Usando os conceitos tradicionais de imanência - vida terrena, visível e palpável - e transcendência - mundo divino e demoníaco metafísico, além do mundo terreno, Gilles Deleuze (Paris, 18 de Janeiro de 1925- Paris, 4 de Novembro de 1995) catedrático francês de filosofia, e Félix Guattari (Villeneuve-les-Sablons, Oise, 30 de Abril de 1930 — Cour Cheverny, 29 de Agosto de 1992), filósofo francês sem título universitário, dividiram a história da filosofia em três períodos. Escreveram:
«A palavra judaico-cristã substitui o logos grego: as pessoas não se contentam com atribuir a imanência, faz-se esta expelir, por toda a parte, o transcendente. Não se contentam já com enviar a imanência ao transcendente, querem que ela o reenvie, o reproduza, que ela mesma o fabrique. A bem dizer, não é difícil, basta parar o movimento. Desde que se pare o movimento do infinito, a transcendência desce, aproveita para ressurgir, ressaltar, destacar-se. As três espécies de Universais, contemplação, reflexão, comunicação, são como as três idades da filosofia, a Eidética, a Crítica e a Fenomenologia, que não se separam da história de uma longa ilusão. Era preciso ir até aí na inversão dos valores: fazer-nos crer que a imanência é uma prisão (solipsismo) da qual o Transcendente nos salva.»
(Gilles Deleuze e Félix Guatari, Qu est-ce que la philosophie?, Les Éditions de Minuit, Pág 49; a letra negrita é posta por nós).
Esta divisão é discutível. Por Eidética entenderão os autores a ciência das essências (eidos, em grego), designando, decerto, os pré-socráticos e a busca do arquê, Sócrates, Platão e Aristóteles e ainda a Escolástica Medieval (a essência de Deus, dos Anjos e do Homem etc). Por Crítica, designarão provavelmente o período da dúvida e da restauração do idealismo iniciado por Descartes e Montaigne, até David Hume e Kant. Mas designar por Fenomenologia todo o período posterior até aos dias de hoje, que engloba a filosofia da linguagem, a psicanálise, o realismo metafísico em suas várias vertentes e outras correntes não fenomenológicas, é incorrecto.
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Eis um teste de filosofia centrado no tema religião, opção escolhida pelos alunos da turma.
Agrupamento de Escolas nº1 de Beja
Escola Secundária Diogo de Gouveia, Beja
TESTE DE FILOSOFIA, 10º ANO TURMA A
24 de Maio de 2016. Professor: Francisco Queiroz.
I
«O rito é a reactualização do mito que se refere à transcendência. O realismo crítico não se liga necessariamente ao espiritualismo ou ao materialismo”.
1) Explique estes pensamentos.
2)Faça corresponder a cada um dos cinco elementos da filosofia chinesa do Feng Shui e do taoísmo, o respectivo ponto cardeal, animal, campo de vida (profissão, casamento, etc), cor, sentido humano (audição, visão, etc.), estação do ano, hora do dia, percentagem de yang (jovem, velho) e de yin, e aplique a lei da contradição principal a esse conjunto
.3)Relacione, justificando:
A) Dharmas, eu e impermanência, no budismo.
B) Ser fora de si, alienação e panteísmo, na doutrina de Hegel sobre a ideia absoluta.
CORREÇÃO DO TESTE COTADO PARA 20 VALORES
1) O rito é um conjunto de gestos e cerimónias (exemplo: a missa dos católicos, o passar as contas de um rosário entre as mãos dos budistas) que visam reacender os mitos sagrados do princípio do mundo, isto é, as cenas lendárias dos deuses, anjos, demónios ou antepassados de uma tribo ou povo. O partir do pão (rito) na missa católica evoca ou põe na ordem do dia a morte de Cristo na cruz (mito). Transcendência é estar fora de ou além de e neste contexto mito da transcendência significa o mito que fala de seres sobrenaturais, em regra deuses que criam o mundo ou nele intervêm. (VALE TRÊS VALORES). O realismo crítico é a teoria que afirma que há um mundo material anterior às mentes humanas e independente destas que o captam de maneira distorcida. O realismo crítico em Descartes consiste em postular o seguinte: há um mundo de matéria exterior às mentes humanas, feito só de qualidades primárias, objetivas, isto é, forma, tamanho, número, movimento. As cores, os cheiros, os sons, sabores, o quente e o frio só existem no interior da minha mente, do organismo do sujeito, pois resultam de movimentos vibratórios de partículas exteriores já que o mundo exterior é apenas composto de formas, movimentos e tamanhos. Ora esta teoria é compatível com o materialismo, doutrina que afirma que a matéria é o princípio eterno do mundo, que Deus e deuses não existem nem almas no «Além», e que o espírito é uma forma subtil de matéria. É também compatível com a maioria das formas de espiritualismo, doutrina que afirma que o espírito (Deus, deuses, espíritos humanos) é eterno ou criador do universo de matéria e que esta deriva do espírito. (VALE QUATRO VALORES)
2) Os cinco elementos da filosofia chinesa do taoísmo são: madeira, fogo, terra, metal e água. As correspondências de cada um são:
MADEIRA. Este. Dragão verde. Crescimento, família. Cor verde. Visão. Nascer do sol. Jovem Yang.
FOGO. Sul. Fénix. Fama. Fala. Verão. meio dia, velho Yang (máximo Yang ou máxima luz e calor).
TERRA. Sudoeste (ou Centro, segundo algumas interpretações). Serpente. Cor: amarelo. Fim do verão. Casamento, amores. Sabor. Meio da tarde. Igual proporção de Yang e Yin.
METAL. Oeste. Tigre branco. A criatividade, os filhos. O olfato. Outono. Cor branca. Pôr do sol. Jovem yin (algum frio e humidade).
ÁGUA. Norte. Tartaruga negra. A profissão, os negócios. Audição. Inverno. Meia noite, velho Yi ( máximo Yin ou máxima escuridão e frio).
A lei da contradição principal diz que um sistema de múltiplas contradições pode ser reduzido a uma só, organizando-as em dois blocos, podendo haver uma ou outra contradição na zona neutra. Assim podemos, por exemplo, colocar de um lado o bloco Yang (Madeira/primavera ; Fogo/Verão) e do outro lado o bloco Yin (Metal/ Outono, Água/Inverno), ficando na zona neutra a Terra/Fim do Verão na qual Yang e Yin se equilibram. Há outras maneiras de estruturar a contradição principal. (VALE SEIS VALORES)
3) A) Dharma em sentido geral significa Lei da Natureza. Dharmas em sentido particular são as qualidades físicas, psíquicas e intelectuais que, por assim dizer, flutuam no cosmos como átomos, sem sujeito, e se juntam para formar o eu mutável, a personalidade de uma pessoa. Assim a cor dos olhos, a forma do rosto e do corpo, as sensações de prazer e dor, os impulsos sentimentais, a consciência são dharmas que formam o eu em mudança ou impermanência de cada um: quem fica cego perdeu o dharma da visão, quem fica em coma perdeu o dharma da consciência. O eu é impermanente, na verdade nem existe, porque os dharmas que o formam mudam a cada instante, embora haja um eu superior, o Atmã, destituído de dharmas e imortal. (VALE QUATRO VALORES)
3-B) O ser fora de si é a segunda fase da ideia absoluta: Deus, que era ser em si, pensamento puro, alienou-se em matéria física, isto é, separou-se de si mesmo enquanto espírito pensante, transformou-se em espaço, tempo, em astros, montanhas, rios, plantas e animais. Isto é panteísmo, doutrina que afirma que a natureza biofísica é divina: o sol e a lua são olhos de Deus, os mares são a linfa de Deus, erc. (VALE TRÊS VALORES).
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Eis um teste de filosofia . Evitamos as perguntas de escolha múltipla que, por vezes, enfermam de um deformado espírito de «minúcia» frequentemente manchado por falácias disjuntivas.
Agrupamento de Escolas nº1 de Beja
Escola Secundária Diogo de Gouveia , Beja
TESTE DE FILOSOFIA, 10º ANO TURMA C
29 de Outubro de 2014. Professor: Francisco Queiroz
I
“Em Tales de Mileto, como em Heráclito, as múltiplas aparências empíricas ocultam uma só essência. As essências em Platão são transcendentes e em Aristóteles são imanentes. A filosofia combina, em diferentes proporções, cepticismo, dogmatismo e relativismo. A teoria hilemórfica de Aristóteles sustenta que a proté ousía brota de dois princípios opostos, um dos quais existe originariamente em potência».
II
2. Relacione, justificando;
A) Filosofia, racionalidade, especulação e empiricidade.
B) Esfera dos valores vitais e sentimentais e esfera dos valores espirituais, na teoria de Max Scheler
C) Demiurgo, doutrina da participação e reminiscência em Platão.
D) O tó tí, o tó on, o ser (einai) e a espécie (eidos) na teoria de Aristóteles.
CORRECÇÃO DO TESTE COTADO PARA UM TOTAL DE 20 VALORES
1-) Em Tales de Mileto, as múltiplas aparências empíricas - exemplo: as montanhas, os céus, os rios, os animais, as árvores - são feitas de uma mesma essência que é a água, o arquê ou princípio material do universo. Deus, inteligência que não criou a água, moldou a partir desta o cosmos. Em Heráclito, as múltiplas aparências empíricas ou seja os muitps objectos que aparecem aos orgãos sensoriais são uma só coisa, isto é, fogo transformado, arrefecido de diversos modos. (VALE TRÊS VALORES). As essências são as formas eternas e imutáveis tanto em Platão como em Aristóteles. Em Platão, elas são arquétipos de Bem, Belo, Justo, Número Um, Número Dois, Triângulo, Homem, etc, existentes no mundo Inteligível acima do céu visível, por isso são transcendentes, estão além (trans) do universo físico. Em Aristóteles, as essências são formas eternas e imóveis inerentes ou imanentes aos objectos físicos - exemplo: a essência sobreiro está em todos os sobreiros reais, físicos, porque não há mundo inteligível (VALE DOIS VALORES). A filosofia, ou interpretação autónoma do mundo e da vida, implica cepticismo, doutrina que diz ser impossível chegar à verdade, conhecer a estrutura oculta das coisas e os seus fins, dogmatismo, doutrina que afirma certezas diversas, relativismo, doutrina que afirma que a verdade e os valores variam de época a época, de povo a povo, de classe a classe social e até de pessoa a pessoa (VALE TRÊS VALORES). A teoria hilemórfica (hyle é matéria-prima universal; morfos é forma) de Aristóteles sustenta que cada coisa individual ou primeira substância (proté ousía) como, por exemplo, este cavalo cinzento, se forma da união entre a forma eterna de cavalo que existe algures e a hylé ou matéria-prima universal, indiferenciada, que não é água nem fogo nem ar, nem terra mas que estava em potência, isto é não existia a não ser virtualmente mas passa a existir em acto ao juntar-se à forma (VALE DOIS VALORES).
2-A) A filosofia, ou interpretação livre do mundo e da vida, comporta racionalidade, isto é, lógica, especulação, isto é, formulação de teses mais ou menos indemonstráveis através da experiência - como por exemplo: o mundo é um fogo eterno que ora se acende ora se extingue; Deus está rodeado de nove coros de anjos; não há vida espiritual após a morte corporal - e empiricidade, isto é, uma apreciável quantidade de dados empíricos - as manchas de petróleo nos mares são coisas empíricas que entram na filosofia ecologista; os campos cultivados por cooperativas agrícolas são factos da experiência que entram nas filosofias socialista e comunista. (VALE TRÊS VALORES).
2-B) A esfera dos valores vitais e sentimentais é a dos valores anímicos situada entre o prazer e a dor puros, vegetativos, e os valores intelectuais. Comporta os seguintes valores: nobre e vulgar, sentimentos de vitória ou de derrota, de juventude e de doença, de ciúme ou de tranquilidade afectiva, de coragem ou de cobardia, de paixão amorosa e ódio, etc. A esfera dos valores espirituais, em Max Scheler, engloba os valores éticos (bem, mal; justo-injusto), estéticos (belo-feio), filosóficos (verdadeiro-falso) e os valores anexos de referência do direito (legal-ilegal) e das ciências empíricas (verdadeiro utilitário- falso utilitário), sendo uma esfera mais intelectual do que a dos valores vitais. (VALE DOIS VALORES).
2-C) O demiurgo é o deus operário que desceu do mundo inteligível e com a ajuda dos deuses do Olimpo imprimiu na matéria no caos as formas dos arquétipos de árvore, de leão, de homem, de montanha, etc, gerando assim o mundo sensível do devir ou mundo do outro. A esta imitação dos arquétipos na matéria chama-se doutrina da participação. A reminiscência é a lembrança vaga que cada alma (Nous) guarda do mundo dos arquétipos onde esteve antes de encarnar (exemplo: tenho a reminiscência de triângulo e é dela que extraio o saber de que a soma dos seus 3 ângulos internos é 180º) e é também um aspecto da doutrina da participação, visto que liga o mundo superior ao mundo inferior (VALE DOIS VALORES).
2-D) O tó tí é o quê-é ou seja a forma, essencial ou acidental, de algo. Exemplo: o tó tí da espiga de trigo é a forma desta e distingue-se do tó tí da espiga de milha e do tó tí do rosto humano. O tó ón é o ente, o que é, o existente, qualidade que é comum aos diferentes tó tís: o tó ón da espiga de trigo não se distingue do da espiga de milho. O ser ou einai é para Aristóteles o existir, um predicado geral: os homens são, as árvores são, os números são, etc. A espécie (eidos) é a forma comum a vários indivíduos e, por isso, cada espécie tem um tó tí próprio. (VALE TRÊS VALORES).
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Em um dos seus mais belos textos filosóficos, datado de 1942, Heidegger escreveu:
«A expressão óntico, inspirada no grego tò ón, o ente, significa aquilo que se cinge ao ente. Mas o grego "ón", ente, encerra dentro de si uma essência própria de entidade (ousía) que no transcurso da sua história nunca permanece igual.(...) Como ón significa tanto "ente" como "o quê é" ( 1) on enquanto "ente" pode ser reunido (legéin) em direcção a "o quê é" ( 2) . Até se pode dizer que, de acordo com a sua ambiguidade, ón já está reunido como ente por mor da sua entidade. É ontológico. Mas com a essência do ón e a partir de ela, esse reunir que é, o lógos, transforma-se em cada caso e com ela, a ontologia. Desde que ón, o que se apresenta, se abriu como físis, a presença do que se apresenta reside, para os pensadores gregos, no fainestaí, na manifestação do não oculto que se mostra a si mesma. De acordo com isto, a multiplicidade do que se apresenta, tà onta, é pensada como aquilo que na sua manifestação é simplesmente aceite como o que se apresenta. A aceitação (dékestai) fica sem continuidade. Efectivamente, não continua a pensar mais além, na presença daquilo que se apresenta. Fica na dóxa. Pelo contrário, o noein é aquele perceber que percebe o presente na sua presença e a partir de aí abarca-a com ele.»( Martin Heidegger, Caminos de Bosque, El concepto de experiencia de Hegel, pag 133, Alianza Editorial, Madrid; o negrito é posto por mim).
1) Nota minha: A tradução espanhola desta passagem diz: "Como ón significa tanto "ente" como "lo que es". Atrevi-me a alterá-la, substituindo "o que é" por o "quê é" porque me parece absurda a versão espanhola: o ente é "o que é", "algo que é" , e não "o quê é" , tò tí, isto é o quid, a forma específica ou individual.
2) Nota minha: de novo corrijo aqui a tradução espanhola de "lo que es" substituindo-a por "lo qué-es" ( o quê é).
Ser possui na língua grega, o significado de presença, conforme sublinha Heidegger. Mas a essência não é, em rigor, presença, mas forma, estrutura. A essência delimita, especifica ou individualiza o ente, como a forma da estátua de mármore delimita ou individualiza o mármore em bruto. No texto acima, a presença designa o "ser" e o presente indica o "ente".
A acusação de Heidegger à tradição filosófica é a de esta esquecer o ser, que subjaz ao ente e o transcende, em favor do ente. Por exemplo: a metafísica cristã, confundiu o "ser", qualidade totalizante, com o ente "Deus", um espírito omnipotente, benéfico e autor do mundo.
A minha crítica a Heidegger, pensador brilhante da ontologia e, em certa medida, da filosofia analítica, reside na sua ambígua interpretação do termo "ser", nomeadamente expressa na seguinte passagem de Sein und Zeit:
«2. O conceito de "ser" é indefinível. É o que se concluiu da sua suprema universalidade. E com razão - si definitio fit per genus proximum et differentiam specificam. O "ser" não pode, com efeito, conceber-se como um ente; enti non additur aliqua natura; o "ser" não pode ser objecto de determinação predicando dele um ente.» (Martin Heidegger, El ser y el tiempo, pag 13, Fondo de cultura económica de España, Madrid; o negrito é colocado por mim).
Penso que o conceito de ser é definivel. A sua definição é dupla:
A) É o existir universal (presença).
B) É a essência geral de todos os entes, incluindo do ser-aí (cada homem, na sua singularidade).
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Zubiri entendeu que as chamadas qualidades secundárias (cores, sons, cheiros, sabores, calor-frio, tacto, etc.) são tão reais quanto as qualidades primárias (forma, tamanho, movimento, número). Ainda que, segundo muitos físicos, não existam na natureza o verde e o vermelho mas tão só radiações electromagnéticas que o olho humano percebe como verde e vermelho, o grande filósofo espanhol Xavier Zubiri sustentou que o verde ou o vermelho são reais em si, na percepção - ou impressão de realidade - que tenho, por exemplo, de esta rosa vermelha.
«Lo real "en" la impresión puede no ser real más que en la impresión. Pero esto no quiere decir que no sea real "en" ella. Hoy sabemos que si desaparecieran los animales videntes, desaparecerían los colores reales; no desaparecerían meramente unas afecciones impresitas, sino que desaparecerían realidades. Lo que sucede es que estas realidades no lo son más que "en" la impresión. Lo real "allende" la impresión continua incólume. Ahora bien, esto no es un juego de palabras. Porque lo real es siempre y solo lo que es "de suyo". Lo real "allende" no es real por ser "allende", sino que es real por ser de suyo algo allende. "Allende" no es sino un modo de realidad. Realidad, repito, es formalidad del "de suyo" sea en la impresión, sea allende la impresión. Lo impresivamente real y lo real coinciden, pues, en ser formalidad del de suyo; esto es, coinciden en ser reales.» (Xavier Zubiri, Inteligencia Senciente, Inteligencia y Realidad, Alianza Editorial, Fundación Xavier Zubiri, Pág. 152; la letra negrita es añadida por mi)
Repare-se no que Zubiri sublinha: «Além de (allende) não é senão um modo de realidade. Realidade, repito, é formalidade do «em si mesmo» (de suyo) seja "na" impressão, seja "além d" impressão.» Há, portanto, duas zonas da realidade: a sensível e a inteligível, com o mesmo grau de veracidade.
Estamos, pois, longe de Heidegger quando este afirmou em Sein und Zeit: «O ser é o transcendens, pura e simplesmente». Para Zubiri, o real está ora na transcendência ora na imanência, ora além de, ora aquém de: não é o lugar, a proximidade maior ou menor ao sujeito, aquilo que o faz ser real, mas sim o seu carácter autosubsistente, de absoluta autonomia ou formalidade primordial do «em si mesmo». O verde é um «em si» tão real como o comprimento de onda - outro «em si», além do olhar - que objectivamente lhe corresponde.
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