Há um considerável número de erros na tradução portuguesa do «Tractatus Logico-Philosophicus» de Ludwig Wittgenstein publicada pela Fundação Calouste Gulbenkian.
Assim, no original lê-se:
«6.2. Mathematics is a logical method. The propositions of mathematics are equations, and therefore pseudo-propositions». (Ludwig Wittgenstein , Tractratus Logico-Philosophicus, printed in USA, page 83)
A tradução portuguesa de M.S.Lourenço é a seguinte:
«6.2. Matemática é um método lógico. As proposições da matemática são igualdades, logo proposições aparentes» (Ludwig Wittgenstein, Tratado Lógico-Filosófico..., Fundação Calouste Gulbenkian, pág. 128).
Sabendo que na matemática, uma equação não é uma simples igualdade mas uma igualdade envolvendo uma ou mais incógnitas (valores desconhecidos), a tradução correcta é a seguinte:
«6.2. A Matemática é um método lógico. As proposições da Matemática são equações, e portanto pseudo-proposições».
© (Direitos de autor para Francisco Limpo de Faria Queiroz)
O Tractatus Logico-Philosophicus de Ludwig Wittgenstein, traduzido para português por M.S.Lourenço e publicado pela Fundação Calouste Gulbenkian, contém vários erros de tradução. Por exemplo:
"2:01 A state of affairs (a state of things) is a combination of objects (things). (Ludwig Wittgenstein,Tractatus Logico-Philosophicus).
A tradução é:
«2.01 O estado de coisas é uma conexão entre objectos (coisas). (Ludwig Wittgenstein, Tratado Lógico-Filosófico , Investigações Filosóficas, pag. 30, Fundação Calouste Gulbenkian; tradução de M.S.Lourenço).
A tradução é imperfeita. Combinar não é, em rigor, o mesmo que conexionar. Combinar o açúcar com o chá não é o mesmo que conexionar o açúcar com o chá: o açúcar dissolve-se no chá, é uma conexão interna. A conexão do açúcar que fica no fundo da chávena com o chá que enche esta não é do mesmo tipo que a conexão-dissolução do restante açúcar que se combinou com o chá, adoçando este.
Outro exemplo da distorsão do pensamento original:
2. 012 "In logic nothing is accidental: if a thing can occur in a state of affairs, the possibility of the state of affairs must be written into the thingitself." (Wittgenstein,Tractatus Logico-Philosophicus, pag. 6).
A tradução de M. S. Lourenço é a seguinte:
«2.012 Se posso pensar num objecto em conexão com um estado de coisas então não posso pensá-lo fora dessa possibilidade desta conexão.»
Há aqui uma óbvia deturpação do pensamento de Wittgenstein: enquanto a frase original de Wittgenstein fala de uma coisa acontecer num estado de coisas - por exemplo: um peixe (coisa) só vive no mar (estado de coisas) - e de, por conseguinte, o estado de coisas estar inscrito na coisa - o mar está previsto no organismo do peixe, que tem guelras e barbatanas - a tradução é completamente diferente, assevera que não se pode pensar uma coisa fora do estado de coisas que é o seu contexto natural, o que é falso. Na verdade, pode-se pensar um peixe fora do mar: assado, num prato pronto a comer, etc.
Onde Wittgenstein escreve:
«2.027 Objects, the unalterable and the subsistent are one and the same.»
M.S. Lourenço traduz assim:
«2.027 Só havendo objetos pode haver uma forma firme do mundo.»
É uma óbvia deturpação. Na frase 2.027, Wittgenstein nem sequer menciona o termo mundo. A tradução correcta será:
«2.027 Nos objectos, o inalterável e o subsistente são uma e a mesma coisa».
Confirma-se a expressão italiana «traduttore, traditore», isto é, aquele que traduz trai o sentido de uma frase ou texto na língua original.
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