Sábado, 9 de Maio de 2020
Dialética, transumanismo e singularidade, essencialismo, existencialismo

 

Eis algumas questões a que os alunos de filosofia podem responder se os professores forem suficientemente autónomos e inteligentes para rejeitar a filosofia analítica e a sua ridícula lógica proposicional e souberem explicar a dialética nas suas leis objectivas.

 

1) Enuncie e aplique a lei da contradição principal à segunda guerra mundial 1939-1945. 

 

Resposta: A  Lei da Contradição Principal da dialética diz que « Um sistema de múltiplas contrariedades é susceptível de ser reduzido a uma só contradição, designada por principal, colocando num polo um certo número de contrariedades, reduzidas à condição de secundárias entre si, e no outro as restantes, também secundárias entre si. Uma nova contradição principal surge depois em outra fase.»

 

Exemplo: na Segunda Guerra Mundial, de 1939 a 1945, a  contradição principal é haver dois blocos ou polos, por exemplo, a Inglaterra liberal não gostava da Rússia comunista mas aliou-se a esta para combater a Alemanha de Hitler:  num dos polos os Aliados ( França livre, Inglaterra, EUA, URSS, Brasil, etc) e no outro polo as potências do Eixo nazi-fascista-imperial ( Alemanha, Itália, Japão).

 

Terminada a guerra com a derrota deste Eixo, surgiu, em 1946-1950, uma nova contradição principal na política internacional, entre o bloco dos países ditos socialistas e aliados (a URSS, Roménia, Checoslováquia, Bulgária, Polónia, China, etc) e o bloco ocidental capitalista e países dependentes (EUA, Grã Bretanha, França, Itália, Alemanha Ocidental, etc). 

 

2) Aplique a lei da contradição principal à pandemia da Covid actual.

 

Resposta: os países do mundo (EUA, Itália, Portugal, etc) têm contradições entre si mas unem-se todos no mesmo polo ou bloco e no outro pólo está o Covid 19 invisível.

 

3) Aplique a lei da contradição principal à mutualização das dívidas públicas (todos a pagar as dividas dos mais pobres)  na UE em 2020.

 

Resposta: Há estados europeus (Portugal, Espanha, Grécia) com muito mais dinheiro a pagar ao Banco Central Europeu do que outros como a Holanda e a Austria. Assim os países mais pobres (Portugal, Grecia, Itália) unem-se num polo da contradição principal para pedir a criação de eurobonds (empréstimos a juros muito baixos fáceis de pagar) mas no outro polo da contradição principal estão os países ricos como Alemanha, Holanda, Austria. que não querem criar esses eurobonds.

 

4)  Exponha a lei da luta de contrários e aplique-a à estrutura do ser humano segundo a psicanálise de Freud.

 

Resposta: A  Lei da Luta de Contrários)  diz o seguinte: «Cada fenómeno ou ser tem, por essência, uma luta de contrários que constitui o motor de desenvolvimento desse fenómeno ou ser. Os contrários formam, entre si, na sua luta recíproca, uma unidade, mais ou menos instável, que constitui a totalidade desse fenómeno ou ser.» Freud dizia que no ser humano há uma luta entre o infra-ego (as paixões ou instintos do corpo: comer, beber, energia sexual, desejo de riquezas, violência sobre outros, etc.) e o super-ego (a consciência moral vinda da sociedade: não matar, não roubar, não violar, não ofender por palavras, etc.). Estes contrários lutam a cada dia dentro de nós e formam a nossa essência ou maneira de ser permanente.

 

5) Aplique a lei da luta de contrários às atitudes metafísica e pragmática. 

 

Resposta: A metafísica é, na acepção comum,  o mundo invisível do Além com os seus deuses, espíritos malignos, milagres, mitos da cosmogénese, se porventura esse mundo existe, e leva as pessoas a rezar a Deus, a acreditar no Paraíso ou na reencarnação e por vezes a perderem bons negócios. O pragmatismo é o uso prático e vantajoso do mundo empírico (das sensações: ver, saborear, tocar, etc.) o mundo das coisas práticas, do dinheiro, da realidade possível. Lutam entre si embora sejam conciliáveis na mesma pessoa. Por exemplo: uma igreja é metafisica se não pede esmolas aos fregueses mas só pede orações e opõe-se a uma igreja pragmática que pede 10 por cento do salário a cada freguês (se ganhas 900 euros ao mês tens de dar 90 euros à igreja).

 

6) Enuncie a lei do devir e aplique-a à lei da oferta e da procura vigente na UE

 

Resposta: A Lei do Devir diz : «Nada está estático e inalterável, tudo está em constante Devir, transformação». A lei da oferta e da procura da economia de mercado diz que quando há muita oferta de produtos e pouca demanda/procura, os preços descem (é o caso da gasolina neste mês) e quando há muita procura e pouca oferta os preços sobem. Assim a oferta e a procura estão sempre a mudar, isto é, em devir, em transformação.

 

7) Enuncie a lei do salto de qualidade e aplique-a à passagem da água do estado líquido ao estado gasoso e à passagem de situações pacíficas a revoluções.

 

Resposta: 4ª (Lei do Salto Qualitativo diz que : «A acumulação lenta e gradual, em quantidade, de um aspecto num fenómeno ou ser conduz, num dado momento, a um brusco salto de qualidade nesse fenómeno ou ser.»

Exemplos: a água vai aumentando de forma gradual, quantitativa, a temperatura (90º, 91º, 92º.93º,94º)  até que ao passar de 99º para 100º entra bruscamente em ebulição (salto qualitativo) passando ao estado de vapor; a acumulação gradual e lenta num país de greves económicas massivas, manifestações de rua, greve política e confrontos violentos com forças da ordem determina que, num dado instante, um governo, democrático ou ditatorial, se demita ou seja destituído (salto qualitativo), abrindo um novo ciclo político na sociedade.

 

8) Aplique a lei do salto de qualidade à formação dos conceitos de «sobreiro» e de «cavalo».

 

Resposta: a criança vê um sobreiro (percepção empírica: ver e tocar), vê outro e mais outro sobreiro, acumulação em quantidade de imagens do mesmo tipo, fecha os olhos e abstrai de pormenores deste e daquele sobreiro, dá o salto de qualidade ao formar a ideia ou conceito de sobreiro, ideia abstracta. Com o cavalo é o mesmo: acumula visões ou percepções empíricas de cavalo, etc.

 

9) Aplique a lei da tríade aos regimes políticos desde o fascismo de Salazar (1932-1974) até hoje e às estações do ano.

 

Resposta: A lei da tríade diz que «Num processo dialéctico há três fases: a tese ou afirmação , a antítese ou negação e a síntese ou negação da negação. A síntese não é a soma das duas anteriores, mas a sua superação e conservação fragmentária e o início de um novo processo triádico. A síntese é um volver no sentido da tese e transforma-se em tese de um novo processo dialético.»  Aplicada à política em Portugal: o fascismo de extrema direita é a tese (povo sem poder nenhum, só o partido dos ricos a mandar), a revolução anarquista e comunista de extrema esquerda em 1974-1975 é a antitese (o povo com o poder todo nas ruas, ocupando herdades, os patrões a fugir) e a democracia parlamentar, regime de centro (liberdade de partidos, o poder na mão dos ricos mas o povo pode fazer greve, manifestação de rua) é a síntese. Nas estações do ano é assim: o verão é a tese, o inverno e antítese, a primavera e o outono são síntese porque são meio termo misturam calor e frio.

 

10) Aplique a lei dos dois aspectos da contradição à situação dentro de uma fábrica e à política portuguesa dos últimos anos. 

 

Resposta: a Lei dos Dois aspectos da Contradição) diz: «Numa contrariedade há dois aspectos ou polos, em regra desigualmente desenvolvidos: o aspecto principal ou dominante e o aspecto secundário ou dominado. Em certas circunstâncias, há uma inversão de posições (salto qualitativo): o dominante passa a dominado e vice-versa.».

 

Exemplo: numa fábrica, durante o dia de trabalho normal, o aspecto principal da contrariedade é a administração e o aspecto secundário os trabalhadores das oficinas, que se subordinam ao ritmo de tarefas imposto; contudo, os dois pólos invertem-se, ao irromper uma greve com ocupação de fábrica e sequestro da administração, passando esta a ser, por algum tempo, o aspecto secundário e os operários revoltosos passam a ser o aspecto principal.  Na política portuguesa de 2005 a 2011, o PS governou sozinho e por isso foi o aspecto dominante e os outros partidos o aspecto dominado mas isto inverteu-se de 2011 a 2015 porque o PSD e CDS governaram coligados e passaram a ser o aspecto dominante e o PS o dominado e de 2015 até hoje o PS governa sendo por isso o aspecto dominante da contradição.

 

11) A astrologia, acredite-se nela ou não, aplica a lei do uno. Explique.

 

Resposta: A lei do uno diz «No universo nada está isolado, tudo se relaciona». A astrologia determinista (com leis exactas) diz que as posições dos planetas muito distantes criam os acontecimentos na Terra. Exemplo: Júpiter no signo da Virgem (150º a 180º de arco) dá a vitória ao PSD (caso das eleições legislativas de 1979, 1980, 1991, 2015). O planeta está unido através da sua radiação com a Terra.

 
Pergunta 12-Qual a diferença entre a singularidade tecnológica do transumanismo e a singularidade gravitacional da teoria de Einstein?
 
 
Resposta: A singularidade tecnológica prevista no transumanismo iluminista de Silicon Valey (EUA) é a época ou o ano em que os ciborgues e a inteligência dos supercomputadores ultrapassam a humanidade e dirigem o futuro desta, imprevisível. Alguns dizem que será em 2045. A singularidade gravitacional em Einstein é um ponto do espaço-tempo com densidade e massa infinitas como o Big Bang ou os Buracos Negros que atraem toda a matéria em seu redor e são imensamente densos (supõe-se; os físicos marxistas discordam, dizem que são apenas restos de estrelas ardidas). A singularidade tecnológica não é natural, resulta do avanço da ciência (supostamente) mas a singularidade gravitacional é natural.
 
 
Pergunta - Como actua a lei da acumulação em quantidade /salto qualitativo em ambas as singularidades?
 
 
Resposta - Os avanços da pesquisa científica na inteligência artificial, cibernética vão-se acumulando grau a grau, ano a ano, até que se dá o salto de qualidade: a máquina supera o homem e comanda-o (singularidade tecnológica). O ponto do espaço-tempo que segundo a teoria do Big Bang concentra a massa inteira do universo vai ficando cada vez mais denso até que explode e é o Big Bang.
 
 
Pergunta - Que analogia há entre a astúcia da razão em Hegel e a tese de que o Estado é tudo, o indivíduo é nada? 
 
 
Resposta: Em ambas as teses há uma razão universal (Deus)que manipula os homens. Na astúcia da razão Deus usa as paixões dos homens (exemplo: escolheu Napoleão em 1799, amante da ditadura não monárquica para meter ordem na revolução francesa que mergulhara no caos) . No caso do Estado, que é Deus incarnado em forma de Estado de um dado povo, os indivíduos dvem obedecer às leis do Estado. 
 
 
Pergunta - Por que razão a teoria de Hegel não pode ser considerada um existencialismo e a teoria de Kierkegaard pode?
 
 
Resposta: Porque a definição de existencialismo é: doutrina que supõe que a existência de cada indivíduo ou do colectivo vem antes da essência, isto é, não existe à partida um modelo, um arquétipo fixo que preside a todo o desenvolvimento ulterior e a. vida é imprevisível, feita de escolhas livres.
 
Ora em Hegel a mente de Deus sozinho, na primeira fase, delineia as essências (formas estruturais)  e isto é essencialismo (a essência vem antes da existência- Deus pensa o espaço, o tempo, os planetas e animais que virá a criar na fase seguinte a fase da natureza. E na terceira fase, a de Deus incarnado em humanidade, esta não é livre mas obedece ao plano divino, essencialista, que estabelece a sucessão de Estados (mundo oriental despótico, mundo greco-romano de só alguns homens livres, mundo cristão reformado por Lutero em que todos os homens são livres de interpretar a Bíblia traduzida para alemão). Apesar de teorizar que a liberdade de espírito é o fim da história, a  ideia de liberdade em Hegel é mais a de liberdade de um povo do que liberdade do indivíduo. Hegel vive na altura das revoluções nacionais libertadoras do colonialismo no primeiro terço do século XIX.
 
 
A teoria de Kierkegaard é um existencialismo porque enfatiza a liberdade individual, a escolha livre que o homem pode fazer em cada momento de um destes três estados: o estético (o Don Juan a saltitar de mulher em mulher, preso ao prazer momentâneo) o ético (o homem casado fiel à mulher que educa bem os filhos e cumpre as obrigações sociais, é um funcionário honesto, vai à missa, etc.) e o religioso (o asceta ou o místico a meditar isolado ouvindo a voz de Deus agindo contra a «boa moral» da maioria dos crentes em Deus como o padre Abel Varzim que, nos anos 40-50, visitava as prostitutas do Bairro Alto para as confessar e fazer rezar e comungar a hóstia e era incomodado pela PIDE de Salazar).
 
 
Pergunta- Esclareça os conceitos de angústia, desespero, paradoxo e alternativa (ou...ou) em Kierkegaard.
 
No existencialismo de Kierkegaard, doutrina da liberdade individual alcançável plenamente na união com Deus, o conceito de angústia é central: o homem vive ansioso por conhecer o futuro, por sentir ou temer a dor, a morte, a má sorte. O desespero é a frustração quando já não há nada a fazer. Exemplo: a angústia da neta antes da avó ser operada, o desespero da neta ao saber que a avó faleceu da cirurgia. O paradoxo é a contradição do pensamento. Exemplo: «Deus é infinitamente bom mas envia ao inferno as almas dos maus», «Quanto mais jejuns e sacrifícios fizeres neste mundo terreno mais alto e feliz serás no Paraíso». Kierkegaard diz que o cristão tem de aceitar o paradoxo: «É vontade de Deus que sofras, não te perguntes porquê». Kierkegaard é fideísta: Deus não se demonstra com o raciocínio como São Tomás de Aquino o fez mas Deus sente-se, prova-se através da fé (fides). A alternativa é a possibilidade de livre-arbítrio, de livre escolha a cada momento. Exemplo: «Ou continuo a ser um Don Juan, namoradeiro, ou me caso e sou fiel à esposa». 
 
 
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Segunda-feira, 12 de Dezembro de 2016
Teste de Filosofia do 10º ano de escolaridade (9 de Dezembro de 2016)

Centrado nos grandes temas da filosofia antiga (ontologia de Platão e Aristóteles, ética do taoísmo) na teoria da acção humana e dos valores, na lógica dialética, eis um teste de filosofia para o 10º ano de escolaridade, no Alentejo, região onde a profundidade da planície suscita a profundidade das ideias

 

Agrupamento de Escolas nº1 de Beja

Escola Secundária Diogo de Gouveia, Beja

TESTE DE FILOSOFIA, 10º ANO TURMA C

 

9 de Dezembro de 2016. Professor: Francisco Queiroz

I

“Na cosmologia de Aristóteles, há teleologia nos movimentos que ocorrem nos dois mundos que formam o cosmos. O realismo crítico é um racionalismo e não um empirismo. O fatalismo não é o mesmo que o determinismo biofísico com livre-arbítrio (vulgo determinismo moderado).”

 

1)Explique, concretamente este texto.

 

2)Relacione, justificando;

A) Essencialismo transcendente em Platão e Essencialismo imanente em Aristóteles

B) Proté Ousía, Hylé e Eidos, em Aristóteles, e três partes da alma, em Platão.

C) Esfera dos valores espirituais, esfera dos valores vitais, na teoria de Max Scheler e lei dos dois aspectos da contradição.

D).Ética de Aristóteles, Ética do Taoísmo e pragmatismo.. .

 

 

CORREÇÃO DO TESTE ESCRITO COTADO PARA 20 VALORES

 

 1) No cosmos de Aristóteles há dois mundos, o mundo sublunar, composto de quatro esferas concêntricas, a Terra (imóvel no centro) e as esferas de água,ar e fogo, no qual o movimento dos corpos não é circular e é teleológico, obedece a finalidades inteligentes, isto é, os corpos desejam voltar à origem do seu constituinte principal (exemplo: a pedra largada no ar cai porque o seu télos, finalidade, é voltar à «mãe», a Terra); o mundo celeste, composto de 54 esferas de cristal incorruptíveis com astros incrustados, 7 delas de planetas (Lua, Mercúrio, etc) e 47 de estrelas, que giram circularmente de modo teleológico, finalista,  já que estrelas e planetas, seres inteligentes, desejam alcançar, fora do cosmos, Deus, o pensamento puro, que se pensa a si mesmo e não se importa com o cosmos. Deus não é a causa formal (o modelo) do cosmos nem a causa eficiente (o construtor) do cosmos, mas apenas a causa final, o télos, do movimento dos astros inteligentes e das respectivas esferas. Ele nada faz mas suscita e atrai o movimento das estrelas.  (VALE TRÊS VALORES).O realismo crítico é a teoria que afirma que há um mundo material anterior às mentes humanas e independente destas que o captam de maneira distorcida. O realismo crítico em Descartes consiste em postular o seguinte: há um mundo de matéria exterior às mentes humanas, feito só de qualidades primárias, objetivas, isto é, forma, tamanho, número, movimento. As cores, os cheiros, os sons, sabores, o quente e o frio só existem no interior da minha mente, do organismo do sujeito, pois resultam de movimentos vibratórios de partículas exteriores já que o mundo exterior é apenas composto de formas, movimentos e tamanhos. .Assim, a rosa não é vermelha, é apenas forma e tamanho. O ramo de rosas é apenas formas, tamanho e um certo número de unidades, não tem cor, nem cheiro, nem peso. O mármore não é frio nem duro, o céu não tem cor. O realismo crítico é um racionalismo porque esta doutrina diz que só a razão é a fonte do verdadeiro conhecimento, desprezando muitas das percepções empíricas (neste caso, desprezando as cores, os sons, os cheiros , etc). Não é empirismo porque esta é a doutrina que sustenta que a fonte principal ou única dos nossos conhecimentos é a experiência sensorial, as percepções empíricas (o que vemos, tocamos, cheiramos, etc). Fatalismo  é a teoria segundo a qual tudo na vida está predestinado e os homens não dispõem de livre-arbítrio nem existe o acasoDeterminismo com livre-arbítrio (vulgo: determinismo radical) é a teoria segundo a qual, na natureza, as mesmas causas produzem sempre os mesmos efeitos e o homem dispõe de liberdade racional de escolha (livre-arbítrio) existindo ainda o factor acaso na natureza. Exemplo: um diabético sabe que ingerindo açúcar refinado a taxa de açúcar no seu sangue sobe para valores anormais, isto é o determinismo ou lei necessária biológica, mas pondera racionalmente e decide (livre-arbítrio) se  deve comer doces ou não. (VALE DOIS VALORES).

 

2)A) Essencialismo é toda a filosofia que sustenta que a essência ou forma fundamental dos entes e dos fenómenos precede a existência destes. As essências são as formas eternas e imutáveis tanto em Platão como em Aristóteles. Em Platão, elas são arquétipos de Bem, Belo, Justo, Número Um, Número Dois, Triângulo, Homem, etc, existentes no mundo Inteligível acima do céu visível, por isso são transcendentes, estão além (trans) do universo físico. Em Aristóteles, as essências são formas eternas inerentes ou imanentes aos objectos físicos - exemplo: a essência sobreiro está em todos os sobreiros reais, físicos, porque não há mundo inteligível- daí ser um essencialismo imanente (VALE TRÊS VALORES). 

 

2-B) A teoria hilemórfica (hyle é matéria-prima universal; morfos é forma) de Aristóteles sustenta que cada coisa individual ou primeira substância (proté ousía) como, por exemplo, este cavalo cinzento, se forma da união entre a forma eterna de cavalo (eidos)que existe algures e a hylé ou matéria-prima universal, indiferenciada, que não é água nem fogo nem ar, nem terra mas que passa a existir ao juntar-se à forma. A teoria de Platão sustenta que a alma se divide em três partes: o nous ou parte superior, razão intuitiva que capta os arquétipos ou formas puras e que, por isso, corresponde ao eidos ou essência em Aristóteles; a epitimya ou parte inferior da alma, a concupiscência, onde reinam os apetites carnais desordenados e que, por isso, fazemos corresponder à matéria prima universal ou hylé; a parte média da alma, o tumus, coragem e valentia militar que, tal como a proté ousía, é uma síntese. (VALE TRÊS VALORES)

 

C) A esfera dos valores espirituais, na concepção de Scheler, engloba os valores estéticos (belo e feio), éticos ( bom e mau, justo e injusto), jurídicos (legal, ilegal; justo, injusto), filosóficos (verdade e erro) científicos (verdade e erro por referência, isto é, na experiência, no pragmatismo). Há valor de coisa - por exemplo, o quadro Mona Lisa de Leonardo da Vinci - valor de função - no exemplo olhar o quadro, apreciar o sorriso de Mona Lisa - e valor de estado - no exemplo: a felicidade resultante dessa contemplação visual. A esfera ou modalidade dos valores vitais e sentimentais é a esfera anímica que inclui os valores do nobre e do vulgar, ciúme e ausência deste, orgulho e humildade, coragem e cobardia, sentimento de vitória ou de juventude, sentimento de derrota ou de velhice, etc. A lei dos dois aspectos da contradição sustenta que numa contradição (contrariedade) há dois aspectos, em regra desigualmente desenvolvidos, o principal e o secundário, que podem inverter posições passando o dominado a dominante. A relação pode ser percebida de muitas maneiras, como por exemplo: em uma pessoa é dominante a esfera dos valores vitais, vive centrada nos triunfos do desporto, nos valores do orgulho da pátria e da família mas em dado  momento dedica-se à arte (estética) e à filosofia, que pertencem à esfera dos valores espirituais e esta passa a ser dominante.(VALE TRÊS VALORES).

 

2-D) A ética de Aristóteles é a de que a virtude está no meio termo (mésotes): por exemplo, não se deve ser avarento nem gastar o dinheiro todo de uma vez, mas antes gastar e poupar equilibradamente; não se deve ser ditador tirânico nem anarquista anti poder, mas exercer a autoridade com prudência, etc. A ética do taoísmo consiste no não agir (não entrar na política nem nos altos negócios, não ter estudos universitários para não se corromper, etc) ser astucioso e louvar aquele que é mais forte que nós e um dia tirar-lhe o tapete, não lançar guerras, viver uma vida simples de camponês respeitando o Tao, isto é, o ritmo natural ondulatório do universo, a alternância verão-inverno, sementeira-colheita, etc.

O pragmatismo é a corrente que sustenta que se deve pôr de parte os altos princípios morais e metafísicos impossíveis de pôr em prática e agir de modo útil e eficaz no mundo empírico, buscar o lucro com realismo. Tanto a ética de Aristóteles como a ética taoísta são, de algum modo, pragmáticas, porque buscam a utilidade no modo de viver, têm bom senso. (VALE TRÊS VALORES).

 

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Quinta-feira, 20 de Outubro de 2016
Teste de filosofia do 10º ano de escolaridade, turma A (Outubro de 2016)

Eis um teste de filosofia do 10º ano que explora a rubrica «Os grandes temas da filosofia».

 

Agrupamento de Escolas nº1 de Beja

Escola Secundária Diogo de Gouveia, Beja

TESTE DE FILOSOFIA, 10º ANO TURMA A

 

20 de Outubro de 2016. Professor: Francisco Queiroz

I

“Poderá classificar-se a teoria de Platão como um dogmatismo crítico, de teor metafísico e ético. O modo de pensar e viver dos filósofos-reis, na Polis ideal de Platão, opunha-se, pelo menos aparentemente, ao ceticismo, pragmatismo e ao subjetivismo propagado pelos sofistas.”

 

1)Explique, concretamente este texto.

 

2)Relacione, justificando

A) Yang, Yin e Tao no taoísmo

B) Mundo do Mesmo ou Inteligível, Mundo do Semelhante e demiurgo em Platão.

C) Unidade da essência e multiplicidade das aparências empíricas nas teorias cosmológicas de Heráclito de Éfeso e Anaxágoras.

D).Ascese em Platão e as teses de que «filosofar é aprender a morrer» e «o corpo é o cárcere da alma.

 

 

1) Dogmatismo crítico é toda a teoria que assenta em certezas construídas com a ajuda de dúvidas, do ceticismo, uma teoria que exigiu reflexões profundas. As teorias científicas em geral são dogmatismos críticos: afirmar que o número atómico do hidrogénio é 1 e o do oxigénio 8 exigiu experiências e cálculos matemáticos, são dogmas que passaram o crivo da crítica. O dogmatismo de Platão é metafísico, trata do invisível e inaudível, na medida em que postula que há um mundo de modelos perfeitos, imóveis e eternos (Bem, Belo, Justo, Sábio, Cubo, Esfera, Homem, Mulher, etc) acima do céu visível. É crítico porque sustenta teses que exigem muita reflexão como, por exemplo, «o tempo é a imagem móvel da eternidade», «conhecer é recordar». É ético porque fala dos modelos eternos do Bem e do Justo. (VALE QUATRO VALORES). Os filósofos-reis ou arcontes, na pólis de Platão, eram homens e mulheres, dotados de alta virtude intelectual e moral, que faziam as leis e governavam a cidade. Não podiam ter prata nem ouro nem privilegiarem os seus filhos, por isso viviam em comum e faziam troca de casais, de modo a não saber quem era o pai de cada criança. Ao inspirarem-se nos arquétipos do Mundo Inteligível rejeitavam o ceticismo, doutrina  que duvida de tudo, incluindo o mundo dos Arquétipos, o pragmatismo, doutrina que diz que a verdade se limita ao mundo empírico e prático, devendo pôr-se de parte os princípios metafísicos mais ou menos impossíveis de serem postos em prática e o subjectivismo, doutrina que afirma que a verdade não é objetiva, varia de pessoa a pessoa. Estas doutrinas eram comuns entre os sofistas, filósofos do período antropológico da Grécia antiga, em regra professores, advogados, juristas e políticos que ensinavam retórica e cobravam dinheiro (VALE QUATRO VALORES).

 

2) A) O Tao é a mãe do universo, algo de obscuro e silencioso que circula por toda a parte e é o modelo do céu e divide-se em duas ondas formando uma sinusoidal: o Yang (alto, calor, dilatação, verão, som, sol, vermelho, movimento, exterior) e o Yin (baixo, frio, contração, inverno, silêncio, lua, azul, imobilidade, interior). A sucessão dos dias e das noites, do trabalho e do repouso, das sementeiras e colheitas, representa o ritmo yang-yin, faz parte do Tao do universo. (VALE TRÊS VALORES).

 

2) B) Mundo Inteligível (kosmos noéthos) é o mundo dos Arquétipos ou modelos eternos de Bem, Belo, Justo, Sábio, Números, Homem, Mulher, etc, acima do céu visível. É incriado. Mundo do Semelhante (kosmos homóios) é o mundo do céu visível, do tempo e das operações matemáticas, composto pelo Sol e astros incorruptíveis em movimento. O demiurgo é o deus operário que fez o Mundo do Semelhante e o mundo do Outro ou Sensível, este último feito de corpos físicos corruptíveis (pedras, árvores, rios, planícies, animais, etc) tomando como modelo os arquétipos de Astro, Árvore, Montanha, Rio, etc. (VALE TRÊS VALORES)

 

2)C) Na teoria de Heráclito, há uma essência una (unidade da essência) em todas as coisas: o fogo. As árvores, as pedras, os animais, a terra, etc.,- ou seja as múltiplas aparências empíricas, as coisas que vemos e tocamos - são fogo condensado, arrefecido, às vezes liquidificado ou sublimado. Na teoria de Anaxágoras, um mesmo objecto visível, macroscópico - exemplo uma cenoura- é composto de milhares de princípios ou formas minúsculas da mesma natureza,chamados princípios homeoméricos, - a cenoura é composta de milhares de pequeníssimas cenouras invisíveis. Um mesmo princípio homemomérico - a essência fígado humano, por exemplo - pode estar presente microscopicamento na multiplicidade das cenouras, e das beringelas, que são aparências empíricas ou objectos visíveis que, ingeridas, fortalecem o fígado humano.(VALE TRÊS VALORES)

 

2) D) A ascese é a ascensão da parte superior da alma humana, o Nous, ao Mundo Inteligível, enquanto está ligada ao corpo humano vivo.  Há vários métodos de ascese: filosofia, porque esta nos ensina a morrer para os bens materiais e a fama («Que importa passares a vida a acumular ouro se ao morrer deixas tudo? Pensa, filosofa sobre a rapidez da vida»); matemática, porque se baseia na contemplação dos Arquétipos de Números Um, Dois, Três, Quatro Cinco, etc, e de Cubo, Esfera, Cone, etc; música, na medida em que nos eleva espiritualmente, não se trata de qualquer tipo de música; ginástica, em particular o ioga; jejum, na medida em que domina a gula e outras paixões do corpo. (TRÊS VALORES)

 

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Sábado, 19 de Março de 2016
Teste de Filosofia do 10º ano, turma A (Março de 2016)

 

Eis um teste de filosofia fora do estereótipo dos testes que os autores dos manuais escolares da Porto Editora, Leya, Santillana, Areal Editores, etc, divulgam. E sem questões de escolha múltipla que, frequentemente, são incorrectamente concebidas por quem não domína o método dialético e desliza para a horizontalidade da filosofia analítica vulgar.

 

 

Agrupamento de Escolas nº1 de Beja

Escola Secundária Diogo de Gouveia, Beja

TESTE DE FILOSOFIA, 10º ANO TURMA A

3 de Março de 2016. Professor: Francisco Queiroz.

 I

  “A lei do salto de qualidade está presente na passagem da percepção empírica ao respectivo conceito empírico. O mítico Adão Kadmon possui na essência a luta entre Yang e Yin. O totaliratismo, de direita ou de esquerda, parece coadunar-se com a moral utilitarista de Stuart Mill, num certo aspeto, e com o imperativo categórico de Kant, sob outro aspeto.”

 

1) Explique, concretamente este texto.

 

2)Escolha e caracterize (qualidade, número, cor, planeta) cada uma de cinco esferas da árvore dos Sefirós e distribua-as segundo a lei da contradição principal, enunciando esta.

 

3) Construa um diálogo sobre a propriedade e a gestão das empresas e sobre a democracia parlamentar entre um anarquista, um comunista leninista, um socialista democrático, um liberal, um conservador e um fascista.

 

4) Relacione, justificando:

A) Temura, Gematria e Metafísica.

B) Realismo natural realismo crítico e idealismo.

C)  Pragmatismo e cepticismo.

 

CORREÇÃO DO TESTE COTADO PARA 20 VALORES

 

1) A lei do salto qualitativo postula que a acumulação lenta e gradual em quantidade de um dado aspecto de um fenómeno leva a um salto brusco ou nítido de qualidade nesse fenómeno. Acumulando percepções empíricas similares (ver um cavalo baio, ver um cavalo branco, ver um cavalo negro) chega-se a um salto qualitativo que é a formação da ideia ou conceito empírico de cavalo no intelecto  (VALE DOIS VALORES). O Adão Kadmon, mítico antepassado da humanidade, era andrógino, a sua metade direita era masculina e a metade esquerda feminina, por isso a sua essência é uma  luta entre Yang (fogo, luz, expansão, masculino, alto, crescimento) e Yin (água, escuridão, contração, feminino, baixo, diminuição)  (VALE DOIS VALORES). O totalitarismo, de direita (caso da ditaduras de Hitler e Mussolini) ou de esquerda (ditadura de Estaline ou de Kim Il Sung na Coreia do Norte) é todo o regime que suprime a autogestão e a democracia parlamentar, regime de liberdade de imprensa, greve, religião, associação política e sindical e impõe uma ditadura brutal de partido único, e não se coaduna com a filosofia da Stuart Mill porque este defendia que se deve agir visando proporcionar a felicidade à maioria das pessoas e a democracia é um regime de maiorias, em princípio, ao passo que o totalitarismo favorece a felicidade da elite ditatorial, uma minoria opressora da maioria. Também não se coaduna com o imperativo categórico de Kant porque este diz «Age de modo a considerares cada pessoa como um fim em si e não um meio» e o totalitarismo não respeita a individualidade de cada  um, não deixa falar e votar livremente(VALE TRÊS VALORES).

 

2) A lei da contradição principal diz que um sistema de múltiplas contradições pode ser reduzido a uma só, organizando-as em dois blocos, podendo haver uma ou outra contradição na zona neutra. Ora ao contemplarmos a árvore das 10 sefirós da Cabala podemos agrupar duas esferas do pilar direito - Chesed (Misericórdia, Júpiter, cor azul e número 4) e Netzac ( Vitória-Emoção, Vénus, cor verde e número 7) num bloco oposto a duas esferas do pilar esquerdo- Gueburah (Justiça, Marte, cor vermelha, número 5) e Hod (Intelecto, Mercúrio, cor laranja e número 8), ficando Thiphetet (Sol) na zona neutra, fora de ambos os blocos. (VALE TRÊS VALORES).

 

3) Anarquista: «A propriedade das fábricas e de todas as empresas deve ser dos trabalhadores. Instituímos a autogestão, isto é, a assembleia geral de todos os operários, engenheiros e contabilistas toma decisões sobre salários, investimentos, vendas, etc. O patrão desaparece e desaparece o Estado de democracia parlamentar que não é mais que ditadura disfarçada dos capitalistas.»

Comunista: «A propriedade de todas ou quase todas as fábricas deve ser do Estado, dirigido por um partido marxista-leninista, que impedirá os patrões de extorquirem a mais valia à classe operária. A democracia burguesa que actualmente apoiamos, concorrendo às eleições e usando as liberdades, deve ser substituída pela ditadura do proletariado onde não há eleições livres nem imprensa livre como no capitalismo liberal».

 

Socialista democrático/ social-democrata: «A propriedade da grande maioria das empresas deve ser privada, isto é, estar na mão dos patrões que, em certos casos, devem aceitar a cogestão. Mas há empresas de sectores fundamentais - siderurgia, electricidade, televisão, etc - que devem estar na mão do Estado democrático. Este deve impor impostos progressivos aos capitalistas de modo a ter serviço nacional de saúde e escolaridade pública gratuita até ao final do curso universitário. Defendo a democracia parlamentar».

 

Liberal: «A propriedade das empresas deve ser privada pois os empresários são os criadores de emprego os motores primeiros da economia. Os subsídios de desemprego e o rendimento social de inserção deviam acabar ou ser reduzidos para estimular o mercado de trabalho. Defendo as privatizações, democracia parlamentar, a liberdade de imprensa, o capitalismo puro e duro.»

 

Conservador: «A propriedade das empresas deve ser privada pois os empresários são os criadores de emprego os motores primeiros da economia. Os subsídios de desemprego e o rendimento social de inserção deviam acabar ou ser reduzidos para estimular o mercado de trabalho. Defendo as privatizações, a democracia parlamentar, a liberdade de imprensa. Mas a democracia não deve permitir o aborto livre, o casamento de gays e lésbicas, a eutanásia: deve ser guiada por bons princípios religiosos, cristãos.»

 

Fascista: «As empresas devem ser de patrões nacionais e do Estado fascista e corporativo que, através da polícia política e da censura à imprensa impedirá a luta de classes, o sindicalismo livre, a imoralidade sexual. Não deve haver democracia parlamentar mas ditadura nacionalista que expulse a generalidade dos imigrantes e tenha por princípios «Deus, pátria, família» como princípios fundamentais». (VALE QUATRO VALORES).

 

4-A) A temura é a disciplina ou método da Kaballah (ensinamento secreto de itelectuais judeus) que estabelece correspondências de ideias entre palavras diferentes alterando a posição das letras e por vezes substituindo uma ou outra dessas letras ou abolindo-a. Exemplo: ROMA equivale a AMOR; BEJA equivale a IAVE porque se transforma em JABE e depois em IABE. A gematria é a disciplina da Kaballah que estabelece a correspondência entre cada letra e um número (exemplo: A=1, B=2, C=3, D=4, E=5, F=6, G=7, H=8, I,J,Y=9, K=10, L=20, M=30, N, ~ =40) de modo a obter o número que traduz a essência de cada palavra. BEJA (B=2, E=5, J=9 e A=1) vale 2+5+9+1=17, isto é DEZASSETE. Ambas estas disciplinas, temura e gematria, são metafísicas na medida em que ultrapassam a ciência experimental e trabalham com teses especulativas, de uma racionalidade holística discutível, a raiar a mística.(VALE UM VALOR)

             

2-B)- O realismo natural é a teoria segundo a qual a matéria é real e exterior às nossas mentes e estas espelham-na como ela é (exemplo: a erva é verde, o céu é azul). Realismo crítico é a teoria segundo a qual a matéria é real e exterior às nossas mentes mas estas não espelham como ela é. O realismo crítico de Descartes é a teoria qiue sustenta que há um mundo real de matéria exterior às mentes humanas composto de uma matéria indeterminada, sem peso nem dureza/moleza, apenas formado de figuras geométricas, movimento, números (qualidades primárias, objetivas), sendo subjectivas, isto é exclusivamente mentais, as cores, os cheiros, os sabores, as sensações do tacto, o calor e frio (qualidades secundárias, subjectivas).  O idealismo é a corrente que afirma que o universo material não é real em si mesmo mas está dentro da nossa mente, como imagens e ideias.  (VALE TRÊS VALORES)

 

2.C) Pragmatismo é a teoria que diz que devemos lidar, de forma útil, com os factos empíricos palpáveis e devemos pôr de parte a metafísica, os grandes princípios morais ou políticos inaplicáveis de momento. O cepticismo é a corrente que põe tudo ou uma parte das coisas em dúvida e é usado pelo pragmatismo. (VALE DOIS VALORES)

 

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Teste de Filosofia do 10º ano, turma B (Março de 2016)

 

Eis um teste de filosofia fora do estereótipo dos testes que os autores dos manuais escolares da Porto Editora, Leya, Santillana, Areal Editores, etc, divulgam. E sem questões de escolha múltipla que, frequentemente, são incorrectamente concebidas por quem não domína o método dialético e desliza para a horizontalidade da filosofia analítica vulgar.

 

 

Agrupamento de Escolas nº1 de Beja

Escola Secundária Diogo de Gouveia, Beja

TESTE DE FILOSOFIA, 10º ANO TURMA B

3 de Março de 2016. Professor: Francisco Queiroz.

 I

  “A lei do salto de qualidade está presente no comportamento do mítico Adão Kadmon. A luta entre Yang e Yin exprime, a cada momento, a lei dos dois aspetos da contradição. A democracia parlamentar parece coadunar-se com a moral utilitarista de Stuart Mill, num certo aspeto, e com o imperativo categórico de Kant, sob outro aspeto.”

1) Explique, concretamente este texto.

 

2)Escolha e caracterize (qualidade, número, cor, planeta) cada uma de cinco esferas da árvore dos Sefirós e distribua-as segundo a lei da contradição principal, enunciando esta

 

3) Construa um diálogo sobre a propriedade e a gestão das empresas e sobre a democracia parlamentar entre um anarquista, um comunista leninista, um socialista democrático, um liberal, um conservador e um fascista.

 

 

4) Relacione, justificando

A) Valores ético-políticos de esquerda e valores ético-políticos de direita.

B)  Sensação, percepção empírica, conceito empírico e intuição inteligível.

C)Pragmatismo, cepticismo e metafísica

 

CORREÇÃO DO TESTE COTADO PARA 20 VALORES

 

1) A lei do salto qualitativo postula que a acumulação lenta e gradual em quantidade de um dado aspecto de um fenómeno leva a um salto brusco ou nítido de qualidade nesse fenómeno. Adão Kadmon, metade homem e metade mulher (Sofia, a sua parte espiritual), vivia no Paraíso e pouco a pouco (acumulação quantitativa) deixou-se seduzir pelos apelos de Lúcifer, o anjo proscrito nos Infernos, e saíu do Paraíso (salto qualitativo), perdendo Sofia, a sua esposa espiritual e ficando com um corpo material. (VALE DOIS VALORES). A luta entre Yang (fogo, luz, expansão, masculino, alto, crescimento) e Yin (água, escuridão, contração, feminino, baixo, diminuição) exprime a lei que diz que numa contradição há dois aspectos em regra  desigualmente desenvolvidos, o dominante e o dominado, que trocam de posição (exemplo: de dia o Yang domina sobre o Yin e de noite o Yin prevalece sobre o Yang) (VALE DOIS VALORES). A democracia parlamentar é o regime de liberdade de imprensa, greve, religião, associação política e sindical em que o governo do país é escolhido por um parlamento nacional eleito por sufrágio livre e universal e coaduna-se com a filosofia da Stuart Mill porque este defende que se deve agir em função de proporcionar a felicidade à maioria das pessoas e a democracia é um regime de maiorias, em princípio. Também se coaduna com o imperativo categórico de Kant porque este diz «Age de modo a considerares cada pessoa como um fim em si e não um meio» e a democracia parlamentar dá a todos os cidadãos, encarados como fins em si, o direito de votar escolhendo os governantes e a política estatal. (VALE TRÊS VALORES)

 

2) A lei da contradição principal diz que um sistema de múltiplas contradições pode ser reduzido a uma só, organizando-as em dois blocos. Ora ao contemplarmos a árvore das 10 sefirós da Cabala podemos agrupar duas esferas do pilar direito - Chesed (Misericórdia, Júpiter, cor azul e número 4) e Netzac ( Vitória-Emoção, Vénus, cor verde e número 7) num bloco oposto a duas esferas do pilar esquerdo- Gueburah (Justiça, Marte, cor vermelha, número 5) e Hod (Intelecto, Mercúrio, cor laranja e número 8), ficando Thiphetet (Sol) na zona neutra, fora de ambos os blocos. (VALE TRÊS VALORES)

 

3) Anarquista: «A propriedade das fábricas e de todas as empresas deve ser dos trabalhadores. Instituímos a autogestão, isto é, a assembleia geral de todos os operários, engenheiros e contabilistas toma decisões sobre salários, investimentos, vendas, etc. O patrão desaparece e desaparece o Estado de democracia parlamentar que não é mais que ditadura disfarçada dos capitalistas.»

Comunista: «A propriedade de todas ou quase todas as fábricas deve ser do Estado, dirigido por um partido marxista-leninista, que impedirá os patrões de extorquirem a mais valia à classe operária. A democracia burguesa, que actualmente apoiamos, concorrendo às eleições e usando as liberdades de greve e manifestação de rua, deve ser substituída pela ditadura do proletariado onde não há eleições livres nem imprensa livre como no capitalismo liberal».

 

Socialista democrático/ social-democrata: «A propriedade da grande maioria das empresas deve ser privada, isto é, estar na mão dos patrões que, em certos casos, devem aceitar a cogestão. Mas há empresas de sectores fundamentais - siderurgia, electricidade, televisão, etc - que devem estar na mão do Estado democrático. Este deve impor impostos progressivos aos capitalistas de modo a ter serviço nacional de saúde e escolaridade pública gratuita até ao final do curso universitário. Defendemos a democracia parlamentar e o Estado social».

 

Liberal: «A propriedade das empresas deve ser privada pois os empresários são os criadores de emprego os motores primeiros da economia. Os subsídios de desemprego e o rendimento social de inserção deviam acabar ou ser reduzidos para estimular o mercado de trabalho. Defendo as privatizações, democracia parlamentar, a liberdade de imprensa, o capitalismo puro e duro.»

 

Conservador: «A propriedade das empresas deve ser privada pois os empresários são os criadores de emprego os motores primeiros da economia. Os subsídios de desemprego e o rendimento social de inserção deviam acabar ou ser reduzidos para estimular o mercado de trabalho. Defendo as privatizações, a democracia parlamentar, a liberdade de imprensa. Mas a democracia não deve permitir o aborto livre, o casamento de gays e lésbicas, a eutanásia: deve ser guiada por bons princípios religiosos, cristãos.»

Fascista: «As empresas devem ser de patrões nacionais e do Estado fascista e corporativo que, através da polícia política e da censura à imprensa impedirá a luta de classes, o sindicalismo livre, a imoralidade sexual. Não deve haver democracia parlamentar mas ditadura nacionalista que expulse a generalidade dos imigrantes e tenha por princípios «Deus, pátria, família» como princípios fundamentais». (VALE QUATRO VALORES).

4-A) Os valores políticos de esquerda são: o predomínio do interesse público sobre o privado, o fortalecimento dos sindicatos e do poder da classe operária e das classes médias, havendo ou não a supressão dos patrões privados enquanto classe social, o ateísmo, o agnosticismo e a dissidência religiosa, a defesa da democracia parlamentar contra o fascismo. Os valores políticos da direita são: o predomínio do interesse privado sobre o interesse público, o fortalecimento do poder dos empresários, com aumento das privatizações e da liberdade de despedir empregados, o combate ao comunismo e ao anarquismo, a defesa da igreja católica ou de igrejas protestantes e de valores religiosos e tradicionais, a manutenção ou não (neste último caso: a extrema direita fascista) da democracia parlamentar. (VALE UM VALOR).

 

4-B) A percepção empírica é a captação visual, auditiva, táctil, olfativa daquilo que está diante de nós (a visão da árvore e da planície onde estou agora, a audição do canto dos pássaros, etc). A sensação é um fragmento da percepção empírica. Exemplo: a cor verde da erva, o som do pássaro. O conceito empírico é a ideia de uma coisa ou classe de coisas obtida por abstração de percepções empíricas similares. Exemplo: «Vi cem planícies alentejanas semelhantes a esta, fecho os olhos e tenho o conceito-imagem de planície alentejana». Intuição inteligível é a captação intelectual e a-racional de algo metafísico. Exemplo: «Sinto que há Deus ou deuses». (VALE TRÊS VALORES).

 

4-C) Pragmatismo é a teoria que diz que devemos lidar, de forma útil, com os factos empíricos palpáveis e devemos pôr de parte a metafísica, os grandes princípios morais ou políticos inaplicáveis de momento. O cepticismo é a corrente que põe tudo ou uma parte das coisas em dúvida e é usado pelo pragmatismo. (VALE DOIS VALORES).

 

                  

 

 

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Sexta-feira, 19 de Fevereiro de 2016
Equívocos de Mario Bunge na classificação das teorias físicas

 

Mario Bunge estabelece quatro tipo de teorias físicas:

 

«1. A teoria realista: uma teoria física trata de sistemas físicos, isto é, diz respeito a entidades e eventos que indubitavelmente têm uma existência autónoma (realismo ingénuo) ou que supostamente (talvez erradamente, em alguns casos) têm uma existência autónoma (realismo crítico). » (...)

 

2, A tese subjectivista; uma teoria física trata de sensações (sensismo) ou também de ideias (idealismo subjectivo) de qualquer sujeito empenhado em actos cognitivos.» (...)

 

3. A tese estrita de Copenhague: uma teoria física ou, de qualquer modo, a teoria quântica trata de blocos sujeito-objecto inanalisáveis. Não pode ser estabelecida nenhuma distinção absoluta

 

4. A tese dualista: uma teoria física trata de objectos físicos e de actores humanos: diz respeito às transações dos humanos com o seu ambiente (pragmatismo) ou ao modo como os humanos manejam sistemas quando tentam conhecê-los (operacionismo). »

 

(Mario Bunge, Filosofia da Física, Edições 70, pág 67)

 

Há certo mérito nesta distinção. Mas há erros: realismo não se opõe a subjectivismo mas sim a idealismo/ irrealismo e a fenomenologia (esta última incarnada na chamada teoria de Copenhague); não há, em princípio, distinção ontológica entre realismo e dualismo, ao contrário do que Bunge estabelece, porque o realismo, a partir do momento em que existe humanidade cognoscente, é um dualismo (a nossa mente, do lado de cá, o mundo físico do lado de lá). 

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Quinta-feira, 6 de Agosto de 2015
Confusões de Pedro Galvão sobre Hedonismo, Contratualismo e Consequencialismo

 

 

 No seu artigo «Será o Contratualismo reconciliável com o Consequencialismo?» no compêndio de Filosofia Analítica em linha, Pedro Galvão comete alguns paralogismos na compreensão e relacionação de teorias. Para escrever um bom artigo nesta matéria , Galvão deveria definir à partida, com clareza, o que entende por contratualismo, consequencialismo e hedonismo. Não o faz, o que lhe permite, à semelhança de quase todos os teóricos da filosofia analítica, pescar em águas turvas, isto é, produzir conceitos e raciocínios eivados de ambiguidade que dão a aparência de estarmos perante um grande intelectual - e não de um tipo confuso, especialista em retórica.

 

SÓ ALGUNS CONSEQUENCIALISTAS SÃO HEDONISTAS, OU SÃO QUASE TODOS? A SATISFAÇÃO DOS DESEJOS E A COMPENSAÇÃO PELO MÉRITO NÃO SE INCLUEM NO HEDONISMO?

 

 

Escreve Pedro Galvão :

«Alguns consequencialistas são hedonistas. Pensam que só o prazer é intrínseca e fundamentalmente bom, e que só o sofrimento é intrínseca e fundamentalmente mau. Para estes consequencialistas, dados quaisquer dois estados de coisas alternativos, o melhor será sempre aquele em que houver mais prazer, descontado o sofrimento.
O hedonismo é seguramente uma perspectiva muito controversa e bastante impopular nos tempos que correm. Muitos consequencialistas — a maioria, na verdade — recusar-se-iam a seriar estados de coisas unicamente segundo o critério do «saldo hedónico». Defenderiam que outros critérios — por exemplo, o exercício da autonomia, a satisfação de desejos, a compensação pelo mérito, a igualdade na distribuição do bem-estar ou a integridade dos ecossistemas — são importantes para efectuar as seriações. »

(Pedro Galvão, , «Será o Contratualismo reconciliável com o Consequencialismo?»  in Compêndio em Linha de Problemas de Filosofia Analítica, de João Branquinho e Ricardo Santos, pag 627, texto transcrito do Compêndio em 3 de Agosto de 2015; o destaque a negrito é posto por mim).

 

Pedro Galvão comete no texto acima alguns erros teóricos. O primeiro deles é considerar que só alguns consequencialistas são hedonistas . o que significa: «só uma minoria dos consequencialistas se insere no hedonismo». O que é o consequencialismo? É um termo inventado pela filosofia analítica para substituir o termo pragmatismo, isto é, a filosofia que postula que, mais importante que os princípios teóricos, são os resultados práticos, os frutos da acção, as consequências do esforço. O que é o hedonismo? É a filosofia que identifica o prazer (hedoné, em grego) com o bem e a dor com o mal e preconiza que as acções do homem se devem orientar pela busca do prazer.  Por conseguinte, a grande maioria dos pragmáticos ou consequencialistas são hedonistas e não só alguns.

 

O segundo erro de Pedro Galvão é considerar que «o exercício da autonomia, a satisfação de desejos, a compensação pelo mérito, a igualdade na distribuição do bem-estar» não fazem parte do hedonismo, são critérios de seriação exteriores e, de certo modo, opostos ao hedonismo. Então o exercício da autonomia ( «Sou livre de escolher e agir») não confere prazer (hedonismo)? E a satisfação dos desejos (exemplos: «Comprei o automóvel que desejava, arranjei a casa de férias ideal») não é hedonismo? E a compensação pelo mérito (exemplo: «Vou promover a pessoa X na minha empresa visto que os méritos do seu trabalho são relevantes») é um critério exterior ao hedonismo? Que entende Galvão por hedonismo? O simples prazer imediato de comer chocolate ou caviar, beber cerveja alemã, sentir o vento no rosto quando se anda de moto a 120 quilómetros hora e pouco mais que isto? Galvão não possui precisão na conceptualização de hedonismo.

 

O CONTRATUALISMO NÃO RECONHECE ESTATUTO ÉTICO AOS ANIMAIS?

 

 

Galvão distingue entre o contratualismo de Rawls (Baltimore, 21 de Fevereiro de 1921- Lexington, 24 de Novembro de 2002) e o contratualismo de Thomas Scanlon (28 de Junho de 1940, catedrático na universidade de Berkeley) e escreve:

«Em suma, ao passo que os agentes rawlsianos serão indiferentes aos interesses dos animais, os agentes scanlonianos, ainda que possam importar-se com esses interesses, não poderão apelar à sua preocupação para rejeitar um código moral que os ignore. Num enquadramento contratualista, a perspectiva de que os animais têm estatuto moral não encontra o menor apoio. À luz de qualquer versão defensável de contratualismo, como Carruthers (1992: 107-108, 159-160) sublinha, não há razões para reprovar práticas como a criação intensiva de animais ou o seu uso em laboratórios, mesmo para fins triviais.»

(Pedro Galvão, , «Será o Contratualismo reconciliável com o Consequencialismo?»  in Compêndio em Linha de Problemas de Filosofia Analítica, de João Branquinho e Ricardo Santos, pag 631, texto transcrito do Compêndio em 3 de Agosto de 2015;o destaque a negrito é posto por mim). 

 

Dizer, como Galvão diz, que o contratualismo, seja em que versão for, é incapaz de reconhecer estatuto moral aos animais e portanto, de os defender convenientemente, é um erro crasso. Porque contratualismo - doutrina segundo a qual a verdade ou o critério da acção repousa num contrato entre seres humanos - é  um conceito sociológico e animalismo - doutrina segundo a qual os animais «irracionais» têm direitos iguais ou mesmo superiores aos seres humanos - é um conceito ético-ideológico. Trata-se de espécies de géneros diferentes, que não se opõem de forma excluente entre si e que podem coexistir na mesma pessoa ou na mesma corrente de pensamento. Os budistas,são, em regra, contratualistas - contratualizam, por exemplo, venerar as estátuas de Buda e não implementar matadouros - e animalistas, defensores de que não se deve matar animais nem comer a sua carne.

 

Em resumo: há consequencialistas (pragmáticos) que são contratualistas e há consequencialistas que não o são, e estes últimos são os egoístas individualistas, grande parte dos anarquistas, etc. E em ambas as sensibilidades «consequencialistas» há quem defenda os direitos dos animais (animalismo ético)  e há quem não defenda estes (especismo antropocêntrico ou teoria que postula o direito de o homem matar, comer, prender ou maltratar animais «irracionais»). Há, pois, vários géneros que se intersectam e combinam entre si: consequencialismo/pragmatismo, contratualismo, animalismo ético

 

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Quarta-feira, 11 de Fevereiro de 2015
Teste de filosofia do 10º B (Fevereiro de 2015)

 

Os temas de alquimia incluídos neste texto conexionam-se com a visita de estudo a Sevilha que o liceu de Beja (ESDG) realiza anualmente. Nenhum manual do 10º ano de filosofia do ensino secundário em Portugal inclui textos sobre alquimia, filosofia hermética, astrologia - temas obrigatórios para quem queira pensar a sério filosofia -  o que diz da qualidade bastante medíocre desses manuais. E diz do clima de monolitismo cinzento e da estreiteza de horizontes impostos pelos catedráticos de filosofia analítica e fenomenologia que dominam a universidade e a construção de manuais escolares do 10º e 11º ano. Vive-se um clima de censura na universidade portuguesa e mundial, pretensamente racionalista, comparável à censura da inquisição: é proibido, dentro das universidades, pensar e investigar os astros como causa dos acontecimentos sociais e políticos!

 

A maioria dos actuais professores universitários são incompetentes, anti filosóficos. A universidade está infiltrada de doutorados que são alunos «marrões» que fizeram «copy paste» de trabalhos dos «mestres», fizeram o «beija-mão», pagaram milhares em propinas e foram cooptados. Os doutoramentos em filosofia enfermam de erros graves, em regra, e superabundam em verniz retórico. É um show-off. Vamos ao nosso teste que, certamente, ensina algo a muitos desses ignorantes donos de cátedras e autores ou co-autores de manuais escolares, agentes da burguesia inculta e endinheirada que domina o Estado e o sistema de ensino.

 

Agrupamento de Escolas nº1 de Beja
Escola Secundária Diogo de Gouveia, Beja
TESTE DE FILOSOFIA, 10º ANO TURMA B
9 de Fevereiro de 2015. Professor: Francisco Queiroz

 

"Os alquimistas falavam em dois princípios originais da matéria e da Grande Obra, aos quais se aplicam as noções de Yang e de Yin. O templo cristão na idade média foi construído segundo o princípio das correspondências microcosmo-macrocosmo, que exprime a lei dialética do uno. Alguns dizem que isto é puro subjectivismo, outros são cépticos sobre a gnose e preferem o pragmatismo pois detestam os factos metafísicos.”

 

1) Explique, concretamente este texto.

2) Relacione, justificando:

A) As quatro fases do processo alquímico e respectivas aves- símbolos, por um lado, e os quatro arkês segundo Pitágoras de Samos, por outro lado.

B) O imperativo categórico em Kant e o princípio moral do utilitarismo de Stuart Mill.

3) Enuncie a lei dialética da contradição principal e aplique-a a três ou quatro esferas (sefirós) da Árvore da Vida da Cabala judaica. 

 

 

CORRECÇÃO DO TESTE ESCRITO (COTADO PARA 20 VALORES)

1) Os dois princípios de que os alquimistas falavam são o princípio masculino, representado pelo enxofre e pelo salitre, sólidos, designado de «homem vermelho» e o princípio feminino, o mercúrio filosófico, líquido e volátil, designado de «mulher branca». No taoísmo, yang significa princípio masculino, dilatação, calor, verão, vermelho, som e yin significa princípio feminino, contração, inverno, azul ou branco, silêncio. Embora o yang corresponda de modo geral ao enxofre e o yin ao mercúrio, a correspondência não é perfeita porque no taoísmo o sólido é o feminino e na alquimia o sólido é o masculino. (VALE TRÊS VALORES) O templo cristão da idade média obedecia ao princípio hermético das correspondências «o que está em baixo é como o que está em cima, o microcosmo espelha o macrocosmo»: o templo é um microcosmo que espelha o macrocosmo, o corpo gigantesco de Cristo que atravessa o universo. Na planta da catedral, a  abside corresponde à cabeça de Cristo, o transepto aos braços abertos, o altar ao coração, as naves ao tronco e pernas. A catedral tinha a abside virada a Leste, onde nasce o Sol, símbolo de Cristo. A lei do uno diz que tudo se relaciona: Cristo com o Sol e com o templo em pedra, por exemplo. Outra expressão deste princípio é a correspondência entre a catedral e a natureza física envolvente: o altar equivale à montanha sagrada, as colunas às árvores, as abóbadas ao céu, as janelas de vitrais às estrelas e planetas, as paredes aos desfiladeiros, a pia baptismal aos lagos e mares (VALE  TRÊS VALORES). Alguns dizem que isto é puro subjectivismo, isto é, verdade para uma só consciência - portanto discutível, aparentemente ilusão - outros são cépticos, isto é, duvidam da gnose, doutrina dualista que diz que há dois princípios na origem do universo, o Bem e o Mal, a Luz e as Trevas, o Espírito e a Matéria, e preferem o pragmatismo, ou seja, a doutrina que diz que a verdade está nos factos empíricos reais e na sua utilidade e que põe de parte a metafísica, os ideais utópicos, pois detestam os factos metafísicos, que estão além do mundo empírico quotidiano como «deus», «paraíso e inferno», «reencarnação da alma», etc (VALE TRÊS VALORES).

 

 A) As quatro fases do processo alquímico e respectivas correspondências com a teoria de Pitágoras - esta é uma interpretação entre outras - são:

1ªNIGREDO ou fase negra, da putefração do cadáver. A ave é o corvo. Pode equiparar-se ao ponto que em Pitágoras representava o número um (Do vazio veio um ponto).

2ªALBEDO ou fase branca, da separação das impurezas.A ave é o cisne. Pode equiparar-se, na teoria de Pitágoras, à linha recta que representa o número dois e se forma da separação em dois do ponto, pontos que se vão afastando.

 

3ªCITREDO ou fase amarela e polícroma. A ave é o pavão. Pode equiparar-se ao plano, número três, segundo Pitágoras, que se formou quando um ponto se destaca da recta e se projecta sobre ela através de infinitas rectas. É esta multiplicidade de cores, onde existe Sol e Lua, que irá originar o lapis da última fase.

 RUBEDO ou fase vermelha na qual se produz o lapis ou elixir da longa vida ou pedra filosofal que permite ao homem regressar ao estado adâmico, adquirir um corpo andrógino desmaterializado, que atravessaria as pedras e a matéria densa e viveria no Paraíso Terrestre. A ave é o pelicano ou a fénix. Pode equiparar-se, na teoria de Pitágoras, ao tetraedro ou pirâmide de três lados, porque este sólido é o mais completo dos arkhês. 

(VALE QUATRO VALORES)

 

B) O imperativo categórico é a verdadeira lei moral em Kant, é formado na razão ou eu numénico, que se opõe aos instintos corporais e ao eu fenoménico ou inferior. Enuncia-se assim: «Age de modo a transformares a tua máxima em princípio universal, como se fosse uma lei universal da natureza que não beneficia em particular ninguém, nem sequer a ti mesmo». Este imperativo é formal e autónomo, varia de pessoa a pessoa no seu conteúdo concreto. Para uns, o imperativo é dar sempre esmola aos pedintes, para outros é nunca dar esmola nem aceitar esmolas.

O princípio moral de Stuart Mill é o da maximização social do prazer: é bem promover a felicidade da maioria dos envolvidos numa situação, mesmo à custa da infelicidade da maioria ou do próprio autor da acção.

Teoricamente,  é imoral, na doutrina de Kant, expropriar 20 famílias que vivem em casas de um bairro que a câmara municipal da cidade quer destruir para aí fazer uma circular rodoviária exterior para satisfazer 20 000 famílias que vivem nessa cidade porque cada pessoa é um fim em si mesma e deve-se aplicar a todas a mesma lei respeitando a sua dignidade. Mas, segundo a ética de Stuart Mill seria legítimo destruir esse bairro porque a felicidade da maioria (20 000 famílias) se sobrepõe à felicidade da minoria (20 famílias). Ainda que se classifique habitualmente a moral de Kant como «deontológica», centrada no dever («déon»), e a de Mill como «teleológica» («télos» é finalidade. em grego), centrada nos resultados da acção, a verdade é que esta última é igualmente «deontológica» porque para Mill os fins não justificam qualquer meio, há princípios morais a respeitar. (VALE QUATRO VALORES).

 

C) A lei dialética da contradição principal consiste em reduzir um conjunto de contradições a uma só composta por dois blocos, passando a ser secundárias entre si todas as contradições no interior de cada um dos blocos ou polos. Exemplo: na 2ª Guerra Mundial, a URSS aliou-se à Inglaterra, aos EUA, ao Canadá, Brasil e formaram o bloco dos Aliados, e a Alemanha aliou-se à Itália e Roménia fascistas e ao Japão formando o bloco do Eixo. A árvore da Vida, cabalística é composta por dez esferas ou sefirós que exprimem as qualidades conhecidas de Deus- porque há um Deus inatingível e incognoscível, o Ein Sof, ou Nada Infinito. A forma da árvore é um hexágono tendo por baixo um triângulo de vértice para baixo e no final, abaixo do triângulo,  uma esfera isolada. Podemos escolher três esferas, duas do lado direito da árvore - a Sabedoria (Hocmah) e a Misericórdia (Chesed) - e uma do lado esquerdo - a Justiça- Severidade (Gueburah).. Neste caso a Justiça, de um lado, opõe-se à Sabedoria e à Misericórdia, do outro. (VALE TRÊS VALORES)

 

 

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Terça-feira, 23 de Setembro de 2014
Inconsistências de Olavo de Carvalho

 

 

Olavo de Carvalho (Campinas, Brasil, 29 de Abril de 1947) é um jornalista, conferencista e filósofo brasileiro, católico de direita, anticomunista, adversário da globalização e da elite global (Trilateral, grupo de Bilderberg, maçonaria Skull and Bones, etc) que domina a política, a cultura e a economia mundial. Tem razão em muitas das suas críticas às fragilidades e à corrupção da democracia parlamentar brasileira que classifica de «governo de ladrões». Mas não tem razão ao colocar-se na posição de um catolicismo fascista, que justifica a ditadura militar brasileira (1964-1985), latifundista e católica, igualmente corrupta, embora dispondo de véus de censura que ocultam a podridão das classes dirigentes. Algumas das suas ideias expressas no seu site figuram abaixo.

 

LIMITAR-SE A PERCEBER BEM A TEORIA DE UM FILÓSOFO É ENTERRAR A FILOSOFIA?

 

Escreveu Olavo de Carvalho:

 

«Note-se a imensa diferença que existe entre adquirir pura informação, por mais erudita que seja, sobre as idéias de um filósofo, e levá-las à prática fielmente, como se fossem nossas, no exame de problemas pelos quais sentimos um interesse genuíno e urgente. A primeira alternativa mata os filósofos e os enterra num sepulcro elegante. A segunda os revive e os incorpora à nossa consciência como se fossem papéis que representamos pessoalmente no grande teatro do conhecimento. É a diferença entre museologia e tradição. Num museu pode-se conservar muitas peças estranhas, relíquias de um passado incompreensível. Tradição vem do latim traditio, que significa “trazer”, “entregar”. Tradição significa tornar o passado presente através da revivescência das experiências interiores que lhe deram sentido. A tradição filosófica é a história das lutas pela claridade do conhecimento, mas como o conhecimento é intrinsecamente temporal e histórico, não se pode avançar nessa luta senão revivenciando as batalhas anteriores e trazendo-as para os conflitos da atualidade.» (Olavo de Carvalho, Quem é filósofo e quem não é, Diário do Comércio, 7 de Maio de 2009).

 

Há aqui uma incompreensão de Olavo de Carvalho, um crítico do pragmatismo: considera, erradamente, que ter informação exacta sobre a teoria de um filósofo  "mata os filósofos e os enterra num sepulcro elegante". Mas, em filosofia, compreender é mais importante que aplicar. E Olavo chama à compreensão "museologia", opondo-a à tradição que é transmissão de saberes do passado. Esquece que há filosofias ou partes de filosofias que nem sequer se podem aplicar porque são interpretações sem consequências práticas. Por exemplo, compreender na ontognoseologia de Kant o que é númeno (Deus, alma, imortal, etc) e o que é fenómeno (exemplo: mesa, árvore, raposa, mão, casa) não implica aplicar, mas apenas constatar.

 

Pegar nas ideias de um filosófo e «levá-las à prática fielmente, como se fossem nossas, no exame de problemas pelos quais sentimos um interesse genuíno e urgente» é, segundo Olavo de Carvalho, a atitude correcta, a tradição no sentido de entrega e transmissão. Mas porque temos de levar à prática as ideias do filósofo, se muitas vezes elas já estão descontextualizadas, se já se passaram séculos? Hegel chamou a atenção para o facto de que  os platónicos e os neoacadémicos dos séculos XV e XVI, no Renascimento italiano, não reproduziam com verdade os discípulos de Platão ou os membros da Nova Academia dos séculos IV ou III antes de Cristo na Grécia. Eram imitações, fora do contexto do mundo antigo.

 

Quem nos obriga a militar por essas ideias? O que os marxistas do século XX - Lenin, Stalin, Mao Ze Dong, Che Guevara, etc - fizeram foi «levar à prática», com maior ou menor fidelidade, as ideias de Karl Marx. E não deturparam Marx? Levar à prática garante a fidelidade aos princípios?

 

NÃO SE DEVE ESTUDAR A FILOSOFIA POR AUTORES?

 

Olavo de Carvalho teoriza ainda o seguinte:

 

«Não estude filosofia por autores, mas por problemas. Escolha os problemas que verdadeiramente lhe interessam, que lhe parecem vitais para a sua orientação na vida, e vasculhe os dicionários e guias bibliográficos de filosofia em busca dos textos clássicos que trataram do assunto. A formulação do problema vai mudar muitas vezes no curso da pesquisa, mas isso é bom. Quando tiver selecionado uma quantidade razoável de textos pertinentes, leia-os em ordem cronológica, buscando reconstituir mentalmente a história das discussões a respeito. Se houver lacunas, volte à pesquisa e acrescente novos títulos à sua lista, até compor um desenvolvimento histórico suficientemente contínuo. Depois classifique as várias opiniões segundo seus pontos de concordância e discordância, procurando sempre averiguar onde uma discordância aparente esconde um acordo profundo quanto às categorias essenciais em discussão. Feito isso, monte tudo de novo, já não em ordem histórica, mas lógica, como se fosse uma hipótese filosófica única, ainda que insatisfatória e repleta de contradições internas. Então você estará equipado para examinar o problema tal como ele aparece na sua experiência pessoal e, confrontando-o com o legado da tradição, dar, se possível, sua própria contribuição original ao debate.»(Olavo de Carvalho, Quem é filósofo e quem não é, Diário do Comércio, 7 de Maio de 2009).

 

Náo se deve estudar filosofia por autores? Mas´isso é segmentar, fragmentar o pensamento de um autor. Se escolhemos o tema cosmologia e só estudarmos em Platão a cosmologia e nada mais, ficamos a conhecer a divisão platónica em três mundos - o do Mesmo (acima do céu visível), o do Semelhante (céu visível) e o do Outro (Terra, mundo sensível) - mas ficamos, provavelmente, a ignorar a teoria de Platão exposta no Crátilo, das palavras como «pinturas» das ideias, a teoria das três partes da alma (nous, tymus e epitimia) e a teoria dos três estratos sociais da pólis (filósofos-reis, guerreiros e população em geral). Logo, carecemos de uma perspectiva holística sobre cada autor, perspectiva que é, deveras, importante.

 

PS- Se é professor ou estudante de filosofia, história, astrologia ou demais ciências, porque não começa a compreender os movimentos planetários e a astrologia histórico-social e libertar-se da crucial ignorância a que o votaram nessa matéria? Adquira na nossa loja online www.astrologyandaccidents.com as nossas obras.

 

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Quinta-feira, 28 de Agosto de 2014
Cuestionar a Hessen: ¿Subjetivismo, pragmatismo y relativismo son escepticismo?

 En su célebre tratado «Teoría del conocimiento» el filósofo alemán J. Hessen plantea las corrientes de gnoseología bajo cierta confusión. Escribió:

 

«El subjetivismo, el relativismo y el pragmatismo son, en el fondo escepticismo. La antítesis de éste es, como hemos visto, el dogmatismo. Pero hay una tercera posición, que resolvería la antítesis en una síntesis. Esta posición intermedia entre el dogmatismo y un escepticismo se llama el criticismo (...) El criticismo comparte con el dogmatismo la fundamental confianza en la razón humana. El criticismo está convencido de que es posible el conocimiento, de que hay una verdad.» (J.Hessen, Teoría del conocimiento, Espasa Calpe Argentina, Buenos Aires-México, Tercera Edición, 1944, pág. 49; lo destacado en negrito es de mí labor).

 

Nadie consiguió discernir los errores conceptuales de Hessen en este passaje. El subjectivismo, doctrina según la cual la verdad es subjetiva, íntima, propria de un solo indivíduo, variable de persona a persona es un dogmatismo: tiene la certeza de que la verdad se circunscribe a cada persona y no es para nada objetiva, común. Es cierto que el subjetivismo para constituirse empleó el escepticismo - «Tengo dudas de que hay una verdad común y universal sobre lo que sea» - pero se assentó como um dogmatismo. Subjetivismo pertenece al género dogmatismo y no al género escepticismo porque afirma una certeza: la verdad es individualizada, variable según cada persona.

 

En modo similar, relativismo, doctrina según la cual la verdad es relativa, es decir, variable con las clases y grupos sociales, países, épocas, etc., - por ejemplo: «Díos es uno y trino para los cristiano», «Díos es solo uno y único para los musulmánes», «Díos es un espejismo para los ateos», «Díos es varios diosos diferentes para los hindús»- es un dogmatismo flexible, policentrico

 

En modo similar, pragmatismo, doctrina según la cuál la verdad se halla en las cosas visibles y tangibles, empiricamente demostrables y útiles, despreciando la metafísica y los ideales inalcançables - ejemplo, «soy pragmático, estaba enamorado de una chica locutora de televisión, muy deseada por millones de hombres, pero voy a casarme con la chica de una tienda de mi barrio, mucho más assequible que la locutora que, para mí, es inalcançable»»- es un dogmatismo, a veces combinado con algún escepticismo.

 

Hessen escribe sin la suficiente claridad:

 

« En la cuestión de la possibilidad de conocimiento, el criticismo es la única posición justa. Pero esto no significa que sea preciso admitir la filosofía kantiana. Es menester distinguir entre el criticismo como método y el criticismo como sistema. En Kant el criticismo significa ambas cosas: no sólo el método del que el filósofo se sirve y que se opone al dogmatismo y al escepticismo, sino también el resultado determinado a que llega con la ayuda de ese método.»

(J.Hessen, Teoría del conocimiento, Espasa Calpe Argentina, Buenos Aires-México, Tercera Edición, 1944, pág. 50; lo destacado en negrito es de mí labor).

 

Hessen postula que el criticismo es un  término medio entre dogmatismo y escepticismo. Pero no existe ese intermedio. Dogmatismo es como ser y cepticismo es como no ser, no hay mediación entre los dos: o crees en algp o no te lo crees. Cási todo es dogmatismo: el criticismo de Kant es un dogmatismo, puesto que asegura que el espacio y el tiempo son subjetivos, esto es, formas a priori de la sensibilidad y que el entendimiento se compone de 12 categorías o conceptos puros (unidad, pluralidad, totalidad, realidad, limitación, negación, etc.) y que la razón, sin conocimiento, prescruta el mundo incognoscible de los númenos (Díos, alma, libertad, mundo como totalidad). 

 

Hessen siguió erróneamente a Kant al postular la tríada dogmatismo-escepticismo-criticismo y la tríada racionalismo-empirismo-criticismo. El criticismo no es ninguna tercera posición autónoma, sino una modalidad del dogmatismo: el dogmatismo crítico sostenido por muchos filósofos desde la Antiguedad clásica. Por ejemplo, la teoría de Demócrito de que las cosas se componem de átomos indivisibles e invisibles rodando en el vacío ya era un criticismo, un dogmatismo crítico, un realismo crítico.

 

Kant cometió también una falacia al pretender situar el criticismo entre el racionalismo y el empirismo. Criticismo es idealismo crítico y está, sin duda, en una esfera diferente de la que se basa en la dicotomía racionalismo-idealismo y esta es la esfera gnoseológica. Criticismo/ Idealismo crítico está en la esfera ontológica, del ser, y no meramente en la gnoseológica, del modo de conocer,

 

 

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