
B) Lei da luta de contrários, por um lado, e taoísmo, Adão Kadmon, e binómio realismo/idealismo, binómio ética deontológica/ ética teleológica por outro lado.
C) Vontade autónoma/ vontade heterónoma, eu fenoménico e eu numénico em Kant, por um lado, e três partes da alma na teoria de Platão, por outro lado.
D) Máxima e imperativo categórico em Kant e o princípio moral do utilitarismo em Stuart Mill
CORREÇÃO DO TESTE COTADO PARA 20 VALORES
1) A filosofia da alquimia, doutrina esotérica, hermética que sustenta o processo da Grande Obra ou criação laboratorial da pedra filosofal que concederia a imortalidade ao homem, dotando-o de um corpo astral desmaterializado como o mítico Adão Kadmon (metade homem e metade mulher), defende que há três princípios/ substâncias originárias do universo, o enxofre ou homem vermelho (princípio masculino), sólido, o mercúrio filosófico ou mulher branca (princípio feminino), volátil, e o sal, neutro. A divisa «solve e coagula» significa dissolver o enxofre, sólido, e coagular o mercúrio líquido ou gasoso que se esparge pelas esferas celestes de forma a obter o equilíbrio e a pedra filosofal, ou lapis vermelho. O pleroma é o mundo divino, da luz, o mundo dos éons ou dos arquétipos perfeitos, o kenoma é o vazio, das trevas e da matéria exterior ao pleroma, a hebdómada é o mundo das sete esferas planetárias que tem a Terra no centro, criado por Deus ou pelo demiurgo (deus inferior) no seio do kenoma para alojar Adão que, ao sair do Éden atraído por Lúcifer, se materializou e perdeu Sofia, a sua metade espiritual (VALE QUATRO VALORES). As quatro fases da Grande Obra Alquímica que visa produzir o elixir da longa vida ou pedra filosofal em laboratório são: nigredo, ou fase negra, da putrefação da matéria transformada no laboratório a que corresponde o corvo; albedo, ou fase branca de separação das impurezas, a ave é o cisne; citredo, ou fase multicolor, de alguma dominancia do amarelo limão, a ave é o pavão; rubedo, ou fase vermelha na qual se dá a produção da pedra filosofal cuja ave é a fénix. A lei do uno sustenta que tudo se relaciona e isso exemplifica-se no facto de estas quatro fases da Grande Obra estarem ligadas entre si num processo de continuidade. (VALE TRÊS VALORES). O princípio das correspondências microcosmo-microcosmo da filosofia hermética sustenta que o que está em baixo é como o que está em cima, há uma analogia entre o microcosmo ou pequeno universo e o macrocosmo ou grande universo. Assim, o templo cristão da idade média obedeceu a essa lei: o macrocosmos seria um corpo gigantesco de Cristo de braços abertos que atravessaria o universo inteiro e o templo a construir seria um macrocosmos que imitaria, em forma de cruz, esse corpo macrocósmicos. A abside do templo, orientada a Este, ponto cardeal onde nasce o Sol (Cristo é o Sol espiritual) equivale à cabeça, o transepto aos braços abertos, o altar ao coração, as naves ao tronco e pernas de Cristo. (VALE DOIS VALORES).
2-A) A árvore das Sefirós (Esferas) é o diagrama do universo, segundo a Cabala (ensinamento secreto) judaica, uma «heresia» do judaísmo como religião de massas. Essa árvore de 10 esferas, que são 10 qualidades manifestas de Deus, é composta de um hexágono em cima, um triângulo debaixo deste e um ponto isolado no fundo. Podemos aplicar este diagrama à planta em cruz da catedral cristã fazendo coincidir Kéther, a primeira Sefiró, com a abside do templo, Binan e Guevurah com a extremidade esquerda do transepto, Hockman e Chesed com a extremidade direita do transpeto, Tiferet com o altar no pilar central.
KÉTHER (Coroa)
Planeta: Úrano
Esfera nº 1
Cor : Indefinida
BINAH: CHOCKMAH
Esfera nº 3 Esfera nº 2
Inteligência Sabedoria
Feminina Masculina
Saturno Neptuno
Cor Negra Cor iridescente
GUEVURAH CHESED
Esfera nº 5 Esfera nº 4
Justiça Misericórdia
Marte Júpiter
Cor: Vermelho Cor Azul
THIPHERET
Esfera nº 6.
Beleza.
Sol.
Cor: amarelo ouro.
(VALE TRÊS VALORES)
2. B) A lei da luta de contrários sustenta que a essência e o motor de desenvolvimento de cada fenómeno ou ente é uma luta de contrários. No taoísmo, antiga filosofia chinesa, o Tao ou mãe do universo divide-se numa luta entre o Yang e o Yin, o fluxo da onda (Yang) e o refluxo desta (Yin), a luz do dia (Yang) e a escuridão da noite (Yin), a diástole (Yang) e a sístole (Yin), o crescimento (Yang) e o decréscimo (Yin), o masculino (Yang) e o feminino (Yin), o vermelho e o laranja (Yang) o azul e o violeta (Yin), o verão e o calor (Yang), o inverno e o frio (Yin). O Adão Kadmon, antepassado mítico do homem, é uma luta de contrários: a sua metade direita é masculina, a sua metade esquerda é feminina. O realismo e o idealismo são contrários: o primeiro afirma que há um mundo de matéria, real em si mesmo, fora das nossas mentes e anterior a elas, ao passo que o idealismo diz que o mundo material é uma ilusão fora do corpo, é apenas percepções e ideias da nossa mente. As éticas deontológicas são, supostamente, não hedónicas, põem o dever à frente do prazer. ao passo que as éticas ditas teleológicas (télos significa finalidade) colocam o prazer, finalidade da acção, à frente do dever.(VALE QUATRO VALORES)
2-C) A vontade autónoma reside no eu numénico, ou eu racional, na doutrina de Kant, e permite a cada pessoa universalizar a sua máxima ou princípio subjetivo, agir de acordo com o imperativo categórico que cada um gera no seu eu racional: trata cada ser humano como um fim em si mesmo, alguém digno de respeito, e nunca como um meio para chegares a fins egoístas. Isto liga-se ao Nous ou parte superior, racional, da alma humana, em Platão, que contempla os arquétipos e dirige os filósofos.reis que vivem colectivamente, sem ouro nem prata, numa casa do Estado e fazem as leis. Também se liga ao Tumus ou parte intermédia da alma que representa o valor militar dos guerreiros, auxiliares dos filósofos-reis. A vontade heterónoma situa-se no eu fenoménico ou eu empírico e é governada por interesses materiais, instintos e paixões contrárias ao eu racional e exprime à parte inferior da alma humana, a epythimia ou concupiscência, sede dos prazeres egoístas de enriquecer materialmente com ouro e prata, comer requintadamente, desfrutar vida luxuosa, etc. (VALE TRÊS VALORES).
2-D- O imperativo categórico ou verdadeira lei moral postula: «Age como se quisesses que a tua ação fosse uma lei universal da natureza». Resulta da universalização da máxima, da aplicação equitativa do princípio subjectivo moral de cada um ou máxima. Exemplo: se a minha máxima é «Combato a vacinação obrigatória porque as vacinas infectam o organismo» o meu imperativo categórico será «Vou difundir a ideia de que a vacinação é nociva e não me vacinarei nem as minhas filhas, quaiquer que sejam as sanções contra mim.» O princípio moral de Stuart Mill é, em cada situação, promover a felicidade da maioria das pessoas, mesmo sacrificando a minoria. Em regra, isto opõe-se ao imperativo categórico de Kant que é absolutamente equitativo e trata por igual todos os indivíduos. (VALE UM VALOR)
www.filosofar.blogs.sapo.pt
f.limpo.queiroz@sapo.pt
© (Direitos de autor para Francisco Limpo de Faria Queiroz)
Os conteúdos deste teste de filosofia referentes a alquimia, cabala e princípio das correspondências macrocosmos-microcosmos integram-se na rubrica «Os grandes temas da filosofia» e são relativos a uma visita de estudo ao centro histórico de Sevilha em que se fará hermenêutica de monumentos antigos e seus pormenores artísticos.
Agrupamento de Escolas nº1 de Beja
Escola Secundária Diogo de Gouveia, Beja
TESTE DE FILOSOFIA, 10º ANO TURMA B
4 de Fevereiro de 2016. Professor: Francisco Queiroz.
I
“A filosofia da alquimia sustenta a divisa «solve e coagula» e a existência de três princípios/ substâncias do universo material. O templo cristão na idade média foi construído segundo o princípio das correspondências microcosmo-macrocosmo. O não agir do taoísmo exige não só a percepção empírica mas também o conceito empírico e a intuição inteligível".
1) Explique, concretamente este texto.
2) Relacione, justificando:
A) Seis esferas da árvore cabalística das Sefirós, as respectivas qualidades, cores e planetas associados a cada uma, e a planta do templo cristão medieval.
B) As quatro fases do processo alquímico e respectivas aves, por um lado, realismo e idealismo, por outro lado
C)Agir por dever e agir em conformidade com o dever em Kant e três partes da alma na teoria de Platão
D) Máxima e imperativo categórico em Kant e o princípio moral do utilitarismo em Stuart Mill.
3) O que é e para que serve a filosofia? Tem o direito de gerar metafísica? É dogmática? É céptica? É objetiva? É subjetiva?
Disserte sobre isto (mínimo: 7 linhas).
CORREÇÃO DO TESTE COTADO PARA 20 VALORES
1) A filosofia da alquimia, doutrina esotérica, hermética que sustenta o processo da Grande Obra ou criação laboratorial da pedra filosofal que concederia a imortalidade ao homem, dotando-o de um corpo astral desmaterializado como o mítico Adão Kadmon (metade homem e metade mulher), defende que há três princípios/ substâncias originárias do universo, o enxofre ou homem vermelho (princípio masculino), sólido, o mercúrio filosófico ou mulher branca (princípio feminino), volátil, e o sal, neutro. A divisa «solve e coagula» significa dissolver o enxofre, sólido, e coagular o mercúrio líquido ou gasoso que se esparge pelas esferas celestes de forma a obter o equilíbrio e a pedra filosofal, ou lapis vermelho (VALE TRÊS VALORES). O princípio das correspondências microcosmo-microcosmo da filosofia hermética sustenta que o que está em baixo é como o que está em cima, há uma analogia entre o microcosmo ou pequeno universo e o macrocosmo ou grande universo. Assim, o templo cristão da idade média obedeceu a essa lei: o macrocosmos seria um corpo gigantesco de Cristo de braços abertos que atravessaria o universo inteiro e o templo a construir seria um macrocosmos que imitaria, em forma de cruz, esse corpo macrocósmicos. A abside do templo, orientada a Este, ponto cardeal onde nasce o Sol (Cristo é o Sol espiritual) equivale à cabeça, o transepto aos braços abertos, o altar ao coração, as naves ao tronco e pernas de Cristo. (VALE DOIS VALORES) O não agir do taoísmo, isto é, o quietismo ético, doutrina que incita a ser contemplativo, a levar a vida simples de um camponês ou de um artesão e a desprezar a política, as expedições militares e as guerras, os grandes negócios e títulos universitários, exige a percepção empírica, isto é, ver tocar, saborear coisas e situações, o conceito empírico, isto é, a ideia extraída de percepções sensoriais (exemplo: o conceito empírico de guerra é abstraído das percepções de casas destruídas por bombas, corpos ensanguentados nas ruas, disparos ou espadeiradas contra pessoas). Exige também a intuição inteligível isto é um flash ou iluminação metafísica (exemplo: a intuição de que a maior virtude é seguir o Tao, o ritmo natural dos dias e das noites, etc). (VALE TRÊS VALORES)
2) A) A árvore das Sefirós (Esferas) é o diagrama do universo, segundo a Cabala (ensinamento secreto) judaica, uma «heresia» do judaísmo como religião de massas. Essa árvore de 10 esferas, que são 10 qualidades manifestas de Deus, é composta de um hexágono em cima, um triângulo debaixo deste e um ponto isolado no fundo. Podemos aplicar este diagrama à planta em cruz da catedral cristã fazendo coincidir Kéther, a primeira Sefiró, com a abside do templo, Binan e Guevurah com a extremidade esquerda do transepto, Hockman e Chesed com a extremidade direita do transpeto, Tiferet com o altar no pilar central.
KÉTHER (Coroa)
Planeta: Úrano
Esfera nº 1
Cor : Indefinida
BINAH: CHOCKMAH
Esfera nº 2 Esfera nº 3
Inteligência Sabedoria
Feminina Masculina
Saturno Neptuno
Cor Negra Cor iridescente
GUEVURAH CHESED
Esfera nº 5 Esfera nº 4
Justiça Misericórdia
Marte Júpiter
Cor: Vermelho Cor Azul
THIPHERET
Esfera nº 6.
Beleza.
Sol
Cor: amarelo ouro.
(VALE TRÊS VALORES)
B) As quatro fases da Grande Obra Alquímica que visa produzir o elixir da longa vida ou pedra filosofal em laboratório são: nigredo, ou fase negra, da putrefação da matéria transformada no laboratório a que corresponde o corvo; albedo, ou fase branca de separação das impurezas, a ave é o cisne; citredo, ou fase multicolor, de alguma dominancia do amarelo limão, a ave é o pavão; rubedo, ou fase vermelha na qual se dá a produção da pedra filosofal cuja ave é a fénix. O realismo é a corrente ontológica que sustenta que a matéria existe em si mesma fora dos espíritos humanos. Parece corresponder à realidade dos processos alquímicos, com as retortas, o atanor (forno), etc. O idealismo é a corrente ontológica que diz que o universo de matéria não passa de um conjunto de ideias ou percepções empíricas dentro da imensa mente de um ou vários indivíduos humanos.A alquimia tanto pode ser encarada de um ponto de vista realista (exemplo: o atanor ou forno do alquimista é real, está ali, etc) como do ponto de vista idealista ontológico (exemplo: o mundo material e o laboratório não passam de um sonho). (VALE TRÊS VALORES).
2-C) Agir por dever, na doutrina de Kant, é universalizar a sua máxima ou princípio subjetivo, agir de acordo com o imperativo categórico que cada um gera no seu eu racional: trata cada ser humano como um fim em si mesmo, alguém digno de respeito, e nunca como um meio para chegares a fins egoístas. Isto liga-se ao Nous ou parte superior, racional, da alma humana, em Platão, que contempla os arquétipos e dirige os filósofos.reis que vivem colectivamente, sem ouro nem prata, numa casa do Estado e fazem as leis. Também se liga ao Tumus ou parte intermédia da alma que representa o valor militar dos guerreiros, auxiliares dos filósofos-reis.
Agir em conformidade com o dever é cumprir a lei do Estado por medo de ser punido e liga-se à parte inferior da alma humana, a epythimia ou concupiscência, sede dos prazeres egoístas de enriquecer materialmente com ouro e prata, comer requintadamente, desfrutar vida luxuosa, etc. " (VALE DOIS VALORES).
2-D- O imperativo categórico ou verdadeira lei moral postula: «Age como se quisesses que a tua ação fosse uma lei universal da natureza». Resulta da universalização da máxima, da aplicação equitativa do princípio subjectivo moral de cada um ou máxima. Exemplo: se a minha máxima é «Combato a vacinação obrigatória porque as vacinas infectam o organismo» o meu imperativo categórico será «Vou difundir a ideia de que a vacinação é nociva e não me vacinarei nem as minhas filhas, quaiquer que sejam as sanções contra mim.» O princípio moral de Stuart Mill é, em cada situação, promover a felicidade da maioria das pessoas, mesmo sacrificando a minoria. Em regra, isto opõ-se ao imperativo categórico de Kant que é absolutamente equitativo e trata por igual todos os indivíduos. (VALE DOIS VALORES).
3) A filosofia é uma interpretação livre ou o conjunto das interpretações livres do mundo, dotadas de variáveis graus de especulação (teorização de assuntos difíceis ou impossíveis de demonstrar objectivamente). Naturalmente, gera metafísica, isto é, doutrina sobre os entes e fenómenos invisíveis e imperceptíveis, imaginários ou reais do universo (deuses, reencarnação, buracos negros do universo, ) e sobre as causas primeiras da vida e o sentido desta. A filosofia é dogmática, assenta em certezas, e simultaneamente é cética, instala-se na dúvida. É ao mesmo tempo objectiva (exemplo: os três mundos em Platão são objectivos no sentido em que podem ser compreendidos por toda a gente) e subjectiva na medida em que cada pessoa tem uma filosofia própria diferente das outras pessoas. (VALE DOIS VALORES).
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A prova 714 de exame nacional de filosofia, 2ª fase, de 21 de Julho de 2015, padece dos erros habituais nas questões de escolha múltipla. É o espelho da indigência teórica dos partidários da filosofia analítica que dominam a Sociedade Portuguesa de Filosofia e diversas cátedras em muitas universidades portuguesas. Vejamos alguns exemplos de perguntas mal construídas em que se garante haver apenas uma hipótese correcta entre quatro.
«2. Para um relativista, a liberdade de expressão será um valor:
(A) se tiver uma justicação objetiva.
(B) se resultar de uma escolha imparcial.
(C) se gozar de aprovação social.
(D) se for uma preferência informada.
Crítica minha: a questão está em absoluto mal formulada. Dependendo do que se entende por relativista, todas as respostas estão correctas, não são incompatíveis. Não há uma definição unânime de relativismo, entre os filósofos e os professores de filosofia. O que é relativismo? Para Simon Blackburn, Peter Singer, Luís Ribeiro e os pensadores analíticos relativismo é um cepticismo, uma doutrina segundo a qual, por exemplo, o catolicismo, o islamismo, o budismo e o ateísmo valem o mesmo no plano do valor de verdade, e um dogmatismo nacional, por exemplo, o valor «o capitalismo liberal é mau» é verdadeiro em todas as camadas sociais na Coreia do Norte, marxista-leninista, mas é falso nos EUA.. A frase «se for uma preferência informada» é uma expressão técnica dos analíticos que não é obrigatório os alunos saberem. Se eu fosse convidado a elaborar uma prova de exame nacional da filosofia que incluísse a teoria de Platão com conceitos como os três mundos de Platão, arquétipo, reminiscência, ascese, indicaria previamente o significado destes termos. O autor desta prova evidencia uma visão sectária e confusa. Uma coisa é ensinar a pensar com clareza outra é propagar a estupidez com pseudo-raciocínios.
Vejamos outra questão, cotada em 5 pontos.
«3. A maximização da utilidade, defendida por Mill, obriga a:
(A) dar prioridade às pessoas que nos são mais próximas.
(B) considerar imparcialmente o bem de cada pessoa.
(C) valorizar mais a comunidade do que o indivíduo.
(D) satisfazer apenas o nosso interesse próprio racional.»
Crítica minha: há duas respostas correctas, a B e a C, e não uma só como apontam os critérios de correção da prova. De facto, Mill teoriza que se considere imparcialmente o bem de cada pessoa: «Porque o utilitarismo exige a cada um que, entre a sua própria felicidade e a dos outros, seja um espectador tão estritamente imparcial como desinteressado e benevolente- No aureo preceito de Jesus de Nazaré lemos todo o espírito da ética da utilidade. Proceder como desejaríamos que procedessem connosco e amar o próximo como a nós mesmos - eis o ideal de perfeição da moral utilitarista ». (John Stuart Mill, Utilitarismo, Editora Atlântida, Coimbra, 1961, pág. 34).
Passemos à questão 4.
«4. A perspetiva ética de Mill enfrenta a objeção seguinte.
(A) Temos de ser responsáveis pelas consequências do que fazemos.
(B) Dar sempre prioridade à felicidade geral é demasiado exigente.
(C) É errado não dar prioridade aos interesses da maioria das pessoas.
(D) A felicidade não pode ser uma questão meramente quantitativa.»
Crítica minha: há duas respostas correctas, a B e a D, e não apenas uma como pretende o autor da prova (Luís Rodrigues? Ricardo Santos? Pedro Galvão? Outro?). De facto uma das objeções ao princípio de Mill de que a felicidade deverá ter um carácter de satisfação da maioria é a dos anti utilitaristas liberais, dos existencialistas defensores do individualismo radical que proclamam que «dar sempre prioridade à felicidade geral é demasiado exigente, há que respeitar a prioridade do egoísmo pessoal».
(artigo em construção: continua)
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Úma falácia em voga entre os "novos filósofos" da ética é a distinção entre utilitarismo dos actos e utilitarismo das regras. No prefácio de "Fundamentação da Metafísica dos Costumes", de Kant, publicado por Edições 70, Pedro Galvão, da Universidade de Lisboa, escreveu, com a supervisão ou cooperação de Desidério Murcho:
«Um defensor do utilitarismo dos actos, dado que pensa que um acto é moralmente presumível apenas se maximizar a felicidade geral, tem de defender o seguinte:
«1. É permissível fazer seja o que for (ex, mentir, roubar, trair) se fazê-lo for útil para promover a felicidade geral.
«2. É obrigatório fazer tudo o que esteja ao nosso alcance (por muito sacrifíciopessoal que isso envolva) para promover a felicidade geral.»
«A alternativa principal ao utilitarismo dos actos é a deontologia, uma perspectiva que se caracteriza em parte pela oposição a estas duas teses. E Kant, sem dúvida, diria que o imperativo categórico conduz a uma perspectiva deontológica, e não ao utilitarismo dos actos (Pedro Galvão, Prefácio de "Fundamentação da Metafísica dos Costumes", de Kant, pag XVIII, Edições 70; o negrito é da minha autoria).
Aquilo que Pedro Galvão define como utilitarismo dos actos não é utilitarismo. Porque o utilitarismo comporta em si mesmo uma deontologia, não é uma mera obtenção de resultados. Proporcionar a felicidade a uma maioria, sem olhar a meios, não é a doutrina de Stuart Mill. Este escreveu referindo-se ao indivíduo e aos seus desejos de dinheiro, poder, fama e outros:
«..Nada há que faça tão benéfico aos outros como o cultivo do amor desinteressado à virtude. E, por consequência, a doutrina utilitária, embora tolere e aprove estes outros desejos adquiridos, até ao ponto para além do qual se tornariam mais prejudiciais do que conducentes à felicidade geral, ordena e exige o cultivo do amor à virtude, até ao máximo que for possível, porque a considera acima de todas as coisas importantes para a felicidade geral.» (Stuart Mill, Utilitarismo, Atlântida, pag 64; o negrito é posto por mim).
Esta citação prova que o utilitarismo possui uma deontologia: cultivar a virtude e aplicá-la em proveito da maioria dos sujeitos envolvidos numa dada situação. É pois um erro instituído no campo da ética académica a dicotomia moral utilitarista/ moral deontológica. O utilitarismo de Mill, tal como o prescritivismo universalista de Kant, são ambos éticas deontológicas, O que Pedro Galvão denomina "utilitarismo dos actos" é hedonismo amoral de maiorias: é suscitar, através do vício, a felicidade geral da maioria. Não é utilitarismo, mas pragmatismo sem escrúpulos.
Decerto, o equívoco de Pedro Galvão e Desidério Murcho é o reflexo do equívoco de Simon Blackburn, o catedrático inglês, cujas posições fielmente reproduzem. Blackburn escreve no seu "Dicionário Oxford de Filosofia":
«utilitarismo dos actos Versão do utilitarismo especialmente associada a Bentham, de acordo com a qual a medida do valor de um acto consiste no grau em que este aumenta a utilidade ou felicidade geral. Um acto deve ser preferido a actos alternativos em função da maior felicidade que proporciona comparativamente a eles. Uma acção é asim boa ou má proporcionalmente ao grau em que aumenta ou diminui a felicidade geral, comparado com o grau que poderia ter sido alcançado ao agir-se de modo diferente. O utilitarismo dos actos distingue-se não apenas por sublinhar a utilidade, mas pelo facto de cada acção individual ser o objecto primitivo da avaliação ética. Isto distingue-o dos vários tipos de utilitarismo indirecto, bem como dos sistemas éticos que dão prioridade ao dever ou à virtude pessoal.» (Simon Blackburn, Dicionário de Filosofia, páginas 447-448, Gradiva; a letra negrito é de minha autoria).
Esta definição de Blackburn é vaga. Não se percebe nela a diferença entre utilitarismo e utilitarismo dos actos. Nem sequer refere que «os piores meios servem, desde que se atinjam os fins práticos» como teoriza acima Pedro Galvão ao definir "utilitarismo dos actos". Blackburn tem erudição mas carece de profundidade de pensamento, de espírito de síntese radical e dialéctico.
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Habitualmente, designa-se o utilitarismo de Mill como uma doutrina ética consequencialista opondo-o à chamada ética deontológica que, para a generalidade dos autores, tem como expoente máximo a ética de Kant. Se meditarmos com profundidade, descobrimos que há um erro nesta divisão não dialéctica: consequência e dever não são contrários entre si, consequencialismo e deontologia não se opõem, complementam-se até numa mesma teoria.
Se Kant formulou o imperativo categórico como imperativo do dever (deón, em grego), Mill formulou o imperativo da maximização altruísta do prazer assente no princípio da imparcialidade.
«No entanto, não parece que tenha de considerar-se a imparcialidade em si mesma como um dever, mas antes como um instrumento para outro dever; porquanto se admite que o favor e a preferência nem sempre são censuráveis, e, na realidade, os casos em que se condenam constituem mais uma excepção do que uma regra. »(John Stuart Mill, Utilitarismo, pag 74, Atlântida, Coimbra, 1961; o negrito é posto por mim).
A imparcialidade subordina-se à felicidade do maior número, na ética de Mill, ao contrário da ética de Kant em que a imparcialidade é um valor absoluto, por cima de todos, mesmo que gere infelicidade. Mill tem uma visão dialéctica - eivada de variação, movimento, consoante o tempo e a rede de correlações materiais, sociais, etc - ao passo que Kant tem uma visão antidialéctica, estática, rígida.
Mill escreveu sobre o princípio-dever dos utilitaristas:
«Porquanto este critério (utilitarista) não é o da maior felicidade do próprio agente mas o da maior soma de felicidade geral.»(John Stuart Mill, Utilitarismo, pag 27, Atlântida; o negrito é posto por mim).
«Proceder como desejaríamos que procedessem connosco, e amar o próximo como a nós mesmos - eis o ideal de perfeição da moral utilitarista. Como meios para conseguir a mais exacta aproximação deste ideal, o utilitarismo exigiria, em primeiro lugar, que as leis e disposições sociais colocassem a felicidade, ou (como praticamente podemos chamar-lhe) o interesse, de cada indivíduo, tanto quanto possível em harmonia com o interesse da comunidade; e, em segundo lugar, que a educação e a opinião, que tão vasto poder têm sobre o carácter humano, usassem desse poder para incutir na mente de cada indivíduo uma associação indissolúvel entre a sua própria felicidade e o bem de todos» (ibid, pag. 34-35; o negrito é posto por mim).
Os deveres do utilitarismo de Stuart Mill são, portanto:
1) Assegurar o prazer e uma existência digna à maioria - se não for possível à totalidade - das pessoas envolvidas numa dada situação (princípio da maior felicidade), através de regras e preceitos e de uma solução "ad hoc" eficaz. fruto de uma análise adequada da situação concreta.
2) Difundir os bons princípios ou preceitos do amor e da solidariedade universal que agilizam o princípio da Maior Felicidade, entre os quais o de a felicidade de cada um não dever ser egoísta mas implicar-se em expandir a felicidade aos outros e dos outros .
No fundo, o dever do utilitarista é realizar a felicidade para o maior número de pessoas. Isso é deontologia, fundada no princípio do prazer.
A ética de Mill é, sem dúvida, uma ética deontológica hedonista, se por hedonismo entendemos a filosofia que identifica o bem com o prazer,e o mal com a dor, de um ou muitos indivíduos. A ética de Kant, tal como a dos estóicos, é uma ética deontológica não hedonista, isto é, ascética, justiceira e, por vezes, dolorista.
A ética de Kant é, ao contrário do que se diz, uma ética consequencialista: ela visa não apenas o método da acção mas a consequência desta, que é irradiar um conteúdo, indeterminado a priori, sobre toda a humanidade. Trata-se de um consequencialismo formal - «ou comem todos ou não há moralidade» em linguagem popular - que, em cada caso individual, se transforma em consequencialismo material ou substancial.
É, de facto, um pouco idiota supor que Kant não visava finalidades, consequências, nas máximas (princípios subjectivos de cada indivíduo) elevadas a lei moral. Não é pelo aspecto consequencialista que as éticas de Kant e Mill se distinguem, essencialmente.
Hedonismo e não hedonismo é, pois, a pedra de toque que distingue a moral de Mill da de Kant.
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Na divisão estabelecida por John Rawls das teorias éticas encontramos: perfeccionismo, intuicionismo, hedonismo, eudemonismo, idealismo (kantiano), utilitarismo
Escreveu Rawls:
«A minha concepção do intuicionismo é algo mais ampla do que a que é corrente: interpreto-o como a doutrina que afirma que há um grupo irredutível de princípios primordiais que temos de comparar entre si, determinando, reflectidamente, o mais justo equilíbrio entre eles. Uma vez atingido um certo nível de generalidade, o intuicionismo defende que não há um critério construtivo de parâmetro superior para determinar a relevância adequada dos diversos princípios da justiça concorrentes.» (John Rawls, Uma Teoria da Justiça, pags 48-49; o negrito é colocado por nós)
«Há uma outra semelhança com o idealismo: a teoria da justiça como equidade reserva um lugar central para o valor da comunidade e o modo de o fazer depende da interpretação kantiana.» (John Rawls, Uma Teoria da Justiça, pag 213; o negrito é colocado por nós)
«As doutrinas teleológicas diferem, claramente, de acordo com a forma como a concepção do bem é especificada. Se ela for vista como a realização daquilo que no homem há de excelente através das várias formas de cultura, teremos o que se pode chamar de perfeccionismo. Esta noção encontra-se em Aristóteles e em Nietzschze, entre outros. Se o bem for definido como prazer, temos o hedonismo; se o for como felicidade, temos o eudemonismo, e assim sucessivamente. Na minha interpretação, o princípio da utilidade na sua forma clássica define o bem como a satisfação do desejo, ou melhor, a satisfação do desejo racional.» (John Rawls, Uma Teoria da Justiça, pag 43; o negrito é colocado por nós)
«Se, por exemplo, for defendido que, em si mesmas, as realizações dos gregos nos campos da filosofia, da ciência e da arte justificavam a velha prática da escravatura (partindo do princípio de que esta era necessária para que fossem alcançadas tais realizações) esta concepção será decerto altamente perfeccionista. As exigências da perfeição afastam as altas exigências da liberdade.» John Rawls, Uma Teoria da Justiça, pag 255; o negrito é colocado por nós)
A superficialidade de Rawls é aqui patente: perfeccionismo é uma noção demasiado estreita. Acaso o marxismo não é um perfeccionismo colectivista? E o fascismo não é um perfeccionismo? Porquê citar apenas Aristóteles e Nietzschze como paradigmas do perfeccionismo? Certamente há éticas perfeccionistas e éticas não perfeccionistas mas Rawls não tem precisão na definição das primeiras e, obviamente, das segundas.
Além disso, o perfeccionismo não pode opor-se ao intuicionismo como espécies diferentes do género ético. Há um intuicionismo perfeccionista, como por exemplo, a moral de Sócrates e de Platão: o Bem é a perfeição suprema e a alma humana, mediante a filosofia, atinge esse bem por intuição inteligível, noética. A própria teoria da justiça como equidade de Rawls é um perfeccionismo, na medida em que preconiza um ideal de perfeição, a mesmo grau de liberdade extensivo a todos os homens, o que é manifestamente impossível, por utópico, na sociedade real, capitalista democrática, socialista burocrática/ «comunista» ou outra qualquer. Contudo, Rawls não parece designar a sua doutrina da justiça como equidade de perfeccionismo
HÁ PERFECCIONISMO INTUICIONISTA E PERFECCIONISMO ESTRITO?
A vagueza da definição de intuicionismo é uma característica do estudo de Rawls:
«Uma forma de distinguir as posições intuicionistas consiste na análise do nível de generalidade dos seus princípios. O intuicionismo do senso comum toma a forma de grupos de preceitos assaz específicos, cada um dos quais se aplica a um particular problema da justiça. Há um grupo de preceitos aplicável ao problema do salário justo, outro ao da tributação, outro ainda ao da sanção, e assim por diante. Por exemplo, para obter a noção de salário justo temos de avaliar diversos critérios concretos, como, por exemplo, os da capacidade, preparação, esforço, responsabilidade, bem como os simples acasos ligados ao trabalho; e temos ainda que ter em conta as necessidades objectivas de cada um». (John Rawls, Uma Teoria da Justiça, pag 49-50; o negrito é colocado por nós)
Porque se há-de chamar intuicionismo e não racionalismo a esta definição? E a ética de Aristóteles, que sonda a natureza psico-social dos homens e estabelece «grupos de preceitos assaz específicos», não deveria ser classificada como intuicionismo, segundo esta linha de pensamento de Rawls, em vez de ser designada de perfeccionismo?
Note-se aliás a névoa de confusão entre intuicionismo e perfeccionismo na seguinte passagem:
«Mas a maior felicidade dos menos afortunados não justifica, em geral, a redução das despesas exigidas para a preservação dos valores culturais. Estas manifestações de vida têm maior valor intrínseco do que os prazeres inferiores, por mais generalizados que estes sejam. Em condições normais um certo mínimo de recursos sociais deve ser posto de parte, a fim de ser consagrado aos objectivos do perfeccionismo. A única excepção ocorre quando estas exigências colidem com as relativas às necessidades básicas. Deste modo, dada a melhoria das circunstâncias, o princípio da perfeição adquire um peso relativo crescente face ao aumento da satisfação dos desejos. Nesta forma intuicionista, o perfeccionismo seria sem dúvida aceite por muitos. Ela permite uma certa gama de interpretações e parece expressar uma visão muito mais razoável do que a teoria perfeccionista estrita.»
«Antes de examinar as razões da rejeição do princípio da perfeição, vou analisar as relações entre os princípios da justiça e os dois tipos de teorias teleológicas, perfeccionismo e utilitarismo.» (John Rawls, Uma Teoria da Justiça, pag 43; o negrito é colocado por nós)
A distinção entre intuicionismo e perfeccionismo é nebulosa: Rawls admite no texto acima um perfeccionismo intuicionista, dando a este último termo um sentido de «social» ou «centrado nas necessidades básicas do povo». Mas intuicionismo é uma definição formal e nada tem de substancial como por exemplo «socialismo» ou «liberalismo». Designa apenas uma forma gnosiológica: a intuição, que pode ser empírica ou intelectual. Em que é que o intuicionismo, se o concebermos como mera forma ou «tinta» aplicada ao «vaso» substancial do perfeccionismo, desvirtua este? Nestes problemas de terminologia, que são, afinal, problemas conceptuais, naufraga a clareza de John Rawls, que não possui um pensamento autenticamente dialético
Por que razão o kantismo, que Rawls designa por idealismo, não é classificado como doutrina teleológica ( télos=fim, finalidade , em grego) se o imperativo categórico ou verdadeira lei moral se dirige às pessoas, universalmente consideradas como fins em si mesmas? E por que razão o kantismo não é classificado como um perfeccionismo?
A SUPOSTA INDEPENDÊNCIA DE RAWLS FACE ÀS MORAIS NATURALISTAS E NÃO NATURALISTAS
Rawls esforça-se por demonstrar que a sua moral não é naturalista nem supra-naturalista (concebida na metafísica divina ou na pura racionalidade anti naturalista, à maneira de Kant por exemplo).
«Os filósofos tentam normalmente justificar as teorias éticas por uma de duas formas. Por vezes, tentam encontrar princípios evidentes por si mesmos, a partir dos quais derivam um conjunto suficiente de critérios e de preceitos para explicar os nossos juízos ponderados. Podemos pensar numa justificação desta natureza como sendo cartesiana. Ela presume que os primeiros princípios podem ser vistos como sendo verdadeiros, ou mesmo como necessariamente verdadeiros; o raciocínio dedutivo transfere depois esta convicção das premissas para a conclusão. Uma segunda abordagem (designada naturalista por abuso da linguagem) consiste em introduzir definições de conceitos morais em termos de conceitos presumivelmente não morais, para depois demonstrar através de processos aceites, relevando do senso comum e das ciências, que os enunciados associados aos juízos morais defendidos são verdadeiros. Embora nesta concepção os primeiros princípios da ética não sejam evidentes em si mesmos, a justificação das convicções morais não coloca dificuldades especiais. Estes princípios podem ser estabelecidos, sendo dadas as definições, da mesma forma que outros enunciados sobre o mundo.
«Não adoptei qualquer destas concepções da justificação. Embora certos princípios morais pareçam naturais, verdadeiros, e até óbvios, há grandes obstáculos à afirmação de que eles são necessariamente verdadeiros, e até na explicação do significado desta afirmação. Na verdade, defendi que estes princípios são contingentes, no sentido em que são escolhidos na posição original à luz de factos gerais.» (John Rawls, Uma Teoria da Justiça, pags 434-435)
Aquilo que Rawls teoriza, isto é o liberalismo social, um híbrido de liberalismo (predomínio das empresas privadas na economia de mercado) e social-democracia (redistribuição a favor dos mais pobres, na economia de mercado, mediante impostos sobre os ricos, em especial o imposto de consumo) é naturalismo sociológico: as leis e normas sociais são estabelecidas por cidadãos livres, cada um coberto pelo «véu da ignorância» acerca das diferenças de riqueza, de talento laboral, empresarial, artístico, político, etc, mas são estabelecidas num contexto histórico ideal e geram uma dada formação histórico-social a partir de princípios, ao menos em parte, empiricamente definidos, isto é, extraídos da natureza humana social.
A moral de Rawls é um híbrido de naturalismo e não naturalismo, com predominância do primeiro.
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No Manual Filosofia-10º ano, de Luís Rodrigues, lê-se:
«Durante a visita a um museu, um dos visitantes apercebe-se de que dois funcionários estão a ter dificuldades em mudar de lugar um quadro muito famoso e valioso. Imediatamente, apressa-se a ajudá-los, mas infelizmente tropeça num tapete e choca com um dos funcionários derrubando-o. O quadro cai com estrondo e fica muito danificado.»
«O visitante agiu com boa intenção mas as consequências da acção foram desastrosas. Será que podemos considerar a sua acção moralmente correcta, pois agiu com boa intenção, ou devemos considerá-la como moralmente incorrecta porque as consequências foram más? »
«A resposta de Mill seria que a acção foi moralmente incorrecta. Porquê? Porque segundo a sua perspectiva consequencialista um acto deve ser julgado pelas suas consequências. Se as consequências forem boas, a acção é boa; se forem más a acção é má». (Luís Rodrigues, Filosofia 10º ano, volume 1º, Plátano Editora, pag 194).
Será que Mill classificaria como «acção moralmente má» a intervenção desafortunada do visitante e o consequente dano material do quadro? Suponho que não. Luís Rodrigues atribui a Mill uma interpretação que não lemos nos textos deste filósofo inglês.
A acção involuntária de danificar o quadro não foi moralmente má: foi materialmente má. Eticamente, o comportamento do visitante desastrado é irrepreensível. E Mill dava importância ao motivo, que neste caso prepondera sobre o resultado da acção. Não há só um princípio - o resultado prático - na avaliação moral da acção. Há princípios secundários a levar em conta: os motivos, a intenção..
Stuart Mill escreveu:
«É uma estranha noção que o reconhecimento de um primeiro princípio é inconsistente com a admissão de princípios secundários. Informar um viajante sobre o seu destino final não implica proibir a utilização de marcos miliários e sinais pelo caminho. A proposição de que a felicidade é o fim e a meta da moralidade não significa que não tenha de ser estabelecida uma rota para esse objectivo, ou que as pessoas que o procuram não tenham de ser aconselhadas a tomar uma direcção em vez de outra.» (Stuart Mill, O utilitarismo, Gradiva, pag 73; o bold é nosso).
Se o utilitarismo visa maximizar o prazer dos agentes envolvidos na acção - e aparentemente estes são três: os dois empregados do museu e o visitante que os decidiu ajudar - então seria contra a moral utilitarista condenar o visitante, partindo do princípio que os empregados permanecem neutros quanto ao resultado da acção ( nem felizes, nem infelizes, conformados com a deterioração do quadro).
Reduzir o utilitarismo à tese de que «se as consequências forem boas, a acção é boa; se forem más a acção é má» é deturpar, em larga medida, o pensamento de Stuart Mill.
Nota: No Centro de Formação Margens do Guadiana, com sede na Escola Secundária com 3º Ciclo Diogo de Gouveia, R. Luís de Camões, 708-508 BEJA (telefone: 284 328 063), estão abertas as inscrições para a acção de formação para professores de filosofia (Grupo 410) «A teoria geral dos valores e a Ética, na perspectiva do método dialéctico», equivalente a dois créditos, 50 horas de duração (50HP), CCPFC/ACC 52326/08 CF. O formador é o autor deste blog.
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No seu artigo "A eliminação do Descritivismo através da Análise Lógica", Pedro Galvão, da Universidade de Lisboa, enreda-se na dicotomia confusa utilitarismo das preferências/ utilitarismo clássico em que Richard M. Hare se afunda igualmente. Escreve Galvão:
«O utilitarismo de Hare é também objectivo, e não subjectivo: o acto certo certo não é aquele que, ponderados os resultados possíveis de cada curso de acção disponível e as suas respectivas probabilidades, maximiza a utilidade esperada, mas aquele que efectivamente dá origem ao maior total de bem estar. Por fim importa sublinhar que Hare não identifica o bem-estar com o prazer e a ausência da dor, nem com a fruição de uma pluralidade de bens, mas com a satisfação de desejos ou preferências.Constitui assim um exemplo de utilitarismo de preferências.» (Pedro Galvão, A eliminação do descritivismo através da análise lógica da linguagem, in "Do Círculo de Viena à Filosofia Analítica Contemporânea", coordenação de António Zilhão, , Sociedade Portuguesa de Filosofia, Lisboa, 2007, pag 343; o negrito é nosso).
A confusão em que está imerso Pedro Galvão lança a perplexidade: então o bem-estar, para Hare, é a satisfação de desejos e preferências mas não o prazer e a ausência de dor? Mas é possível que a satisfação de desejos exclua o prazer?
É óbvio que não.
Na passagem acima, voltamos a encontrar a miragem ou imagem míope que é a distinção entre utilitarismo clássico que «maximiza a utilidade esperada» e utilitarismo «das preferências». Uma confusão típica dos pequenos intelectuais da ética que não atingem o patamar da visão de conjunto.
Qual a diferença entre "maximizar a utilidade esperada", expressão ambígua, e "dar origem ao maior bem-estar total"?
Quanto a proclamar que "o utilitarismo de Hare é objectivo e não subjectivo" constitui um erro parcial: todo o utilitarismo é simultaneamente objectivo e subjectivo. É objectivo no princípio de criar o maior grau de satisfação possível dos sujeitos envolvidos e subjectivo na determinação do modo concreto de o fazer.
No entanto, Hare é um filósofo confuso nas suas divisões teóricas taxonómicas: insere o subjectivismo como uma modalidade do descritivismo e não considera haver um prescritivismo subjectivista.
«Podemos citar aún otro tipo de descriptivismo, a saber, el subjectivismo. Este término se utiliza de manera muy vaga, pero aquí lo asociaremos en sentido estricto a aquel tipo de descriptivismo naturalista según el cual el significado de "debe" y otros términos morales es describir las actitudes o sentimientos de las personas - por ejemplo, atribuir a las personas en general, o a quien pronuncia la oración, una actitud o sentimiento de aprobación o desaprobación hacia cierto tipo de acto.» (R.M.Hare, El prescriptivismo universal, in Compendio de Ética, Peter Singer (ed), Alianza Diccionarios, pag. 609; o bold é posto por nós).
Ora é fácil conceber que há um prescritivismo subjectivista patente, por exemplo, na frase:
«Age como entenderes, no teu próprio interesse!»
Hare é, portanto, um teórico de segunda linhagem, envolto nas névoas da confusão. Não concebe o carácter ubíquo do subjectivismo, situado ora na planície do descritivismo ora no planalto do prescritivismo.
Voltando ao tema do utilitarismo, verifica-se que o seguinte excerto de R.M.Hare insere as preferências no utilitarismo clássico, pelo menos aparentemente, como fazia Mill, e em nada confirma, antes pelo contrário, a dicotomia mantida por Pedro Galvão entre utilitarismo de Mill e utilitarismo das preferências:
«Un posible recurso para quien busca las necesarias limitaciones al pensamiento moral consiste en decir que a menos que se considere a la persona, en cuyo lugar me imagino estar, en pie de igualdad conmigo mismo, mostrando un igual interés por ella, en realidad no me imagino que yo sea esa persona. Esto supone considerar que sus propias preferencias tienen igual importancia que mis propias preferencias actuales, y formar así preferencias para la situación hipotética en la que yo soy ella, de igual fuerza que las que ella tiene en realidad.»
«Esto es lo que supone seguir la Regla de Oro, hacer a los demás lo que deseamos que nos hagan a nosotros, y querer a nuestro prójimo como a nosotros mismos. También está implícito en la máxima de Bentham «todo el mundo vale lo que uno, nadie más que uno» (citado in Mill, 1861, cap 5, s.f.) » (R.M.Hare, El prescriptivismo universal, in Compendio de Ética, Peter Singer (ed), Alianza Diccionarios, pag. 617; o bold é posto por nós).
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Alguns autores distinguem, equivocamente, entre utilitarismo clássico e utilitarismo das preferências. Pedro Madeira, tradutor para português de uma obra de Stuart Mill, um dos que perfilha essa nebulosa distinção, escreveu:
«Ao longo do Utilitarismo, Mill fala na importância de maximizar o prazer. Durante o século XX, vários filósofos preferiram deixar de falar em maximizar o prazer, e passaram a falar em maximizar a satisfação das preferências. A este tipo de utilitarismo é comum chamar-se "utilitarismo das preferências".
«A diferença entre esta versão de utilitarismo e as versões mais tradicionais como a de Mill, pode ser ilustrada através do seguinte exemplo: suponhamos que damos a escolher a uma pessoa entre ficar medianamente feliz, como está agora, e ficar muito feliz, mas perder todas as memórias e serem-lhe dadas novas memórias, e uma nova identidade. A segunda opção maximizaria, certamente, a utilidade. Mas devemos fazê-lo? Não; se uma pessoa manifesta expressamente a sua preferência por A, em detrimento de B, então, a não ser que tenhamos razão para pensar que a pessoa está a ser irracional ou ignora factos relevantes, há uma presunção a favor da ideia de que devemos deixar que a pessoa escolha A. Ao passo que as versões mais tradicionais do utilitarismo obrigam a escolher a segunda opção, porque isso maximiza o prazer, o utilitarismo das preferências permite escolher a primeira opção, se for essa a preferência da pessoa em causa.» (Pedro Madeira, Introdução in O Utilitarismo, de John Stuart Mill, Gradiva, pags. 23-24; o negrito é nosso)
Como é que Pedro Madeira pode garantir que o utilitarismo clássico de Mill obriga uma pessoa a preferir perder a memória e o sua "identidade passada" para ser muito feliz, rejeitando a mediana felicidade que frui de se lembrar do seu passado mais ou menos atribulado?
Como pode Pedro Madeira falar em maximização do prazer ao perder a memória quando há gente que sentiria isso como uma fonte de insegurança e de desprazer?
O exemplo apresentado é uma falácia de Madeira e dos que como ele pensam. É deformar o pensamento do filósofo inglês. Foi Stuart Mill quem assegurou que no utilitarismo não há receitas éticas a priori e cada caso é um caso e que é absurdo (como faz Madeira) fazer da quantidade a pedra de toque na preferência de um prazer ao outro:
«Seria absurdo que a avaliação dos prazeres dependesse apenas da quantidade, dado que ao avaliar todas as outras coisas consideramos a qualidade a par da quantidade.»
«Se me perguntarem o que quero dizer com diferença de qualidade nos prazeres, ou o que torna um prazer mais valioso que outro, apenas enquanto prazer, exceptuando o ser em maior quantidade, há apenas uma resposta possível. De dois prazeres, se houver um ao qual todos ou quase todos os que tiveram uma experiência determinada, à margem de qualquer sentimento de obrigação moral para o preferirem, esse é o prazer mais desejável«. ( John Stuart Mill, Utilitarismo, Gradiva, Lisboa, pags. 52-53; o negrito é meu).
«É melhor um ser humano insatisfeito do que um porco satisfeito; um Sócrates insatisfeito do que um idiota satisfeito. E se o idiota, ou o porco, têm opinião diferente, é porque apenas conhecem o seu lado da questão» (Stuart Mill, ibid, pag. 54).
«O que há para decidir se vale a pena a prossecução de um determinado prazer à custa de uma determinada dor, excepto os sentimentos e os juízos de quem tem experiência?» (Mill, ibid, pag 56)
«As principais componentes de uma vida feliz parecem ser duas, cada uma das quais sendo com frequência considerada por si mesma suficiente para o efeito: tranquilidade e excitamento» ( Mill, ibid, pag 59).
Não há, portanto, diferença nenhuma entre utilitarismo de Mill e utilitarismo das preferências. O utilitarismo estabelece preferências ao escolher o modo de maximizar o prazer. Madeira e os filósofos de segunda ou terceira categoria em que bebeu essa falaciosa distinção equivocam-se.
Mill era, seguramente, mais inteligente do que a populaça de autores de filosofia que, arrastando-se sobre o tapete que ele desdobrou, vieram, até hoje, escrevendo sobre o tema e "aperfeiçoando" o conceito de utilitarismo com termos erróneos como utilitarismo das regras e dos actos, utilitarismo das preferências e outros.
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