Raquel Varela, investigadora do Instituto de História Contemporânea da Universidade Nova de Lisboa, é uma prestigiada investigadora e historiadora portuguesa, marxista, de renome internacional, nascida em 1978.
O seu livro «História do Povo na Revolução Portuguesa 1974-1975» tem finas análises políticas que permitem distinguir as diferentes táticas das forças no período da revolução e as suas incapacidades. Mas há omissões importantes na cronologia de 1974-1975 tecidas por Raquel Varela, ditadas presumivelmente pela sua visão esquerdista próxima do PCP e da UDP e Comissões de Trabalhadores em autogestão.
Por exemplo, omite que em 9 de Outubro de 1975, um grupo de militantes da UDP envolveu-se em confrontos físicos com militantes do MRPP . grupo maoísta com o qual a historiadora não simpatiza , e o militante da FEML-MRPP Alexandrino de Sousa apesar de gritar «Eu não sei nadar» foi arremessado vivo às águas do Tejo pelos militantes da UDP no Terreiro do Paço. Um assassinato puro e simples.
Ora a cronologia de Raquel Varela para 9 de Outubro de 1975 destaca apenas o seguinte":
«Os trabalhadores dos Serviços Centrais do MEIC , em luta durante meses, entram em greve por não terem sido satisfeitas as suas reivindicações.
«Manifestação popular de apoio à Polícia Militar, convocada por comissões de moradores e apoiadas pelo MES.»
«Em Coimbra, manifestação dos SUV com cerca de 40 000 manifestantes entre os quais soldados do RASP, RALIS, EPAM (Lisboa) e Direção dos Serviços de Material de Lisbia.
«Manifestação em Faro de apoio ao governador civil» (Raquel Varela, História do Povo na Revolução Portuguesa 1974-1975», Livraria Bertrand, pág 447).
Ora nada disto teve a gravidade do assassinato de Alexandrino de Sousa, estudante da FEML, ocorrida nesse dia. Porquê ocultar este facto? Não é sério. Raquel Varela parece não saber ou não querer classificar o MRPP, se é revolucionário ou contra-revolucionário ao denunciar o «social-fascismo» (estalinismo) do PCP e grupos satélites... Que diria do soviete anarquista de Cronstad, anti bolchevique, que em Março de 1921 foi esmagado pelo exército vermelho de Trotsky? Esquerda autoritária contra esquerda libertária...E escamotearia o esmagamento desta última?
Outra omissão grave de Raquel Varela é a que se refere ao dia 28 de Maio de 1975 sobre o qual diz apenas:
«O PCP promove uma manifestação de apoio ao MFA.» (ibid, pag. 352)
Na sua crónica de opinião em «Público» de 15 de Novembro de 2013, intitulada «O último rei de Portugal», o politólogo Vasco Pulido Valente (VPV) classifica Álvaro Cunhal de "soberano" que escondia o seu lado humano - os seus amigos pessoais, os seus amores, locais de residência, etc - visando transmitir uma imagem impoluta de "comunista de cristal", mítico, idealizado pela populaça. VPV insurge-se contra «a homenagem que a televisão e os jornais resolveram prestar a Álvaro Cunhal, no centenário do seu nascimento".
Escreve Vasco Pulido sobre a ausência de crítica política, na actualidade, à acção de Cunhal como líder do PCP na revolução popular de 25 de Abril de 1974 a 25 de Novembro de 1975 em Portugal:
«O indivíduo que planeava transformar Portugal numa espécie de Bulgária do Ocidente, o promotor do PREC, o responsável pelas "nacionalizações" e pela ocupação dos "latifúndios", o desorganizador da economia, o inimigo da "Europa", esse parece que desapareceu. (...) A consciência histórica dos portugueses é um óptimo reflexo da inconsciência que os trouxe à miséria e ao desespero!» (Vasco Pulido Valente, «O último rei de Portugal», in Público, de 15 de Novembro de 2013).
Hábil como escritor, pago a peso de oiro pelas suas crónicas destinadas a um público supostamente culto, Vasco Pulido Valente não é senão um mediano intelectual, de honestidade política duvidosa, incapaz de perceber os mecanismos que regem a história portuguesa.
Classificar Cunhal de "promotor do PREC", e de responsável pelas "nacionalizações" e pela ocupação dos "latifúndios" é próprio dos historiadores burgueses que sobrevalorizam o papel dos chefes políticos na história. Se Cunhal não existisse, o PREC (processo revolucionário em curso em 1974-1975) emergiria na mesma, com as ocupações de fábricas e casas vazias, as manifestações de rua quase quotidianas contra o fascismo e pelo poder popular, os comícios dos partidos de esquerda e extrema-esquerda, a agitação revolucionária nas escolas secundárias, nas universidades, nos quartéis, as ocupações de terras, etc.
Porque a revolução popular de 1974-1975 foi fruto da conjuntura astral: em 25 de Abril de 1974, Úrano estava em 25º do signo de Balança, repetindo praticamente, a posição do início da crise do ultimato inglês em 11 de Janeiro de 1890 (Úrano em 26º do signo de Balança), que abalou profundamente a monarquia de D.Carlos I.
Já em 1985, no meu livro «Ciclos Astrológicos na História de Portugal- Os ciclos de Úrano», livro omitido nas universidades, mostrei a semelhança entre a crise de 1890-1891 provocada pelo ultimato inglês relativo a colónias portuguesas, e a revolução popular de 1974-1975, centrada na descolonização e no socialismo proletário. Ambas são balizadas astronomicamente pela presença de Úrano na área 23º-29º de Balança e 0º-4º de Escorpião. É o ciclo de 84 anos de Úrano. 1890+84=1974.
Em vez de zurzir a eito a memória do falecido líder do PCP e atribuir a este as culpas da actual crise económica, Vasco Pulido Valente deveria, talvez, agradecer a Cunhal e a outros dirigentes comunistas moderados o terem evitado que o PCP e a Marinha participassem na sublevação dos páraquedistas contra o VI Governo de Pinheiro de Azevedo, em 25 de Novembro de 1975. Cunhal e o PCP evitaram, seguramente a guerra civil, isolando os esquerdistas insurrectos, que foram presa fácil dos comandos da Amadora de Jaime Neves e de Ramalho Eanes.
A limitada inteligência de Vasco Pulido Valente que, com outros catedráticos, participa no silenciamento da interpretação da história segundo parâmetros astronómicos, não percebe que a história obedece ao determinismo planetário-zodiacal e não à vontade deste ou daquele rei, primeiro-ministro, chefe revolucionário. Portanto, o papel de Cunhal foi muitíssimo mais modesto do que VPV procura fazer crer.
Cunhal era, seguramente, melhor pessoa que Vasco Pulido Valente e era intelectualmente superior a este, mau grado ter apoiado a invasão da Checoslováquia socialista pelas tropas do Pacto de Varsóvia, em 1968, e ter silenciado a natureza burocrática e anti operária do poder na URSS e estados satélites.
Quanto a Vasco Pulido Valente, pródigo em inflexões políticas, entre o puro reaccionarismo e o centrismo, não esqueçamos que apoiou publicamente a invasão do Iraque em 2003, em nome da «liberdade» e da visão norte-americana do mundo, apesar de, em 1962, ter militado no Movimento de Acção Revolucionária (MAR) com Jorge Sampaio. Não seria apropriado classificar Vasco Pulido de escriba da grande burguesia lusa e pró-estadounidense? Ou de prostituta política que «dorme» com os políticos que estão no poder, sejam eles Sá Carneiro ou Mário Soares, sempre em busca de exibir a sua inesgotável retórica vaidosa, com um ar «europeu» de superioridade sobre o atrasado povo português?
E é a VPV, este pequeno intelectual de verbo fácil, medíocre ao ponto de denegrir a astrologia histórica, àcerca da qual vive na plena obscuridade, que a imprensa escrita portuguesa e a televisão dão honras de destaque público! Invejoso do prestígio de Álvaro Cunhal, a quem classifica de «último rei de Portugal», Vasco Pulido Valente desejaria ser o rei dos intelectuais portugueses mas não tem, obviamente, categoria intelectual nem sabedoria para ascender a tal posição.
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