Sem perguntas de escolha múltipla que, em muitos casos, unilateralizam a percepção filosófica, eis um teste de filosofia concebido no Baixo Alentejo, Portugal, região de planícies pensantes.
Agrupamento de Escolas nº1 de Beja
Escola Secundária Diogo de Gouveia, Beja
TESTE DE FILOSOFIA, 10º ANO TURMA C
17 de Março de 2017. Professor: Francisco Queiroz
I
“Os totalitarismos de direita e o totalitarismo de esquerda rejeitam o Estado de direito democrático, invocando diferentes argumentos. O realismo crítico é uma modalidade dentro do racionalismo. O contratualismo de Thomas Hobbes é diferente do contratualismo de John Locke.”
1)Explique, concretamente este texto.
2)Construa um diálogo sobre a propriedade das empresas e o tipo de Estado ideal e a liberdade de aborto voluntário e de casamento de gays e lésbicas, entre um anarquista, um socialista democrático e um conservador.
3)Relacione, justificando:
A) Alegoria da caverna de Platão, metafísica e estética
B) Multiculturalismo e imperativo categórico em Kant.
C) As quatro causas aristotélicas de um ente e a teleologia no movimento de estrelas e planetas no cosmos de Aristóteles.
CORREÇÃO DO TESTE COM COTAÇÃO MÁXIMA DE 20 VALORES
1) O totalitarismo, de direita (caso da ditaduras de Hitler e Mussolini, assentes no grande patronato e no partido) ou de esquerda (ditadura de Estaline ou de Kim Il Sung na Coreia do Norte, assentes na burocracia colectivista) é todo o regime que suprime a autogestão e a democracia parlamentar, regime de liberdade de imprensa, greve, religião, associação política e sindical e impõe uma ditadura brutal de partido único, baseado na ideia de que «o Estado é tudo, o indivíduo é nada». Detenção arbitrária e por longos períodos de cidadãos sem culpa formada, assassínios e torturas cometidos pelas polícias políticas são o pão nosso de cada dia dos regimes totalitários, que podem ser teocráticos ou não (VALE TRÊS VALORES). Realismo crítico é a teoria segundo a qual a matéria é real e exterior às nossas mentes mas estas não espelham como ela é. O realismo crítico de Descartes é a teoria qiue sustenta que há um mundo real de matéria exterior às mentes humanas composto de uma matéria indeterminada, sem peso nem dureza/moleza, apenas formado de figuras geométricas, movimento, números (qualidades primárias, objetivas), sendo subjectivas, isto é exclusivamente mentais, as cores, os cheiros, os sabores, as sensações do tacto, o calor e frio (qualidades secundárias, subjectivas). O realismo crítico na medida em que despreza parte das intuições empíricas (cores, sons, etc.) a favor da razão abstracta é uma corrente dentro do racionalismo, doutrina que afirma que a razão é o principal orgão de conhecimento dissipando ou subalternizando as impressões sensoriais (VALE TRÊS VALORES). Contratualismo é a filosofia geral que postula que o Estado se constitui mediante um contrato entre diferentes classes e segmentos sociais de uma nação. O contratualismo de Thomas Hobbes que considera que «o homem é o lobo do homem» no estado de natureza, estipula que deve haver um poder arbitral, o do rei, e por isso uma monarquia absolutista antiparlamentar. O contratualismo de John Locke estabelece que deve haver um sistema parlamentar baseado em eleições livres pluripartidárias e liberdade de imprensa e associação e que o governo deve sair do parlamento, isto é, assentar na «soberania popular». (VALE DOIS VALORES).
2) Anarquista: «A propriedade das fábricas e de todas as empresas deve ser dos trabalhadores. Instituímos a autogestão, isto é, a assembleia geral de todos os operários, engenheiros e contabilistas toma decisões sobre salários, investimentos, vendas, etc. O patrão desaparece e desaparece o Estado de democracia parlamentar que não é mais que ditadura disfarçada dos capitalistas. Defendo o casamento livre de gays e lésbicas e o direito a abortar livremente para as mulheres».
Socialista democrático/ social-democrata: «A propriedade da grande maioria das empresas deve ser privada, isto é, estar na mão dos patrões que, em certos casos, devem aceitar a cogestão. Mas há empresas de sectores fundamentais - siderurgia, electricidade, televisão, etc - que devem estar na mão do Estado democrático. Este deve impor impostos progressivos aos capitalistas de modo a ter serviço nacional de saúde e escolaridade pública gratuita até ao final do curso universitário. Defendo a democracia parlamentar e o casamento de gays e lésbicas e a liberdade de aborto sem punição».
Conservador: «A propriedade das empresas deve ser privada pois os empresários são os criadores de emprego os motores primeiros da economia. Os subsídios de desemprego e o rendimento social de inserção deviam acabar ou ser reduzidos para estimular o mercado de trabalho. Defendo as privatizações, a democracia parlamentar, a liberdade de imprensa. Mas a democracia não deve permitir o aborto livre, o casamento de gays e lésbicas, a eutanásia: deve ser guiada por bons princípios religiosos, cristãos.» (VALE QUATRO VALORES).
3-A) A alegoria da caverna, criada por Platão para explicar a dualidade do conhecimento humano, estabelece que havia um grupo de prisioneiros presos desde a nascença no interior de uma caverna que só podiam ver sombras de pessoas e objectos projectadas no fundo da parede da caverna e ignoravam a existência do mundo exterior (doxa ou opinião, conhecimento das aparências). Um dia, um dos presos liberta-se das correntes e ascende o exterior da caverna e fica deslumbrado ao ver os prados verdes, o céu azul, as flores multicolores, etc. Volta à caverna e conta aos companheiros presos o que viu mas estes não acreditam e ameaçam-no. Este mundo exterior simboliza a Metafísica que é o reino, real ou imaginário, de entidades invisíveis, incognoscíveis ou sobrenaturais como, por exemplo, deuses, demónios, almas humanas no «além», paraíso, infernos, buracos negros ou singularidades onde o espaço-tempo desaparece, etc. A beleza da paisagem exterior é, subjectivamente, um sentimento estético, sendo estética a ciência do belo e do feio, do sublime e do horrível (VALE TRÊS VALORES).
3.B) Multiculturalismo é a filosofia que sustenta a absoluta igualdade ou equidade das diferentes etnias religiosas, raciais, culturais, no seio de uma mesma sociedade. Por exemplo, os chineses, os árabes, os negros africanos a viver em Portugal devem poder realizar livremente as suas festas tradicionais, ter direitos e deveres idênticos aos dos portugueses autóctones, e poder ascender a qualquer cargo político, ir de burka para a escola (no caso de alunas islâmicas), etc. Ora o imperativo categórico é a verdadeira lei moral para Kant baseada na equidade: «age como se quisesses que a tua ação fosse lei universal da natureza». (VALE DOIS VALORES).
3-C) As quatro causas de um ente segundo Aristóteles são: causa formal, a forma, que coincide con o to tí essencial (no caso da estátua: a forma); causa material, ou matéria de que é feita que, de forma imperfeita, corresponde ao tó on ou existência (no caso da estátua, o mármore); causa eficiente, o agente que gerou esse ente (no caso da estátua, o escultor); causa final, a finalidade desse ente, para que serve (no caso da estátua, a ornamentação de um jardim ou de uma praça, o relembrar de uma personagem).No cosmos de Aristóteles há dois mundos, o mundo sublunar, composto de quatro esferas concêntricas, a Terra (imóvel no centro) e as esferas de água,ar e fogo, no qual o movimento dos corpos não é circular e é teleológico, obedece a finalidades inteligentes, isto é, os corpos desejam voltar à origem do seu constituinte principal (exemplo: a pedra largada no ar cai porque o seu télos, finalidade, é voltar à «mãe», a Terra); o mundo celeste, composto de 54 esferas de cristal incorruptíveis com astros incrustados, 7 delas de planetas (Lua, Mercúrio, etc) e 47 de estrelas, que giram circularmente de modo teleológico, finalista, já que estrelas e planetas, seres inteligentes, desejam alcançar, fora do cosmos, Deus, o pensamento puro, que se pensa a si mesmo e não se importa com o cosmos. Deus não é a causa formal (o modelo) do cosmos nem a causa eficiente (o construtor) do cosmos, mas apenas a causa final, o télos, do movimento dos astros inteligentes e das respectivas esferas. Ele nada faz mas suscita e atrai o movimento das estrelas. Das quatro causas a que melhor se relaciona com a teleologia dos movimentos celestes é a causa final.(VALE TRÊS VALORES).
© (Direitos de autor para Francisco Limpo de Faria Queiroz)
Eis um teste de filosofia fora do estereótipo dos testes que os autores dos manuais escolares da Porto Editora, Leya, Santillana, Areal Editores, etc, divulgam. E sem questões de escolha múltipla que, frequentemente, são incorrectamente concebidas por quem não domína o método dialético e desliza para a horizontalidade da filosofia analítica vulgar.
Agrupamento de Escolas nº1 de Beja
Escola Secundária Diogo de Gouveia, Beja
TESTE DE FILOSOFIA, 10º ANO TURMA A
3 de Março de 2016. Professor: Francisco Queiroz.
I
“A lei do salto de qualidade está presente na passagem da percepção empírica ao respectivo conceito empírico. O mítico Adão Kadmon possui na essência a luta entre Yang e Yin. O totaliratismo, de direita ou de esquerda, parece coadunar-se com a moral utilitarista de Stuart Mill, num certo aspeto, e com o imperativo categórico de Kant, sob outro aspeto.”
1) Explique, concretamente este texto.
2)Escolha e caracterize (qualidade, número, cor, planeta) cada uma de cinco esferas da árvore dos Sefirós e distribua-as segundo a lei da contradição principal, enunciando esta.
3) Construa um diálogo sobre a propriedade e a gestão das empresas e sobre a democracia parlamentar entre um anarquista, um comunista leninista, um socialista democrático, um liberal, um conservador e um fascista.
4) Relacione, justificando:
A) Temura, Gematria e Metafísica.
B) Realismo natural realismo crítico e idealismo.
C) Pragmatismo e cepticismo.
CORREÇÃO DO TESTE COTADO PARA 20 VALORES
1) A lei do salto qualitativo postula que a acumulação lenta e gradual em quantidade de um dado aspecto de um fenómeno leva a um salto brusco ou nítido de qualidade nesse fenómeno. Acumulando percepções empíricas similares (ver um cavalo baio, ver um cavalo branco, ver um cavalo negro) chega-se a um salto qualitativo que é a formação da ideia ou conceito empírico de cavalo no intelecto (VALE DOIS VALORES). O Adão Kadmon, mítico antepassado da humanidade, era andrógino, a sua metade direita era masculina e a metade esquerda feminina, por isso a sua essência é uma luta entre Yang (fogo, luz, expansão, masculino, alto, crescimento) e Yin (água, escuridão, contração, feminino, baixo, diminuição) (VALE DOIS VALORES). O totalitarismo, de direita (caso da ditaduras de Hitler e Mussolini) ou de esquerda (ditadura de Estaline ou de Kim Il Sung na Coreia do Norte) é todo o regime que suprime a autogestão e a democracia parlamentar, regime de liberdade de imprensa, greve, religião, associação política e sindical e impõe uma ditadura brutal de partido único, e não se coaduna com a filosofia da Stuart Mill porque este defendia que se deve agir visando proporcionar a felicidade à maioria das pessoas e a democracia é um regime de maiorias, em princípio, ao passo que o totalitarismo favorece a felicidade da elite ditatorial, uma minoria opressora da maioria. Também não se coaduna com o imperativo categórico de Kant porque este diz «Age de modo a considerares cada pessoa como um fim em si e não um meio» e o totalitarismo não respeita a individualidade de cada um, não deixa falar e votar livremente(VALE TRÊS VALORES).
2) A lei da contradição principal diz que um sistema de múltiplas contradições pode ser reduzido a uma só, organizando-as em dois blocos, podendo haver uma ou outra contradição na zona neutra. Ora ao contemplarmos a árvore das 10 sefirós da Cabala podemos agrupar duas esferas do pilar direito - Chesed (Misericórdia, Júpiter, cor azul e número 4) e Netzac ( Vitória-Emoção, Vénus, cor verde e número 7) num bloco oposto a duas esferas do pilar esquerdo- Gueburah (Justiça, Marte, cor vermelha, número 5) e Hod (Intelecto, Mercúrio, cor laranja e número 8), ficando Thiphetet (Sol) na zona neutra, fora de ambos os blocos. (VALE TRÊS VALORES).
3) Anarquista: «A propriedade das fábricas e de todas as empresas deve ser dos trabalhadores. Instituímos a autogestão, isto é, a assembleia geral de todos os operários, engenheiros e contabilistas toma decisões sobre salários, investimentos, vendas, etc. O patrão desaparece e desaparece o Estado de democracia parlamentar que não é mais que ditadura disfarçada dos capitalistas.»
Comunista: «A propriedade de todas ou quase todas as fábricas deve ser do Estado, dirigido por um partido marxista-leninista, que impedirá os patrões de extorquirem a mais valia à classe operária. A democracia burguesa que actualmente apoiamos, concorrendo às eleições e usando as liberdades, deve ser substituída pela ditadura do proletariado onde não há eleições livres nem imprensa livre como no capitalismo liberal».
Socialista democrático/ social-democrata: «A propriedade da grande maioria das empresas deve ser privada, isto é, estar na mão dos patrões que, em certos casos, devem aceitar a cogestão. Mas há empresas de sectores fundamentais - siderurgia, electricidade, televisão, etc - que devem estar na mão do Estado democrático. Este deve impor impostos progressivos aos capitalistas de modo a ter serviço nacional de saúde e escolaridade pública gratuita até ao final do curso universitário. Defendo a democracia parlamentar».
Liberal: «A propriedade das empresas deve ser privada pois os empresários são os criadores de emprego os motores primeiros da economia. Os subsídios de desemprego e o rendimento social de inserção deviam acabar ou ser reduzidos para estimular o mercado de trabalho. Defendo as privatizações, democracia parlamentar, a liberdade de imprensa, o capitalismo puro e duro.»
Conservador: «A propriedade das empresas deve ser privada pois os empresários são os criadores de emprego os motores primeiros da economia. Os subsídios de desemprego e o rendimento social de inserção deviam acabar ou ser reduzidos para estimular o mercado de trabalho. Defendo as privatizações, a democracia parlamentar, a liberdade de imprensa. Mas a democracia não deve permitir o aborto livre, o casamento de gays e lésbicas, a eutanásia: deve ser guiada por bons princípios religiosos, cristãos.»
Fascista: «As empresas devem ser de patrões nacionais e do Estado fascista e corporativo que, através da polícia política e da censura à imprensa impedirá a luta de classes, o sindicalismo livre, a imoralidade sexual. Não deve haver democracia parlamentar mas ditadura nacionalista que expulse a generalidade dos imigrantes e tenha por princípios «Deus, pátria, família» como princípios fundamentais». (VALE QUATRO VALORES).
4-A) A temura é a disciplina ou método da Kaballah (ensinamento secreto de itelectuais judeus) que estabelece correspondências de ideias entre palavras diferentes alterando a posição das letras e por vezes substituindo uma ou outra dessas letras ou abolindo-a. Exemplo: ROMA equivale a AMOR; BEJA equivale a IAVE porque se transforma em JABE e depois em IABE. A gematria é a disciplina da Kaballah que estabelece a correspondência entre cada letra e um número (exemplo: A=1, B=2, C=3, D=4, E=5, F=6, G=7, H=8, I,J,Y=9, K=10, L=20, M=30, N, ~ =40) de modo a obter o número que traduz a essência de cada palavra. BEJA (B=2, E=5, J=9 e A=1) vale 2+5+9+1=17, isto é DEZASSETE. Ambas estas disciplinas, temura e gematria, são metafísicas na medida em que ultrapassam a ciência experimental e trabalham com teses especulativas, de uma racionalidade holística discutível, a raiar a mística.(VALE UM VALOR)
2-B)- O realismo natural é a teoria segundo a qual a matéria é real e exterior às nossas mentes e estas espelham-na como ela é (exemplo: a erva é verde, o céu é azul). Realismo crítico é a teoria segundo a qual a matéria é real e exterior às nossas mentes mas estas não espelham como ela é. O realismo crítico de Descartes é a teoria qiue sustenta que há um mundo real de matéria exterior às mentes humanas composto de uma matéria indeterminada, sem peso nem dureza/moleza, apenas formado de figuras geométricas, movimento, números (qualidades primárias, objetivas), sendo subjectivas, isto é exclusivamente mentais, as cores, os cheiros, os sabores, as sensações do tacto, o calor e frio (qualidades secundárias, subjectivas). O idealismo é a corrente que afirma que o universo material não é real em si mesmo mas está dentro da nossa mente, como imagens e ideias. (VALE TRÊS VALORES)
2.C) Pragmatismo é a teoria que diz que devemos lidar, de forma útil, com os factos empíricos palpáveis e devemos pôr de parte a metafísica, os grandes princípios morais ou políticos inaplicáveis de momento. O cepticismo é a corrente que põe tudo ou uma parte das coisas em dúvida e é usado pelo pragmatismo. (VALE DOIS VALORES)
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© (Direitos de autor para Francisco Limpo de Faria Queiroz)
Eis um teste de filosofia do 10º ano de escolaridade em Portugal, evitando as perguntas de escolha múltipla em que o aluno coloca um X na hipótese que supõe estar certa e fica dispensado de explanar as suas ideias num corpo discursivo coerente.
Agrupamento de Escolas nº1 de Beja
Escola Secundária Diogo de Gouveia, Beja
TESTE DE FILOSOFIA, 10º ANO TURMA C
11 de Março de 2015. Professor: Francisco Queiroz
I
“A autogestão nas empresas, a cogestão e a nacionalização de empresas são valores ético-políticos e económicos aceites ou rejeitados como valores supremos por uma ou outra de três correntes como o comunismo leninista, o anarquismo e o socialismo reformista, sendo uma destas correntes classificada, por alguns, de totalitária. A figura andrógina do Adão Kadmon, da filosofia hermética, obedece de certo modo à lei da tríade e ao dualismo Yang-Yin»
I
1) Explique, concretamente este texto.
2) Relacione, justificando:
A) As quatro fases do processo alquímico e respectivas aves- símbolos, por um lado, e quatro correntes ético-políticas (três de direita e uma do centro).
B) O imperativo categórico em Kant, por um lado, multiculturalismo e valores ético-políticos fascistas, por outro lado.
C) Gematria, princípio holístico macrocosmos-microcosmos e lei dialética do uno..
CORRECÇÃO DO TESTE ESCRITO (COTADO PARA 20 VALORES)
1)«A autogestão nas empresas é o regime em que as fábricas, as explorações agrícolas, os hipermercados, as empresas de transportes são propriedade dos trabalhadores e não do Estado nem de patrões ou sociedades privadas: semanal ou mensalmente reune a assembleia de todos os operátrios, engenheiros e técnicos de contas da empresa e decide democraticamente os investimentos a fazer, a escala de salários, a repartição dos lucros, os horários de trabalho, etc. A autogestão é um valor central da doutrina anarquista que é contra o capitalismo privado e contra o capitalismo de estado marxista~leninista, anarquismo que defende a extinção do Estado, do exército profissional e das polícias e que promove a luta de rua (acção directa) e a greve geral revolucionária contra a democracia parlamentar ou burguesa. A cogestão nas empresas é o regime em que estas são propriedade privada de patrões mas estes incluem um representante da comissão de trabalhadores ou do sindicato na gestão da empresa concertando com estes os ritmos de trabalho, a escala de salários, etc. A cogestão é um valor central da doutrina da social-democracia ou socialismo reformista, isto é do capitalismo de centro-esquerda, corrente que defende a democracia parlamentar, os impostos progressivos sobre os ricos, o rendimento mínimo garantido e o subsídio de desemprego para todos os necessitados, o ensino secundário e universitário público gratuitos, o serviço nacional de saúde. O socialismo tem forte componente maçónica e defende uma economia de mercado, uma economia capitalista. A nacionalização é um valor central da doutrina comunista marxista-leninista que defende uma revolução política e social em que as fábricas e terras são nacionalizadas, isto é, passam das mãos de capitalistas privadas para o Estado gerido pelo partido comunista em nome do povo (ditadura do proletariado, sem eleições livres porque estas trariam o capitalismo de volta). Em democracia parlamentar, os comunistas concorrem às eleições, apesar de considerarem que os partidos vencedores - socialistas, liberais ou conservadores - ganham por serem subsidiados pela alta finança e grandes industriais, já que no parlamento apresentarão propostas de lei contra o fascismo clássico e a favor da classe operária. O mundo ocidental designa de totalitária a corrente marxista-leninista porque nos países em que se erigiu em poder de Estado acabou com a democracia liberal, impôs a censura à imprensa, proibiu a greve operária e tudo controla através de um partido único que se confunde com o Estado (VALE SEIS VALORES). O Adão Kadmon era, segundo relatos alquímicos, da filosofia hermética, - isto é, esotérica, inacessível às massas - o Adão primitivo, dotado de um corpo astral, que atravessava as pedras e a matéria, andrógino, hermafrodita - metade mulher (Sofia), metade homem (Adão), com duas cabeças em algumas representações, correspondente ao arcano XXI do Tarot - que viveria no Paraíso Terrestre, no limite entre o Pleroma (Mundo da Luz divina) e o Kenoma (Mundo do Vazio, das trevas exteriores). A lei da tríade diz que um processo dialético se divide em três fases: a tese ou afirmação, a antítese ou negação e a síntese ou negação da negação. Aplicando esta lei a Adão: a tese é a metade masculina do Adão, a antítese a sua metade feminina (Sofia)e a síntese o Adão-Sofia na sua totalidade. O dualismo Yang-Yin do taoísmo- Yang é o masculino, a luz, o calor, o dia, o movimento, a dilatação; Yin é o feminino, a sombra, o frio, o repouso, a contração - é patente no facto de a parte masculina de Adão ser yang e a parte feminina, Sofia, ser Yin (VALE TRÊS VALORES).
2) A) As quatro fases da Grande Obra alquímica são: nigredo, albedo, citredo e rubedo. As três correntes de direita política, são liberais, conservadores e fascistas/monárquicos absolutistas. Há várias maneiras de relacionar as fases alquímicas e as correntes políticas e mostrarei apenas uma dessas maneiras. Os fascistas - que faço corresponder à fase do nigredo ou da putrefação, sendo a ave símbolo o corvo - querem um Estado nacional, uma ditadura de partido único, defensor de um capitalismo controlado, sem direito às greves, à imprensa livre e ao lock-out, um Estado defensor dos valores tradicionais (masculinidade do homem, feminilidade e espírito de dona de casa na mulher; perseguição e punição de gays e lésbicas; respeito às igrejas católica, protestante ou islâmica e proibição do divórcio nos casamentos religiosos), profundamente anticomunista, antimaçónico e antiberal, xenófobo, isto é, expulsando imigrantes estrangeiros.
Menos à direita estão os conservadores - que faço corresponder à fase do albedo, da cor branca, com o cisne como ave-símbolo - em que há a separação das substâncias impuras; por exemplo, os conservadores como Churchill afastam-se dos fascistas como Hitler - defendem uma democracia parlamentar (regime de eleições livres de parlamentos, com muitos partidos a concorrer), liberdade sindical, de imprensa e de greve mas opõem-se a impostos progressivos sobre os ricos, ao casamento de gays e lésbicas, à legalização das drogas leves. Os conservadores defendem os valores tradicionais da família, do respeito a Deus e são contra o aborto livre.
À esquerda dos conservadores, mas ainda no campo da direita, estão os liberais, - que faço corresponder à fase do citredo, da cor amarela, e da policromia, cuja ave símbolo é o pavão - que defendem o capitalismo privado puro, poucos ou nenhuns impostos sobre os capitalistas, o fim do serviço nacional de saúde e do ensino universitário gratuitos, a privatização de quase todas as empresas públicas (correios, comboios, aviação, minas, siderurgia, etc), o quase desaparecimento do subsídio de desemprego e do rendimento mínimo garantido, a liberdade de os patrões despedirem os empregados sem os indemnizar. Os liberais, também com grande influência da maçonaria no seu seio, defendem a globalização da economia e a sinarquia, o governo mundial único numa base pluralista.
Ao centro, figuram os centristas, também defensores da democracia parlamentar ou burguesa - que faço corresponder à fase do rubedo ou fase vermelha, cujo ave símbolo é o pelicano, fase em que se acaba de produzir o lapis ou pedra filosofal capaz de dar ao homem um corpo adâmico, imaterial- com mais preocupações sociais, que se opõem ao capitalismo selvagem de liberais e conservadores e também ao comunismo, ao anarquismo e ao socialismo reformista embora sejam vizinhos deste último. Ao contrário dos liberais e conservadores, os centristas já defendem o Estado social, um Estado capitalista que confere protecção básica aos mais pobres, dando-lhes saúde gratuita nos hospistais, refeições gratuitas e outros apoios. John Rawls foi, nos EUA, o teórico desta corrente. Advogava que as leis deviam ser debatidas e votadas por grandes comunidades segundo uma democracia de base a coberto de um véu de ignorância, na posição original. (VALE CINCO VALORES).
2) B) O imperativo categórico de Kant é uma lei moral autónoma, formal, abstracta, variável de pessoa a pessoa, formulada no eu numénico ou racional, mas com equidade universal, sem interesses egoístas: «Age de modo que a tua acção seja como uma lei universal da natureza», isto é, faz o bem sem olhar a quem e nem mesmo a ti mesmo ou pune a todos, por espírito justo, sem olhar a quem. O multiculturalismo é a posição que diz que num país todas as comunidades - os nacionais de origem, os emigrantes africanos, latino-americanos, do leste, etc - devem estar em pé de igualdade ante o Estado e a lei: nas escolas devem ensinar-se as diversas línguas e culturas, qualquer imigrante se pode candidatar a presidente da república, deputado nacional ou autarca local, as diferentes religiões e o ateísmo devem ter direitos iguais, etc. Os valores ético-políticos do fascismo , ideologia de extrema-direita anticomunista que diz que o Estado nacional é tudo e o indivíduo é nada e deve haver uma ditadura de partido único sem eleições livres nem imprensa livre e perseguição a gays e lésbicas assumidos- são contra o multiculturalismo porque defende a expulsão de imigrantes e a subalternização das culturas minoritárias.(VALE TRÊS VALORES).
2)C) A gematria é a vertente da Cabala judaica que faz corresponder a cada letra do alfabeto um número (A=1, B=2, C=3, D=4, E=5, F=6, G=7, H=8, I, J, Y=9, K=10, L=20, M=30, N=40, etc.) e isso exprime a lei dialética do uno que diz que no universo tudo se relaciona e nada está isolado: as letras correspondem a números, os planetas a partes do corpo humano, etc. Também a gematria exprime o princípio holístico macrocosmo-microcosmo que diz que o grande universo se espelha no pequeno universo, em qualquer pequena coisa do mundo inferior: assim cada número existente no mundo dos arquétipos ou no universo inteiro se liga ou reflecte em cada letra dos livros, jornais e papéis quotidianamene escritos ou lidos por seres humanos (VALE TRÊS VALORES).
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f.limpo.queiroz@sapo.pt
© (Direitos de autor para Francisco Limpo de Faria Queiroz)
Eis dois testes de filosofia para o 10º ano de escolaridade, a meio do segundo período lectivo, possíveis de ser dado só dentro de uma cultura de exigência e ensino filosófico autêntico. Os alunos dos professores populistas e facilitistas que ensinam pouco, e dão altas classificações sobreavaliadas a muitos desses alunos, não conseguem, presumivelmente, responder com êxito a este teste.
Escola Secundária Diogo de Gouveia, Beja
TESTE DE FILOSOFIA, 10º ANO TURMA A
Fevereiro de 2012 Professor: Francisco Queiroz
I
“O imperativo categórico em Kant tem analogia com a democracia liberal e é formal e autónomo. O livre-arbítrio, incompatível com o fatalismo mas compatível com o determinismo, parece corresponder às causas eficiente e final de certos actos. A concepção de Estado marxista-leninista é diferente da concepção de Estado fascista.”
1) Explique, concretamente, cada uma destas frase
II
2) Construa um diálogo entre um anarquista, um liberal e um social-democrata sobre a natureza do Estado de democracia liberal e o valor das eleições, a propriedade privada das empresas e a economia, os impostos, os direitos à greve, ao aborto voluntário, o ensino, o sistema de saúde, o rendimento mínimo garantido.
III
«Aquele que se dedica ao estudo cresce de dia para dia, aquele que se dedica ao Tao diminui de dia para dia. Vai diminuindo sempre até chegar ao não agir. Pelo não agir, nada há que se não faça.» (Lao Tse)
IV
4) Relacione, justificando:
A) Arquétipo, em Platão, e Tó Tí e Tó On.
B) Hermenêutica, ideologia e juízo de valor.
C) Empirismo/ Racionalismo e doutrinas éticas de Kant e Stuart Mill.
D) Realismo Ontológico/ Idealismo Ontológico e Sujetividade/Objetividade.
5)Disserte sobre os temas seguintes:
«A essência, a lei da tríade e o princípio do terceiro excluído na minha escola e na minha cidade.»
CORREÇÃO DO TESTE (COTADO EM 20 VALORES)
Respostas:
1) O imperativo categórico, em Kant, é a verdadeira lei moral que preconiza «Age como se quisesses que a tua máxima fosse lei universal da natureza», isto é, um princípio igualmente aplicável a todos os homens, incluindo a ti mesmo, princípio de equidade e não de prazer egoísta. Isto tem semelhança com a democracia liberal (regime político-social de eleições livres, liberdade de associação empresarial, sindical e política, liberdade de greve e manifestação de rua, de religião ou ateísmo, liberdade de criação artística, etc) já que essa democracia deriva do seguinte imperativo categórico existente em milhões de pessoas;. «Age politicamente e vive como se quisesses que a tua ação expandisse a toda a humanidade os princípios da liberdade individual concretizados nas regras de de «a cada um homem, um voto», em eleições livres e periódicas aos parlamentos nacionais, regionais e locais, em liberdade de imprensa, de manifestação de rua, de organização e acção livre de sindicatos, empresas privadas e partidos políticos, etc». O caráter formal do imperativo categórico é o facto de ser abstrato, sem conteúdo, e o caráter autónomo é o facto de variar de pessoa a pessoa, ser criação desta. ( A RESPOSTA A ESTA PRIMEIRA FRASE DO TEXTO VALE DOIS VALORES).
O livre-arbítrio, isto é, capacidade de deliberar, livre e racionalmente, sobre atitudes a adotar ou valores a escolher harmoniza-se com o determinismo - princípio segundo o qual nas mesmas circunstâncias as mesmas causas produzem sempre os mesmos efeitos - mas não pode coexistir com o fatalismo, uma vez que este é a teoria segundo a qual todos os acontecimentos estão predestinados ou escritos antes de se materializarem e, portanto, o livre-arbítrio é nele uma ilusão, os seres humanos são marionetas nas mãos do destino. O livre-arbítrio na medida em que exige «ver» intelectualmente a finalidade das nossas decisões e actos corresponde à causa final de algo (exemplo: decido jejuar 24 horas porque "vejo" o resultado final dessa acção, o meu corpo purificado de um excesso de colesterol e ácidos) e na medida em que desencadeia a acção do sujeito corresponde à causa eficiente, isto é, ao agente que faz ou fabrica algo (exemplo: a minha vontade de manter o jejum desvia-me da comida e da bebida). (A RESPOSTA À SEGUNDA FRASE DO TEXTO VALE DOIS VALORES)
A concepção de Estado marxista-leninista é a seguinte: o Estado deve ser um instrumento do poder da classe operária e do seu partido comunista, por isso deve centralizar a economia (nacionalizar todas ou quase todas as empresas e dar emprego a toda a gente), suprimir as eleições "livres" porque estas possibilitam aos partidos da burguesia (conservadores, liberais, centristas e socialistas) fazer propaganda contra o Estado socialista leninista, suprimir o pluripartidarismo, a liberdade de imprensa, de greve e manifestação, eliminar os opositores de esquerda (anarquistas, trotskistas, etc). A concepção de Estado fascista é diferente, embora igualmente ditatorial: o Estado deve ser um instrumento de poder da nação e do seu partido fascista, que regulará a economia deixando coexistir o capitalismo privado e o capitalismo de estado, não permitirá eleições livres e partidos políticos, nem imprensa e televisão livre, impedirá a luta de classes (as greves, as manifestações de rua, etc) e a entrada de emigrantes, fará prender através da polícia política os ativistas de esquerda, centro ou direita liberal que sejam antifascistas perigosos. (A RESPOSTA À TERCEIRA FRASE VALE DOIS VALORES).
II
2) ANARQUISTA: Não deve haver Estado. O Estado, seja uma ditadura fascista ou monárquica, ou uma democracia liberal ou uma ditadura marxista-leninista, é sempre uma máquina burocrática, uma ditadura sobre a classe operária e os trabalhadores. A propriedade privada das fábricas, terras, bancos e supermercados, empresas de pesca e transportes e comunicações, é imoral, assenta na exploração dos trabalhadores pela burguesia e deve ser abolida. Sou pela extinção do capitalismo através da autogestão: as fábricas aos operários, as terras aos jornaleiros agrícolas, as escolas aos alunos e professores! O poder aos operários nas fábricas, reunidos em assembleias de base! O poder à assembleia de moradores em cada bairro! O rendimento mínimo garantido é uma concessão dos capitalistas para calar os mais pobres, uma reforma, uma esmola, mas queremos mais, queremos a revolução social, o socialismo autogestionário, a economia colectivista e descentralizada. Apoiamos o direito ao aborto e à greve.
SOCIAL-DEMOCRATA: Tem de haver Estado, um estado de direito democrático, que permita organizar a vida de um povo. A anarquia ou ausência de Estado é uma utopia, um ideal impraticável. Sou contra os Estados totalitários, dominados por um só partido político ou por um presidente ditatorial: o Estado marxista-leninista, à esquerda, e o Estado fascista, à direita, que coincidem ao eliminar as liberdades individuais e as eleições livres, em nome da "classe" ou da "nação". A economia, embora capitalista, deve ter um sector estatizado (metropolitano, carris, águas, electricidade, um canal de televisão, sistema nacional de saúde e ensino, etc) onde o serviço ao público, com preços e taxas baixos se deve sobrepor à busca do lucro. Favoreço o direito à greve, ao aborto livre e impostos progressivos sobre os ricos.O rendimento mínimo garantido e o subsídio de desemprego de longa duração são criações da social-democracia que evitam as situações de pobreza extrema.
LIBERAL: O Estado é imprescindível e deve ser uma democracia pluripartidária com eleições livres mas precisamos de menos Estado, isto é, muitas empresas estatais (águas, eletricidade, caminhos de ferro, hospitais e centros de saúde, o sistema prisional ou parte dele, etc) podem e devem ser privatizadas de modo a que desçam os impostos sobre os cidadãos e se atraiam os capitais dos muito ricos, nacionais ou estrangeiros. O capitalismo privado é o grande motor da economia e o modelo justo de sociedade. Sou contra os anarquistas, defensores de um comunismo libertário, de base, e sou contra o socialismo democrático com a sua tendência estatizadora de empresas e o seu rendimento mínimo garantido que desencoraja pessoas válidas a procurar emprego. Sou pela privatização das universidades e dos hospitais, ou de muitos deles, e de parte ou todo o ensino secundário que custam muitos milhões em impostos aos contribuintes. Admito o direito ao aborto livre e à greve. (VALE TRÊS VALORES, NO CONJUNTO DO DIÁLOGO).
3) O Tao é o ritmo do universo, a mãe do Universo, o fundo oculto de onde brotam o ser e o não ser. É uma onda que se desdobra em Yang (calor, convexidade, expansão) e Yin (frio, concavidade, contração). Ver nascer o sol no campo integra-se no Tao mas estar a essa hora numa discoteca a dançar freneticamente ao som de batidas rápidas não é conforme ao Tao. Estudar horas e horas diárias opõe-se ao Tao porque exige um esforço artificial e o estudo não produz os alimentos simples da vida, como o pão, os frutos, as hortaliças. O camponês que cuida do gado e das árvores, esse, sim, dedica-se ao Tao (o ritmo das estações do ano, o crescer e amadurecer das plantas, etc) e vai diminuindo em prestígio até chegar ao não agir, isto é, a não intervir social e politicamente, a apagar-se em importância. E quando não se age, isto é, quando se deixa correr o ritmo natural das coisas, tudo se consegue obter, como no caso daquele que, sentido-se indisposto, jejua dois dias seguidos e com o jejum (não agir) dá repouso ao fígado e permite à força vital corporal eliminar ácido úrico, gorduras de modo a reencontrar a saúde. (VALE DOIS VALORES).
4) A) Arquétipo é uma forma eterna, imutável, do mundo inteligível, incorruptível e perfeita que possui um tó tí, uma determinação ou forma (exemplo: Belo é um to tí diferente de Justo e de Número Dois e todos estes são arquétipos) e possui também um tó ón, uma existência sem forma comum a todos os arquétipos. (VALE DOIS VALORES)
4) B) Hermenêutica é a arte de (bem) interpretar os textos e os símbolos em geral, a interpretação supõe juízos de valor isto é afirmações ou negações mais ou menos subjectivos - exemplo: « os líderes políticos e artísticos que saudam fazendo cornos com o dedo indicador e o dedo mínimo estão a transmitir uma mensagem subliminar iluminatti» - e supõe uma ou várias ideologias, isto é, sistemas de valores e ideias correspondentes a grupos sociais, classes sociais, nações, civilizações. (VALE DOIS VALORES).
4) C) Empirismo é a doutrina que afirma que a fonte quase exclusiva das nossas ideias é o campo das percepções empíricas e que as ideias são cópias descoloridas dessas percepções. Racionalismo é a doutrina que afirma que a fonte quase exclusiva das nossas ideias é o campo das intuições inteligíveis e dos raciocínios que negam, com frequência, as percepções empíricas. Aparentemente pelo menos, a doutrina de Kant é a mais racionalista, pois formula o imperativo categórico, que despreza o eu empírico e brota do eu racional, que concebe o dever. E a doutrina de Mill é mais empirista, pois maximizar o prazer (sensual ou empírico, antes de mais) implica conhecer bem o terreno, o número de pessoas envolvidos, os resultados práticos - tudo condições empíricas. (VALE DOIS VALORES).
4) D) Realismo ontológico é a doutrina segundo a qual o mundo material é real em si mesmo, fora dos espíritos humanos.Liga-se à objetividade pois considera-se a matéria objetiva, isto é, exterior a nós, visível e palpável a todos. Idealismo ontológico é a doutrina segundo a qual o mundo de matéria não é real fora de nós mas dentro do nosso espírito, em forma de ideias e sensações. Isto parece ligar-se a subjetividade ou seja interioridade psíquica variável de pessoa a pessoa. (VALE DOIS VALORES).
5) A essência é a forma fundamental de algo. Na minha escola, a essência é dupla: o edifício, com salas de aula, ginásio, biblioteca, etc, (essência física); o processo de aprendizagem intelectual e manual que aí se realiza todos os dias, envolvendo professores e alunos. Na minha cidade, a essência é a forma geral arquitectónica e a população que nela vive.
A lei da tríade afirma que um processo dialético se compõe de três partes: a tese ou afirmação, a antítese ou negação e a síntese, ou negação da negação, representando esta última um regresso à tese. Na escola, a aula é a síntese, o resultado do confronto intelectual entre os professor (tese, aquele que põe uma matéria) e os alunos (antítese, aqueles que negam ou ignoram, de início, essa matéria). Na cidade, o centro histórico é a tese, os bairros modernos da segunda metade do século XX e XXI é a antítese, as ruas ou praças em que confluem é a síntese.
O princípio do terceiro excluído afirma que uma coisa ou qualidade ou é tal ou não é tal, ou seja, ou pertence ao grupo A ou ao grupo não A, não havendo a terceira hipótese. Na escola, as salas ou são de aulas ou não são de aulas, não havendo a terceira hipótese. Na cidade, cada casa está classificada como património de interesse municipal ou não está classificada como património de interesse municipal. (VALE DOIS VALORES).
Nota para a correção: nas perguntas de relacionação entre dois ou mais conceitos, a cotação para cada resposta dada deve obedecer a um princípio de premiar o aluno que estuda e sabe as definições separadamente: assim deverá receber 50% a 60% da cotação da pergunta desde que defina correctamente os conceitos, embora não consiga interligá-los.
Analisemos agora outro teste.
Escola Secundária Diogo de Gouveia, Beja
TESTE DE FILOSOFIA, 10º ANO TURMA D
Fevereiro de 2012 Professor: Francisco Queiroz
I
“O princípio da máxima felicidade em Stuart Mill tem analogia com a democracia liberal e o imperativo categórico em Kant é formal e autónomo. Nas quatro causas de um ente teorizadas por Aristóteles, duas parecem ter íntima ligação com o livre-arbítrio, e duas parecem ter maior ligação com o determinismo. A concepção de Estado social-democrata é diferente da concepção de Estado fascista.”
1) Explique, concretamente, cada uma destas frases.
II
2) Construa um diálogo entre um anarquista, um comunista leninista e um conservador sobre a natureza do Estado de democracia liberal e o valor das eleições, a propriedade privada das empresas e a economia, os impostos, os direitos à greve, ao aborto voluntário, o ensino, o sistema de saúde, o rendimento mínimo garantido.
III
«.A virtude suprema é sem virtude, é por isso que ela é a virtude. A virtude inferior não se afasta das virtudes, é por isso que não é a virtude. O Tao que se procura alcançar não é o próprio Tao. Pelo não-ser, atinjamos o seu segredo; pelo ser, abordemos o seu acesso. »(Lao Tse)
3) Explique este poema de Lao Tse.
IV
4) Relacione, justificando:
A) Os três mundos em Platão , em Platão, percepção empírica e conceito.
B) Hedonismo cirenaísta, ideologia e mais-valia.
C) Empirismo/ Racionalismo e Metafísica/Pragmatismo.
D) Realismo Ontológico/ Idealismo Ontológico e Dogmatismo/Ceticismo.
5)Disserte sobre os temas seguintes:
«A essência e o acidente (interno e externo), e a lei da luta de contrários na minha escola e na minha cidade.»
CORREÇÃO DO TESTE (COTADO EM 20 VALORES)
1) O princípio da máxima felicidade, segundo Stuart Mill, é o que prescreve proporcionar a felicidade à maioria das pessoas envolvidas numa dada situação mesmo que isso implique sacrificar o prazer de quem realiza a ação ou da minoria de pessoas envolvida nessa situação. Sendo a democracia liberal o regime baseado em eleições livres e periódicas por sufrágio universal, com liberdade de imprensa e ação dos partidos políticos, sindicatos, igrejas, etc, regime que forma o seu governo a partir de maiorias de votos da população e dos deputados eleitos por esta, obedece ao princípio da felicidade para o maior número. (VALE UM VALOR) O imperativo categórico de Kant é formal, visto que é vazio de indicações concretas, e autónomo, visto que se baseia no juízo livre de cada pessoa e varia de pessoa a pessoa (VALE UM VALOR).
Das quatro causas de um ente, em Aristóteles, as duas que parecem estar mais ligadas ao livre-arbítrio, isto é,à liberdade consciente de escolha são a causa eficiente ( o agente que fabrica o ente; exemplo, os operários que fazem uma casa) e a causa final (a finalidade do ente; exemplo, a casa servir para habitação), ao passo que as causas mais ligadas aparentemente ao determinismo, princípio segundo o qual nas mesmas circunstâncias as mesmas causas produzem sempre os mesmos efeitos, são a causa formal (a forma do ente; exemplo, a forma da casa, com 2 pisos, 5 quartos, etc) e a causa material (a matéria segunda de que o ente é feito; exemplo, os tijolos, o cimento, o ferro, a tinta da casa) (VALE DOIS VALORES; NOTA: HÁ OUTRAS RESPOSTAS VÁLIDAS).
A concepção ou seja a ideia fundamental do Estado social-democrata é: o Estado deve garantir direitos iguais a todos os cidadãos, logo deve ser uma democracia multipartidária e parlamentar, permitindo as liberdades de greve, manifestação de rua, imprensa, associação e ação política e sindical, aborto, e deve favorecer a economia capitalista, de livre concorrência e propriedade privada das empresas, mas deve regular essa economia de modo a evitar oligarquias e, portanto, manterá algumas empresas estratégicas em seu poder (exemplo: eletricidade, águas, um canal de televisão, etc) aplicará impostos progressivos aos ricos, de modo a que haja um sistema nacional de saúde e de ensino gratuitos, uma segurança social que estenda o subsídio a todos os desempregados, incluindo o rendimento mínimo. Este Estado democrático de tonalidade social-democrata difere muito do Estado fascista, que é anti parlamentar e tem um caráter policial repressivo de extrema direita, da oposição e das massas populares, impondo a censura à imprensa escrita e televisão, proibindo eleições livres, sindicatos e partidos políticos, favorecendo as igrejas conservadoras que atacam a liberdade de abortar, as uniões de gays e lésbicas, limitando ou impedindo de todo as entradas de imigrantes estrangeiros no país em nome da "unidade da raça, da pátria, da família, de Deus", intervindo na economia de modo a limitar a plena expansão do capitalismo, admitindo os patrões mas proibindo-lhes despedir operários e proibindo a estes a greve e o sindicalismo livre. (VALE DOIS VALORES).
2) Anarquista: O capitalismo é um mau regime. Não deve haver Estado. O Estado, seja uma ditadura fascista ou monárquica, ou uma democracia liberal ou uma ditadura marxista-leninista, é sempre uma máquina burocrática, uma ditadura sobre a classe operária e os trabalhadores. A propriedade privada das fábricas, terras, bancos e supermercados, empresas de pesca e transportes e comunicações, é imoral, assenta na exploração dos trabalhadores pela burguesia e deve ser abolida. Sou pela extinção do capitalismo através da autogestão: as fábricas aos operários, as terras aos jornaleiros agrícolas, as escolas aos alunos e professores! O poder aos operários nas fábricas, reunidos em assembleias de base! O poder à assembleia de moradores em cada bairro! O rendimento mínimo garantido é uma concessão dos capitalistas para calar os mais pobres, uma reforma, uma esmola, mas queremos mais, queremos a revolução social, o socialismo autogestionário, a economia colectivista e descentralizada. Apoiamos o direito ao aborto e à greve.
Comunista leninista: O capitalismo é sem dúvida um mau regime. Assenta na extração de mais valia pelos patrões aos operários assalariados: se, por exemplo, o operário gera um valor de 80 euros diários, o patrão só lhe paga 30 euros, sendo a mais valia equivalente a 50 euros. O anarquismo, de extrema esquerda, é utópico porque faz desaparecer o Estado e permite que a restauração da ordem pública seja levada a cabo pelas forças de direita. A autogestão generalizada não resulta. É necessário um Estado centralizado, forte, a ditadura do proletariado sobre a burguesia, que nacionalize quase todas as empresas, substuindo o patrão por um gestor público comunista. O partido leninista e os sindicatos e sovietes serão a ossatura do novo Estado socialista operário que acabará com as chamadas "eleições livres" da democracia liberal, onde os vencedores são sempre os partidos que a burguesia financia: conservadores, liberais, centristas, socialistas. No Estado leninista, ensino e cuidados de saúde são gratuitos, não há desemprego, são proibidas as greves, há um partido único, o comunista e são proibidos os partidos políticos burgueses e os grupos anarquistas e trotskistas, da extrema-esquerda sectária e irrealista. No entanto, dentro das democracias liberais, nós comunistas concorremos às eleições, promovemos greves, manifestações de rua, acções sindicais e políticas variadas.
Conservador: O capitalismo é o melhor regime possível. O Estado é imprescindível e deve ser uma democracia pluripartidária com eleições livres mas precisamos de menos Estado na economia, isto é, muitas empresas estatais (águas, eletricidade, caminhos de ferro, hospitais e centros de saúde, o sistema prisional ou parte dele, etc) podem e devem ser privatizadas de modo a que desçam os impostos sobre os cidadãos e se atraiam os capitais dos muito ricos, nacionais ou estrangeiros. O capitalismo privado é o grande motor da economia e o modelo justo de sociedade. Sou contra os anarquistas, defensores de um comunismo libertário, de base, e sou contra o comunismo leninista, estatizador e totalitário, e contra socialismo democrático com a sua tendência estatizadora de empresas e o seu rendimento mínimo garantido que desencoraja pessoas válidas a procurar emprego. Sou pela privatização das universidades e dos hospitais, ou de muitos deles, e de parte ou todo o ensino secundário que custam muitos milhões em impostos aos contribuintes. Não admito o direito ao aborto livre e ao casamento de gays e lésbicas. Favoreço a moral religiosa tradicional, apoiando igrejas como a católica ou as protestantes, de modo a que não reine a ausência de valores éticos. (VALE TRÊS VALORES NO SEU CONJUNTO).
3) «A virtude suprema é sem virtude» significa: a virtude superior, como por exemplo, a sabedoria, é interior, discreta, não se apresenta com sinais exteriores de virtude (o sábio pode ir dar uma conferência em mangas de camisa, sem gravata e outros adereços exteriores ligados à imagem de "cientista ou professor universitário"). «A virtude inferior não se afasta das virtudes, é por isso que não é a virtude» significa: a virtude inferior, como por exemplo, saber pôr o dinheiro a render em depósitos de juros altos, coisa que toda a gente faz se puder, não é virtude, é esperteza prática. «O Tao que se procura alcançar não é o próprio Tao» pode significar: o Tao ou ritmo ondulatório do universo e fonte de todos os seres é inatingível e não pode ser alterado, é composto de oscilações «Yang» (luz, dilatação, vermelho) e Yin (escuridão, contração, azul) e não é o Tao pessoal que rege a nossa vida (exemplo:o meu Tao é levantar-me às oito da manhã, trabalhar até ao meio dia, almoçar, fazer uma sesta das duas às três, voltar ao trabalho...)«Pelo não ser atinjamos o seu segredo» significa: através do vazio, do não agir, do não desejar nada (não desejar construir um hotel ou um restaurante num lindíssimo campo de oliveiras do Alentejo, por exemplo) entendemos o segredo do Tao, o ritmo do universo. «Pelo ser, abordemos o seu acesso» significa: como o ser é visível e palpável, ao contrário do não ser, é através do ser natural, físico, que acedemos ao Tao (exemplo: o agricultor observa que em tal dia é lua cheia - ser visível- e sabe que dias depois iniciará uma dada sementeira, conforme ao ciclo natural ou Tao). (VALE DOIS VALORES).
4) A) Os três mundos em Platão são: o mundo do Mesmo ou Inteligível, povoado de essências eternas, imóveis e imateriais, como o Bem, o Belo, o Justo, o Igual, o Sábio, o Jústo, o Número Um, o Número Dez, mundo que a mente humana só pode alcançar através do conceito, nunca através da perceção empírica ou visão, audição, tato, gosto, gerada nos orgãos sensoriais; o mundo do Semelhante ou do Céu Visível, onde os astros incorruptíveis giram e geram o tempo, «imagem móvel da eternidade», e na medida em que são vistos estão ao alcance da perceção empírica, mundo que é também o das operações matemáticas e nessa medida é alcançado pelo conceito ou ideia que geramos; o mundo do Outro ou Sensível, onde vivemos fisicamente e onde os "seres" nascem, crescem, declinam e morrem e que está ao alcançe da percepção sensível e do conceito. (VALE DOIS VALORES)
4) B) O hedonismo cirenaísta ou sensualista identifica o maior bem com os prazeres físicos (comer, beber, nadar ou correr por gosto, etc) e o maior mal com os sofrimentos físicos (dores corporais, fome, sede, etc) e constitui em si uma ideologia - sistema de ideias e valores próprios de um dado grupo social ou de uma civilização - e a mais valia, ou fruto do trabalho operário ilicitamente apropriado pelo capitalista, manifesta o hedonismo cirenaísta deste último («Vou pagar mal aos meus operários para extrair grande mais valia deles e ter jantares de caviar e faisão com as minhas amantes ou acompanhantes»). (VALE UM VALOR).
4)C) O empirismo, corrente que sustenta que quase todas as nossas ideias são cópias pálidas das perceções empíricas, liga-se, aparentemente, ao pragmatismo, corrente que centra o conhecimento nas coisas (pragnata) visíveis e sensíveis, e na utilidade delas, pondo entre parêntesis a metafísica, ou reino das entidades invisíveis, inaudíveis, impalpáveis cuja existência é dificil ou impossível de demonstrar. A metafísica liga-se ao racionalismo se este é definido como a corrente que sustenta que as nossas ideias fundamentais são provenientes não dos orgãos dos sentidos mas da razão ou de um mundo racional-ideal que transcende cada pessoa. (VALE DOIS VALORES)
4)D) O realismo ontológico diz que o mundo material é real em si mesmo, independente das consciências humanas. Na medida em que não duvida da exterioridade da matéria, é um dogmatismo. O idealismo ontológico diz que um mundo material é ilusório em si mesmo, é um filme montado no salão vastíssimo da nossa consciência. Na medida em que duvida da realidade exterior da matéria, é um cetismo. (VALE DOIS VALORES).
5) Essência é a forma fundamental e estável de algo. Exemplo: O edifício da escola, a comunidade alunos em aprendizagem e professores em transmissão dos saberes e avaliação quotidiana. Acidente interno é um aspeto interior à essência que se manifesta só às vezes. Exemplo: A campainha da escola que toca em cada 45 minutos, aproximadamente. Acidente externo é o que não pertence à essência mas lhe sobrevém. Exemplo: a vinda da equipa médica hospitalar à escola num determinado dia. A lei da luta de contrários estipula que em cada coisa há uma luta de contrários que constitui a essência e o motor de desenvolvimento dessa coisa. Exemplo: na cidade, a luta política entre a burguesia (os ricos, os agricultores abastados, os grandes comerciantes) e o proletariado e semiproletariado (os operários agrícolas, os pequenos funcionários, os empregados de armazém, as cozinheiras, os varredores, etc) (VALE DOIS VALORES).
Nota para a correção: nas perguntas de relacionação entre dois ou mais conceitos, a cotação para cada resposta dada deve obedecer a um princípio de premiar o aluno que estuda e sabe as definições separadamente: assim deverá receber 50% a 60% da cotação da pergunta desde que defina correctamente os conceitos, embora não consiga interligá-los.
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