Para Aristóteles, a Beleza, uma essência imóvel, está presente na matemática através da proporção, da ordem e da delimitação.
«E posto que a Bondade e a Beleza são coisas diversas (com efeito, aquela dá-se sempre na ação, enquanto que a Beleza se dá também nas coisas imóveis) erram os que afirmam que as ciências matemáticas nada dizem sobre a Beleza ou a Bondade. Falam, com efeito delas em supremo grau. Ainda que não as nomeiem, não sucede que não falem delas, posto que mostram as suas obras e razões. Por seu lado, as formas supremas da Beleza são a ordem, a proporção e a delimitação que as ciências matemáticas manifestam em supremo grau.»
(Aristóteles, Metafísica, Editorial Gredos, pp. 513-514; o destaque a negrito é nosso)
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© (Direitos de autor para Francisco Limpo de Faria Queiroz)
O que é o sentido (em grego: ennoia) de algo ? Na língua grega actual, a expressão o sentido das coisas diz-se "ennóia (sentido) tós pragmáton (coisas) (την έννοια των πραγμάτων). A expressão "sentido de" significa, não a capacidade sensorial humana, mas uma ordem, imanente ou transcendente a cada coisa. Sentido tem várias acepções, entre as quais:
A) Finalidade (télos) ou causa final . Por exemplo, na cosmologia de Aristóteles, o sentido do movimento dos corpos no mundo sub-lunar é o do retorno à fonte primordial: uma maçã cai da árvore em direcção à esfera da terra no centro do mundo porque a sua finalidade é voltar ao lugar de origem. O sentido de uma chama subir no ar é o desejo de regressar à esfera do fogo, de onde é originária, esfera essa que se situa acima das esferas da terra, água e ar.
B) Proporção (logos), que é o sentido imanente a algo, por comparação entre as diferentes partes.
C) Inteligência (nous).
D) Direcção (tésis).
E) Inerência de uma qualidade à respectiva substância.
F) Necessidade (ananké), isto é, lei infalível de causa-efeito, que estrutura não só a natureza biofísica - a físis, ou seja, o nascimento, crescimento, declínio e morte ou desagregação dos entes - mas também a lógica e a matemática.
G) Ordem (táxis).
O sentido é, pois, um nexo ou elo de ligação do ponto de vista da coerência interna - o que se exprime sobretudo na táxis, ananké, logos e no nous- mas também do ponto de vista da referência ou correspondência externa - o que se traduz sobretudo na direcção, na necessidade e na finalidade, e também no logos universal, no nous. Há sentido no monismo e sentido no dualismo. O positivismo lógico reduziu o termo sentido ao binómio ideação-comprovação: só tem sentido algo que se pense e se formule por palavras e se comprove empiricamente, de forma directa ou indirecta. É uma definição insuficiente, falseadora. É exactamente o oposto da ideia de "sentido-nexo" da filosofia grega antiga e da posterior tradição filosófica.
O que é interessante é notar a tonalidade intelectual do conceito de "sentido" na língua grega, em oposição a outras línguas como o português, o espanhol, o francês, o inglês em que o termo "sentido" designa também a capacidade de percepção sensorial (aistésis, em grego): em português, fala-se, por exemplo, no "sentido da vista" e no "sentido da vida"; em espanhol usa-se o termo "sentido" para "la visión, audición, olor, etc" e para o nexo inteligente da vida, el «sentido de la vida»; em francês, les "sens des organes sensorielles" são de natureza diferente do "sens de ce mot ou de cette phrase, uns sens intelectuel"; em inglês, "the five senses of the body" e "the sense of life" possuem significados muito distintos.
Na língua grega, não se confunde, no plano vocabular, a ideia de sentido como nexo ou ordem inteligível das coisas com a ideia de sentido como faculdade de percepção empírica, sensorial.
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