Segunda-feira, 28 de Outubro de 2019
Teste de filosofia 11º ano (Outubro de 2019)

 

Agrupamento de Escolas nº1 de Beja

Escola Secundária Diogo de Gouveia , Beja

TESTE DE FILOSOFIA, 11º ANO TURMAS A e D

24 de Outubro de 2019. Professor: Francisco Queiroz

 

“.O espaço não é um conceito empírico extraído de experiências externas…O entendimento faz a síntese do diverso da intuição empírica e é condicionado, ao passo que a razão é incondicionada e produz antinomias» (Kant, Crítica da Razão Pura)

 

1) Explique estes pensamentos de Kant.

 

2) Explique, como e onde, segundo a gnosiologia de Kant, se formam o fenómeno MAÇÂ, e o conceito empírico de MAÇÃ.

3) Exponha os 4 passos gnosiológicos do raciocínio de Descartes, desde a dúvida hiperbólica à existência do mundo exterior.

 

4) Relacione:

A) As três RES em Descartes e os três tipos de ideias em Descartes.

B) Impressões de sensação, impressões de reflexão e ideias em David Hume.

C) Razão, Entendimento e Númenos em Kant.

D) Fenomenologia, cepticismo e metafísica.

 

CORREÇÃO DO TESTE COTADO PARA 20 VALORES

 

1) O espaço não é um conceito empírico, na doutrina de Kant, porque existe antes da experiência, antes da formação dos objectos físicos e do mundo destes. O entendimento, faculdade que pensa os fenómenos,  sintetiza sob a forma de conceitos os múltiplos dados empíricos que até ele ascendem. Exemplo: os milhares de imagens de rosas (fenómenos) são levados às categorias de pluralidade e unidade do entendimento e convertidos em um só conceito abstracto de rosa. O entendimento é condicionado pelos fenómenos da sensibilidade (casa, mar, barco, fogo, etc.), impõe-lhes leis de causa-efeito, realidade, etc. A razão é incondicionada, pois pensa livremente os númenos, objectos metafísicos de duvidosa existência, e produz antinomias tipo «Deus existe, Deus não existe». (VALE TRÊS VALORES).

 

2) Segundo a gnoseologia de Kant, o fenómeno maçã forma-se na sensibilidade, no espaço exterior ao meu corpo físico, do seguinte modo: de «fora» da sensibilidade, os númenos afectam esta fazendo nascer nela um caos de matéria (exemplo: madeira, ferro, areia, etc, em um magma) que as duas formas a priori da sensibilidade, o espaço (com figuras geométricas) e o tempo (com a duração, a sucessão e a simultaneidade) moldam, fazendo nascer um ou mais fenómenos de maçãO entendimento, com as categorias de unidade, pluralidade, necessidade, confere consistência ao objecto/fenómeno maçã. Não existe númeno maçã, esta é fenómeno na sua totalidade. O  conceito de maçã forma-se no entendimento, faculdade que pensa mas não sente, do seguinte modo: a imaginação, situada entre a sensibilidade e o entendimento, transporta desde aquela a este as imagens de maçã e as categorias do entendimento de pluralidade e unidade, realidade, recebem as diversas imagens e transformam-na numa só imagem abstracta, o conceito empírico de maçã. (VALE TRÊS VALORES)

 

   

3) Os quatro passos do raciocínio de Descartes são pautados pelo racionalismo, doutrina que afirma que a verdade procede do raciocínio, das ideias da razão e não dos sentidos:

 

1º Dúvida hiperbólica ou Cepticismo Absoluto( «Uma vez que quando sonho tudo me parece real, como se estivesse acordado, e afinal os sentidos me enganam, duvido da existência do mundo, das verdades da ciência, de Deus e até de mim mesmo »)

 

2º Idealismo solipsista («No meio deste oceano de dúvidas, atinjo uma certeza fundamental: «Penso, logo existo» como mente, ainda que o meu corpo e todo o resto do mundo sejam falsos»)

 

3º Idealismo não solipsista («Se penso tem de haver alguém mais perfeito que eu que me deu a perfeição do pensar, logo Deus existe).

 

4º Realismo crítico («Se Deus existe, não consentirá que eu me engane em tudo o que vejo, sinto e ouço, logo o mundo de matéria, feito só de qualidades primárias, objetivas, isto é, de figuras, tamanhos, números, movimentos, existe fora de mim»). Realismo crítico é a teoria gnosiológica segundo a qual há um mundo de matéria exterior ao espírito humano e este não capta esse mundo como é. Descartes, realista crítico, sustentava que as qualidades secundárias, subjectivas, isto é, as cores, os cheiros, os sons, sabores, o quente e o frio só existem no interior da mente, do organismo do sujeito, pois resultam de movimentos vibratórios. (VALE TRÊS VALORES)

 

4) A) As três res ou substâncias primordiais em Descartes são: a res divina, Deus, espírito criador do universo, fonte das outras duas; a res cogitans ou pensamento humano sobre ciências, filosofia, senso comum, etc; a res extensa, isto é, a matéria, abstracta e indeterminada, constituída por comprimento, largura e altura dos corpos, destituída de cor, som, cheiro. Os três tipos de ideias são: inatas, que a mente humana já traz ao nascer e que são claras e distintas, como as ideias de "corpo", "alma", "triângulo", etc; adventícias, provenientes dos orgãos dos sentidos, ou seja percepções empíricas de formas, cores, sabores, em parte ilusórias  Há vários modos de relacionar umas e outras, por exemplo: a res divina equivale às ideias inatas, insusceptíveis de erro, como Deus; a res cogitans equivale às ideias factícias porque em muitas ciências e lendas entra a imaginação; a res extensa equivale às ideias adventícias porque estão designam figuras, cores, sons, etc.(VALE TRÊS VALORES).

 

4) B) Impressões de sensação são para Hume as percepções empíricas em acto. Exemplo: o mar que estou a ver, o calor que sinto agora, etc. Impressões de reflexão são impressões outrora sensoriais que conservamos na memória. Exemplo: a memória da sensação de frescura ao tomar banho de mar em Agosto. Ideias são cópias menos vivas das impressões, cópias desbotadas que a imaginação e a memória formam a partir de ambos estes tipos de impressões, as de sensação e as de reflexão. (VALE TRÊS VALORES).

 

4) C) A razão é a faculdade das ideias, pensa os númenos ou seres metafísicos incognoscíveis (Deus, mundo como totalidade infinita, alma imortal, etc.), está desligada da sensibilidade. O entendimento é a falculdade dos conceitos e dos juízos, pensa os fenómenos (trovoadas, montanhas, animais, mar, casas, etc.) que existem na sensibilidade e aos quais confere consistência, unidade, realidade, causalidade. (VALE DOIS VALORES)

 

4)D) Fenomenologia, como ontologia, é a teoria que descreve o mundo de matéria exterior ao corpo do sujeito sem garantir que esse mundo seja real, permanecendo na dúvida. Cepticismo é a corrente que afirma ser impossível conhecer a realidade além dos sentidos ou qualquer realidade. A fenomenologia é parcialmente céptica quanto à realidade da matéria. Metafísica é o campo das ideias e supostas realidades que transcendem o mundo físico, a experiência palpável dos sentidos: Deus, reencarnação, multiverso, etc. (VALE TRÊS VALORES)

 

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Sábado, 14 de Setembro de 2019
Questionar Navarro Cordón e Calvo-Martínez: Kant abandonou o racionalismo?

 

A «História da Filosofia, Dos pré-socráticos à filosofia contemporânea», publicada por Edições 70 em Portugal, obra dos catedráticos espanhóis Juan Manuel Navarro Cordón ( 9 de abril de 1942 Hinojosa del Duque, Córdoba, Espanha- ) e Tomás Mariano Calvo-Martínez (22 de Maio de 1942, Ávila, Espanha- ) da Universidade Complutense, é uma obra de mérito mas tem algumas relevantes confusões conceptuais. Sobre Kant escrevem:

 

«Toda a doutrina kantiana do conhecimento se fundamenta na distinção de duas fontes do conhecer: a sensibilidade e o entendimento que possuem características distintas e opostas entre si. A sensibilidade é passiva, limita-se a receber impressões provenientes do exterior (cores, sons, etc.), em termos gerais, aquilo que Locke denominava "ideias simples" e Hume "impressões de sensação"; o entendimento pelo contrário é activo (...).»

«Esta distinção entre sensibilidade e entendimento (e a consequente afirmação de que este produz espontaneamente certos conceitos) pode utilizar-se para fundamentar filosofias muito distintas. Vejamos:

 

«a) Em primeiro lugar, pode ter como resultado uma doutrina racionalista. De facto, Kant foi, de início, um filósofo racionalista(...) 

b) Mas, impressionado pela filosofia de Hume, Kant acabou por abandonar o racionalismo (Kant dizia que Hume o havia despertado do "sono dogmático"em que estava mergulhado). Sob a influência de Hume, Kant chegou à conclusão que o nosso conhecimento não pode pretender ir para além da experiência. Que acontece, então, com aqueles conceitos que não procedem dos sentidos, que o entendimento produz espontaneamente?

«A resposta de Kant será a seguinte: é certo que existem no entendimento conceitos que não procedem da experiencia, mas tais conceitos terão aplicação exclusivamente no âmbito dos dados sensoriais. (...)

«O conceito de "substância" que nos é imprescindível para unificar um conjunto de qualidades sensíveis (cor, etc) não tem sentido se for aplicado, por exemplo, a Deus, do qual não temos experiência sensível».

( Juan Manuel Navarro Cordón, Tomás Calvo Martínez, «História da Filosofia, Dos pré-socráticos à filosofia contemporânea», Edições 70, pp 383-385; o destaque a negrito é posto por nós).

 

Neste excerto há diversas imprecisões.

 

Navarro e Calvo asseguram que a sensibilidade, segundo Kant, «limita-se a receber impressões provenientes do exterior (cores, sons, etc.)».  É uma interpretação realista, distorcida do pensamento de Kant. Cores e sons emergem do interior, são qualidades subjectivas, irreais, conforme Kant escreveu:

 

«O sabor agradável de um vinho não pertence às propriedades objectivas desse vinho, portanto de um objecto, mesmo considerado como fenómeno, mas à natureza especial do sentido do sujeito que o saboreia. As cores não são propriedades dos corpos, à intuição dos quais se reportam, mas simplesmente modificações do sentido da vista que é afectado pela luz de uma certa maneira. O espaço, pelo contrário, como condição de objectos exteriores, pertence necessariamente ao fenómeno ou à intuição do fenómeno...» (Kant, Crítica da Razão Pura, pag. 69, nota de rodapé, Fundação Calouste Gulbenkian; o negrito é acrescentado por nós).

 

Portanto, cores e sons não vêm do exterior. São qualidades subjectivas, duplamente interiores ao sujeito.

 

Outro equívoco de Juan Navarro Cordón e Tomás Calvo-Martínez é a tese de que Kant abandonou o racionalismo, pelo facto de considerar o conhecimento limitado ao campo do experienciável e da matemática a priori. Ora Kant permaneceu sempre racionalista, antes de tudo porque era idealista material (a matéria não existe em si mesma é pura ilusão gerada na sensibilidade) e o idealismo pressupõe racionalismo ( a razão elimina a crença ingénua dos sentidos de que há um mundo material fora de nós).

 

Navarro Cordón e Calvo Martínez confundem racionalismo com realismo metafísico, doutrina que sustenta que há um mundo material exterior a nós, incognoscível no seu todo ou em parte. Há racionalismo idealista material (caso de Kant)  um racionalismo ideal-realista (caso de Hegel), e um racionalismo realista material(casos de Aristóteles, São Tomás de Aquino, Karl Popper, etc.). Kant é, como nós o definimos desde há anos, empiro-racionalista, conceito que não pertence ao género ontológico (realismo, idealismo, fenomenologia) mas sim ao género gnosiológico (fonte e modo de conhecimento) .

 

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Segunda-feira, 12 de Dezembro de 2016
Teste de Filosofia do 10º ano de escolaridade (9 de Dezembro de 2016)

Centrado nos grandes temas da filosofia antiga (ontologia de Platão e Aristóteles, ética do taoísmo) na teoria da acção humana e dos valores, na lógica dialética, eis um teste de filosofia para o 10º ano de escolaridade, no Alentejo, região onde a profundidade da planície suscita a profundidade das ideias

 

Agrupamento de Escolas nº1 de Beja

Escola Secundária Diogo de Gouveia, Beja

TESTE DE FILOSOFIA, 10º ANO TURMA C

 

9 de Dezembro de 2016. Professor: Francisco Queiroz

I

“Na cosmologia de Aristóteles, há teleologia nos movimentos que ocorrem nos dois mundos que formam o cosmos. O realismo crítico é um racionalismo e não um empirismo. O fatalismo não é o mesmo que o determinismo biofísico com livre-arbítrio (vulgo determinismo moderado).”

 

1)Explique, concretamente este texto.

 

2)Relacione, justificando;

A) Essencialismo transcendente em Platão e Essencialismo imanente em Aristóteles

B) Proté Ousía, Hylé e Eidos, em Aristóteles, e três partes da alma, em Platão.

C) Esfera dos valores espirituais, esfera dos valores vitais, na teoria de Max Scheler e lei dos dois aspectos da contradição.

D).Ética de Aristóteles, Ética do Taoísmo e pragmatismo.. .

 

 

CORREÇÃO DO TESTE ESCRITO COTADO PARA 20 VALORES

 

 1) No cosmos de Aristóteles há dois mundos, o mundo sublunar, composto de quatro esferas concêntricas, a Terra (imóvel no centro) e as esferas de água,ar e fogo, no qual o movimento dos corpos não é circular e é teleológico, obedece a finalidades inteligentes, isto é, os corpos desejam voltar à origem do seu constituinte principal (exemplo: a pedra largada no ar cai porque o seu télos, finalidade, é voltar à «mãe», a Terra); o mundo celeste, composto de 54 esferas de cristal incorruptíveis com astros incrustados, 7 delas de planetas (Lua, Mercúrio, etc) e 47 de estrelas, que giram circularmente de modo teleológico, finalista,  já que estrelas e planetas, seres inteligentes, desejam alcançar, fora do cosmos, Deus, o pensamento puro, que se pensa a si mesmo e não se importa com o cosmos. Deus não é a causa formal (o modelo) do cosmos nem a causa eficiente (o construtor) do cosmos, mas apenas a causa final, o télos, do movimento dos astros inteligentes e das respectivas esferas. Ele nada faz mas suscita e atrai o movimento das estrelas.  (VALE TRÊS VALORES).O realismo crítico é a teoria que afirma que há um mundo material anterior às mentes humanas e independente destas que o captam de maneira distorcida. O realismo crítico em Descartes consiste em postular o seguinte: há um mundo de matéria exterior às mentes humanas, feito só de qualidades primárias, objetivas, isto é, forma, tamanho, número, movimento. As cores, os cheiros, os sons, sabores, o quente e o frio só existem no interior da minha mente, do organismo do sujeito, pois resultam de movimentos vibratórios de partículas exteriores já que o mundo exterior é apenas composto de formas, movimentos e tamanhos. .Assim, a rosa não é vermelha, é apenas forma e tamanho. O ramo de rosas é apenas formas, tamanho e um certo número de unidades, não tem cor, nem cheiro, nem peso. O mármore não é frio nem duro, o céu não tem cor. O realismo crítico é um racionalismo porque esta doutrina diz que só a razão é a fonte do verdadeiro conhecimento, desprezando muitas das percepções empíricas (neste caso, desprezando as cores, os sons, os cheiros , etc). Não é empirismo porque esta é a doutrina que sustenta que a fonte principal ou única dos nossos conhecimentos é a experiência sensorial, as percepções empíricas (o que vemos, tocamos, cheiramos, etc). Fatalismo  é a teoria segundo a qual tudo na vida está predestinado e os homens não dispõem de livre-arbítrio nem existe o acasoDeterminismo com livre-arbítrio (vulgo: determinismo radical) é a teoria segundo a qual, na natureza, as mesmas causas produzem sempre os mesmos efeitos e o homem dispõe de liberdade racional de escolha (livre-arbítrio) existindo ainda o factor acaso na natureza. Exemplo: um diabético sabe que ingerindo açúcar refinado a taxa de açúcar no seu sangue sobe para valores anormais, isto é o determinismo ou lei necessária biológica, mas pondera racionalmente e decide (livre-arbítrio) se  deve comer doces ou não. (VALE DOIS VALORES).

 

2)A) Essencialismo é toda a filosofia que sustenta que a essência ou forma fundamental dos entes e dos fenómenos precede a existência destes. As essências são as formas eternas e imutáveis tanto em Platão como em Aristóteles. Em Platão, elas são arquétipos de Bem, Belo, Justo, Número Um, Número Dois, Triângulo, Homem, etc, existentes no mundo Inteligível acima do céu visível, por isso são transcendentes, estão além (trans) do universo físico. Em Aristóteles, as essências são formas eternas inerentes ou imanentes aos objectos físicos - exemplo: a essência sobreiro está em todos os sobreiros reais, físicos, porque não há mundo inteligível- daí ser um essencialismo imanente (VALE TRÊS VALORES). 

 

2-B) A teoria hilemórfica (hyle é matéria-prima universal; morfos é forma) de Aristóteles sustenta que cada coisa individual ou primeira substância (proté ousía) como, por exemplo, este cavalo cinzento, se forma da união entre a forma eterna de cavalo (eidos)que existe algures e a hylé ou matéria-prima universal, indiferenciada, que não é água nem fogo nem ar, nem terra mas que passa a existir ao juntar-se à forma. A teoria de Platão sustenta que a alma se divide em três partes: o nous ou parte superior, razão intuitiva que capta os arquétipos ou formas puras e que, por isso, corresponde ao eidos ou essência em Aristóteles; a epitimya ou parte inferior da alma, a concupiscência, onde reinam os apetites carnais desordenados e que, por isso, fazemos corresponder à matéria prima universal ou hylé; a parte média da alma, o tumus, coragem e valentia militar que, tal como a proté ousía, é uma síntese. (VALE TRÊS VALORES)

 

C) A esfera dos valores espirituais, na concepção de Scheler, engloba os valores estéticos (belo e feio), éticos ( bom e mau, justo e injusto), jurídicos (legal, ilegal; justo, injusto), filosóficos (verdade e erro) científicos (verdade e erro por referência, isto é, na experiência, no pragmatismo). Há valor de coisa - por exemplo, o quadro Mona Lisa de Leonardo da Vinci - valor de função - no exemplo olhar o quadro, apreciar o sorriso de Mona Lisa - e valor de estado - no exemplo: a felicidade resultante dessa contemplação visual. A esfera ou modalidade dos valores vitais e sentimentais é a esfera anímica que inclui os valores do nobre e do vulgar, ciúme e ausência deste, orgulho e humildade, coragem e cobardia, sentimento de vitória ou de juventude, sentimento de derrota ou de velhice, etc. A lei dos dois aspectos da contradição sustenta que numa contradição (contrariedade) há dois aspectos, em regra desigualmente desenvolvidos, o principal e o secundário, que podem inverter posições passando o dominado a dominante. A relação pode ser percebida de muitas maneiras, como por exemplo: em uma pessoa é dominante a esfera dos valores vitais, vive centrada nos triunfos do desporto, nos valores do orgulho da pátria e da família mas em dado  momento dedica-se à arte (estética) e à filosofia, que pertencem à esfera dos valores espirituais e esta passa a ser dominante.(VALE TRÊS VALORES).

 

2-D) A ética de Aristóteles é a de que a virtude está no meio termo (mésotes): por exemplo, não se deve ser avarento nem gastar o dinheiro todo de uma vez, mas antes gastar e poupar equilibradamente; não se deve ser ditador tirânico nem anarquista anti poder, mas exercer a autoridade com prudência, etc. A ética do taoísmo consiste no não agir (não entrar na política nem nos altos negócios, não ter estudos universitários para não se corromper, etc) ser astucioso e louvar aquele que é mais forte que nós e um dia tirar-lhe o tapete, não lançar guerras, viver uma vida simples de camponês respeitando o Tao, isto é, o ritmo natural ondulatório do universo, a alternância verão-inverno, sementeira-colheita, etc.

O pragmatismo é a corrente que sustenta que se deve pôr de parte os altos princípios morais e metafísicos impossíveis de pôr em prática e agir de modo útil e eficaz no mundo empírico, buscar o lucro com realismo. Tanto a ética de Aristóteles como a ética taoísta são, de algum modo, pragmáticas, porque buscam a utilidade no modo de viver, têm bom senso. (VALE TRÊS VALORES).

 

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Quarta-feira, 10 de Fevereiro de 2016
Teste de Filosofia do 11º ano, turma C (Fevereiro de 2016)

 

 Eis um teste de filosofia fora do estereótipo dos testes que os autores dos manuais escolares da Porto Editora, Leya, Santillana, Areal Editores, etc, divulgam. .

 

 

Agrupamento de Escolas nº1 de Beja

Escola Secundária Diogo de Gouveia, Beja

TESTE DE FILOSOFIA, 11º ANO TURMA C

1 de Fevereiro de 2016. Professor: Francisco Queiroz“.

 I

"As categorias são conceitos que prescrevem leis a priori aos fenómenos e, portanto, à natureza como conjunto de todos os fenómenos…O entendimento reduz à unidade o diverso das intuições empíricas.» (Kant, Crítica da Razão Pura)

 

1) Explique estes pensamentos de Kant.

2) Explique, como, segundo a gnosiologia de Kant, se formam o fenómeno MONTANHA, o conceito empírico de MONTANHA e o juízo a priori «Seis mais seis é igual a doze»

 

3) Relacione, justificando:

A) As sete relações filosóficas em David Hume e as formas a priori da sensibilidade e do entendimento na teoria de Kant.

B) O ser em Parménides e o ser em Hegel.

C) Ontologia de Descartes (as três res) e realismo crítico em Descartes.

D) Três tipos de conhecimento, segundo Bertrand Russel, e lei da tríade.

E) As ideias de «eu», «alma» e «substância» em David Hume, racionalismo e empirismo.

 

CORREÇÃO DO TESTE COTADO PARA 20 VALORES

 

1) As categorias (unidade, pluralidade, totalidade, realidade, causa-efeito) existem no entendimento, são conceitos a priori, formais, e impõem leis, ordem aos fenómenos da natureza existentes na sensibilidade, segundo Kant. Por exemplo,  a categoria de realidade permite distinguir se estamos acordados ou a sonhar e, por isso, impõe que um automobilista guie bem o seu veículo sem o despistar, segundo leis de causa-efeito da condução. (VALE DOIS VALORES) O entendimento, com as  suas categorias, em especial a de unidade, transforma em uma imagem mental única, o conceito empírico (de rosa, por exemplo) os milhares de imagens (intuições empíricas vindas da sensibilidade; no caso, os milhares de rosas que vemos e produzimos no espaço a priori) (VALE DOIS VALORES).

 

B) O númeno afecta «do exterior» a sensibilidade e cria, nesta, um caos de matéria (madeira, terra, ferro, etc). Este caos é moldado pelo espaço que nele imprime figuras geométricas e pelo tempo que lhe confere duração, sucessão. Assim nasce o fenómeno montanha, na sensibilidade «externa», isto é, no espaço. O entendimento intervém na medida em que confere à montanha o carácter de substância, de divisibilidade (em partes: tufos de ervas, rochas, árvores, encostasm etc). São enviadas ao entendimento imagens de diferentes fenómenos montanha - com ou sem árvores, etc - e as categorias ou conceitos puros do entendimento como pluralidade, unidade e realidade misturam e tratam essas imagens empíricas transformando-as num só conceito empírico, o de montanha, abstraindo dos pormenores das montanhas particulares. O juízo a priori seis mais seis igual a doze forma-se do seguinte modo: as intuições puras de números seis e doze existem no tempo, isto é na sensibilidade a priori, são apresentadas às categorias de unidade, pluralidade e totalidade do entendimento e estas geram o dito juízo matemático a priori.(VALE QUATRO VALORES).

 

3) A) As sete relações filosóficas em David Hume são as estruturas a priori do espírito humano, as estruturas da tábua rasa, por assim dizer, e são as seguintes: semelhança, identidade, relações de tempo e lugar, proporção de quantidade ou número, graus de qualidade, contrariedade e causação. É fácil ver que correspondem, de um modo geral, em Kant,  às formas a priori, da sensibilidade (espaço e tempo) e do entendimento (os conceitos a priori de unidade,pluralidade, totalidade; realidade, limitação, negaçao; substância e acidente, causa-efeito, comunidade; possibilidade-impossibilidade, necessidade-contingência) : a relação de causação em Hume equivale às categorias de causa-efeito e de necessidade em Kant;  as relações de espaço e tempo, em Hume, equivalem ao espaço e tempo puros que são as formas a priori da sensibilidade em Kant, etc (VALE DOIS VALORES).

 

3-B) Segundo Parménides de Eleia, a via da verdade, racional, estabelece que o ser é uno, imóvel, imutável, esférico, invisível, imperceptível, eterno, que não foi nem será porque é eternamente o mesmo e diz que «ser e pensar são um e o mesmo». A interpretação realista desta última frase é: o pensamento é idêntico ao ser, é espelho do ser material (realismo é doutrina que sustenta que o mundo de matéria é real em si mesmo). A interpretação idealista da mesma frase é: o ser é pensamento, nada existe fora da ideia absoluta que é o ser, e o mundo de matéria, com a mudança das estações do ano, o nascimento e a morte não passa de ilusão. A doutrina de Hegel define o ser como a ideia absoluta, o pensamento criador, extra humano, que está no princípio de tudo mas, ao contrário de Parménides, devém, coloca-se em movimento. Este ser desdobra-se em três fases, segundo a lei da tríade: fase lógica, Deus sozinho antes de criar o universo o espaço e o tempo (é a tese ou afirmação, o primeiro momento da tríade); fase da natureza, na qual Deus se aliena ou separa de si mesmo ao transformar-se em espaço, tempo, astros, pedras, montanhas, rios, plantas e deixa de pensar (é a antítese ou negação, o segundo momento da tríade); fase da humanidade ou do espírito, em que a ideia absoluta/Deus emerge com a aparição da espécie humana, que é Deus encarnado evoluindo em direção a si mesmo, por sucessivas formas de estado, desde o despótico mundo oriental até ao mundo cristão da Reforma protestante onde todos os homens são livres (é a síntese ou negação da negação) (VALE TRÊS VALORES).

 

3.C) A ontologia ou teoria do ser em Descartes é a seguinte: o ser principial é Deus-espírito (res divina) e o ser derivado é duplo, res cogitans ou pensamento humano e res extensa ou extensão, isto é, o comprimento, largura e altura dos corpos materiais exclunido o peso, a cor, o som, o grau de dureza, etc. Isto, em especial a res extensa, liga-se ao Realismo crítico que é a teoria gnosiológica segundo a qual há um mundo de matéria exterior ao espírito humano e este não capta esse mundo como é. Descartes, realista crítico, sustentava que as qualidades secundárias, subjectivas, isto é, as cores, os cheiros, os sons, sabores, o quente e o frio só existem no interior da mente, do organismo do sujeito, pois resultam de movimentos vibratórios exteriores e que o mundo exterior é apenas composto de formas, movimentos e tamanhos e uma matéria indeterminada. (VALE TRÊS VALORES). 

 

3-D)  Os três tipos de conhecimento segundo Bertrand Russell são: o saber-fazer, que é um conhecimento empírico-técnico, como andar de bicicleta, nadar, jogar futebol; o conhecimento por contacto, isto é, empírico directo, como ver uma planície alentejana, ouvir uma música dos Bubedanas, saborear gaspacho; o conhecimento proposicional, isto é, racional ou empírico-racional, como por exemplo, «A soma dos três ângulos internos de um triângulo é 180º», «Portugal entrou na Comunidade Económica Europeia em 1 de Janeiro de 1986». contrariando muitas vezes as percepções empíricas. A lei da tríade diz que um processo dialético se divide em três fases: a tese ou afirmação (neste caso pode ser o saber fazer, ausência de raciocínio) a antítese ou negação (neste caso pode ser o conhecimento proposicional, o máximo de raciocínio) e a síntese ou negação da negação (neste caso seria o conhecimento por contacto que mistura o empírico-instintivo da tese ao racional da antítese)(VALE DOIS VALORES)

 

3-E) As ideias de «eu», «alma» e «substância» são geradas pela imaginação e a memória que inventam a persistência, a continuidade dos objectos físicos ou psíquicos. Isto pode ser considerado  empirismo radical, doutrina segundo a qual as percepções empíricas são a fonte das nossas ideias e estas copiam aquelas e não se pode ir além da percepção sensorial imediata. Mas também pode ser considerado racionalismo, doutrina segundo a qual o raciocínio é a fonte principal dos nossos conhecimentos, marginalizando ou mesmo contrariando as percepções empíricas, porque a razão está a negar a evidência intuitiva de que «sou um eu», «tenho uma alma ou psique», «a substância X ou Y existe» (VALE DOIS VALORES).

 

 

 

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Quarta-feira, 16 de Setembro de 2015
A ininteligência de Einstein, de Heidegger, dos filósofos e dos cientistas

 

 

Albert Einstein, Erwin Schrödinger, Werner Heisenberg, Richard Feynman, Martin Heideger, John Rawls, Saul Kripke, Slavoj Zizeck e praticamente a totalidade dos filósofos, cientistas, e catedrático de filosofia, história,  sociologia, política, astrofísica, astronomia, eram ou são ininteligentes, do ponto de vista holístico, global: todos eles negavam ou não conseguiam nem conseguem intuir que os movimentos dos planetas nos 360º do Zodíaco determinam, até ao mais ínfimo grau, todos os acontecimentos da vida humana, individual ou colectiva, da vida animal, vegetal e mineral. Eles poderiam ter visto, facilmente, que, por exemplo, a passagem de Júpiter em 6º-10º do signo de Gémeos (signo este que é o arco do céu de 60º a 90º de longitude eclíptica ), que ocorre quinze dias ou um ou dois meses uma vez em cada doze anos,  se liga, em regra, a revoluções operárias e à Rússia soviética.

 

JÚPITER NA ÁREA 6º-10º DO DE GÉMEOS:

A RÚSSIA COMUNISTA E REVOLUÇÕES OPERÁRIAS ASSOCIADAS

 

Vejamos alguns exemplos da correlação entre a passagem cíclica  de Júpiter em 6º-10º de Gémeas e a exaltação do comunismo na Rússia e revoltas operárias a ele associadas.

 

Em 7 e 8 de Novembro de 1917, com Júpiter em 9º 17´/9º 3´ do signo de Gémeos, a guarda vermelha do Partido Comunista de Lenin assalta o palácio de inverno e prende os ministros do governo provisório, no dia 7, e o II Congresso Pan-Russo dos Sovietes aprova, sob a hegemonia dos bolcheviques, o decreto de reforma agrária e paz com a Alemanha e legitima o novo governo revolucionário dirigido por Lenin, no dia 8. 

 

De 27 de Dezembro de 1929 a 20 de Março de 1930,  com Júpiter em 8º 24´/ 6º 21´/ 9º 54´ do signo de Gémeos, tem lugar na URSS de Stalin a campanha de colectivização agrária com a destruição dos camponeses ricos (kulaks) e subsequentes motins, iniciada com o discurso  de Stalin sobre a colectivização acelerada nos campos na Conferência dos marxistas especializados na questão agrária (27 de Dezembro), e a liquidação dos kulaks enquanto classe, sendo-lhes arrebatadas as terras, máquinas agrícolas e colheitas pelo Estado soviético  para as integrar em kolkhoses (cooperativas) e ocorrendo motins subsequentes (Janeiro a Março de 1930).

 

Em 22 de Junho de 1941, com Júpiter em 6º 7´/ 6º 20´ de Gémeos, com 134 divisões com força de combate total e mais 73 divisões destacadas para ficar na parte de trás da frente de guerra, as forças alemãs invadem a União Soviética ,  com três grupos do exército, englobando mais de três milhões de soldados alemães apoiados por 650.000 tropas dos países aliados à Alemanha (Finlândia e Romênia) e, mais tarde, por unidades da Itália, Croácia, Eslováquia e Hungria, dandp-se a invasão numa linha de frente ampla, do Mar Báltico, ao norte, ao Mar Negro, ao sul, 22 meses após de a Alemanha de Hitler ter assinado o Pacto Germano-Soviético de Não-Agressão de 1939.

 

De 16 de a 23 de Junho de 1953, com Júpiter em 8º 43´/ 10º 33´ de Gémeos, decorre uma revolta operária contra o poder comunista em Berlim Este, iniciada por uma manifestação de rua de trabalhadores da construção na Stalinallee, na qual cerca de 40 operários se dirigem para a sede do governo para reclamar o regresso às antigas normas e denunciar o aumento da cadência de 10% no volume e horas de trabalho sem compensação, que foi estabelecido pelo governo da RDA; engrossando o protesto até 2.000 pessoas entre as quais se infiltraram elementos da extrema-direita e surgindo um  cartaz clandestino com palavras de ordem apelando a uma greve geral para o dia seguinte, e reclamando eleições livres e democráticas, no dia 16, .ocorrendo uma imensa vaga de revolta em numerosas cidades da Alemanha Oriental, no sector soviético em que uma multidão de 60.000 pessoas ataca a polícia, e incendeia os jornais do regime comunista, no dia 17, o que faz com que o dirigente burocrata Walter Ulbricht apele às tropas soviéticas para reprimir violentamente a sublevação, qualificada de «contra-revolucionária» e dando-se a intervenção de uma coluna de tanques e carros de combate que se salda por 153 vítimas mortais, e numerosos feridos, fugindo 3 milhões de pessoas para a Alemanha do Oeste e cessando os tumultos, no dia 23, com a anulação das alterações laborais impostas.

 

As universidades e os foruns televisivos e outros e a cultura oficial em geral estão pois dominadas por pequenos intelectuais que falsificam a verdade  Há demasiada luz artificial nas cidades que os impedem de contemplar o céu e perceber os posicionamentos planetários e a sua correlação com o evoluir das sociedades, dos partidos políticos, das massas populares. Os catedráticos de filosofia, astronomia, astrofísica e história, burdos ignorantes, negam que os exemplos que dei acima são significativos como indicadores de leis astronómicas que regem a história social e política mundial. Einstein, Heisenberg, Rawls, Foucault, Kripke e Heidegger eram pouco inteligentes? Em certo sentido, eram. Os chamados medidores do «quociente de inteligência» estão errados, os «sobredotados» não são verdadeiros sobredotados: quem não possuir a intuição de que tudo está predestinado pelos movimentos do sol e dos planetas e asteróides não é superiormente inteligente.  As universidades actuais anti astrologia, ininteligentes,  merecem ser fechadas nos campos da filosofia, da história, da sociologia, da política, têm de ser desmascaradas, diminuídas na sua infinita arrogância de igrejas «racionalistas». Abram caminho à Astrologia Histórica, ciência suprema!

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Segunda-feira, 8 de Junho de 2015
A pseudociência universitária de David Marçal contra as «pseudociências»

 

 

 Publicou a Fundação Francisco Manuel dos Santos, em Setembro de 2014, um livro de David Marçal, doutorado em Bioquímica em 2008 pela Universidade Nova de Lisboa, intitulado «Pseudociência», no qual o autor aponta baterias contra a acupunctura, a medicina holística, em particular a medicina quântica, contra o movimento antivacinas e anti-alimentos transgénicos e a astrologia.. Marçal defende a medicina convencional, apontando-lhe alguns pequenos erros, e defende a grande indústria e o «racionalismo» anti-astrologia que é característico do pensamento vazio e confuso dos catedráticos e doutorados de todo o mundo.

 

A PSEUDOCIÊNCIA ANTI-ASTROLOGIA DE MARÇAL, INCAPAZ DE REFUTAR A ASTROLOGIA HISTÓRICA

 

Os ataque de David Marçal à astrologia é bastante subliminar. Não encontro claramente no seu livro a definição de Karl Popper segundo a qual «a astrologia é uma pseudociência» mas a sugestão deste sofisma de Popper está lá . Escreve  o seguinte:

«A Nova Era é uma referência à Era de Aquário que, segundo a Astrologia deverá suceder à Era de Peixes, em que actualmente vivemos. Não se sabe muito bem quando, não há consenso entre os vários astrólogos e místicos acerca deste assunto (as diferenças são de vários séculos)». (David Marçal, Pseudociência, Fundação Francisco Manuel dos Santos, Lisboa, 2014, pag. 41; o destaque a negrito é posto por mim)

 

Note-se a tentativa de confundir a astrologia, ciência de cálculo astronómico, dos acontecimentos terrestres e suas repetições- ciência mal praticada por 95% dos astrólogos - com o misticismo. É evidente que a grande maioria dos que se intitulam astrólogos são charlatães ou são sonhadores sem conhecimentos sólidos mas isto não autoriza ninguém a colocar na sombra a verdadeira astrologia científica, a astrologia histórico-social que desenvolvemos. Escreve ainda Marçal:

«A relação entre a física quântica e a medicina quântica é mais ou menos a mesma do que a relação entre a astronomia e a astrologia. São comunidades estanques e a medicina quântica não é um ramo ou uma aplicação da física quântica.» (David Marçal, Pseudociência, Fundação Francisco Manuel dos Santos, Lisboa, 2014, pag. 42).

 

Não há relação intrínseca da astrologia com a astronomia, como sustenta Marçal? Essa é outra das mentiras «universitárias» sobre a astrologia, tese de charlatanismo que é professada, aberta ou encapotadamente, por José Gil, Eduardo Lourenço, Boaventura Sousa Santos, José Mattoso, José Pacheco Pereira, Manuel Vilaverde Cabral, Manuel Maria Carilho, Irene Borges Duarte, António Pedro Mesquita, Olivier Feron, Ricardo Santos, José Barata-Moura, Desidério Murcho, João Branquinho e todos os que ocupam as cátedras de filosofia, história, sociologia, antropologia e outras em Portugal, para não falar dos restantes países.

Eis uma prova de como a astrologia incorpora a astronomia, na seguinte lei que formulei: a passagem do Sol, de um planeta do sistema solar no signo de Peixes (DADO ASTRONÓMICO: arco de 330º a 360º de longitude  da eclíptica) gera em regra uma revolução de esquerda vitoriosa ou não em Portugal como é o caso da revolução liberal no Porto em 24 de Agosto de 1820 (Júpiter em 20º do signo de Peixes ou grau 350º de longitude eclíptica), da fracassada revolta militar antifascista do Porto em 3-7 de Fevereiro de 1927 (Júpiter em 3º-4º do signo de Peixes ou graus 333º-334º de longitude eclíptica), da revolução popular triunfante em Portugal de 25 de Abril de 1974 a 12 de Março de 1975 (Júpiter em 10º- 17º- 7º-28º do signo de Peixes  ou graus 340º-347º-337º- 358º  de longitude eclíptica). Dentro de cada facto histórico (história e astrologia) está inserida uma posição astronómica (astronomia).

 

Segue-se disto que a comunidade universitária portuguesa e mundial, ao opor radicalmente astrologia e astronomia e ao recusar estudar os factos históricos em conexão com as posições dos planetas, não é científica mas mística (misticismo do livre-arbítrio, misticismo religioso anti astrologia). A universidade mundial é uma fraude, em termos de pensamento holístico rigoroso, nega o determinismo planetário-zodiacal na vida social, política e geofísica.

 

MARÇAL ESCONDE OS ARGUMENTOS CIENTÍFICOS CONTRA A VACINAÇÃO COMO OS DE TISSOT, MARCHESSEAU E SHELTON

 

O doutorado David Marçal ataca o movimento antivacinas argumentando que o  médico inglês Andrew Wakefield publicou em 1998 um artigo em que teorizava que a vacina tríplice ( contra o sarampo, a papeira e a rubéola) é causadora de autismo, argumentando Marçal que, mais tarde, Wakefield foi acusado de ter escrito isso mediante suborno e punido. E Marçal e outros «científicos» institucionais estarão livres de suspeitas de suborno por defenderem a vacinação? Não se terão doutorado por se moldarem aos interesses das multinacionais farmacêuticas e das cátedras subservientes a estas? David Marçal ignora ou oculta  a crítica científica do professor francês Tissot à ideia errónea de que as vacinas conferem imunidade.

 

O Dr.J.Tissot, antigo professor do Museu de História Natural de Paris, em anos da primeira metade do século XX,  mostrou que o contágio não existe na tuberculose,nem na lepra nem no cancro e que as vacinas introduzem a fase crónica da doença, silenciosa, no corpo humano. Escreveu o biologista Pierre Marchesseau (1910-1994) sobre o silenciamento dos trabalhos de Tissot levada a cabo pelos maldosos e míopes  pasteurianos:
 

«Houve por vezes reacções às ideias de Pasteur e da sua escola, mas foram sempre impiedosamente abafadas. Os trabalhos destes pesquisadores (Béchamps e os seus «microzimas»; Altman e os «organismos elementares»; Galippe, Portier e os seus simbiontes, etc), passaram em silêncio.»
«Os partidários de Pasteur atacaram violentamente Tissot desde o aparecimento da sua obra magistral em 1926. Na realidade, esta obra destruía as ideias pasteurianas ao mesmo tempo que era susceptível de pôr termo aos interesses particulares consideravelmente representados pelo fabrico e venda de soros e vacinas.» (...)
 

«...O vírus das vacinas inoculado prejudica o organismo. Segundo o Dr.Tissot, os prejuízos que se verificam são:
1º As nefrites, problemas hepáticos, de glândulas e do sistema nervoso.
 2º Todas as doenças do cértebro e da espinal medula
, encefalites e mielites várias.

3º Arterioesclerose, enfraquecimento cerebral, etc. 
4º Diminuição considerável da longevidade no homem.» (...)

«Tissot condena as vacinas antidiftéricas, antitetânicas, anti-rábicas, antituberculosas, BCG que não têm qualquer poder vacinador e que não protegem. A vacina antitífica é de rejeitar por perigosa. « Ela inocula de certeza (100%) a fase crónica da febre tifóide com os seus perigos, e isto para evitar o risco insignificante, quase nulo (1/20.000) de a contrair.» Tissot condena ainda os soros antidiftéricos e antitetânicos, que inoculam o colibacilo do cavalo, e que não têm qualquer acção.» (...)

«Para terminar, notemos que Tissot não toma posição definida com referência à vacinação antivariólica, que parece admitir, em detrimento da sua peremptória afirmação:
«Não se deve, seja qual for o pretexto, deixar inocular um vírus vivo, mesmo atenuado, nem um soro, nem qualquer produto proveniente de seres vivos. Exceptuam-se os produtos químicos isentos de elementos figurados».
(Pierre Marchesseau, Grégoire Jauvais, Curso Completo Teórico e Prático de Biologia Naturopática, Nova Editorial Natura, Lisboa, 1970, Págs 93, 100-101; o destacado a negrito é posto por mim).  

 

Sem abordar estas objeções, David Marçal escreve no seu estilo de jornalista defensor da ideologia da vacinação:

 

«Os movimentos antivacinas não são novos nem se resumem ao triste caso de Wakefield. Paradoxalmente, é o sucesso das vacinas que abre espaço aos movimentos antivacinas». (David Marçal, Pseudociência, Fundação Francisco Manuel dos Santos, Lisboa, 2014, pag.50).

 

Mas onde está a prova do «sucesso das vacinas»?  Em parte nenhuma. As estatísticas são manipuladas por autoridades da medicina convencional e governos. Queira o leitor ver no youtube os 10 vídeos «Vacinação, a verdade oculta». Aí se demonstra que há doenças contagiosas que decairam ou quase desapareceram em países onde não havia programa de vacinação em curso. Marçal não refuta esses vídeos. Não pode. Não sabe. A desaparição de certas doenças deve-se não às vacinas mas à generalização de certos hábitos alimentares e higiénicos: a prática do atletismo, da marcha, do culturismo em ginásios; a ingestão de saladas e frutas em maior quantidade por indivíduo do que sucedia no século XIX e inícios do século XX; os banhos de sol moderados e os banhos de mar; as melhorias na arquitectura e salubridade urbana, casas da classe operária com saneamento, água potável e luz elétrica, etc.

 

Herbert M. Shelton (6  de Outubro de 1895- 1 de Janeiro de 1985), o filósofo-médico norte-americano, vegetariano e pacifista, afirmou que a imunidade não existe, é uma ideia mítica, como o elixir da longa vida ou a poção mágica de Astérix, porque o corpo está a cada momento em combate contra as toxinas, em permanente devir e nenhum vírus atenuado ou antitoxina serve de escudo contra qualquer doença no organismo humano:

 

«Sustentamos que não existe imunidade. Imunidade significa isenção de penalidade; no caso das causas de uma doença significa isenção das consequências...» 

(...…)  «A prática da imunização é um esforço para impedir a lei da causa e do efeito. Poderemos nós considerar um homem tão estúpido que vá ao ponto de afirmar que pode inocular álcool noutro homem e assim imunizá-lo contra os efeitos do álcool, de modo que possa beber todo o uísque que deseja sem lhe sofrer as consequências»? Com efeito, se é possível imunizar contra um veneno qualquer, não há razão para não se imunizar contra todos os venenos. Ora as bactérias nocivas não constituem uma classe de venenos que escapem aos efeitos específicos de todos os venenos. »

«A atitude médica segundo a qual o meio de evitar a doença consiste em tê-la é tão ridícula como a ideia de que, para evitar as queimaduras, seria necessário sofrer várias queimaduras leves com o fim de adquirir imunidade para as queimaduras.»( Herbert Shelton, A imunidade e as doenças, de La Nouvelle Hygiene, reproduzido na revista Natura de Novembro de 1961; a letra negrita é posta por nós). 

 

Isto é pensar a sério, longe da intoxicação da ideologia da medicina convencial e dos seus arautos como David Marçal.

 

A ENERGIA VITAL DO CORPO NÃO EXISTE? OS MICRÓBIOS SÃO A CAUSA DAS DOENÇAS?

 

No seu ataque à medicina quântica, corrente alternativa que sublinha o poder da mente na cura das doenças, escreve Marçal:

«Uma ideia central da medicina quântica é a de que o poder de cura reside na mente. À medicina baseada na ciência os gurus quânticos chamam medicina materialista (...) O cancro é uma doença séria, que não se previne ou trata com delírios quânticos. A energia vital do corpo é uma coisa que não existe, da qual não há a mais ténue prova.»

(David Marçal, Pseudociência, Fundação Francisco Manuel dos Santos, Lisboa, 2014, pag. 44; o destaque a negrito é posto por mim).

 

Admitindo que a medicina quântica possa, em algumas versões sobrevalorizar o espírito, o poder da psique, não é, no entanto, razoável, honestamente, negar o poder de cura desta. Quer Deus ou deuses existam ou não, a fé dos crentes, a oração, a limpeza da aura funcionam, curam ou atenuam muitas doenças e evitam mortes prematuras. O cancro não dispensa, em regra intervenções cirúrgicas e quimioterapia mas é possível a cura, sem estas, em certos casos. Há quem se tenha curado de cancros na cabeça ingerindo comida indiana e alimentos biológicos como limão, alho, cebola, etc. A verdadeira medicina é psicofísica e não meramente química e física. A energia vital do corpo não existe, como diz o materialista Marçal que reduz a vida a moléculas e suas ligações químicas? Mas é óbvio que  existe. Ela confunde-se com a vitalidade que se pode medir por múltiplos sinais (a pulsação, o electrocardiograma, a tensão arterial, o brilho do olhar, o tónus muscular, etc).

 

O  biologista P.V. Marchesseau, cujo saber superava em muito o dos catedráticos da Universidade Nova de Lisboa, escreveu leis naturopáticas da força vital que passo a reproduzir:

«Lei nº 1- Lei do Dr. Robert Walter (Força vital)

 

«A matéria viva é dotada de um instinto de conservação (e de reparação) a que se chama «força vital» que não é nem química nem mecânica, mas de natureza biológica e cujo êxito é proporcional à sua energia. As leis vitais (ou biológicas) exprimem-se por processos físico-químicos, mas escapam em certos aspectos ao determinismo próprio da química e da mecânica. A matéria viva é capaz de reacções que lhe são próprias.»

 

«Lei nº 2 (Lei de YEO)- (Inteligência da força vital).

 

«A força vital exerce-se sempre no melhor dos interesses do organismo, mesmo em caso de doença». É inteligente. Por exemplo, no jejum completo, o organismo reutiliza para se alimentar, por autólise, os tecidos excedentes menos úteis; e escolhe, à medida que o jejum se prolonga, sempre na ordem inversa da utilidade dos mesmos.»

 

«Este processo está regulado e nada pode alterá-lo. A ordem das autólises é a seguinte: primeiro, os tumores, os desperdícios, os resíduos; depois as gorduras e os músculos. Os orgãos e as partes vitais não são digeridos. O sistema nervoso e as glândulas conservam-se intactos.»

 

«Lei nº 3 - A força vital é de origem nervosa

« No homem localiza-se nos centros do diencéfalo. Exerce-se livremente quando o meio biológico (isto é, específico e natural) é reintegrado. E aperfeiçoa então o Ser sob todos os aspectos. (morfológicos, biológicos e psicológicos).

 

No caso contrário, luta contra o «stress» vindo do meio anti-específico e desnaturalizado; gasta-se e todo o organismo degenera apesar das adaptações externas-» (...)

 

« Lei nº 5 - Lei do biologista Louis KHUNE). A doença profunda é geral e não local; é una e está representada pelo entupimento humoral. Os humores são líquidos orgânicos (sangue, linfa e fluido celular): a sujidade é a massa de substâncias mortas, estranhas à vida celular. A crise é a reacção vital perante a sujidade (depuração).» (...)

 

«Lei nº 10- Lei do Dr. J Tissot - Os micróbios não são a causa das doenças. Nascem por mutação das nossas células. A teoria pasteuriana é um «sofisma». Não há organismos assépticos; todo o ser é um «bolor organizado», uma colecção de micróbios bons, que evoluem sob a influência nefasta do meio onde se encontram. Os nossos elementos celulares são micróbios ou antigos micróbios que podem tomar aspectos diferentes com as alterações humorais, variáveis conforme as idiossincrasias (aparecimento de micróbios, bactérias, bacilos, vírus, por autogénese). Por outras palavras, sob a influência mais ou menos nefasta (mutável) dos venenos dos líquidos humorais que os banham, os nossos próprios elementos histológicos refazem, em sentido inverso, o caminho da evolução já percorrido. Voltam a ser o que eram nos alvores da vida: vírus, bactérias, etc. (involução ou regressão).» (...)

 

Lei nº 14- (Lei do Dr. Henry LINDLAHR)- Tudo quanto é introduzido no corpo, ou é utilizado ou rejeitado. O que é utilizado, é um alimento; o que é rejeitado é um veneno. A noção de medicamento (nem veneno nem alimento) é incompreensível.»

(Pierre Marchesseau, Grégoire Jauvais, Curso Completo Teórico e Prático de Biologia Naturopática, Nova Editorial Natura, Lisboa, 1970, Páginas 78-79 e 82-83).

 

Nada disto é conhecido da «ciência oficial»  e da Direcção Geral de Saúde- ou se é conhecido é censurado, sonegado ao público. Uma força vital inteligente a comandar as nossas células, inerente a elas, a fabricar febres para expulsar do organismo as toxinas, como sustenta a filosofia vitalista?  O jejum cura visto que procede à limpeza interna de tumores e gorduras sem danificar? Não, isto não cabe nas limitadas inteligências de David Marçal, de Francisco George, o Director Geral de Saúde em 2011-2015 e propagandista da vacinação, dos médicos alopatas e dos bioquímicos da instituição universitária. Ora a biologia naturopática e a subjacente filosofia vitalista deveriam ser ensinadas na Universidade Nova de Lisboa e em outras e, ao que parece, não o são. Forças sectárias, ao serviço dos interesses dos poderosos senhores da indústria química,  dominam as cátedras. Não deveria ser a universidade uma universitas , um lugar de universalidade intelectual, onde todo o saber deveria ser acolhido?

 

 

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Quinta-feira, 1 de Maio de 2014
Equívocos no Manual «Essencial, Filosofia 11º» da Santillana - Crítica de Manuais Escolares LVIII)

 

Algumas imprecisões impregnam o livro do professor Essencial, Filosofia 11º ,de Amândio Fontoura, Mafalda Afonso e Maria de Fátima Vasconcelos, Santillana, sem embargo de me parecer ser o melhor para o ensino secundário, em rigor conceptual, no mercado português, neste momento .

 

A SENSAÇÃO NÃO É UNICAMENTE EXTERNA

 

Diz o manual:  

 

«A experiência pode ser externa ou interna: a externa refere-se à sensação, ou seja à forma como apreendemos as impressões fornecidas pela experiência sensível» (Amândio Fontoura, Mafalda Afonso e Maria de Fátima Vasconcelos, Essencial, Filosofia 11º, Santillana Editores, pag 199).

 

Crítica minha:há sensações internas, como por exemplo, o prazer e a dor, as cenestesias (sensações interiores de calor e frio, de circulação, de batimentos do coração, etc) ; a sensação não é a forma como apreendemos as impressões, é essas mesmas impressões. A sensação é a impressão resultante de estímulos exteriores, em regra.

 

EQUÍVOCA DEFINIÇÃO DO PRINCÍPIO DO DETERMINISMO

O manual define assim os princípios da causalidade e do determinismo:

«O princípio da causalidade afirma que tudo tem de ter uma causa e, nas mesmas circunstâncias, as mesmas causas produzem os mesmos efeitos.»

«O princípio do determinismo afirma que os fenómenos naturais são determinados por outros fenómenos que os precedem e originam.» (ibid, pág. 23).

 

Há confusão nestas definições. O princípio do determinismo enuncia-se assim: «nas mesmas circunstâncias, as mesmas causas produzem sempre os mesmos efeitos.»

 

NO OBJECTIVISMO, NEM SEMPRE O OBJECTO DETERMINA O SUJEITO

 

Diz ainda o manual:

 

«O que é o objectivismo?

Para o objectivismo é o objecto que determina o sujeito; o sujeito apenas recebe as características do objecto, fazendo uma mera reprodução destas em si.

 

«Platão pode ser considerado um objectivista, uma vez que a sua Teoria das Ideias defende que estas são realidades objectivas; o reino objectivo das ideias é onde assenta o conhecimento.»

(Amândio Fontoura, Mafalda Afonso e Maria de Fátima Vasconcelos, Essencial, Filosofia 11º, Santillana Editores, pag 210)

 

Nem todo o objectivismo implica a preponderância do objecto sobre o sujeito. A definição dada  pelo manual de objectivismo como uma aceitação passiva das propriedades do objecto exterior pelo sujeito (reprodução) não se aplica ao racionalismo ou realismo crítico das ciências onde, segundo Bachelard, "nada é dado, tudo é construído": as ideias de  átomo com o seu núcleo e as órbitas electrónicas ou de Big Bang são  objectivas porque  partilhadas por centenas de milhar de pessoas no mundo inteiro, mas são, de certo modo, subjectivas porque criação do sujeito, da mente científica, não estão patentes aos sentidos de toda a gente.

 

Em sentido físico, a árvore que está diante de nós ou a Torre de Belém, em Lisboa, é  muito mais objectiva (objectivismo extra anima) do que a explosão do Big Bang há 15 000 milhões de anos (objectivismo intra anima ou intersubjectivismo) Na verdade, só alguns átomos são visíveis ao microscópio electrónico, os outros são descrições da imaginação e razão científicas, tal como o Big Bang que ninguém fotografou ou filmou.

 

Objectivismo é uma noção que pertence ao género sociológico: assenta no número de pessoas que coincidem na visão ou compreensão do mundo ou de um dado aspecto da natureza. A definição correcta é: objectivismo é a doutrina segundo a qual a totalidade das pessoas ou a grande maioria das pessoas de um país ou continente interpreta ou conhece da mesma maneira a realidade exterior ou interior. .  Há dois tipos de objectivismo:

 

A) Extra anima. Exemplo: o Mosteiro dos Jerónimos é uma realidade objectiva, exterior e consensual.

B) Intra anima. Exemplo: a tabela periódica dos elementos que atribui ao Hélio o número atómico 2 e ao Silício o número atómico 14. É uma realidade verosímil na matéria exterior, mas é realidade ideal, no interior das mentes.

 

O manual não aprofunda esta questão.

 

INCOMPREENSÃO PARCELAR SOBRE O IDEALISMO

Lê-se no manual:

 

«O idealismo é a posição que sustenta que não há coisas reais independentes da consciência. Segundo esta perspectiva, toda a realidade está encerrada na consciência do sujeito; as coisas são somente conteúdos da consciência; apenas os conteúdos da consciência são reais.»

 

«Berkeley (1685-1753) representa na Filosofia essa forma de abordar o problema, manifestando que o ser das coisas consiste em ser percebidas, o ser das coisas esgota-se no seu ser percebido. Ser é ser percebido - esse es percipi.» (Amândio Fontoura, Mafalda Afonso e Maria de Fátima Vasconcelos, Essencial, Filosofia 11º, Santillana Editores, pag 211).

 

Ora, existe idealismo sustentador de que há coisas reais fora da consciência: é o caso do idealismo de Kant. Este postula que os númenos «Deus» , «mundo como totalidade», objectos metafísicos, são independentes das mentes humanas. O facto de o manual, à semelhança de todos os outros, não indicar David Hume e Kant como idealistas revela a nebulosidade gnosiológica sobre o que é idealismo, a incompreensão de que Berkeley, Hume e Kant militaram na mesma barricada ontológica do idealismo material, sem embargo das diferenças conceptuais (teísmo, agnosticismo, etc) ou terminológicas entre eles.

UMA ERRADA DEFINIÇÃO DA FALÁCIA DO FALSO DILEMA

 

Escreve o manual:

«O que é uma falácia do falso dilema?

«A falácia do falso dilema reduz todas as alternativas possíveis apenas a duas. Apresentam-se duas opções, geralmente opostas e injustas, e a pessoa terá de optar por uma delas no dilema que lhe é colocado.

Por exemplo, um aluno vai estudar para uma universidade no estrangeiro. O pai pondera a situação e comenta um pouco contrafeito:

«- Ou compramos um apartamento ou vais para uma residencial».(Amândio Fontoura, Mafalda Afonso e Maria de Fátima Vasconcelos, Essencial, Filosofia 11º, Santillana Editores, pag 139).

O exemplo aqui dado  é de um verdadeiro dilema, não de um falso dilema. Apresentam-se duas opções que se excluem mutuamente e há que optar por uma delas. Não importa que haja outras alternativas. Falso dilema é aquele em que um dos termos da disjunção está contido no outro. Exemplo:

«Ou és bejense ou és alentejano».

Ora, os bejenses fazem parte do conjunto dos alentejanos, pelo que se trata de um falso dilema.

Outro exemplo:

«Ou conduzes um automóvel ou praticas uma acção». Ora, conduzir um automóvel já é praticar uma acção. Trata-se, pois, de um falso dilema.

 

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Sexta-feira, 29 de Novembro de 2013
Teste de filosofia do 11º C, final de Novembro de 2013

 

Eis um teste de filosofia sem perguntas de resposta múltipla que exigem responder com cruzes e não desenvolvem a capacidade discursiva escrita do aluno.

Agrupamento de Escolas nº 1 de Beja
Escola Secundária Diogo de Gouveia , Beja
TESTE DE FILOSOFIA, 11º ANO TURMA C
29 de Novembro de 2013. Professor: Francisco Queiroz

 

 

 

I

1) Considere o seguinte silogismo:

 

«Nenhuma cotovia é mamífero.
«Alguns macacos são maníferos».
«Nenhum macaco é cotovia».

 

A) Indique, concretamente, duas regras da construção formalmente válida do silogismo que foram infringidas no silogismo acima.

 

 B) Indique o modo e a figura do silogisno.

 

 

II  

David Hume escreveu: «É assim que inventamos a existência contínua das percepções dos nossos sentidos, para remover a interrupção; e chegamos à noção de alma,...» e Parménides escreveu: «O ser é e o não ser não é...Ser e pensar são um e o mesmo».

 

2) Explique ambos os pensamentos e compare-os no tema do «ser».

                                                                            

                                                                                                      

3) Relacione, justificando:

 

A) Sete relações filosóficas em David Hume e binómio Idealismo/ realismo crítico.

 

B) Os três tipos de conhecimento, segundo Bertrand Russel, empirismo e racionalismo.

 

C) Indução amplificante e lei do salto de qualidade.

 

D) Retórica e sofística.

 

 

 

       CORRECÇÃO DO TESTE, COTADO PARA 20 VALORES

 

1) A) Eis duas regras de validade infringidas no silogismo acima: a conclusão segue sempre a parte mais fraca, se uma premissa é particular a conclusão tem de ser particular (ora isso não sucede, porque a premissa «Alguns macacos...» é particular e a conclusão «Nenhuns...» é universal); nenhum termo pode ter na conclusão maior extensão do que nas premissas (ora o termo "macacos" é particular na premissa e universal na conclusão). (VALE DOIS VALORES).

 

1) B) O modo do silogismo é EIE (E= proposição universal negativa; I= proposição particular afirmativa). A figura do silogismo é a 2ª : PP (termo médio como predicado em ambas as premissas). (VALE UM VALOR)

 

2)  Hume diz que as percepções empíricas são como que fotos desligadas umas das outras, não são contínuas e é a imaginação que fornece a ideia de continuidade dos objectos, o filme das percepções. Assim não há a alma, nem o eu, nem a casa, nem a árvore, nem a montanha - são ideias da imaginação formadas a partir de percepções cuja origem se desconhece. Isto é idealismo: a matéria passa a ser um conjunto de percepções empíricas. Em Parménides dá-se o inverso: não há descontinuidades, a percepção empírica é ilusão, o pensar está a todo o instante centrado no ser uno, imóvel, invisível, esférico, eterno.  Ao empirismo de Hume (" as ideias nascem das impressões sensíveis") contrapõe-se o racionalismo de Parménides (" Só o pensar, o raciocínio e a intuição inteligível captam o ser"). São dois idealismos, numa certa interpretação; mas em Parménides pode tratar-se ainda, ao invés, de um realismo crítico, porque apesar de cores, sons, cheiros, formas mutáveis serem ilusões, a esfera do ser pode ter carácter material, pode ser formada por uma matéria imperceptível aos sentidos.   (VALE QUATRO VALORES).

 

3) A) As sete relações filosóficas são capacidades da nossa mente, modos de interpretar as coisas, não existem no mundo exterior: semelhança, identidade, relações de tempo e lugar, proporção de quantidade ou número, graus de qualidade, contrariedade e causação. Por exemplo, água e fogo não são contrários entre si fora da mente humana, real e objectivamente,  mas são apenas contrários dentro desta que as coloca numa relação de contrariedade.  Assim, as sete relações filosóficas incluem-se no idealismo, que diz que o mundo material não passa de uma ideia. Ao contrário, o realismo supõe que semelhança, identidade, relações de espaço e tempo, quantidade, graus de qualidade, causa-efeito, etc, são modos de ser reais, exteriores às mentes humanas, porque o realismo afirma a realidade da matéria em si mesma. O realismo crítico diz que certas qualidades (cores, sons, cheiros, sabores) são subjectivas, secundárias, e nessa medida coincide em parte com o idealismo. (VALE QUATRO VALORES).

 

3) B) Os três tipos de conhecimento segundo Bertrand Russell são: o saber-fazer, que é um conhecimento empírico-técnico, como andar de bicicleta, nadar, jogar futebol; o conhecimento por contacto, isto é, empírico directo, como ver uma planície alentejana, ouvir uma música dos Bubedanas, saborear gaspacho; o conhecimento proposicional, isto é, racional ou empírico-racional, como por exemplo, «A soma dos três ângulos internos de um triângulo é 180º», «Portugal entrou na Comunidade Económica Europeia em 1 de Janeiro de 1986». Os dois  primeiros tipos de conhecimento são empirismo, doutrina segundo a qual as percepções empíricas são a fonte das nossas ideias e estas copiam aquelas. O conhecimento proposicional inclui, geralmente, racionalismo, doutrina segundo a qual o raciocínio é a fonte principal dos nossos conhecimentos, marginalizando ou mesmo contrariando as percepções empíricas. (VALE TRÊS VALORES)

 

3) C) A indução amplificante é aquela que a partir de alguns exemplos empíricos directos generaliza segundo uma lei necessária ou aparentemente necessária. Exemplo: «Como médico pediatra, receitei a 50 crianças com gripe e tosse que tomassem três copos de sumo de laranja diários com uma colher de mel e em todos os casos a gripe e a tosse atenuaram-se ou desapareceram, assim induzo que três copos de sumo de laranja e colheres de mel agem em sentido curativo em todas as crianças do mundo». A lei do salto qualitativo está presente nesta indução: acumulam-se, gradualmente, exemplos de cura (a criança A, a criança B, a criamça C) até que o salto de qualidade, brusco, se dá de X casos particulares para uma lei geral. (VALE TRÊS VALORES).

 

3) D) A retórica é a arte de bem discursar oralmente - ou por escrito, de forma derivada - a um auditório, no sentido de impressionar e persuadir. Bem discursar não significa estar isento de sofismas (erros voluntários de raciocínio) e paralogismos (erros involuntários de raciocínio). A sofística é a filosofia e a retórica dos sofistas, pensadores gregos anti essencialistas que ensinavam retórica, direito, política, etc, com remuneração. Assentava no cepticismo, que duvida de tudo o que fôr além das percepções empíricas, no relativismo que diz que a verdade varia com os povos, as classes e grupos sociais, no subjectivismo que postula que a verdade varia de pessoa a pessoa, no pragmatismo, que prefere os resultados práticos, a utilidade da situação real aos ideais "inúteis" e metafísicos. (VALE TRÊS VALORES).

 

 

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Terça-feira, 19 de Fevereiro de 2013
Teste de filosofia do 10º ano de escolaridade ( 2º período lectivo)

 

Eis um teste de filosofia, o primeiro do segundo período lectivo, que não usa o terreno pantanoso das perguntas de resposta múltipla que é típico dos sectários da filosofia analítica, pobres em pensamento.  

 

Escola Secundária Diogo de Gouveia , Beja
TESTE DE FILOSOFIA, 10º ANO TURMA C
14 de Fevereiro de 2013. Professor: Francisco Queiroz

 

I

«O imperativo categórico de Kant é formal e autónomo e é distinto do hedonismo sensualista de Aristipo de Cirene. O templo cristão da Idade Média foi construído segundo o princípio da correspondência microcosmo-macrocosmo e implicava uma certa mística, incluindo a gematria da Cabala, e talvez a reminiscência de arquétipos

 

1) Explique concretamente este texto.

 

II

 

2) Relacione, justificando:

 

A) Realismo crítico e racionalismo.
B) Dualismo antropológico no estoicismo e dualismo no taoísmo.
C) Ética utilitarista de Stuart Mill e determinismo com livre-arbítrio (determinismo moderado).

III

3) Disserte sobre o seguinte tema:

 

“As quatro causas de um ente segundo Aristóteles, os quatro arquês e a cosmogénese segundo Pitágoras de Samos ”.

 

 

 

CORRECÇÂO DO TESTE, COTADO PARA UM TOTAL DE 20 VALORES

 

1) O imperativo categórico, verdadeira lei moral, gerada no eu racional ou numénico, é formal, ou seja abstracto, porque apresenta a seguinte formulação: «Age como se quisesses que a tua acção fosse uma lei universal da natureza». Dá-se apenas a forma (equidade, agir de igual modo com todos) mas não o conteúdo concreto. Por isso deixa a cada pessoa autonomia para preencher o seu imperativo categórico pessoal. É, pois, autónomo. É diferente do hedonismo sensualista de Aristipo de Cirene uma vez que este postulava que o maior bem é o prazer dos sentidos (comer, beber, entregar-se ao sexo, etc) e o mal é a dor, a privação de bem-estar. O agir por dever em Kant, opõe-se ao agir por prazer sensual, em Aristipo. (ESTAS FRASES VALEM TRÊS VALORES). O templo cristão da Idade Média era um microcosmo (pequeno mundo organizado) que reflectia o macrocosmo (o grande universo): por isso a catedral medieval tinha a forma de um homem (Cristo) de braços abertos. A abside correspondia à cabeça de Cristo e estava voltada para Oriente, onde nasce o Sol símbolo de Cristo. O altar corresponde ao coração e o transepto aos braços abertos. As naves ao tronco e pernas de Cristo. Assim o que está em baixo (o templo) é espelho do que está em cima (um gigantesco corpo de Cristo atravessando o universo).  Isto implica mística ou seja união íntima com a divindade. E comportava a gematria, uma disciplina da Kabalah judaica, que faz corresponder letras a números (exemplo: A=1, B=2, C=3, D=4). Por exemplo, sendo o nome de Cristo em grego equivalente ao número 888, o eixo que liga a base do altar à cúpula da catedral de Troyes mede 88 pés e 8 polegadas - medida intencional. A construção do templo na medida em que incorporava cilindros, prismas e outros poliedros era talvez uma reminiscência, isto é, uma vaga lembrança dos arquétipos de cilindro, de prisma e outros existentes, segundo Platão, num mundo acima do céu visível chamado mundo inteligível ou das formas puras. (VALE QUATRO VALORES).

 

2) A) Realismo crítico é a teoria gnosiológica segundo a qual há um mundo de matéria exterior ao espírito humano e este não capta esse mundo como é. Descartes, realista crítico, sustentava que as cores, os cheiros, os sons, sabores, o quente e o frio só existem no interior da mente, do organismo do sujeito, e que o mundo exterior é apenas composto de formas, movimentos e tamanhos. Isto é racionalismo, pois esta teoria afirma que a razão é a principal fonte de conhecimento, negando uma parte das percepções empíricas.(VALE TRÊS VALORES).

 

2) B) O dualismo antropológico no estoicismo, filosofia baseada na aceitação do destino e no lema «Aguenta e abstèm-te», consiste em dividir o ser humano en 2 polos: o eu racional ou guia interior, que consegue dominar as paixoes e filosofar; o eu animal ou corpo, fonte das paixões da ambição, da cólera, dos prazeres da carne.

O dualismo no taoísmo pode ser visto segundo vários ângulos: o Tao, mãe e ritmo do universo, desdobra-se em duas ondas contrárias, Yang (luz, calor, verão, vermelho, crescer) e Yin (escuridão, frio, inverno, azul, diminuir); o agir, que é próprio dos ambiciosos, dos políticos e dos que se consagram ao estudo livresco, e o não agir, que é próprio do sábio contemplativo e do camponês que segue o ritmo da natureza, isto é, o Tao. (VALE TRÊS VALORES).

 

2) C) A ética utilitarista de Stuart Mill tem como pilar primeiro o princípio da maior felicidade, isto é, propiciar a felicidade à maioria das pessoas envolvidas numa situação, mesmo prejudicando uma minoria de pessoas, e como pilar segundo, os bons princípios da tolerância e do respeito para com o próximo e a qualidade superior de certos prazeres do espírito (música, literatura, ciências, etc). Supõe, como seu suporte metaético, o determinismo com livre-arbítrio isto é, a doutrina que sustenta que as mesmas causas produzem sempre os mesmos efeitos, na natureza biofísica (determinismo) e ao mesmo tempo, os homens dispõem de livre-arbítrio, isto é, de capacidade de escolha livre após reflexão. (VALE TRÊS VALORES).

 

3) Há 4 causas de um ente, segundo Aristóteles: formal (a forma do ente), material (a matéria-prima de que é formado o ente) eficiente (aquele ou aquilo que gerou ou fabricou o ente) e final (a finalidade do ente). Na doutrina de Pitágoras de Samos, há quatro princípios (arquês) de todas as coisas que configuram a cosmogénese (nascimento do cosmos) do seguinte modo: do vazio surge um ponto (número um); o ponto desdobra-se em dois que afastando-se formam uma linha recta (número dois); da recta sai um ponto que projectando-se sobre ela segundo infinitas rectas gera um plano (este é o número três); do plano sai um ponto que, projectando-se segundo três linhas rectas sobre esse plano, gera o tetraedro ou pirâmide de três lados (esta é o número quatro). Estes números-figuras, combinando-se entre si, formam todos os objectos do universo (árvores, planícies, animais, homens, etc). A soma dos quatro números figuras essenciais dá 10, o número divino ou tétrade. (VALE QUATRO VALORES).

 

 

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Segunda-feira, 19 de Março de 2012
Teste de filosofia do 11º ano de escolaridade em Portugal (final do 2º período)

 

Eis um teste de filosofia de 11º ano de escolaridade que trata com substancialidade e razão dialética a temática " O conhecimento e a racionalidade científico-tecnológica".

 

Escola Secundária Diogo de Gouveia com 3º Ciclo, Beja

 

TESTE DE FILOSOFIA, 11º ANO TURMA A

 

Março de 2012            Professor: Francisco Queiroz   

 

I

 

«Chamamos a estas faculdades entendimento e razão; esta última, sobretudo, distingue-se propriamente e, sobremodo, de todas as forças empiricamente condicionadas, porque examina os seus objetos segundo ideias, determinando, a partir daí o entendimento ».

 

 (Kant , Crítica da Razão Pura», pag. 471)

 

 

 

1-1) Explique a frase do texto acima.

 

1-2) Explique, segundo a gnosiologia de Kant, o que é e “onde” existe o númeno e onde e como se forma o fenómeno sobreiro.

 

1-3) Explique onde e como se forma o juízo empírico «os sobreiros estão na planície».

 

 

 

II

 

 

2) Relacione, justificando:

 

 

 

A)  Os quatro passos do percurso gnosiológico de Descartes desde a dúvida hiperbólica,  e ser em si e ser para si na teoria de Hegel.

 

B) Anarquismo epistemológico de Paul Feyerabend e conjeturas na ciência em Popper.

 

C) Finalidade dos diversos tipos de movimentos dos entes no cosmos segundo Aristóteles e Vontade em Schopenhauer.

 

D)  Realismo crítico em Descartes e idealismo em David Hume.

 

E)  Verificacionismo/ Corroboracionismo segundo Karl Popper e o positivismo lógico e  causação /necessidade em David Hume.

 

F)  Ciências hermenêuticas/ Ciências empírico-formais, por um lado, e método hipotético-dedutivo, por outro lado.

  

 

 

 CORREÇÃO DO TESTE (COTADO PARA 20 VALORES)

 

 

1-1) A razão é a faculdade das ideias, conceitos metafísicos, incondicionados, e é a faculdade dos princípios: pensa os númenos e a estrutura do entendimento a priori. O entendimento é a faculdade dos conceitos, a priori (exemplo: número dois, unidade) ou a posteriori (exemplo: átomo, cão), e a faculdade dos juízos, puros ou empíricos: pensa os fenómenos mas não sente. O entendimento recebe os dados empíricos da sensibilidade, a razão não. As forças empíricamente condicionadas, isto é, sujeitas a leis da natureza ou do espírito são a sensibilidade com os fenómenos e o entendimento com as suas formas a priori, categorias e juízos puros. Estão, pois fora da razão que é incondicionada, livre. (VALE DOIS VALORES).

 

 

1-2) O númeno, objeto metafísico incognoscível, como Deus e mundo (como totalidade), está, em princípio, fora do espírito humano que se compõe de três níveis essenciais, a sensibilidade, o entendimento e a razão. O fenómeno está dentro da sensibilidade, no espaço ou sentido externo, no caso de fenómenos físicos como árvores, casas, rios. O fenómeno sobreiro forma-se deste modo: do exterior ao espírito, o númeno afeta a sensibilidade e cria nesta um caos de matéria, de intuições, a que o espaço e o tempo, como formas a priori da sensibilidade, vão dar forma e enquadramento temporal e assim surge o sobreiro. (VALE TRÊS VALORES)

 

 

1-3) O juízo empírico "os sobreiros estão na planície"  forma-se no entendimento do seguinte modo: em primeiro lugar, a imaginação reprodutora transporta para o entendimento as intuições empíricas de sobreiro e de planície que são transformadas em conceitos empíricos pelas categorias de unidade, pluralidade, realidade, etc. Estes conceitos acedem à tábua de juízos puros e aqui são unidos em forma de juízo afirmativo «S é P». (VALE DOIS VALORES).

 

 

2-A) Os quatro passos do raciocínio de Descartes são pautados pelo racionalismo, doutrina que afirma que a verdade procede do raciocínio, das ideias da razão e não dos sentidos: 1º Dúvida hiperbólica ( «Duvido da existência do mundo, das verdades da ciência, de Deus e até de mim mesmo uma vez que quando sonho tudo me parece real»); 2º Idealismo solipsista («Penso, logo existo» como mente); 3º Idealismo não solipsista («Se penso tem de haver alguém mais perfeito que eu que me deu a perfeição do pensar, logo Deus existe); 4º Realismo crítico («Se Deus existe, não consentirá que eu me engane em tudo o que vejo, sinto e ouço, logo o mundo de matéria, feito só de qualidades primárias, objetivas, existe fora de mim»). Podemos dizer que o segundo passo («Existe a minha mente») conjugado com o quarto passo («Existe o meu corpo e o mundo físico») formam o ser-para-si da doutrina de Hegel, que significa a humanidade, o homem, que é a Ideia absoluta voltando a si mesma. E o terceiro passo («Existe Deus») significa o ser em si, a Ideia absoluta antes de criar o universo. (VALE TRÊS VALORES).

 

2- B) O realismo crítico em Descartes é a doutrina segundo a qual existe um mundo de matéria real em si mesmo fora das mentes humanas destituído de qualidades secundárias (cores, sons, cheiros, sabores, calor, frio, prazer, dor), consistindo apenas em qualidades primárias ou geométricas. Assim, por as árvores não são duras nem moles, não têm cor, só têm qualidades primárias: figura, matéria impenetrável indeterminada, número, movimento. O idealismo de David Hume vai mais longe do que o idealismo parcelar de Descartes, uma vez que afirma que os objetos materiais são apenas ideias confirmáveis por impressões de sensação, isto é, existem na nossa perceção, mas não necessariamente no mundo exterior cujo conteúdo é incognoscível para nós. Hume insiste, ademais, na impermanência das coisas, no caráter fictício de substância, objeto permanente: é a nossa imaginação que atribui a continuidade a um mesmo objeto em tempos diferentes. (VALE DOIS VALORES)

 

2- C) No mundo sub-lunar de Aristóteles, a finalidade do movimento dos corpos, que nunca é circular, é o regresso à origem do seu constituinte fundamental: assim, a pedra lançada na esfera do ar cai em direção à esfera da Terra, que é a sua origem, porque as pedras integram a terra. No mundo celeste, estrelas e planetas giram em círculos agarrados às suas esferas de cristal com o objetivo de tentar alcançar Deus, o pensamento puro que está fora do universo e funciona como motor imóvel. A vontade em Schopenhauer é a força criadora do universo material e podemos, nesta complexa comparação com o universo de Aristóteles, identificá-la quer com as esferas do mundo sub-lunar, alvos do movimento dos corpos e de certo modo "criadoras" destes movimentos, quer com Deus, que não criou o mundo mas desperta o movimento das esferas celestes. (VALE DOIS VALORES)

 

2-D) O anarquismo epistemológico de Paul Feyerabend é a teoria segundo a qual o motivo de haver ciências universitárias proeminentes que excluem ciências antigas (medicina natural, astrologia, etc) ou práticas religiosas e mágicas é o interesse egoísta dos "cientistas" e académicos e industriais do setor em auferirem de prestígio e grandes financiamentos por parte dos Estados e a visão filosófica deficiente desses cientistas e académicos. Assim, o anarquismo de Feyerabend defende a pluralidade de métodos e a improvisação ad hoc de novos métodos e exige que todas as ciências e rituais não científicos de comprovada utilidade sejam postos em plano de igualdade e sujeitas a testes, a controlos, que eliminem a ideologia dominante. Popper, por sua vez, reconhece que todas as ciências de base empírica são conjuntos de conjeturas ou suposições mas aceita hierarquizá-las, provisoriamente, dizendo que são melhores as que resistiram aos testes de falsificabilidade, e não põe em causa a medicina oficial alopática, classifica a astrologia como "superstição" e afasta a acusação de «má intenção e abuso de poder» que Feyerabend faz aos círculos científicos e tecnocráticos dominantes hoje. (VALE DOIS VALORES)

 

2- E) O verificacionismo é, segundo Popper, impossível de comprovar porque estende, por indução amplificante, alguns casos empíricos (uma amostra) a todos os casos . Assim, verificacionismo e indução amplificante são sinónimos na perspetiva do positivismo lógico: por exemplo, observar 1000 pedaços de quartzo e constatar que em todos  há uma estrutura cristalina trigonal composta de tetraedros de sílica autoriza proclamar que em todo o quartzo existente no mundo há uma estrutura trigonal. Popper discorda desta indução amplificante e prefere dizer que o estudo dos 1000 pedaços de quartzo corroborou ou confirmou nesses casos e só nesses (corroboracionismo) a estrutura trigonal do quartzo, mas não verificou esta.

David Hume é um percursor de Popper ao teorizar que o princípio do determinismo, segundo o qual nas mesmas circunstâncias, as mesmas causas produzem sempre os mesmos efeitos, denominado causação, não é real na natureza porque há muitas excepções ou porque é impossível verificar a totalidade dos casos da lei, mas é apenas uma construção da nossa mente, uma das sete relações filosóficas. (VALE DOIS VALORES)

 

2-F) As ciências hermenêuticas ou sociais são aquelas que não assentam num rigoroso determinismo, quantificável, mas sim em teses mais ou menos metafísicas, desdobrando-se em várias interpretações ( hermenêutica, arte da (boa) interpretação de textos e símbolos diversos) sobre um mesmo tema. A psicanálise, por exemplo, é uma dessas ciências: a hipótese de os meninos de 3 a 5 anos de idade sentirem o complexo de Édipo (desejo de matar ou afastar o pai e casar com a mãe) não se verifica em todas as sociedades, segundo Margaret Mead, logo não é universalmente induzível. De um modo geral, estas ciências hermenêuticas não utilizam o método hipotético-dedutivo que comporta quatro fases: a observação, a hipótese (e sua matematização numa fórmula), a dedução da fórmula (para casos concretos) e a experimentação. Ao contrário, às ciências empírico-formais, isto é, construções racionais matematizadas a partir de uma infinidade de dados sensoriais, aplica-se perfeitamente o método hipotético-dedutivo.  (VALE DOIS VALORES)

 

 

Nota para a correção: nas perguntas de relacionação entre dois ou mais conceitos, a cotação para cada resposta dada deve obedecer a um princípio de premiar o aluno que estuda e sabe as definições separadamente: assim deverá receber 50% a 60% da cotação da pergunta desde que defina correctamente os conceitos, embora não consiga interligá-los.

 

 

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