Em artigo do seu blog A Filosofia no Ensino Secundário, intitulado «10 falsas questões mais habituais sobre a filosofia» escreve Rolando Almeida, um dos membros do grupo «crítica na rede»:
«Em filosofia não tem de se ser mais profundo do que em matemática ou química. Em primeiro lugar deve-se privilegiar a clareza que nem sempre coincide com facilidade, dependendo do estudo que se realize. Obviamente se estamos a falar de filosofia como eu estou a falar neste texto, não se exige profundidade alguma. Exige-se clareza e rigor. A ideia da profundidade em ciência e filosofia, diz respeito à sofisticação dos problemas em análise. Se estamos numa área como a Lógica Modal, envolvendo a discussão de conceitos como possibilidade e necessidade, o mais provável é que a discussão não seja muito acessível a quem não possui qualquer preparação em filosofia. A mesma questão é atribuível a uma qualquer investigação em física ou química. Mas, regra geral, estas teorias mais profundas podem ser expostas a um nível mais intuitivo. E porque é que existe esta necessidade de explicar aos mais leigos os problemas mais sofisticados? Por uma razão muito simples. Somos seres limitados no tempo e um dia alguém vai ter de continuar os nossos estudos, desenvolvendo-os e possibilitando novas descobertas, por isso temos de ensinar aquilo que sabemos ou condenamos o saber à sua morte. Depois porque um filósofo só descobre as fragilidades das razões que oferece em favor das suas teses se um outro o puder estudar e refutar.» (Rolando Almeida)
É óbvio que, ao contrário do que sustenta Rolando Ameida, em filosofia se tem de ser mais profundo que em matemática e em química - o que é uma tarefa para a elite dos filósofos autênticos. Se a filosofia não descer às raízes, à substancia oculta da química e da matemática, não pode constituir-se em epistemologia destas, nem pode aspirar a ser uma visão de síntese, holística.
Rolando Almeida contradiz-se, ademais, ao dizer que ao falar de filosofia, do modo que o faz, «não se exige profundidade» alguma mas sim «clareza e rigor». Na verdade, clareza e rigor pressupõem profundidade de pensamento. Profundidade de pensamento e simplicidade de exposição deste são apanágio dos grandes pensadores, não do vulgo dos professores de filosofia.
Ao qualificar a «profundidade filosófica» como sofisticação, Almeida desliza sem o saber para o glaciar da sua verdade: sofisticação designa subtileza excessiva, falsificação (vem de sofística; ver Dicionário de Língua Portuguesa, 6ª edição, Porto Editora). A filosofia profunda não é sofisticada.
Sofisticados (sofistas, pseudofilósofos) são os que, mediante uma terminologia complicada, pretendem, sem clareza nem rigor, arvorar-se em «filósofos, lógicos modais e proposicionais,» antepondo as suas regras fragmentárias do «pensar» à perfeição conteudal do pensar.
O «simplex» filosófico que Rolando de Almeida advoga é, no fundo, a outra face do cientismo - essa pretensão que a ciência dominante ostenta de ser intocável, de explicar tudo por «factos científicos», de ser tão ou mais profunda que a filosofia e blindada à investigação desta.
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