.Eis um teste do 11º ano de filosofia, o primeiro do primeiro período lectivo, numa escola secundária de vanguarda no campo da filosofia e em outros, no Baixo Alentejo e em Portugal. .
Agrupamento de Escolas nº1 de Beja
Escola Secundária Diogo de Gouveia , Beja
TESTE DE FILOSOFIA, 11º ANO TURMA C
26 de Outubro de 2015.
Professor: Francisco Queiroz
I
“Alguns operários são sindicalistas.».
Alguns sindicalistas são marxistas.
Logo, os operários são marxistas..”
1-A) Indique, concretamente, três regras do silogismo formalmente válido que foram infringidas na construção deste silogismo.
1-B) Indique o modo e a figura deste silogismo
2) Construa o quadrado lógico das oposições à seguinte proposição«Os alentejanos são bons cantores».
3) Distinga realismo crítico de Descartes do idealismo não solipsista subjetivo e da fenomenologia.
4) Aplique o princípio do terceiro excluído ao conjunto destas 3 correntes.
5) Tendo como primeira premissa a proposição «Se for ao aeroporto de Beja viajo de avião», construa:
A) Um silogismo condicional modus ponens
B) Um silogismo condicional modus tollens.
6) Construa um silogismo disjuntivo Tollendo/ ponens tendo como premissa inicial a frase «Ou és sportinguista ou és benfiquista»
7) Distinga a intuição inteligível, do raciocínio e do conceito empírico.
CORREÇÃO DO TESTE COTADO PARA 20 VALORES
1-A) Três regras infringidas da validade do silogismo acima exposto foram: de duas premissas particulares (alguns...alguns) nada se pode concluir; nenhum termo pode ter maior extensão na conclusão do que nas premissas (alguns operários / os (todos) operários); o termo médio (alguns sindicalistas) tem de ser tomado pelo menos uma vez universalmente. (VALE TRÊS VALORES).
1-B) O modo do silogismo é IIA e a figura é PS (predicado e sujeito é a posição do termo médio nas premissas) ou 4ª figura.(VALE DOIS VALORES).
2) O quadrado lógico é o seguinte:
Os alentejanos são bons cantores Nenhum alentejano é bom cantor
(TIPO A- Universal Afirmativa) (TIPO E- Universal Negativa)
Alguns alentejanos são bons cantores.Alguns alentejanos não são bons cantores
(TIPO I - Particular Afirmativa) (TIPO O - Particular negativa)
VALE TRÊS VALORES
3) O realismo crítico de Descartes é a teoria qiue sustenta que há um mundo real de matéria exterior às mentes humanas composto de uma matéria indeterminada, sem peso nem dureza/moleza, apenas formado de figuras geométricas, movimento, números (qualidades primárias, objetivas), sendo subjectivas, isto é exclusivamente mentais, as cores, os cheiros, os sabores, as sensações do tacto, o calor e frio (qualidades secundárias, subjectivas). O idealismo não solpsista ou pluralista e subjectivo é a teoria que sustenta que o mundo material é ilusório, existe apenas dentro de uma multiplicidade de mentes humanas e cada uma delas constrói esse mundo de modo diferente das outras ( «A torre de Belém que eu invento/vejo não é igual à torre de Belém que tu inventas/ vês), A fenomenologia é a ontologia que sustenta não saber se o mundo material subsiste ou não fora das mentes humanas. (VALE CINCO VALORES).
4) O princípio do terceiro excluído diz que uma coisa ou uma corrente de pensamento pertence ao grupo A ou ao grupo não A, excluindo a terceira hipótese. Comparando as três correntes da pergunta anterior pode enunciar-se assim: ou se é realista, afirmando a certeza de um mundo material extramental, ou não se é realista negando isso (idealismo) ou duvidando disso (fenomenologia). (VALE DOIS VALORES)-
5) a) Se for ao aeroporto de Beja, viajo de avião.
Fui ao aeroporto de Beja.
Logo, viajei de avião. (VALE UM VALOR)
5.b) Se for ao aeroporto de Beja, viajo de avião.
Não viajei de avião.
Logo, não fui ao aeroporto de Beja (VALE UM VALOR)
6) Ou és sportinguista ou és benfiquista.
Não és sportinguista.
Logo és benfiquista. (VALE UM VALOR)
7) A intuição intelígivel é uma apreensão imediata de algo metafísico, invisível, que pode até não ser real. Exemplo: a intuição de Deus, dos quarks e leptons, etc. O raciocínio é uma articulação lógica de juízos que desembocam numa conclusão. Exemplo: As lareiras acesas deitam fumo/ Há fumo a sair pela chaminé daquela casa/ Logo, a causa deve ser uma lareira com lenha ou carvão a arder. O conceito empírico é uma ideia nascida das percepções empíricas, do que vemos, tocamos, ouvimos. Exemplo: a ideia de girassol, nascida de eu ter visto um campo de girassóis (VALE DOIS VALORES).
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Eis um teste de filosofia do 11º ano de escolaridade em Portugal, evitando as perguntas de escolha múltipla em que o aluno coloca um X na hipótese que supõe estar certa e é dispensado de desenvolver ideias por palavras suas.
Agrupamento de Escolas nº1 de Beja
Escola Secundária Diogo de Gouveia, Beja
TESTE DE FILOSOFIA, 11º ANO TURMA A
23 de Fevereiro de 2015. Professor: Francisco Queiroz
.”.O espaço não é um conceito empírico extraído de experiências externas…O entendimento faz a síntese do diverso da intuição empírica e é condicionado, ao passo que a razão é incondicionada» (Kant, Crítica da Razão Pura)
1) Explique estes pensamentos de Kant.
2) Explique, como, segundo a gnosiologia de Kant, se formam o fenómeno NUVEM, o conceito empírico de NUVEM e a antinomia «O mundo teve um princípio, o mundo nunca principiou».
3) Relacione, justificando:
A) Facto Bruto/ Facto Científico, racionalismo e obstáculo epistemológico em Gaston Bachelard.
B) Conjectura, indução (amplificante), verificação, corroboração e falsificabilidade na teoria de Popper.
C) Fenomenologia, Realismo Crítico de Descartes e Epokê.
CORRECÇÃO DO TESTE ESCRITO (COTADO PARA 20 VALORES)
1) O espaço é uma forma a priori da sensibilidade, isto é, uma estrututa subjectiva vazia onde se inserem os corpos materiais e que está antes de os objectos materiais nascerem com a experiência. O espaço é a parede externa e o grande reservatório externo da sensibilidade onde cabe o universo inteiro com planetas, galáxias e mares. Por isso, não é empírico, mas sim puro, anterior a toda a experiência (VALE DOIS VALORES). O entendimento, faculdade que pensa os fenómenos, sintetiza a diversidade das intuições empíricas em cada conceito empírico que produz: exemplo, as imagens de múltiplas árvores (fenómenos) formadas na sensibilidade ascendem ao entendimento que usando a categoria de pluralidade e, sobretudo, a de unidade, as reduz a um só conceito (imagem abstracta intelectual) de árvore. O entendimento é condicionado pelos fenómenos da sensibilidade - exemplo: o fogo, o céu, a água a correr, o movimento do sol no céu reflectem-se nos juízos e conceitos - e pela sua estrutura interna de regras: as categorias (unidade, pluralidade, totalidade, realidade, limitação, negação, etc) e os juízos puros (afirmativos, negativos, assertóricos, etc). A razão, faculdade que pensa livremente os númenos, a metafísica, é incondicionada: ela pode pensar que Deus gerou o mundo ou o inverso, que o mundo gerou Deus. É assim que a razão gera a antinomia - as afirmações contrárias entre si - «O mundo teve um princípio, o mundo nunca principiou» (VALE QUATRO VALORES).
2) Segundo a gnoseologia de Kant, o fenómeno nuvem forma-se na sensibilidade, no espaço exterior ao meu corpo físico, do seguinte modo: de '«fora» da sensibilidade, os númenos afectam esta fazendo nascer nela um caos de matéria (exemplo: madeira, ferro, areia, etc, em um magma) que as duas formas a priori da sensibilidade, o espaço (com figuras geométricas) e o tempo (com a duração, a sucessão e a simultaneidade) moldam, fazendo nascer uma ou mais nuvens. O entendimento, com as categorias de unidade, pluralidade, necessidade, confere consistência ao fenómeno nuvem.
O conceito de NUVEM forma-se no entendimento, faculdade que pensa mas não sente, do seguinte modo: a imaginação, situada entre a sensibilidade e o entendimento, transporta desde aquela a este as imagens de NUVEM e as categorias do entendimento de pluralidade e unidade recebem as diversas imagens e transformam-na numa só imagem abstracta, o conceito empírico de NUVEM.
A razão, dado que não se apoia em factos empíricos, e se aventura no desconhecido, especulando, gera a antinomia - as afirmações contrárias entre si - «O mundo teve um princípio, o mundo nunca principiou» sem conseguir chegar a uma conclusão. (QUATRO VALORES).
3) A) Facto bruto é um facto empírico, não meditado e questionado racionalmente. Exemplo: a cor da erva é verde e a do céu diurno é azul, o mármore é frio, a lã é quente. O racionalismo é a doutrina segundo a qual a razão é a fonte principal ou única de conhecimento desprezando as percepções empíricas. É pelo raciocínio (racionalismo) que o facto bruto é transformado em facto científico, isto é , num facto racional ou empírico-racional: a cor do céu diurno não é azul, o azul exste apenas no interior da nossa mente; o mármore não é frio, é bom condutor de calor e rouba calor à mão que nele pousamos, etc. O obstáculo epistemológico em Bachelard é todo o entrave ao conhecimento científico: a primeira impressão, o realismo natural ( o mundo exterior como parece ser: o céu é azul, o mármore é frio, etc, o preconceito do senso comum, a falta de tecnologia apropriada (exemplo: a falta de telescópios, microscópios, reagentes químicos, máscaras antigás, fatos de amianto, bússolas, aparelhos de refrigeração, etc.). Pode dizer-se que o racionalismo enfrenta o obstáculo epistemológico que, muitas vezes, é um facto bruto, uma primeira impressão sensorial.(VALE TRÊS VALORES).
3) B) Conjectura é uma suposição, uma hipótese. O conjecturalismo é a teoria de Popper segundo a qual as teorias das ciências empíricas, as leis induzidas, não passam de suposições, de hipóteses falíveis, pois é impossível verificar todos os casos concretos correspondentes a dada lei ou tese. Assim, por exemplo, a tese de que o átomo de enxofre tem 16 electrões é uma mera hipótese e não uma verdade indiscutível. A indução (amplificante) é a generalização de alguns exemplos empíricos similares de modo a construir uma lei universal e necessária. Popper rejeita este raciocínio indutivo dizendo que só seria legítimo se fosse possível a verificação de todos os casos correspondentes a essa lei induzida, mas só é possível a corroboração, isto é, a confirmação de alguns casos. O falsificacionismo é a teoria de Popper segundo a qual uma teoria «científica» deve ser falsificada, posta em questão, através de testes experimentais rigorosos e de discussão racional, e ser aceite provisoriamente enquanto resistir a esses testes. O método hipotético-dedutivo baseia-se na indução amplificante, inferência que Popper não aceita como válida, e tem quatro fases: observação, hipótese, dedução da hipótese e confirmação ou não. (VALE QUATRO VALORES).
3) C) O realismo crítico de Descartes sustenta que há um mundo real de matéria independente das mentes humanas e estas o captam de modo parcialmente ilusório: as cores, os sons, os sabores, a dureza, os sons (qualidades secundárias) não existem nas árvores, nas montanhas e em outros objectos fora de nós, só existem na nossa mente atingida, nos orgãos dos sentidos, por partículas vibratórias exteriores que nos fazem ver vermelha uma rosa que, de facto, é incolor; os tamanhos, as formas, a extensão são reais, são as qualidades primárias, reais, objectivas, dos corpos. A fenomenologia, ao contrário do realismo, não garante que exista um mundo de matéria real exterior à nossa mente: limita-se a postular que a mente e o mundo material são correlatos. Neste sentido, a fenomenologia faz uma epokê, isto é, uma suspensão do juízo (de existência): «Não sei se a cadeira e a mesa que ali vejo existem em si mesmas, fora da minha mente». (VALE TRÊS VALORES).
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