Sexta-feira, 23 de Abril de 2021
Equívocos no manual «Ágora 10º», da Porto Editora (Crítica de Manuais Escolares- LXII)

 

O manual de filosofia " Ágora 10", da Porto Editora, da autoria de Susana Teles de Sousa, Isabel Pinto Ribeiro e Rui Areal contém várias confusões conceptuais.

 

A TOLERÂNCIA NÃO É RELATIVA ÀS SOCIEDADES?

 

Expondo o argumento da tolerância, diz o manual:

 

«A tolerância é um valor objetivo, não é um valor relativo às sociedades. Se o juízo moral de que devemos ser tolerantes fosse apenas relativo à nossa sociedade, seria aceitável que outras sociedades fossem intolerantes. Mas isso é inaceitável. Por isso, esse juízo não é apenas relativo à nossa sociedade. »(...)

«O relativismo permite a existência de sociedades, que são intolerantes, que atentam contra o bem-estar do ser humano, e que são imunes à crítica. Mas não podemos tolerar sociedades que são, elas próprias, intolerantes

 

(Susana Teles de Sousa, Isabel Pinto Ribeiro e Rui Areal " Ágora 10", da Porto Editora, pág. 163; o destaque a negro é posto por nós).

A incoerência desta conceptualização é visível: opõe o conceito de objectivo entendido como universal e absoluto, invariável, ao conceito de objectivo como norma ou valor dominante em cada sociedade. Ora, objectivo pode ter estes dois sentidos, o de validade universal absoluta e o de validade dentro de uma só sociedade (por exemplo: é objetivo que na Bélgica o voto dos cidadãos em eleições nacionais é obrigatório).

 

Ao contrário do que o texto acima diz, a  tolerância é um valor relativo às sociedades além de, numa perspectiva platónica, ser um ideal universal como pretendem os autores. Aliás, mais abaixo, estes falam em sociedades intolerantes. Ora se estas últimas existem é porque há sociedades tolerantes, logo a tolerância é relativa a cada sociedade.

 

Quando no texto acima se afirma que «O relativismo permite a existência de sociedades, que são intolerantes, que atentam contra o bem-estar do ser humano, e que são imunes à crítica», a formulação é imperfeita: o relativismo, doutrina segundo a qual os valores variam de sociedade a sociedade ou de classe a classe social e de etnia a etnia dentro de cada sociedade, não permite, constata a existência de diversidade. Provavelmente, os autores interpretam relativismo como cepticismo nivelador («Não é possível chegar à verdade visto haver tanta diversidade»).

 

O SUBJETIVISMO RESPEITA AS DIFERENTES OPINIÕES? SÓ ALGUM, NÃO TODO.

 

Sobre o subjetivismo diz o manual:

 

«2.Argumento do respeito pela liberdade moral

«O subjetivismo promove o respeito entre as pessoas com convições morais diferentes. Na base da moralidade subjetivista está a liberdade de expressão dos sentimentos morais de cada um. Não há juízos morais objetivamente certos ou errados, porque todos são legítimos e exprimem apenas diferentes avaliações morais. Temos de aceitar e respeitar a expressão livre da individualidade de cada um, ainda que discordemos dela.»

 

(Susana Teles de Sousa, Isabel Pinto Ribeiro e Rui Areal " Ágora 10",  Porto Editora, pág. 153).

 

A definição aqui dada não exprime em toda a sua essência o que é subjetivismo, falseia este em parte. Subjetivismo é a teoria que sustenta que a verdade é íntima a cada pessoa e de algum modo ou em certa medida é intransmissível às outras pessoas. Ora há dois tipos de subjetivismo: monocêntrico e policêntrico.

 

Aquele que o manual define é o policêntrico: há múltiplos centros de verdade, um em cada pessoa, e temos de os respeitar a todos porque a verdade é fragmentada, variável pela individuação. Mas há o subjetivismo monocêntrico, dogmático, desafiador que se arroga como único detentor da verdade que os autores do manual e a filosofia analítica não concebem. Exemplo: «Vários políticos portugueses são seres reptilianos, annunaki, com um duplo código genético, humano e réptil, e, em privado, transformam-se em lagartos gigantes, só eu tenho esta intuição, subjetiva e verdadeira, todos os outros   não pensam assim porque são subjetividades enganadas pela matrix ou realidade aparente.»

 

NENHUM TEMA VERDADEIRAMENTE FRACTURANTE COMO SERIA EXIGÍVEL EM FILOSOFIA

 

Estes manual e estes autores são meros instrumentos de propaganda da redutora filosofia oficial: a filosofia analítica, com a sua errónea lógica proposicional (só mentes estúpidas dizem que «Vou ao Porto ou vou a Lisboa» é diferente na estrutura lógica de «Ou vou ao Porto ou vou a Lisboa»). Fazem o discurso politicamente correcto, longe dos "extremismos", se exceptuarmos a dúvida hiperbólica cartesiana ou a teoria das conjecturas e refutações de Karl Popper. Não são filósofos mas funcionários de uma medíocre filosofia com a qual moldam a mente de alunos inteligentes.

 

Nenhum texto sobre astrologia histórica e não falta assunto filosófico: se o Partido Socialista venceu as eleições legislativas de 25 de Abril de 1983, com Júpiter em 9º do signo de Sagitário, e venceu as eleições legislativas de 1 de Outubro de 1995, com Júpiter em 10º do signo de Sagitário, e venceu as eleições de 6 de Outubro de 2019, com Júpiter em 18º-19º do signo de Sagitário, poderá dizer-se que Júpiter no signo de Sagitário (arco de 240º a 270º do Zodíaco) gera necessariamente vitórias do PS?

 

Nenhum texto questionando a vacinação e é tão oportuno fazê-lo.David Icke escreveu. «O processo de fabricação de vacinas inclui o uso de macacos, embriões de frangos e fetos humanos, além de estabilizadores como a estreptomicina, o cloreto de sódio, o hidróxido de sódio, o alumínio, o cloridrato, o sorbitol, a gelatina hidrolisada, o formaldeído,e um derivado do mercúrio chamado timerosal ...» (David Icke, «La conspiración mundial y como acabar con ella», Ediciones Obelisco, Barcelona, pag 819).

 

Os autores deste manual, como bons servos das multinacionais de farmácia, não contrapõem nada à teoria oficial.

 

Nenhum texto de Fernando Pessoa, poeta e filósofo da fenomenologia ou de outros pensadores portugueses metafísicos. Os autores deste manual de filosofia são estrangeirados, no mau sentido do termo. Não se dá importância ao que Pessoa escreveu:

«Não é possível uma futura civilização espanhola, nem uma futura civilização portuguesa. O que é possível é uma futura civilização ibérica formada pelos esforços da Espanha e de Portugal.»

«Todas as forças que se oponham a uma aliança, a um entendimento entre Portugal e Espanha devem ser desde já condenadas como inimigas. Essas forças são: os conservadores, sobretudo os católicos, e a Igreja Católica acima de tudo, que têm por ânsia íntima a união ibérica; a maçonaria, que é também estrangeira de origem, e é agora um organismo estranho metido na carne da Ibéria; a França, que com a sua cultura especial, tem envenenado, por excesso, a alma, ou as almas da Ibéria. A Inglaterra que politicamente tem espezinhado os países ibéricos.» (...)

«Para a criação da civilização ibérica é preciso a rigorosa independência das nações componentes dessa civilização. É um erro crasso supor que a fusão imperialista facilita a actividade civilizacional.»

 

(Fernando Pessoa, «Obra em prosa, Páginas de Pensamento Político-1, 1910-1919», Livros de Bolso Europa-América, páginas 135-136)

 

 

NOTACOMPRA O NOSSO «DICIONÁRIO DE FILOSOFIA E ONTOLOGIA, DIALÉTICA E EQUÍVOCOS DOS FILÓSOFOS», inovador em relação a todos os outros dicionários, repleto de transcrições literais de textos dos filósofos. Queres desmistificar Heidegger, Russel, Kant, Peter Singer, Richard M. Hare, Simon Blackburn? Valoriza quem te ensina a pensar dialeticamente, com a razão e a intuição. Aproveita, a edição já esgotou nas livrarias. Contém 520 páginas, custa só 20 euros (portes de correio para Portugal incluídos),  Basta depositares na conta PT50 abaixo indicada e informar-nos. CONTACTA-NOS.

Encontram-se à venda na livraria «Modo de Ler», Praça Guilherme Gomes Fernandes, centro da cidade do Porto, as nossas 0bras:

Dicionário de Filosofia e Ontologia, Dialética e Equívocos dos Filósofos, de Francisco Limpo Queiroz,

Astrologia Histórica, a nova teoria dos graus e minutos homólogos,de Francisco Limpo Queiroz,

Astrología y guerra civil de España de 1936-1939, de Francisco Limpo Queiroz

 

This blog requires thousands of hours of research and reflection and produces knowledge that you won't find anywhere else on the internet. In order for us to continue producing it please make a donation to our bank account with the IBAN PT50 0269 0178 0020 4264 5789 0

Nota- O autor deste blog está disponível para ir a escolas e universidades dar conferências filosóficas ou participar em debates. 

f.limpo.queiroz@sapo.pt

© (Copyright to Francisco Limpo de Faria Queiroz)

 

f.limpo.queiroz@sapo.pt

© (Copyright to Francisco Limpo de Faria Queiroz)



publicado por Francisco Limpo Queiroz às 10:55
link do post | comentar | favorito

mais sobre mim
pesquisar
 
Janeiro 2024
Dom
Seg
Ter
Qua
Qui
Sex
Sab

1
2
3
4
5
6

7
8
9
10
11
12
13

14
15
16
17
18
19
20

21
22
23
24
25
26
27

28
29
30
31


posts recentes

Equívocos no manual «Ágor...

arquivos

Janeiro 2024

Dezembro 2023

Novembro 2023

Outubro 2023

Setembro 2023

Agosto 2023

Julho 2023

Junho 2023

Maio 2023

Abril 2023

Março 2023

Fevereiro 2023

Janeiro 2023

Dezembro 2022

Novembro 2022

Outubro 2022

Setembro 2022

Agosto 2022

Julho 2022

Junho 2022

Maio 2022

Abril 2022

Março 2022

Fevereiro 2022

Janeiro 2022

Dezembro 2021

Novembro 2021

Outubro 2021

Setembro 2021

Agosto 2021

Julho 2021

Junho 2021

Maio 2021

Abril 2021

Março 2021

Fevereiro 2021

Janeiro 2021

Dezembro 2020

Novembro 2020

Outubro 2020

Setembro 2020

Agosto 2020

Julho 2020

Junho 2020

Maio 2020

Abril 2020

Março 2020

Fevereiro 2020

Janeiro 2020

Dezembro 2019

Novembro 2019

Outubro 2019

Setembro 2019

Agosto 2019

Julho 2019

Junho 2019

Maio 2019

Abril 2019

Março 2019

Fevereiro 2019

Janeiro 2019

Dezembro 2018

Novembro 2018

Outubro 2018

Setembro 2018

Agosto 2018

Julho 2018

Junho 2018

Maio 2018

Abril 2018

Março 2018

Fevereiro 2018

Janeiro 2018

Dezembro 2017

Novembro 2017

Outubro 2017

Setembro 2017

Agosto 2017

Julho 2017

Junho 2017

Maio 2017

Abril 2017

Março 2017

Fevereiro 2017

Janeiro 2017

Dezembro 2016

Novembro 2016

Outubro 2016

Setembro 2016

Julho 2016

Junho 2016

Maio 2016

Abril 2016

Março 2016

Fevereiro 2016

Janeiro 2016

Dezembro 2015

Novembro 2015

Outubro 2015

Setembro 2015

Agosto 2015

Julho 2015

Junho 2015

Maio 2015

Abril 2015

Março 2015

Fevereiro 2015

Janeiro 2015

Dezembro 2014

Novembro 2014

Outubro 2014

Setembro 2014

Agosto 2014

Julho 2014

Junho 2014

Maio 2014

Abril 2014

Março 2014

Fevereiro 2014

Janeiro 2014

Dezembro 2013

Novembro 2013

Outubro 2013

Setembro 2013

Agosto 2013

Julho 2013

Junho 2013

Maio 2013

Abril 2013

Março 2013

Fevereiro 2013

Janeiro 2013

Dezembro 2012

Novembro 2012

Outubro 2012

Setembro 2012

Agosto 2012

Julho 2012

Junho 2012

Maio 2012

Abril 2012

Março 2012

Fevereiro 2012

Janeiro 2012

Dezembro 2011

Novembro 2011

Outubro 2011

Setembro 2011

Agosto 2011

Julho 2011

Junho 2011

Maio 2011

Abril 2011

Março 2011

Fevereiro 2011

Janeiro 2011

Dezembro 2010

Novembro 2010

Outubro 2010

Setembro 2010

Agosto 2010

Julho 2010

Junho 2010

Maio 2010

Abril 2010

Março 2010

Fevereiro 2010

Janeiro 2010

Dezembro 2009

Novembro 2009

Outubro 2009

Setembro 2009

Agosto 2009

Julho 2009

Junho 2009

Maio 2009

Abril 2009

Março 2009

Fevereiro 2009

Janeiro 2009

Dezembro 2008

Novembro 2008

Outubro 2008

Setembro 2008

Julho 2008

Junho 2008

Maio 2008

Abril 2008

Março 2008

Fevereiro 2008

Janeiro 2008

Dezembro 2007

Novembro 2007

Outubro 2007

Setembro 2007

Agosto 2007

Julho 2007

Junho 2007

Maio 2007

Abril 2007

Março 2007

Fevereiro 2007

Janeiro 2007

Dezembro 2006

Novembro 2006

Setembro 2006

Agosto 2006

Julho 2006

Maio 2006

Abril 2006

Março 2006

Fevereiro 2006

tags

todas as tags

favoritos

Teste de filosofia do 11º...

Suicídios de pilotos de a...

David Icke: a sexualidade...

links
blogs SAPO
subscrever feeds