Quinta-feira, 30 de Julho de 2009
Precisões e imprecisões de Xavier Zubiri sobre a filosofia de Aristóteles

Xavier Zubiri (1898-1983) grande filósofo espanhol, fez no seu livro «Sobre la Esencia» (1962) uma crítica ao essencialismo aristotélico por este excluir do conceito de essência do indivíduo tudo o que é singular, acidental, diferente da forma específica. Aristóteles considerava, por exemplo, que Sócrates não tem essência como indivíduo singular. Tem somente a essência da espécie homem, do mesmo modo que em Marco Aurélio ou Isaac Newton se albergaria essa mesma essência ou forma específica (eidos) mas também estes não teriam essência própria enquanto indivíduos singulares.

 

Interpretando correctamente Aristóteles, Zubiri escreveu:

 

«¿Que es entonces la esencia como momento real de la sustancia? Ante todo, la esencia no es idéntica a la sustancia, sino que es algo «de» la sustancia y, por tanto, puede predicarse de ésta: Sócrates es hombre, etc. La distinción entre Sócrates y hombre no es meramente lógica, sino real. Sócrates, en efecto, además de las notas humanas que le son esenciales, tiene otras muchas inesenciales. Por consiguiente, Sócrates es el ente completo y total, mientras que su esencia es sólo una parte suya.»

 (Xavier Zubiri, Sobre la Esencia, Alianza Editorial, Fundación Xavier Zubiri, pag 78; o bold é nosso)

 

A concepção de Zubiri sobre a essência é, muito resumidamente, a seguinte:

 

«Finalmente, la esencia no es formalmente principio de especificación expresado en una definición, sino que es un momento estructural físico de la cosa tomada en y por sí misma. » (Xavier Zubiri, Sobre la Esencia, Alianza Editorial, Fundación Xavier Zubiri, pag 99; o bold é nosso).

 

OS OBJECTOS TÉCNICOS NÃO SÃO ENTES NEM POSSUEM ESSÊNCIA, SEGUNDO ARISTÓTELES?

 

Sem embargo do seu brilhantismo, Zubiri cometeu alguns erros ao interpretar Aristóteles como, por exemplo, o de dizer que o Estagirita sustentou que os objectos criados pela técnica não são entes nem possuem essência:

 

«Para Aristóteles, los entes artificiales (tékhne onta) no son en rigor entes ni tienen, propiamente hablando, esencia. Una cama de castaño no es, en rigor, un ente. La prueba está en que se yo plantara en tierra y pudiera germinar, no brotarían camas sino castaños. El ente es el castaño, no la cama. Para los griegos, la tecné, eso que mal expresado llamamos nosotros la técnica, es algo inferior a la naturaleza. En todo caso, la técnica de los griegos no hace lo que la naturaleza hace, sino lo que esta no hace; a lo sumo ayuda a la naturaleza en su hacer. Lo verdaderamente entitativo es la naturaleza. Por tanto, solo de los entes naturales hay esencia.»

(Xavier Zubiri, Sobre la Esencia, Alianza Editorial, Fundación Xavier Zubiri, pag 77; o bold é nosso.) 

 

Poderia Aristóteles afirmar com consistência que uma cama de castanheiro não é um ente, nem tem essência, como sustenta Zubiri? Impossível. Se tal sucedesse, então faca, garfo, livro, mesa, cadeira, pão, massas alimentícias, não teriam essência nem substância por serem objectos produzidos pela técnica. Aristóteles não pensava assim, com certeza.

 Atente-se na seguinte passagem do filósofo grego:

 

«Assim pois, é evidente pelo dito que não se gera o que se denomina forma ou substância, enquanto que o composto que se denomina segundo esta se gera, sim, e que em tudo o que é gerado há matéria, e um é isto, e outro é aquilo.»

«Mas, existe acaso uma esfera fora de estas ou uma casa fora dos tijolos? A ser assim, não ocorreria que não se geraria nenhum objecto determinado? Mais precisamente, significam que «algo é de tal classe», mas não são algo determinado.» (Aristóteles, Metafísica, Livro VII, 1033b)

 

Nesta passagem acima, em que Aristóteles comete acidentalmente o erro conceptual de identificar forma com substância, é mencionada a forma casa - existente primeiro na mente do homem e concretizada pela arte de construir - em pé de igualdade com outras formas naturais, como a de esfera, pelo que não tem razão Zubiri.

 E na Física diz Aristóteles:

 

«Pois as coisas estão feitas da maneira que a sua natureza dispôs que fossem feitas, e a sua natureza dispôs que fossem feitas da maneira como estão feitas, se nada o impede. Mas estão feitas para algo. Logo foram feitas por natureza para ser tais como são. Por exemplo, se uma casa tivesse sido gerada pela natureza, teria sido gerada como está agora pela arte. E se as coisas por natureza fossem geradas não só pela natureza mas também pela arte, seriam geradas tais como estão agora por natureza. Assim, cada uma espera a outra. Em geral, nalguns casos a arte completa o que a natureza não pode levar a cabo, noutros imita a natureza.» (Aristóteles, Física, Livro II, 199a; o bold é nosso).

 

Que diz Aristóteles neste texto? Que as casas produzidas pela arte e engenho do homem seriam similares - teriam a mesma essência -às casas que, hipoteticamente, fossem geradas pela natureza, sem acção humana. É a tese de que a arte imita a natureza e ambas apontam para o mesmo fim. Se a  natureza opera perspectivando, realizando essências - exemplo: a semente cresce para realizar a essência árvore, causa final e formal - a arte opera igualmente com vista a materializar essências -  exemplo: os pedreiros e o arquitecto constroem o edifício segundo o modelo, a forma comum ou essência de casa.

Como poderia então a casa produzida artificialmente não ter essência nem ser ente, se a casa produzida, hipoteticamente, pela natureza teria essência e entidade?

 

Ademais, há uma passagem da «Metafísica» em que Aristóteles afirma, platonicamente, sob certo aspecto, a eternidade da forma ou essência ser-casa:

 

«Posto que há dois tipos de substância, o composto e a forma (e afirmo que aquele é substância enquanto é a forma tomada conjuntamente com a matéria, enquanto que está é a forma em sentido pleno) as que chamamos substâncias do primeiro modo estão todas elas submetidas à corrupção (e à geração) enquanto que a forma não é de índole tal que possa corromper-se (já que tão pouco há geração de ela: com efeito não se gera aquilo em que consiste ser casa, mas aquilo em que consiste ser-esta-casa-particular) ; mais precisamente, as formas existem ou não existem sem geração nem corrupção» (Aristóteles, Metafísica, Livro VII, 1039 b, 20-25; o bold é da minha autoria).

 

Verifica-se, portanto, uma inconsistência lacunar do pensamento de Zubiri sobre Aristóteles. O filósofo espanhol deturpa o pensar do Estagirita, atribuindo-lhe posições que ele nunca tomou como a de que «os entes artificiais não têm essência». Ora, casa é um ente artificial e possui essência eterna, segundo Aristóteles.

 

 

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Terça-feira, 13 de Janeiro de 2009
Aporías de Aristóteles: «No hay esencia de hombre blanco»

Intentando la redución de una pluralidad de individuos a una sola espécie y de una pluralidad de especies a un sólo género, Aristóteles cayó en el platonismo más de prisa de lo que imaginara y naufragó en aporías.

Segun Aristóteles, hay esencia de hombre pero no hay esencia de hombre blanco. Blanco sería un accidente, una categoría de cualidad que se añade a la esencia «hombre».

 

«Y es que hombre blanco es blanco, pero su esencia no es ciertamente, aquello en que consiste ser-blanco. En qualquier caso, ¿ser-vestido constituye una esencia en sentido pleno? ¿O no? Desde luego la esencia es precisamente algo determinado, y cuando se predica de otra cosa, no es algo en si mismo determinado, por ejemplo, «hombre blanco» no es precisamente algo determinado, dado que el ser algo determinado pertenece exclusivamente a las sustancias (ousía). Por consiguiente hay esencia de todas aquellas cosas cuyo enunciado es definición.» (Aristóteles, Metafísica, 1029a-1030b).

 

 Aquí se patentiza una de las dificultades de la teoría de Aristóteles: la negación de la esencia de las categorías accidentales, al menos en este texto.  Hombre es algo determinado (einaí todí) pero blanco también lo es, aunque Aristóteles niega la última parte de esta proposición (el blanco como ser-determinado) en este pasaje.

 

El pensamiento de Aristóteles es el de que el blanco y cualquier color no pueden ser en sí mismo, por si (kath autó). Así se demarca de su maestro Platón. Entonces, blanco no puede ser sustancia, es decir, sujeto portador de una esencia (eidos). Si blanco no es materia prima indeterminada, ni sustrato individualizado, es, sin duda, esencia (forma específica), en cuanto cualidad capable de existir separada, y accidente en la realidad material ( ejemplo: rosa blanca; blanco es accidente porque la rosa pudiera ser roja).

 Para tener coherencia, Aristóteles hubiera de admitir que hay esencia de hombre blanco, diferente a la esencia de hombre negro y a la de hombre asiático. El color de piel y otros rasgos físicos entran en la definición de cada espécie del género hombre. Pero para Aristóteles, hombre no es género sino espécie.

 Hay, además, una contradicción entre lo enunciado por encima de Aristóteles – el blanco y el hombre blanco no son esencias, no son determinados – y el siguiente texto del filósofo:

 

«Y es que si las afecciones no existen aparte de las sustancias – por ejemplo, estar en movimiento o blanco - «blanco» será anterior a «hombre blanco» cuanto à la definición, pero no en cuanto a la sustancia, puesto que no puede existir separado, sino que siempre se da conjuntamente en el compuesto (y llamo «compuesto» al hombre blanco). Es evidente, por tanto, que ni lo sustraído es anterior, ni lo añadido es posterior.  Y es que «hombre blanco» se enuncia por adición de “hombre” a “blanco”» (Aristóteles, Metafísica, 1077b)

 

En este pasaje Aristóteles admite que “blanco” tiene definición, esencia, es decir, es algo determinado y anterior – en lo que concierne a la esencia, no a la existencia – a “hombre blanco”. Y debería decir que la suma de dos esencias (hombre y blanco) convierte una (blanco) en accidente de otra (hombre), lo que plantea el accidente no como una entidad absoluta sino relativa.

 

 

 

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