Eis um teste de filosofia isento de perguntas de escolha múltipla. Assim se obriga os alunos a desenvolver conceitos e teses e relacioná-los.
Escola Secundária Diogo de Gouveia, Beja
Agrupamento de Escolas nº1 de Beja
TESTE DE FILOSOFIA, 11º ANO TURMA C
7 de Maio de 2021.
Professor: Francisco Queiroz
I
“.O fenómeno religioso comporta o misterium, o fascinans, o tremendum e o ganz andere. Em Platão, há seis degraus na dialética do Belo. Para Kant, existe o Belo e o Sublime e neste último há três modalidades. O princípio da correspondência microcosmos-macrocosmos estava presente na construção da catedral medieval e na orgia da primavera a favor de boas colheitas de certos indígenas australianos. Este princípio exige conceber o umbigo do mundo e o eixo do mundo na cosmisação do espaço que se torna heterogéneo.”
1)Explique, concretamente este texto.
2) Relacione, justificando:
A) Hierofania, panteísmo e teísmo
B) Os três níveis de um Programa de Investigação Científica segundo Lakatos e o argumento da contingência e da necessidade de São Tomás para demonstrar Deus.
C) O argumento ontológico de Santo Anselmo e o argumento dos graus de perfeição de São Tomás e o estádio religioso em Kierkegaard
D) A arte como transfiguração do real e Apolo e Diónisos em Nietzsche.
CORREÇÃO DO TESTE COM COTAÇÃO MÁXIMA DE 20 VALORES
1) O fenómeno religioso comporta o misterium, isto é o mistério, o fascinans, isto é o encantamento que os seres humanos sentem ante divindades, o tremendum, isto é, o temor de castigos divinos, e o ganz andere, expressão alemã que significa totalmente diferente, quer dizer, a natureza humana é completamente diferente da natureza divina (VALE DOIS VALORES) .A dialética do Belo implica que diversos níveis da matéria e do espírito humano contêm sucessivos degraus do Belo: primeiro, diz Platão, deve-se amar um corpo belo, depois deve-se amar vários corpos belos e descobrir que há beleza em todos, depois amar a beleza das almas, em seguida amar as leis e costumes da cidade que são belas, encontrar a beleza das ciências e da filosofia e por último amar o Belo em Si Mesmo, que não participa de nada (VALE DOIS VALORES). Kant sustentou que o belo é pequeno, cheio de adornos, de encanto visual como um jardim com canteiros de flores multicolores, como o dia luminoso, como a mulher loura, como a lógica, como a juventude e o sublime é grande, grandioso, metafísico como um bosque alto de carvalhos, como a noite estrelada, como o homem moreno, como a filosofia metafisica, como a velhice. O sentimento do belo existe na faculdade do gosto que não é racional embora universal, existente em todas as pessoas. Kant preconizou haver três formas do sublime: o sublime terrível, como por exemplo, a visão de um vulcão a expelir lava ou de um precipício imenso; o sublime nobre, em que a grandeza se combina com a simplicidade, como uma igreja gótica vazia, sem altares doirados; o sublime magnífico em que a grandeza se mistura com riquezas materiais como um palácio com paredes de ouro ou a capela sistina do Vaticano. (VALE TRÊS VALORES). O princípio da correspondência microcosmo-macrocosmo das antigas filosofias estipula que «o que está em baixo é como o que está em cima, o microcosmo ou pequeno universo é o espelho do macrocosmo ou grande universo».Isto está presente que na construção dos castelos Isto manifesta-se na astrologia, por exemplo: Júpiter em 9º do signo de Sagitário em 25 de Abril de 1983 (Sagitário é parte do céu, macrocosmo) causou a vitória eleitoral do PS de Mário Soares (microcosmo, Portugal). Também se manifesta na construção dos castelos templários em que a planta das muralhas (microcosmos) reproduz o desenho de constelações (macrocosmos). Está ainda presente na orgia dos australianos primitivos (microcosmos) que espelha a hierogamia ou união sexual do deus e da deusa no Céu (VALE DOIS VALORES). A cosmisação do espaço é a transformação do espaço caótico, sem limites definidos, em um espaço cósmico, um espaço organizado e hierarquizado com centro e periferia, metade direita e metade esquerda, etc. Isso faz-se primordialmente definindo o lugar do centro ou umbigo do mundo pelo qual passa, vertical, o axis mundis, ou eixo do mundo que pode tomar variadas formas. O axis mundis é a coluna que sustenta o céu aos ombros do gigante Atlas, na mitologia grega, o poste de madeira por onde o deus dos australianos Achilpas subiu ao céu e desapareceu, poste que a tribo nómada transporta consigo e implanta no centro do acampamento. São também axis mundis a montanha sagrada, a ilha de Avalon no centro do oceano, a árvore sagrada dos bascos e de outros povos, a cruz de Cristo crucificado no monte de Gólgota. (VALE DOIS VALORES).
2)A)Teísmo é o conjunto das concepções religiosas que supõem a existência de um ou mais deuses transcendentes à natureza biofísico, «no alto dos céus». Panteísmo é a concepção que sustenta que Deus ou deuses são imanentes à natureza, não estão fora desta, como por exemplo, o vento, o sol e a lua são deuses ou partes do deus-natureza física. A hierofania é a manifestação do sagrado e tanto existe no teísmo (exemplo: a capela das aparições em Fátima é sagrada) como no panteísmo (exemplo: a trovoada e o rugir das ondas do mar são sagradas, são o divino naturalizado). (VALE DOIS VALORES)
2.B) Os três níveis de um programa de investigação científica (P.I.C) são para Imre Lakatos: o núcleo duro (hard core), isto é, as teses imutáveis de uma ciência (exemplo: a série de números vai de menos infinito a mais infinito); o cinto protector (protective belt), isto é, as teses susceptíveis de revisibilidade ou eliminação (exemplo: o Big Bang foi o começo de tudo); a heurística, o conjunto de métodos e técnicas de investigação experimental (exemplo: a observação por microscópio, por telescópio, por câmaras em drones, etc.) o argumento da contingência e da necessidade de São Tomás para demonstrar Deus é o seguinte: como todas as coisas do mundo são contingentes, mutáveis, finitas ( nota nossa: e isto corresponde ao cinto protector de Lakatos) tem de haver um ser necessário, imutável, eterno que escape à contingência (nota nossa: isto corresponde ao núcleo duro de um PIC) e esse ser é Deus. (VALE TRÊS VALORES).
2-C) O argumento ontológico de Santo Anselmo é o seguinte: Deus possui todas as perfeições, suprema misericórdia, suprema bondade, suprema justiça, logo tem de ter a perfeição de existir. O argumento dos graus de perfeição em São Tomás parte do mundo sensível e eleva-se até Deus: uma árvore é mais perfeita que uma pedra e o homem é mais perfeito que o boi logo a perfeição suprema é Deus. A monotonia do homem casado que personifica o estado ético em Kierkegaard e a necessidade do eterno faz o homem saltar ao estádio religioso, em que Deus é o valor absoluto, que não exige ser demonstrado (fideísmo) apenas importa salvar a alma e os outros pouco ou nada contam. Abraão estava no estádio religioso, de puro misticismo, quando se dispunha a matar o filho Isaac porque «Deus lhe ordenou fazer isso». O estádio religioso é o do puro existencialismo, doutrina que afirma que a existência vive-se em liberdade e angústia sem fórmulas (essências) definidas, buscando um Deus que não está nas igrejas nem nos ritos oficiais. Neste estádio, o homem casado pode abandonar a mulher e os filhos se «Deus lhe exigir» retirar-se para um mosteiro a meditar ou para uma região subdesenvolvida a auxiliar gente esfomeada. A escolha a cada momento ante a alternativa é a pedra de toque do existencialismo. Kierkegaard acentuava a noção de angústia, essa liberdade bloqueada, essa intranquilidade que surge antes ou durante muitos actos decisivos (exemplo: a angústia do aluno antes de saber a nota do teste, a angústia da mãe antes do parto, etc). Kierkegaard situa o paradoxo no interior do estado religioso e diz que se deve amar e seguir a vontade de Deus apesar de não compreendermos esta. (VALE DOIS VALORES).
2-D) O surrealismo, na medida em que projecta do inconsciente figuras fantásticas que não existem, como por exemplo, uma árvore com cabeça de mulher, transfigura a realidade. As artes plásticas - pintura, escultura, arquitectura - são do deus Apolo, deus da ordem e da beleza solar serena, segundo Nietzsche, e as artes não plásticas - música, dança, poesia, teatro - sáo de Diónisos, deus da desordem, das paixões, da embriaguez. Embora Nietzsche tivesse morrido em 1900, 25 anos antes do aparecimento do manifesto surrealista, podemos atribuir a este um carácter dionisíaco. (VALE DOIS VALORES)
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Dicionário de Filosofia e Ontologia, Dialética e Equívocos dos Filósofos, de Francisco Limpo Queiroz,
Astrologia Histórica, a nova teoria dos graus e minutos homólogos,de Francisco Limpo Queiroz,
Astrología y guerra civil de España de 1936-1939, de Francisco Limpo Queiroz
Este teste centra-se na temática da arte e da religião que integra o programa de filosofia do 11º ano.
Agrupamento de Escolas nº1 de Beja
Escola Secundária Diogo de Gouveia , Beja
TESTE DE FILOSOFIA, 11º ANO TURMA A-D
5 de Março de 2020. Professor: Francisco Queiroz
I
«Segundo Hegel, o conteúdo prevalece sobre a forma na obra de arte. Para Freud, há um processo de sublimação na criação artística. O conceito de sublime magnífico é, para Kant, diferente do conceito de belo. O princípio da correspondência microcosmos-macrocosmos foi aplicado pelos arquitectos na construção da catedral cristã na Idade Média e pelos templários na construção dos seus castelos».
1)Explique estes pensamentos.
2)A cosmisação do espaço feita pelos povos antigos implicava um axis mundi e um umbigo do mundo. Explique isto e exemplifique.
3) A filosofia sagrada da espacialidade na China, o Feng Shui, liga duas energias macrocósmicas ao microcosmos de cada casa. Indique as seguintes correlações:
A) Os oito pontos cardeais, as oito cores, as oito áreas da vida (emprego, fama, etc) na planta da casa.
B) As cinco estações do ano, os cinco elementos da natureza, as cinco formas geométricas dos objectos
4)Relacione, justificando:
A) Panteísmo e teísmo.
B) Teoria da participação e degraus da dialética do Belo em Platão.
C) Objectivismo estético realista, subjectivismo estético.
D)Percepção sensorial, conceito de base empírica e intuição inteligível.
5) O estatuto da obra de arte.
Diga, em sua opinião, o que faz de um objecto material, de uma melodia, de um poema uma obra de arte.
CORREÇÃO DO TESTE COTADO PARA UM TOTAL DE 20 VALORES
1) Em Hegel, o conteúdo da obra de arte é o conceito, o sentimento espiritual e a forma é as cores, as figuras, os sons. O conceito é o mais importante e Hegel sublinha que o retrato não é uma mera imitação da natureza mas deve exprimir a alma do retratado, podendo suprimir sinais ou cicatrizes do rosto em nome da perfeita expressão da alma. (VALE DOIS VALORES). Para Freud, esculpir uma estátua ou pintar um quadro exige sublimar, isto é, espiritualizar a energia sexual (libido) e a pulsão de destruição ou pulsão de Tanatos (VALE UM VALOR). O sublime magnífico é um sentimento de algo grandioso e recheado de riquezas materiais como, por exemplo, um palácio real com paredes de nármore e ouro e o belo é algo de perfeito, pequeno, de vivas cores como um canteiro de jardim(VALE UM VALOR) . O princípio da correspondência macrocosmos-microcosmos enuncia-se assim: o microcosmos ou pequeno universo é o espelho do macrocosmos ou grande universo, o que está em baixo é como o que está em cima. A planta da catedral cristã medieval (microcosmos) reproduzia em pedra um gigantesco Cristo crucificado de braços abertos que supostamente se estenderia por todo o universo (macrocosmos): a abside equivale à cabeça de Cristo, o transepto aos braços abertos, o altar ao coração, as naves às pernas e tronco de Cristo. A planta de alguns castelos dos templários imitava a configuração de certas constelações como a do Boieiro (VALE DOIS VALORES).
2) A cosmisação do espaço é a transformação do espaço caótico, sem limites definidos, em um espaço cósmico, um espaço organizado e hierarquizado com centro e periferia, metade direita e metade esquerda, etc. Isso faz-se primordialmente definindo o lugar do centro ou umbigo do mundo pelo qual passa, vertical, o axis mundis, ou eixo do mundo que pode tomar variadas formas. O axis mundis é a coluna que sustenta o céu aos ombros do gigante Atlas, na mitologia grega, o poste de madeira por onde o deus dos australianos Achilpas subiu ao céu e desapareceu, poste que a tribo nómada transporta consigo e implanta no centro do acampamento. São também axis mundis a montanha sagrada, a ilha de Avalon no centro do oceano, a árvore sagrada dos bascos e de outros povos, a cruz de Cristo crucificado no monte de Gólgota. (VALE DOIS VALORES).
3-A) As duas energias macrocósmicas são o Yang (Luz, Calor, Dilatação, Vermelho, Primavera e Verão, Para Cima, Este, Sul, Masculino) e o Yin (Escuridão, Frio, Contração, Azul e Negro, Outono e Inverno, Para Baixo, Oeste, Norte, Feminino) Estas energias distribuem-se em tonalidades diversas por oito as áreas de vida contempladas na filosofia do Feng Shui, que se aplica ao plano de construção e utilização da casa ou da cidade, cada uma dessas áreas correspondente a um ponto cardeal e a uma cor:
Sudeste Sul Sudoeste
(Púrpura, dinheiro) (Vermelho, fama) (Rosa, Casamento)
Este Oeste
(Verde,família, (Branco, diversão,
saúde) filhos)
Nordeste Norte Noroeste
(Azul, Estudos) (Negro, Emprego) (Cinzento, Pessoas
Úteis)
O Norte corresponde à Tartaruga negra, ao Velho Yin. O Este ao Dragão Verde, ao Jovem Yang, símbolo da tradição familiar. O Sul à Fénix, a ave vermelha que renasce das cinzas, ao Velho Yang. O Oeste ao Tigre Branco, ao Jovem Yin, imprevisível, símbolo da liberdade individual. O respeito pelas características de cada uma dessas áreas facilita a circulação harmoniosa da energia Chi, portadora de saúde, riqueza e boa sorte. (VALE TRÊS VALORES).
3-B) As correspondências entre estações do ano, elementos da natureza e sólidos geométricos são as seguintes: primavera, madeira, paralelipípedo; verão, fogo, cones e pirâmide (lembram chamas); fim do verão, terra, cubo; outono, metal, esfera; inverno, água, formas onduladas. (VALE DOIS VALORES).
4-A) Teísmo é o conjunto das concepções religiosas que supõem a existência de um ou mais deuses transcendentes à natureza biofísico, «no alto dos céus». Panteísmo é a concepção que sustenta que Deus ou deuses são imanentes à natureza, não estão fora desta, como por exemplo, o vento, o sol e a lua são deuses ou partes do deus-natureza física. (VALE UM VALOR).
4-B) A teoria da participação em Platão é a tese de que os seres do mundo da matéria participam, isto é, imitam os Arquétipos ou Modelos Eternos acima do cèu Visível, no Mundo Inteligível. Assim, por exemplo, as árvores materiais são cópias imperfeitas do Modelo Eterno de Árvore que está, imóvel e perfeito no Inteligível. A dialética do Belo implica que diversos níveis da matéria e do espírito humano contêm sucessivos degraus do Belo: primeiro, diz Platão, deve-se amar um corpo belo, depois deve-se amar vários corpos belos e descobrir que há beleza em todos, depois amar a beleza das almas, em seguida amar as leis e costumes da cidade que são belas, encontrar a beleza das ciências e da filosofia e por último amar o Belo em Si Mesmo, que não participa de nada. (VALE DOIS VALORES)
4-C) O objectivismo estético realista é a teoria que sustenta que o belo e o feio existem nos objectos materiais exteriores a nós e são unanimemente percebidos por todos. Exemplo: a Torre de Belém é bela em si mesma, mesmo que Lisboa fique vazia e ninguèm esteja a ver a Torre, e essa sensação do belo é partilhada por todos. O subjectivismo estético diz que as noções de belo e feio variam de pessoa a pessoa. (VALE UM VALOR).
4-D) A percepção sensorial é um conjunto de sensações (exemplo: olho o olival, as folhas verdes, as azeitonas negras, o céu azul, sinto o vento na cara) que está na base do conceito empírico, isto é, da ideia de uma coisa ou de uma classe de coisas obtida por abstração de percepções empíricas semelhantes (exemplo: depois de ver muitas oliveiras, fecho os olhos e construo um conceito único, abstracto, de oliveira). A intuição inteligível é um flash, a captação instantânea de uma realidade metafísica (ex: Deus, o Big Bang) ou cisfísica (o átomo, os quarks e leptões). (VALE DOIS VALORES).
5) Resposta livre (VALE UM VALOR).
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