É o fenomenismo uma teoria ontológica ou meramente gnosiológica?
Nigel Warburton distingue o fenomenismo do idealismo de forma errónea: não se apercebe que fenomenismo é uma concepção anti-metafísica, gnosiológica, ao passo que idealismo e realismo ontológicos são concepções metafísicas, ontológicas.
«Tal como o idealismo, o fenomenismo é uma teoria da percepção baseada na ideia de que só temos acesso à experiência sensorial e não ao mundo exterior. Mas difere do idealismo na sua explicação dos objectos físicos. Ao passo que os idealistas defendem que a nossa noção de objecto físico é uma abreviatura de um grupo de experiências sensoriais, fenomenistas como John Stuart Mill pensam que os objectos físicos podem ser completamente descritos em termos de padrões de experiências sensoriais efectivas ou possíveis.» (...)
«Um fenomenista é como alguém encurralado no seu próprio cinema privado, a ver filmes. Mas, ao contrário do idealista, que acredita que as coisas representadas no ecrã deixam de existir quando não estão a ser projectadas, o fenomenista acredita que estes objectos continuam a existir enquanto experiências possíveis, mesmo que não estejam a ser projectados no ecrã nesse momento.» (Nigel Warburton, Elementos básicos de Filosofia, Gradiva, Lisboa, 2007, pags 171-172; o negrito é nosso).
É falso que os idealistas em geral reduzam a existência dos objectos ao tempo em que os percepcionamos. Kant era idealista e não escreveu, em parte alguma, que o rio Danúbio deixava de existir quando não estivéssemos a contemplá-lo. O que Warburton designa por fenomenismo é o realismo fenomenista, a forma extrema do realismo crítico: há um mundo material transcendente a nós, incognoscível, porque as formas, cores, cheiros, sons, movimentos que captamos não reproduzem o mundo material como ele é, distorcem-no.
Para contrariar a confusão gerada por Nigel Warburton, na qual naufraga uma grande parte dos professores de filosofia, diremos o seguinte, em abono da verdade: Kant era idealista e fenomenista, em simultâneo. Alguém nos consegue explicar como é possível? Warburton, seguramente, não é ou não foi capaz de o fazer...
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