Domingo, 28 de Fevereiro de 2021
Teste de filosofia 11º ano (Fevereiro de 2021)

 

Eis um teste sem perguntas de escolha múltipla, simplistas, em tempos de suposta pandemia muito útil à indústria das vacinas e ao poder global.

Agrupamento de Escolas nº1 de Beja
Escola Secundária Diogo de Gouveia , Beja
TESTE DE FILOSOFIA, 11º ANO TURMA C

26 de Fevereiro  de 2021. Professor: Francisco Queiroz


I

“A concepção de ciência em Karl Popper, em particular os seus conceitos de verificação, corroboração e critério de demarcação, não coincidem por completo com a teoria da incomensurabilidade de paradigmas de Thomas Kuhn. Gaston Bachelard afirmou que em ciência «Nada é natural. Nada é dado. Tudo é construído» o que implica haver obstáculos epistemológicos..

 

1) Explique estes pensamentos.

    

 2) Relacione, justificando

A) A lei do salto qualitativo e as revoluções científicas na teoria de Kuhn.

B) Facto bruto, facto científico e racionalidade.

C) Positivismo lógico do Círculo de Viena, Indução e Enunciados Metafísicos

D) Anarquismo epistemológico e inteligência do homo sapiens inventor dos mitos segundo Paul Feyerabend..

E) A observação e outras fases do método hipotético dedutivo e a observação segundo Popper.

F) Lei dialética da contradição principal e princípio do terceiro excluído.

 

CORREÇÃO DO TESTE COM A COTAÇÃO MÁXIMA DE 20 VALORES 

 

1) Karl Popper afastou-se do circulo de Viena, uma vez que adotou em parte  a linha de  pensamento de David Hume, duvidando da indução amplificante. O método que perfilha Popper é o das conjeturas e refutações, método falsificacionista. Para Popper é impossível verificar as teses de uma ciência, excepto a matemática, uma vez que isso implicaria que observássemos milhares de milhões de exemplos e deste modo só é possível a corroboração – confirmação de alguns exemplos através da testabilidade, ou seja, realização de testes experimentais. Segundo Popper nós aproximamo-nos da verdade mas nunca a alcançamos e entra aqui a questão do dogmatismo/ceticismo: Popper é dogmático em acto e cético em potência ou é sempre céptico, conforme as leituras  Aceita como cientificas provisoriamente as teses que resistam a tentativas de refutação e falsificação feitas pelos testes experimentais e pela discussão teórica racional. O critério da demarcação em Popper é a diferenciação. Kuhn não tem uma preferência, ao contrário de Popper que consegue meter-se do lado de uma ciência, uma vez que não acredita nas que designa como pseudo-ciências(astrologia, benzeduras, cura pela argila, cura pelos cristais, xamanismo, etc). Incomensurabilidade dos paradigmas é a impossibilidade de comparar o valor de paradigmas (modelos científicos) opostos. Deste modo não podemos saber se a conceção da Terra esférica é superior em valor à conceção da Terra plana, ainda que algumas pessoas possam dizer que a primeira é a mais correta porque assenta em fotografias tiradas do espaço e a segunda é errónea. Popper mete-se do lado do paradigma que acha mais certo. (VALEQUATRO VALORES).

Bachelard sustenta que na  ciência nada é dado porque tudo ou quase tudo é construção racional, exemplo: a teoria do espaço-tempo de Einstein, em que mostra que o espaço fica mais curvo na proximidade de grandes massas não nos é transmitida pelos orgãos dos sentidos, mas sim pensada na razão. O obstáculo epistemológico em Bachelard é todo o entrave ao conhecimento científico: a primeira impressão, a experiênciainicial, o realismo natural, o preconceito do senso comum, a falta de tecnologia apropriada (exemplo: a falta de microscópios, reagentes químicos, bússolas, aparelhos de refrigeração,etc.) e o preconceito racial ou religioso.(VALE DOIS VALORES)

 

2-A) A lei do salto qualitativo é uma acumulação lenta, em quantidade, por um fenómeno que conduz de repente a um salto brusco, por exemplo: aquecemos a água numa panela e ela lentamente vai aumentando os graus até atingir os 100 graus em que ocorre este salto bruscoe a água entra em estado de vapor. Em Kuhn quando há uma nudança de paradigma, ou seja, quando um paradigma é substituído por outro dá-se um salto qualitativo, brusco, fruto de uma acumulação gradual de anomalias no paradigma normal, isto é, na ciência dominante (ex: o geocentrismo na Idade Média) . anomalias que são apontadas e fazem crescer a ciência extraordinária ou paradigma marginalizado  (ex: o heliocentrismo na Idade Média) que virá a tornar-se ciência normal (ex: o heliocentrismo no século XVII com Galileu). Chama-se revolução científica porque os paradigmas são inconciliáveis entre si e um abole o outro (VALE DOIS VALORES).

 

2-B) O facto bruto é aquele que os orgãos dos sentidos nos oferecem, com carácter ilusório: o mármore é frio, a lã é quente, o céu diurno é azul, etc. O facto científico é a interpretação racional dos dados dos sentidos mediante a racionalidade, isto é, a ordem lógica no pensamento, a análise e síntese do quadro perceptivo e da idealidade: o mármore não é frio simplesmente é bom condutor de calor e retira electrões ao corpo humano que a ele se encosta, a lã não é quente mas é má condutora de calor e não deixa sair este do corpo que reveste, o céu diurno é negro mas parece azul devido à luz solar ao entrar na atmosfera se dispersar, etc. (VALE DOIS VALORES).

 

2-C) O positivismo lógico nascido em 1929 em Viena reduzia a verdade aos factos da experiência ou factos positivos e às suas relações lógicas. Postula a indução amplificante, isto é, a generalização de alguns exemplos empíricos segundo uma lei necessária, É uma corrente antimetafísica: diz que  os enunciados metafísicos tipo «Deus existe, o Diabo existe», «A alma sobrevive no Além» são enunciados sem sentido, porque não podem verificar-se. (VALE DOIS VALORES)

 

2-D) O anarquismo epistemológico de Feyerabend é a teoria que nivela completamente as ciências universitárias com as ciências tradicionais (medicina espagírica, astrologia, numerologia, arquitectura sagrada, etc.) e práticas empíricas tradicionais (dança da chuva, benzeduras, orações). O anarquismo é contra as hierarquias, os chefes, a própria universidade considerada como cúpula do saber com as suas cátedras e doutoramentos, defende a autogestão generalizada, as fábricas e bairros dirigidos por assembleias de operários e moradores. Feyerabend não era anarquista no sentido político era-o no sentido epistémico, dizia que a universidade é dominada por homens maus, ligados a interesses carreiristas servindo a grande indústria, e deve ser aberta à astrologia, às medicinas alternativas, etc. E sustentava que os cientistas de hoje são menos inteligentes que o homo sapiens dos mitos antigos porque se especializaram e perderam a noção do todo, a visão holistica. Os homens antigos descobriram o fogo, a rotação das culturas, o poder curativo das plantas e inventaram os mitos - a psicanálise bebeu o complexo de Édipo no mito de Édipo, os ecologistas inspiram-se na filosofia da natureza viva, de Gea, da idade da pedra - e os cientistas limitaram-se a copiar e muitas vezes mal - o fumo poluidor dos automóveis e da indústria, a energia nuclear - os homens do mito. Feyerabend advoga a adoção de métodos ad hoc, improvisados para situações inesperados. Exemplo: um doente de cancro no intestino, desenganado da medicina artificial, começa a tomar argila diluída em água e a jejuar, o que sai fora da ortodoxia médica. (VALE TRÊS VALORES).

 

2-E) O método experimental divide-se em 4 fases: a observação ; a hipótese matematizada ou não; a dedução da hipótese; a verificação experimental que valida ou não a hipótese. Karl Popper apoiando condicionalmente este método negava que a observação neutra fosse a fase inicial porque toda a observação está impregnada de ideologia, de teoria, da subjectividade do cientista. Assim por exemplo quando observar o céu nocturno onde em 10 de Março de 2021 se verificará a conjunção entre a Lua e Júpiter, pensarei, como especialista de astronomia-astrologia, que ela se dá no grau 18 do signo de Aquário (grau 318 de longitude na eclíptica) mas as pessoas a meu lado observarão o mesmo fenómeno sem o interpretar como eu. (VALE DOIS VALORES).

 

2-F) A lei da contrariedade principal estabelece dois pólos: um sistema de múltiplas contrariedades  é susceptível de ser reduzido a uma só grande contrariedade (dita, com imprecisão: contradição principal) agrupando num dos polos algumas contrariedades (exemplo: a Alemanha de Hitler, a Itália de Mussolini, o Japão de Hirohito, em 1941-1944) e no outro polo quase todas as outras (ex: a França livre do maquis, a Grã-Bretanha, os EUA, o Canadá, o Brasil, etc) havendo uma zona intermédia neutra (Portugal de Salazar, Espanha de Franco, etc.). O princípio do terceiro excluído estabelece a contradição, isto é, dois polos sem intermédio: uma coisa ou ideia é do grupo A ou do grupo não A, não havendo a terceira hipótese (exemplo: qualquer coisa do mundo ou é peixe ou não peixe e neste último grupo cabem os sobreiros, as planícies, os cães, os seres humanos, os computadores, etc.). Ambos, a lei dialética e o princípio, se fundam na dualidade. (VALE TRÊS VALORES).

 

NOTA- Compra o nosso livro «Astrologia Histórica» já esgotado nas livrarias. Preço: 24 euros. Os professores de filosofia são incompletos, ignorantes numa matéria fundamental, a do determinismo versus livre-arbítrio, se não dominarem a astrologia histórico-social.

Encontram-se à venda na livraria «Modo de Ler», Praça Guilherme Gomes Fernandes, centro da cidade do Porto, as nossas 0bras:

Dicionário de Filosofia e Ontologia, Dialética e Equívocos dos Filósofos, de Francisco Limpo Queiroz,

Astrologia Histórica, a nova teoria dos graus e minutos homólogos,de Francisco Limpo Queiroz,

Astrología y guerra civil de España de 1936-1939, de Francisco Limpo Queiroz

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Nota- O autor deste blog está disponível para ir a escolas e universidades dar conferências filosóficas ou participar em debates. 

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Domingo, 18 de Agosto de 2019
As nossas universidades são fascistas

 

Os professores universitários têm diferentes opções político-partidárias desde o salazarismo, ao CDS e ao PSD e destes à social-democracia PS /Bloco de Esquerda, ao comunismo e ao anarquismo colectivista. No entanto, unem-se todos para impedir que na universidade e no ensino secundário se estudem os factos históricos sob a perspectiva da astronomia (astrologia histórica): proclamam, dogmaticamente, que «os planetas não determinam as ações humanas individuais ou colectivas, a astrologia é uma farsa anti científica, uma superstição que não pode sequer entrar nas universidades pois limitaria a liberdade humana com as suas crenças», etc.

 

Mas porque impedem a criação da disciplina de Astrologia História quando há obras publicadas merecedoras de crédito porque assentes em factos histórico-astronómicos indesmentíveis? Entre essas poucas obras, censuradas pela imprensa e pela grande maioria dos editores, figura o nosso livro «Sincronismos, Cabala e Graus do Zodíaco» publicado pela Editorial Estampa, de Lisboa, em 2001.

 

Vejamos uma  das teses expendidas nesse livro.

 

ÁREA 1º A 12º DO SIGNO DE GÉMEOS :

DESASTRES NA ASTRONÁUTICA, LIVRE CONCORRÊNCIA MERCANTIL

 

A área 1º-12º do signo de Gémeos, em que se inscreve a estrela Aldebaran (em 9º de Gémeos) da constelação do Touro vincula-se à Astronáutica, em particular a insucessos desta, e à Livre Concorrência do Mercado.

 

Em 24 de Abril de 1967, com Vénus em 11º-12º do signo de Gémeos, a nave espacial soviética Soyuz 1 esmaga-se no solo da Terra, causando a morte do cosmonauta Vladimir Komarov; em 29 de Junho de 1971, com Saturno em 1º do signo de Gémeos a despressurização brusca da cabina da nave espacial soviética Soyuz 11 mata por asfixia, antes da aterragem, os cosmonautas Georgi Dobrovolski, Vladimir Voltov e Viktor  Patsayev; em 27 de Setembro de 1983, com Quirón em 2º do signo de Gémeos, fracassa um voo espacial da URSS, com a expolosão do foguetão portador, sendo a cabina com os astronautas, que escapam com vida, ejectada por um dispositivo de segurança. »

 

(Francisco Limpo de Faria Queiroz, Sincronismos, Cabala e Graus do Zodíaco, Editorial Estampa, 2001, pág. 235).

 

Estas regularidades  merecem ou não um debate público sério? Um debate real, sem os pseudo astrólogos e os semiastrólogos como Paulo Cardoso, Maia, Maria Flávia Monsaraz,  Luís Resina, Helena Avelar, Cristina Candeias!  Um debate livre sem a censura do programa Prós e Contras da professora universitária Fátima Campos Ferreira ou da Fundação Francisco Manuel dos Santos que se arvora em propulsora da «ciência»!  Não merecem estes e milhares de outros exemplos empíricos a criação, pelo Ministério da Educação e pelos conselhos científicos das universidades, da disciplina de Astrologia Histórica, na órbita do positivismo lógico, sem metafísica?

 

Centenas de regularidades ou leis parcelares já foram ou podem ser induzidas da vida real, como por exemplo, a de que a passagem do Sol, de um planeta ou Nodo da Lua na área 3º-5º do signo de Virgem se vincula com sismos em Arraiolos, distrito de Évora.

 

Em 6 de Agosto de 2009, com  Mercúrio em 4º 53´/ 6º 26´ de Virgem, habitantes das vilas de Arraiolos e Mora (Évora) sentem o sismo registado às 06:10 naquelas zonas alentejanas, com magnitude 3.3 na escala de Richter, sem causar danos; em 13 de Abril de 2012, com  Marte em 3º 43´/ 3º 41´ de Virgem, um sismo fraco de 1,1 Richter manifesta-se em Arraiolos e outro sismo eclode no mar a 30 quilómetros do cabo de São Vicente, Algarve.

 

E como podem os politólogos e os astrónomos negar que quatro vitórias do PSD em eleições legislativas em Portugal se deram com a presença de Júpiter no signo da Virgem, isto é, no arco da circunferência zodiacal de 150º a 180º de longitude (2 de Dezembro de 1979, Júpiter em 9º de Virgem, vitória da AD de Sá Carneiro e Freitas do Amaral; 5 de Outubro de 1980, Júpiter em 25º de Virgem, vitória da AD de Sá Carneiro e Freitas do Amaral; 6 de Outubro de 1991, Júpiter em 4º-5º de Virgem, vitória do PSD de Cavaco Silva; 4 de Outubro de 2015, Júpiter em 11º de Virgem, vitória mitigada do PSD de Passos Coelho)?

 

Jornais como «Expresso», «Público», «Observador», «Sol» e muitos outros, revistas como «Sábado» e «Visão», canais televisivos em geral com programas como «Quadratura do Círculo», «Prós e Contras» e outros, fazem parte do bloco  fascista epistémico (epistemologia=filosofia das ciências) que não publica nada do que investigámos e escrevemos em astrologia histórica e censura este tema. Não há liberdade científica nas instituições oficiais em Portugal nem nos grandes media privados. 

 

Que fazem os catedráticos, os doutorados sem cátedra e os mestres em filosofia como por exemplo José Gil, Eduardo Lourenço, José Barata Moura, Guido Imaguirre, Alexandre Franco de Sá, Ricardo Santos, João Branquinho, Miguel Reale, Pedro Strech, Porfírio Silva, José Caselas, António Caselas, Irene Borges-Duarte, Olivier Feron, Eduardo Pellejero, Irene Viparelli, Miguel Antunes, Moisés Ferreira, José Meirinhos, Pedro Baptista, Sara Bizarro, Roberto Merrill, Gonçalo Marcelo, Desidério Murcho, Rolando Almeida, Aires Almeida, Domingos Faria, senão silenciar,  promover e manter a censura fascista epistémica nas publicações e eventos universitários, nos fóruns televisivos, nos livros das editoras especializadas?

 

Que fazem e fizeram os doutorados e mestres em História e Sociologia como José Matoso, João Medina, António Reis, António Barreto, Boaventura Sousa Santos, José Pacheco Pereira, Maria Filoména Mónica, Maria de Lurdes Rodrigues, José Hermano Saraiva, senão combater e silenciar a conjugação de dados astronómicos com dados sócio.políticos-biofísicos, isto é, bloquear a investigação livre, a astronomia histórico-social?

 

A universidade portuguesa, tal como a espanhola, a francesa e a alemã, é epistemicamente fascista: censura, elimina como «não científica» a investigação das correlações, regularidades ou leis, entre as posições dos planetas na circunferência do Zodíaco dividida em 12 arcos de 30º cada um (signos) e os factos histórico-sociais como acidentes de avião, de comboio ou de navios, eleições macionais, acidentes industriais, etc.

 

É obrigação de qualquer antifascista lutar pela liberdade académica que não existe porque as universidades, em filosofia, história, sociologia e astronomia funcionam como partidos leninistas em que os comités centrais (os catedráticos) cooptam os militantes fiéis à ideologia e eliminam como «herética» toda a oposição. O mundo só pode ser pensado verdadeiramente a partir do determinismo planetário na vida humana. 

 

Representamos a resistência, a dissidência, o ponto mais alto e verdadeiro do pensar filosófico-ontológico. Estão connosco o modo de pensar de Pietro d´Abagno (1237- 1315), astrólogo gibelino que negava o livre-arbítrio, Siger de Brabant (1240-1284), averroísta, Galileu (1564-1642), Kepler (1571-1630), Paul Feyerabend (1924-1994), entre outros. Somos a ínfima minoria de investigadores empíricos que pensa e sabe da arquitectura e causalidade zodiacal dos factos humanos e terrestres. Incomodamos os néscios e obnóxios, os impensantes em profundidade, que são a imensa maioria, dominadora das universidades.

 

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Terça-feira, 28 de Março de 2017
Teste de filosofia do 11º ano (21 de Março de 2017)

 

Eis um teste de filosofia, sem questões de escolha múltipla, o segundo teste do segundo período lectivo de uma turma do ensino secundário, no Baixo Alentejo, Portugal. 

 

Agrupamento de Escolas nº1 de Beja

Escola Secundária Diogo de Gouveia , Beja

TESTE DE FILOSOFIA, 11º ANO TURMA A

21 de Março de 2017 Professor: Francisco Queiroz

I

” Para ver as coisas adequadas exige-se os instrumentos adequados. Para ver as longínquas galáxias necessita-se de telescópio. Para ver os deuses fazem falta homens adequadamente preparados para isso. As galáxias não desaparecem quando desaparecem os telescópios. Os deuses não desaparecem quando os homens perdem a faculdade de entrar em contacto com eles… Creio que estou de acordo com Börne quando diz que a história não é mais que o historiador que regista quanto sucedeu e que, desta forma, forja os acontecimentos, define-os, inclusivamente para aqueles que participaram neles.” (Paul Feyerabend, Diálogo sobre o Método)

 

1) Explique estes pensamentos de Feyerabend, interligando-os com as noções de ANARQUISMO EPISTEMOLÓGICO, INTELIGÊNCIA HOLÍSTICA, HOMO SAPIENS DOS TEMPOS DO MITO, IDEOLOGIA NA CIÊNCIA.

 

2)Explique, como, segundo a gnosiologia de Kant, se formam o fenómeno CORTIÇA o conceito empírico de CORTIÇA e o juízo a priori «Dezanove adicionado de dez perfaz vinte e nove».

      

3) Relacione, justificando:

 

A) Os três níveis de um Programa de Investigação Científica, segundo Imre Lakatos, por um lado, e os três tipos de ideias em Descartes, por outro lado

B) Indução amplificante, positivismo lógico, por um lado, e Princípio da falsificabilidade em Popper, conjectura e corroboração em Popper, por outro lado.

C) Realismo crítico na teoria de Einstein, epistemologia de Thomas Kuhn e princípio da incerteza de Heisenberg.

 

 CORREÇÃO DO TESTE COTADO PARA VINTE VALORES

 

1) Quando Feyerabend escreve no texto que « Para ver os deuses fazem falta homens adequadamente preparados para isso» está a referir-se à ausência de inteligência holística nos cientistas e universitários de hoje . A inteligência holística é a intuição e compreensão global do universo como um todo e pressupõe abarcar tanto a metafísica (os deuses, os universos paralelos) como a física e a biologia (os climas na terra, as rotações das colheitas, os ecossistemas). Pode haver ateus dotados de inteligência holística mas supõem um princípio uno atravessando e ligando todo o universo. Quando no texto Feyerabend diz que« estou de acordo com Börne quando diz que a história não é mais que o historiador que regista quanto sucedeu e que, desta forma, forja os acontecimentos, define-os» está a denunciar que a ciência histórica ensinada nas universidades está infectada pela ideologia subjectiva ou intersubjectiva do historiador.O anarquismo epistemológico de Feyerabend - anarquismo é ausência de hierarquia - diz que há múltiplos métodos válidos, incluindo os das ciências tradicionais que deveriam entrar as universidades e ter tanto estatuto  como as tecnociências que lá estão instaladas: a cura pelos cristais, a cura pelas pirâmides, a fitoterapia, o feng shui, a acupunctura, a astrologia, etc, são tão ou mais importantes que os raios laser, as cirurgias, as análises laboratoriais. Isto é o anarquismo epistemológico, a ausência de doutrinas-chefes: todas estão, em princípio, ao mesmo nível de poder social, não há um conjunto de ciências «superiores» que excluem as outras rotulando-as de «atrasadas, anticentíficas,  perigosas» e absorvem os financiamentos estatais e privados. Homens muito pouco honestos dominam as universidades e a investigação que nelas se faz: por exemplo o motor a água para automóveis inventado nos EUA em 1935 foi proibido de ser ensinado. Quanto ao facto de a ciência universitária estar misturada com ideologia e interesses de lucro de grandes empresas privadas há que acrescentar que, segundo Feyerabend, para os cientistas de hoje «a ciência é a nossa religião» o que significa que a mentalidade científica actual é dogmática, ideológica, como a teologia, acreditando em dogmas que não podem ser postos em causa, como por exemplo, « O Big Bang deu-se há 15 000 milhões de anos e foi o começo do universo», «as vacinas conferem imunidade», «os astros não comandam o comportamento humano».A inteligência do homo sapiens primitivo do mito é holística: ligado à natureza, percebendo o bater do relógio cósmico, o primitivo escuta o silêncio e rejeita uma civilização de tecnologia avançada em que milhares de automóveis atravessam a cada minuto as ruas de uma cidade, os túneis e viadutos, fazendo ruído e poluindo o ar com gases. Os homens do mito tinham uma medicina holística com a utilização de plantas curativas que purificam o sangue e qualquer orgão do corpo, e reflectida ainda na medicina dos séculos XVII-XIX que usava métodos tradicionais como medir as pulsações, ou utilizar as sanguessugas para chuparem sangue das pessoas e reduzir os riscos de AVC. (VALE QUATRO VALORES).

 

2) Segundo a gnoseologia de Kant, o fenómeno cortiça forma-se na sensibilidade, no espaço exterior ao meu corpo físico, do seguinte modo: de «fora» da sensibilidade, os númenos afectam esta fazendo nascer nela um caos de matéria (exemplo: madeira, ferro, areia, etc, em um magma) que as duas formas a priori da sensibilidade, o espaço (com figuras geométricas) e o tempo (com a duração, a sucessão e a simultaneidade) moldam, fazendo nascer um ou mais fenómenos de cortiça. O entendimento, com as categorias de unidade, pluralidade, necessidade, confere consistência ao objecto/fenómeno cortiça. Não existe númeno cortiça, cortiça  é fenómeno na sua totalidade. O  conceito de cortiça forma-se no entendimento, faculdade que pensa mas não sente, do seguinte modo: a imaginação, situada entre a sensibilidade e o entendimento, transporta desde aquela a este as imagens de barco e as categorias do entendimento de pluralidade e unidade, realidade, recebem as diversas imagens e transformam-na numa só imagem abstracta, o conceito empírico de cortiça.

O juízo «dezanove adicionado de dez perfaz vinte e nove» forma-se no entendimento puro, na tábua dos juízos, após este receber as intuições puras de números 10, 19 e 29 que residem no tempo a priori, na sensibilidade, e transformá-las, pelas categorias de unidade, pluralidade, erc, em conceitos puros de 10, 19 e 29 (VALE QUATRO VALORES).

 

3-A) Imre Lakatos, epistemólogo húngaro, aceita igualmente a indução amplificante e defendeu que a ciência se estrutura em Programas de Investigação Científica (PIC). Cada um destes tem três níveis: o núcleo duro, conjunto das teses imutáveis; o cinto protector, conjunto das teses revisíveis, que podem ser rectificadas ou substituídas; a heurística, conjunto dos métodos de investigação livre, teórica e prática, que pode confirmar ou anular o PIC. Descartes defendeu haver ideias inatas (as ideias de círculo, triângulo, número, corpo, alma, Deus), a priori, indubitáveis como o núcleo duro. Defendeu haver ideias adventícias ou percepções empíricas (exemplo: rosa vermelha, vento quente, sabor doce) que não são absolutamente fiáveis como o cinto protector porque podem ser revistas. Defendeu também haver ideias factícias ou de imaginação livre (exemplo: um cavalo com orelhas de elefante) que podem assimilar-se à heurística ou pesquisa livre. (VALE QUATRO VALORES).

 

3-B) O positivismo lógico do círculo de Viena considera sem sentido a metafísica e afirmações desta como «Deus criou o Paraíso e o Inferno e pune os maus» porque não podem ser comprovadas empiricamente. Para este positivismo, só os factos empíricos ( exemplo: maçã, tornado, etc) e as suas relações lógico-matemáticas são verdade e a indução amplificante - generalização segundo uma lei necessária de alguns casos empíricos semelhantes entre si - é perfeitamente legítima. Karl Popper ao contrário de Kuhn, não acha que os paradigmas sejam incomensuráveis entre si, escolhe provisoriamente um em detrimento de outros, mas sustenta que as ciências empíricas ou empírico-formais não passam de conjuntos de conjecturas, hipóteses. Na linha de David Hume, Popper duvida da indução amplificante, achando que há sempre excepções a uma dada lei da natureza e considera ser impossível verificar essa lei pois teríamos de estudar centenas de milhar ou milhões de exemplos concretos. Popper diz que só é possível a corroboração ou confirmação de alguns exemplos através da testabilidade, isto é, realização de testes experimentais que se integram no princípio da falsificabilidade (todas as ciências são potencialmente falsas). No positivismo lógico, aceita-se a indução amplificante, geradora de teses, dogmas. Em Popper não há dogmas, certezas infalíveis, as teses da ciência são conjecturas ou hipóteses refutáveis (VALE QUATRO VALORES).

 

3-C) O realismo crítico é a teoria que afirma que há um mundo material anterior às mentes humanas e independente destas que o captam de maneira distorcida. O realismo crítico em Descartes consiste em postular o seguinte: há um mundo de matéria exterior às mentes humanas, feito só de qualidades primárias, objetivas, isto é, forma, tamanho, número, movimento. As cores, os cheiros, os sons, sabores, o quente e o frio só existem no interior da minha mente, do organismo do sujeito, pois resultam de movimentos vibratórios de partículas exteriores já que o mundo exterior é apenas composto de formas, movimentos e tamanhos. .Assim, a rosa não é vermelha, é apenas forma e tamanho. O ramo de rosas é apenas formas, tamanho e um certo número de unidades, não tem cor, nem cheiro, nem peso. O mármore não é frio nem duro, o céu não tem cor. Podemos dizer que a doutrina de Einstein é um realismo crítico na medida em que sustenta as seguintes teses, entre outras, contra-intuitivas, contra as aparências:

1) O espaço e o tempo não são realidades separadas, existe o espaço-tempo variável de lugar a lugar, não há um tempo absoluto universal.

 

2) O espaço-tempo não é feito de planos sobrepostos e linhas rectas como sustenta a geometria euclidiana e a física de Newton, é irregular e encurva na proximidade de grandes massas (exemplo: a esfera de metal deforma o lençol esticado, criando uma cova no centro).

 

3) A luz cuja velocidade é 300 000 quilómetros por segundo acompanha acurvatura do espaço tempo, não viaja em linha recta (um raio de luz lançado em direção a uma estrela tenderia a voltar à Terra dado que o universo é fechado) 

4) Quem viajasse a uma velocidade próxima da da luz envelheceria muito mais lentamente do que os habitantes da Terra;

 

5) A massa de um corpo aumenta com o aumento da sua velocidade de deslocação.

 

Kuhn defendeu incomensurabilidade dos paradigmas é a impossibilidade de medir exactamente o valor de cada doutrina científica e das suas rivais: não se pode dizer, por exemplo, que o heliocentrismo é melhor que o geocentrismo, em termos globais, ainda que se possa dizer que, neste ou naquele aspecto (exactidão/experimentação, fecundidadesimplicidade, etc) um deles é superior ao outro. É compatível com a teoria das revoluções científicas em Kuhn. Esta consiste em afirmar que as ciências se desenvolvem segundo a lei do salto de qualidade: durante décadas ou séculos uma ciência é aceite pela comunidade científica e designa-se por ciência normal mas vão-se acumulando lentamente anomalias até que surge um paradigma ou modelo teórico oposto, chamado ciência extraordinária que acaba por substituir a ciência até então dominante (revolução científica). O princípio da incerteza de Heisenberg estabelece ser impossível conhecer em simultâneo a velocidade e a posição de um electrão ou partícula do mesmo género microfísico: ou se conhece a velocidade ou se conhece a posição, o que sugere a nuvem electrónica, uma «fotografia» de um turbilhão.

 

Pode dizer-se que a teoria da curvatura do espaço tempo de Einstein  foi uma ciência extraordinária que se transformou por uma revolução científica, de acordo com Kuhn, em paradigma dominante (VALE QUATRO VALORES).

 

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Terça-feira, 14 de Março de 2017
Teste de filosofia do 11º ano de escolaridade (10 de Março de 2017)

 

Eis um teste de filosofia, sem questões de escolha múltipla, o segundo teste do segundo período lectivo de uma turma do ensino secundário, no Baixo Alentejo, Portugal. 

 

Agrupamento de Escolas nº1 de Beja, Escola Secundária Diogo de Gouveia,

Beja,

TESTE DE FILOSOFIA, 11º ANO TURMA B

10 de Março de 2017. Professor: Francisco Queiroz

I

“Se se aprecia a ciência pelos seus resultados, dever-se-ia apreciar os mitos cem vezes mais já que as suas conquistas foram incomparavelmente maiores: os inventores dos mitos…livres do jugo da especializaçãoderam início à cultura, enquanto que os cientistas apenas modificaram esta» (Paul Feyerabend)

 

1) Explique estes pensamentos de Paul Feyerabend, interligando-os com os conceitos de ANARQUISMO EPISTEMOLÓGICO, IDEOLOGIA E CIÊNCIA UNIVERSITÁRIA e outros deste filósofo.

 

2) Explique, como, segundo a gnosiologia de Kant, se formam o fenómeno BARCO, o conceito empírico de BARCO e o juízo a priori «Todos os pontos da circunferência estão à mesma distância do centro ».

      

3) Relacione, justificando:

 

A) Incomensurabilidade dos paradigmas em Thomas Kuhn, de um lado, e conjecturas científicas e corroboração em vez de verificação, em Karl Popper, de outro lado.

 

B) Positivismo lógico do círculo de Viena, e três níveis de um Programa de Investigação Científica segundo Lakatos.

 

C) Realismo crítico e  na teoria de Albert Einstein e ultra-objecto em Bachelard.

 

CORREÇÃO DO TESTE DE AVALIAÇÃO COM COTAÇÃO GLOBAL DE 20 VALORES

 

1) Os homens do mito deram início à cultura porque, por exemplo, inventaram uma cura de plantas para cada doença ao passo que os cientistas do século XXI apenas modificaram essa cura, criando um composto químico, com base nessas plantas e em minerais. Os primitivos descobriram uma ciência dos astros (fases da lua, conjunção de Marte com Júpiter ou Saturno, eetc) ao passo que os astrónomos de hoje apenas a modificaram usando telescópios e outros instrumentos. A inteligência do cientista do século XX-XXI é, para Feyerabend, fragmentária, de um racionalismo deficiente porque não apreende a realidade como um todo físico e metafísico. Isso é o que significa estar sob o jugo da especialização: ter um saber parcelar, como o médico de rins que só sabe deste orgão e não sabe nada de dietética, acupunctura, astrologia, fitoterapia, história social e política, geografia, etc. Para Feyerabend, a dança da chuva feita por povos indígenas do México funciona desde que feita no seu contexto natural invocando os deuses com sinceridade e com o ritualismo apropriado, mas para o cientista universitário actual é «mera estupidez», «crença anticientífica». Embora incorporando forças irracionais, o mito tem uma concepção mais racional, holística, do cosmos do que a ciência especializada que «só vê a árvore e não vê a floresta».

O anarquismo epistemológico de Feyerabend - anarquismo é ausência de hierarquia - diz que há múltiplos métodos válidos, incluindo os das ciências tradicionais que deveriam entrar as universidades e ter tanto estatuto  como as tecnociências que lá estão instaladas: a cura pelos cristais, a cura pelas pirâmides, a fitoterapia, o feng shui, a acupunctura, a astrologia, etc, são tão ou mais importantes que os raios laser, as cirurgias, as análises laboratoriais. Isto é o anarquismo epistemológico, a ausência de doutrinas-chefes: todas estão, em princípio, ao mesmo nível de poder social, não há um conjunto de ciências «superiores» que excluem as outras rotulando-as de «atrasadas, anticentíficas,  perigosas» e absorvem os financiamentos estatais e privados. Quanto ao facto de a ciência universitária estar misturada com ideologia há que dizer que, segundo Feyerabend, para os cientistas de hoje «a ciência é a nossa religião» o que significa que a mentalidade científica actual é dogmática, ideológica, como a teologia, acreditando em dogmas que não podem ser postos em causa, como por exemplo, « O Big Bang deu-se há 15 000 milhões de anos e foi o começo do universo», «as vacinas conferem imunidade», «os astros não comandam o comportamento humano». Os cientistas de hoje são os bispos e papas da nova religião da ciência. As ciências actuais nasceram com o emergir da burguesia industrial e financeira actual e por isso estão impregnadas de ideologia - sistema de ideias e valores de uma classe social- neste caso, a burguesia. A ciência e a tecnologia do automóvel como veículo de transporte individual ou familiar insere-se na ideologia individualista da burguesia: «Enriquece, compra um carro próprio, viaja livremente». Feyerabend recusou o «critério de demarcação» invocado por Popper que dizia, por exemplo, que a biologia molecular e a física quântica eram ciências e a astrologia era pseudo-ciência...

A inteligência do homo sapiens primitivo do mito é holística: ligado à natureza, percebendo o bater do relógio cósmico, o primitivo escuta o silêncio e rejeita uma civilização de tecnologia avançada em que milhares de automóveis atravessam a cada minuto as ruas de uma cidade, os túneis e viadutos, fazendo ruído e poluindo o ar com gases. Os homens do mito tinham uma medicina holística com a utilização de plantas curativas que purificam o sangue e qualquer orgão do corpo, e reflectida ainda na medicina dos séculos XVII-XIX que usava métodos tradicionais como medir as pulsações, ou utilizar as sanguessugas para chuparem sangue das pessoas e reduzir os riscos de AVC.  Feyerabend opõe-se de certo modo à medicina actual, cheia de análises, biópsias e radiografias que classifica como «estupidez». (VALE CINCO VALORES).

 

2) Segundo a gnoseologia de Kant, o fenómeno barco forma-se na sensibilidade, no espaço exterior ao meu corpo físico, do seguinte modo: de '«fora» da sensibilidade, os númenos afectam esta fazendo nascer nela um caos de matéria (exemplo: madeira, ferro, areia, etc, em um magma) que as duas formas a priori da sensibilidade, o espaço (com figuras geométricas) e o tempo (com a duração, a sucessão e a simultaneidade) moldam, fazendo nascer um ou mais fenómenos de barcos. O entendimento, com as categorias de unidade, pluralidade, necessidade, confere consistência ao fenómeno barco. Não existe númeno barco, galo é fenómeno na sua totalidade. O  conceito de barco forma-se no entendimento, faculdade que pensa mas não sente, do seguinte modo: a imaginação, situada entre a sensibilidade e o entendimento, transporta desde aquela a este as imagens de barco e as categorias do entendimento de pluralidade e unidade, realidade, recebem as diversas imagens e transformam-na numa só imagem abstracta, o conceito empírico de barco.

O juízo «todos os pontos da circunferência estão à mesma distância do centro» forma-se no entendimento, na tábua dos juízos, após este ir buscar a intuição pura de circunferência que se encontra no espaço a priori e transformá-la, pelas categorias de unidade, pluralidade, erc, num conceito puro de circunferência (VALE TRÊS VALORES).

 

3.A) A incomensurabilidade dos paradigmas é a impossibilidade de medir exactamente o valor de cada doutrina científica e das suas rivais: não se pode dizer, por exemplo, que o heliocentrismo é melhor que o geocentrismo, em termos globais, ainda que se possa dizer que, neste ou naquele aspecto (exactidão/experimentação, fecundidade, simplicidade, etc) um deles é superior ao outro. É compatível com a teoria das revoluções científicas em Kuhn. Esta consiste em afirmar que as ciências se desenvolvem segundo a lei do salto de qualidade: durante décadas ou séculos uma ciência é aceite pela comunidade científica e designa-se por ciência normal mas vão-se acumulando lentamente anomalias até que surge um paradigma ou modelo teórico oposto, chamado ciência extraordinária que acaba por substituir a ciência até então dominante (revolução científica) .Karl Popper ao contrário de Kuhn, não acha que os paradigmas sejam incomensuráveis entre si, escolhe provisoriamente um em detrimento de outros, mas sustenta que as ciências empíricas ou empírico-formais não passam de conjuntos de conjecturas, hipóteses. Na linha de David Hume, Popper duvida da indução amplificante, achando que há sempre excepções a uma dada lei da natureza e considera ser impossível verificar essa lei pois teríamos de estudar centenas de milhar ou milhões de exemplos concretos. Popper diz que só é possível a corroboração ou confirmação de alguns exemplos através da testabilidade, isto é, realização de testes experimentais que se integram no princípio da falsificabilidade (todas as ciências são potencialmente falsas). Tanto Popper como Kuhn revelam um certo grau de ceticismo sobre as teses das ciências.(VALE QUATRO VALORES)

 

3-B) O positivismo lógico do círculo de Viena considera sem sentido a metafísica e afirmações desta como «Deus criou o Paraíso e o Inferno e pune os maus» porque não podem ser comprovadas empiricamente. Para este positivismo, só os factos empíricos ( exemplo: maçã, tornado, etc) e as suas relações lógico-matemáticas são verdade e a indução amplificante - generalização segundo uma lei necessária de alguns casos empíricos semelhantes entre si - é perfeitamente legítima. Imre Lakatos, epistemólogo húngaro, aceita igualmente a indução amplificante e defendeu que a ciência se estrutura em Programas de Investigação Científica (PIC). Cada um destes tem três níveis: o núcleo duro, conjunto das teses imutáveis; o cinto protector, conjunto das teses revisíveis, que podem ser rectificadas ou substituídas; a heurística, conjunto dos métodos de investigação livre, teórica e prática, que pode confirmar ou anular o PIC. (VALE QUATRO VALORES)

 

3-C) O realismo crítico é a teoria que afirma que há um mundo material anterior às mentes humanas e independente destas que o captam de maneira distorcida. O realismo crítico em Descartes consiste em postular o seguinte: há um mundo de matéria exterior às mentes humanas, feito só de qualidades primárias, objetivas, isto é, forma, tamanho, número, movimento. As cores, os cheiros, os sons, sabores, o quente e o frio só existem no interior da minha mente, do organismo do sujeito, pois resultam de movimentos vibratórios de partículas exteriores já que o mundo exterior é apenas composto de formas, movimentos e tamanhos. .Assim, a rosa não é vermelha, é apenas forma e tamanho. O ramo de rosas é apenas formas, tamanho e um certo número de unidades, não tem cor, nem cheiro, nem peso. O mármore não é frio nem duro, o céu não tem cor. Podemos dizer que a doutrina de Einstein é um realismo crítico na medida em que sustenta as seguintes teses, entre outras, contra-intuitivas, contra as aparências:

1) O espaço e o tempo não são realidades separadas, existe o espaço-tempo variável de lugar a lugar, não há um tempo absoluto universal.

 

2) O espaço-tempo não é feito de planos sobrepostos e linhas rectas como sustenta a geometria euclidiana e a física de Newton, é irregular e encurva na proximidade de grandes massas (exemplo: a esfera de metal deforma o lençol esticado, criando uma cova no centro).

 

3) A luz cuja velocidade é 300 000 quilómetros por segundo acompanha a curvatura do espaço tempo, não viaja em linha recta (um raio de luz lançado em direção a uma estrela tenderia a voltar à Terra dado que o universo é fechado) 

4) Quem viajasse a uma velocidade próxima da da luz envelheceria muito mais lentamente do que os habitantes da Terra;

 

5) A massa de um corpo aumenta com o aumento da sua velocidade de deslocação.

 

O ultra-objecto de Bachelard é o objecto ideal construído racionalmente com base em dados empíricos indirectos como, por exemplo, os quanta, o quark e o Big Bang. A curvatura do espaço-tempo, na teoria de Einstein, é um ultra-objecto.(VALE QUATRO VALORES).

 

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Segunda-feira, 11 de Abril de 2016
Notas, filosóficas ou não, de Abril de 2016

 

 

 

Eis alguns pensamentos soltos do meu diário mágico, filosófico e existencial, nesta fria primavera de Abril de 2016.

 

E SE O UNIVERSO FOSSE MÁGICO E TE OBEDECESSE? Não ficarias mais calma/o e não abdicarias de certos desejos e preocupações que agora te assaltam?

 

É UMA LIBERDADE INCRÍVEL quando me desligo de ti e não temo perder-te porque afinal há muitas mulheres belas no mundo e és trocável ( «se ao fim de 15 dias esta mulher que leva na mala da imaginação não servir pode voltar à nossa loja, aceitamos trocas e devoluções»).

 

AMO-TE PORQUE SOU RAZOAVELMENTE OU ESSENCIALMENTE EGOCÊNTRICO. Se eu fosse totalmente altruísta não tinha casa, nem emprego nem dinheiro porque dava tudo o que tenho, como uma árvore que explode em mil pedaços mas só um desses pedaços te beneficiaria a ti. Amaria a todos e não amaria ninguém em particular. Assim, o meu egocentrismo moderado - partilho contigo o meu salário, a minha casa, os meus livros, a minha mesa- faz de ti uma mulher beneficiada, amada por mim e emocionalmente feliz.

 

TODOS OS HOMENS HETEROSSEXUAIS AMAM DUAS MULHERES EM SILMULTÂNEO: A ESPOSA OU A NAMORADA E A AMANTE VIRTUAL. Mas nunca confessam esta duplicidade, inevitável no psiquismo masculino. Pois se amam o Sol (a esposa, a namorada oficial) amam inevitavelmente a Lua (a rapariga bela com quem se cruzam na rua, no emprego, ou no ginásio, ou no cinema, ou no café pastelaria). Os contrários suscitam-se um ao outro. Onde há fidelidade no comportamento social, há infidelidade no pensamento.


Aliás é saudável um homem amar duas mulheres ao mesmo tempo: revela um coração generoso, quente, onde cabem duas mulheres. A lei deveria permitir o casamento poligâmico, a bigamia, e se o não faz é por influência do catolicismo e do judaísmo, que erroneamente, limitam o casamento à forma monogâmica (um homem só pode desposar uma mulher de cada vez e vice-versa). Na base desta crença religiosa está a propriedade privada da riqueza, dos meios de produção de transporte e troca (fábricas, terras, lojas, barcos de pesca, aviões, etc). Porque haveria Deus de importar-se que um homem durma com duas mulheres desde que as faça felizes?

 

É O AMOR ESPIRITUAL QUE FAZ NASCER A ATRAÇÃO SEXUAL FÍSICA E QUÍMICA OU É ESTA ÚLTIMA QUE FAZ NASCER O AMOR ESPIRITUAL? Eis o grande mistério. Espiritualismo contra materialismo. Deixarei de estar apaixonado por ti quando fores velha e feia... (ahah, ainda és muito jovem).

 

NINGUÉM GOSTA DE TI SEM FALHAS - As pessoas só gostam continuamente de si mesmas e só gostam de ti acidentalmente, enquanto lhes és útil ou bela/belo de aspecto, ou conversador/a amigável, ou lhes emprestas dinheiro ou lhes pagas o salário ou as ensinas profissional e artisticamente. Mas não te incomodes: os deuses amam-te e estão lá em cima ou nos troncos dos sobreiros e nos olivais e ouvem os teus queixumes.

 

O ARCO-ÍRIS A SUDOESTE. 11 de Abril de 2016. De tarde, procurei um lugar propício à invocação dos deuses dos quatro pontos cardeais, no campo alentejano perto de Beja. Depois de invocar os Silfos e as Sílfides, Espíritos do Ar médio, e os deuses do Este, notei, a sudoeste, numa zona de núvens escuras um fragmento do arco-íris. Que lindo! Eram 18 horas e 45 minutos. As minhas invocações por excelência à divindade têm lugar no campo, a «catedral» aberta, onde a abóbada é o próprio céu.. O arco-íris pareceu-me um sinal de Deus para um pedido pessoal de suma importância, aguardemos o resto da semana...

 

SE INVOCARMOS OS DEUSES receberemos sinais de que nos ouvem ainda que não nos possam sempre favorecer porque há a Moira, o destino, o relógio cósmico inexorável.

 

PEGUEI NA IMAGEM DO MENINO JESUS E PU-LA AO COLO, EMBALEI-A COMO UMA CRIANÇA. Creio que tinha frio. Fiz de pai - as minhas filhas já são adultas - e confidenciei-lhe alguns dos meus sonhos. Dei um beijinho neste bebé de barro. Não, isto não é ser maluco! As imagens são condensadores do espírito. Ser maluco é agredir fisicamente a mulher ou a namorada por ciúmes, mesquinhez. etc. Nesta linha de pensamento, um amigo diz-me : «Vi um dia o meu pai beijar com amor verdadeiro uma das suas laranjeiras. E achei bem.»

 

NÃO TENTES SER MAIS FELIZ. Tenta, sim, manter a felicidade que tens. Tens saúde? Ah, reumatismo? Bronquite? Faz dieta de maçãs, comendo 10 maçãs por dia e evita comer carnes e sal. Tens boas relações no teu emprego? Evita as pessoas nocivas, asfixiantes. São Francisco de Assis foi assaltado por ladrões, agredido e atirado para dentro de uma cova e levantou-se e prosseguiu o seu caminho cantando e louvando a Deus. Podes parar de te lamentar, por favor? Já não posso ouvir-te.

 

FIM DE TARDE, ORAR AO CÉU COM NUVENS. 19.30 horas de 18 de Abril de 2016. Caminho junto ao edifício dos correios em Beja. E olho o céu coberto de flocos de nuvens mas ainda azul. Apetece prolongar o passeio e entrar no campo alentejano, onde as searas estão verdes e há papoilas vermelhas aqui e acolá. O campo é a minha catedral. Hoje é um dia fantástico de desbloqueio: até recebi 4 credenciais para no dia 21 levar quatro turmas de alunos a visitar a Ovibeja, grande feira agro-pecuária do Baixo Alentejo. Apetece ir para o campo e orar, criar uma abertura vertical para o transcendente, no céu. Não em obediência à igreja católica romana com a sua hierarquia: em homenagem à Virgem e a Jesus. Aos espíritos da Terra, do Ar, do Fogo e da Água do paganismo. Somos cátaros, somos wiccans - pese embora a contradição.

 

E pus o retrato do padre Pio de Pietrelcina (Francesco Forgione, nascido a 25 de Maio de 1887, filho de Horácio Forgione), místico, sorridente, no meu altar cristão, budista e taoísta, de tão feliz que estou hoje. Tenho também um altar neopagão, à deusa do Prazer e da Sexualidade, pois não consigo a ascese nesse campo. Jogo pois em dois campos, sirvo a dois Deuses ao mesmo tempo. Templarismo, gnose, ecletismo.. tanto me faz. Não se pode é perder a ligação ao Alto, o axis mundis (eixo do mundo). Nós, alentejanos, de raíz ou adotados, somos naturalmente religiosos: a planície infinita é a Deusa, a Grande Mãe Natureza, o Céu, de imensa abóbada, é o Pai

 

A SAGRADA CÓPULA. Além do meu lado gnóstico, tenho um lado Wiccan ( hierofante mágico da natureza). Para mim, o acto sexual é sagrado e um homem não o deve fazer com qualquer mulher. Apenas com as que incarnam a beleza de Vénus, de Vénus/Babalon ou de Hecate a Triforme, deusa do mundo subterrâneo. Aliás as bruxas que veneram Hecate são, em regra, raparigas muito belas e não velhas feias. O corpo da mulher deve ser perfeito porque é o altar dessa «missa» selvagem, mais ou menos ritualizada, que é a união sexual homem-mulher. A Deusa deve estar presente nesse momento culminante. Todos os actos de amor e prazer pertencem à Deusa.

 

AS JOVENS AGED VINTE E PICO E CROSSDRESSING. Almoço com a Ana para discutirmos uma hipótese de filme centrado no mistério do crossdressing não homo. Digo: «Nenhuma das possíveis actrizes de 20 a 25 anos a quem propus o papel no filme aceitou até agora. E uma faria de deusa Babalon». Ela responde: «Não vês que as raparigas de 20-28 anos ainda vêem o amor e o sexo de forma bastante idílica, segundo o arquétipo do homem tradicional e da mulher tradicional? Chocam-se com uma configuração diferente no vestuário - o homem travestido, a mulher masculinizada - e na postura. Esses papéis são para mulheres mais velhas, acima dos 40, com outro corpo, que já viveram o prazer e deram prazer e têm uma mente aberta. E a deusa deve estar acima dos 40.» Digo: «Grande perspicácia». E Ana diz: «Já reparaste na semelhança entre ASCÉTICO e ASSEPTICO? A ascese é um estado de assepsia... Eu prefiro a criação, a construção de algo.»

 

OLHO-ME AO ESPELHO E VEJO QUE ESTOU MUITO VELHO DE ASPECTO. Agora percebo por que razão aquelas mulheres com metade da minha idade ou um pouco menos não me ligam, não se deixam conquistar. E percebo por que razão gosto de me travestir. É pecado? Os deuses não são duros connosco? Tenho de habituar-me à solidão - até porque não aturo mulheres da minha idade ou 10 ou 15 anos mais novas. São demasiado idosas para mim. Eu amaria ser eternamente jovem e belo. E copular as mulheres modelo Vénus da perfeição. Porque a cópula é melhor que beber copos.

 

SINAIS NAS NUVENS - Ontem, 26 de Abril de 2016, estava a jantar às 19.30 horas, olhei o céu azul da cidade de Beja e vejo a norte duas curiosas nuvens: a da esquerda em forma de C e a da direita em forma de X. Perguntei.me: indicará o X o resultado do Manchester City-Real Madrid, jogo que está quase a começar? Confirmei, horas depois, que o resultado foi 0-0, isto é, um X no sistema 1X2 de apostas. Mas e o significado do C? Parece ser o de Cristiano (C) Ronaldo não ter jogado por lesão. As nuvens dão sinais. A natureza é vidente, é um organismo vivo, o cosmos é uma mulher, um animal que nos estimula e alimenta, um organismo inteligente.

 

ZIZEK, A FRAUDE FILOSÓFICA- Slavoj Zizeck é o ícone de uma certa esquerda «light», pós comunista leninista. É um pensador limitado: não consegue sequer intuir que a liberdade não existe, que tudo está predestinado pelos movimentos planetários. E bebe muito em Jacques Lacan. A sua suposta genialidade é duvidosa. É um tribuno, um politólogo com uma retórica poderosa. Edgar Morin é ou era mais fecundo que Zizek mas deixou de estar na moda. À beira de um Sigmund Freud, de um Carl Jung, de um Jules Evola, de um Paul Feyerabend, Zizek é quase nada. Os filósofos são, quase todos, moderadamente estúpidos, falta-lhes um fecho de abóbada do pensamento: só quando se afastam, em certa medida, da «racionalidade» filosófica e se acercam do mito é que alguns se tornam verdadeiramente inteligentes.

 

SINCRONISMOS FONÉTICOS - Em 5 e 6 de Abril de 2016, as ideias de PROSTITUIÇÂO, MARROCOS, PEDRO ABRUNHOSA, MOURA estão em destaque: no dia 5, recebo um convite para ir a MOURA assistir ao lançamento do livro «Castelo de MOURA - escavações arqueológicas», o teatro Pax Julia em Beja exibe, em sessão única, o filme marroquino «Muito amadas», a história de quatro PROSTITUTAS muito dignas que, em Marrocos, sustentam as famílias e sofrem a violência machista; no dia 6, o parlamento francês aprova uma nova lei que regulamenta a prática da prostituição no país, lei que impõe que as PROSTITUTAS não correm mais risco de serem multadas, mas os clientes poderão ser sancionados, tornando a França o quinto país europeu a sancionar os clientes da prostituição, após a Suécia, Noruega, Islândia e Reino Unido, o canal de TV por cabo Kitchen mostra um cozinheiro europeu ou norte-americano a fazer culinária em MARROCOS, coloco na minha página de FB um vídeo musical de PEDRO ABRUNHOSA e horas depois PEDRO ABRUNHOSA canta com Ana MOURA no telejornal da TVI.

  

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Segunda-feira, 29 de Fevereiro de 2016
Teste de Filosofia do 11º ano, turma B (Fevereiro de 2016)

 

Eis um teste de filosofia fora do estereótipo dos testes que os autores dos manuais escolares da Porto Editora, Leya, Santillana, Areal Editores, etc, divulgam. E sem questões de escolha múltipla que, frequentemente, são incorrectamente concebidas por quem não domína o método dialético e desliza para a horizontalidade da filosofia analítica vulgar. Só os professores que conseguem afastar-se do modelo de testes que os manuais de filosofia, estereotipados, difundem, têm possibilidade de ser verdadeiramente bons. Há uma radicalidade de pensamento que só o individualismo radical atinge.

 

 

Agrupamento de Escolas nº1 de Beja

Escola Secundária Diogo de Gouveia, Beja

TESTE DE FILOSOFIA, 11º ANO TURMA B

24 de Fevereiro de 2016. Professor: Francisco Queiroz.

 I

"Feyerabend criticou o método das conjecturas e refutações de Popper, em particular pela posição deste face à astrologia e à medicina hopi, e declarou que os homens da idade da pedra, inventores dos mitos, «livres do jugo da especialização, estavam conscientes da grande quantidade de relações entre os homens e entre estes e a natureza». Afirmou ainda Feyerabend, anarquista epistemológico, que, hoje, com o racionalismo fragmentário actual, mera ideologia, « temos uma religião sem ontologia, uma arte sem conteúdos, e uma ciência sem sentido»

 

1)Explique, concretamente este texto

 

2)Explique como, na ontognoseologia de Kant, se formam o fenómeno CEGONHA e o conceito empírico de CEGONHA.

 

2) Relacione, justificando:

A) Positivismo lógico do círculo de Viena e indução amplificante, por um lado, corroboração e testabilidade em Karl Popper, por outro lado.


B) B) Método hipotético-dedutivo, ciências empírico-formais e ciências hermenêuticas


C) Fenomenologia, realismo crítico e cepticismo 

 

D) Sete relações filosóficas e idealismo em David Hume . 

 

 

CORREÇÃO DO TESTE COTADO PARA 20 VALORES

 

1) Feyerabend criticou Popper por este reduzir as ciências a conjuntos de conjecturas que são aceites provisoriamente e depois refutadas, isto é, rejeitadas com argumentos e testes experimentais. E criticou Popper por considerar pseudo-ciências a astrologia e a medicina hopi  (os hopis são uma tribo índia dos EUA que veneram a natureza, usam plantas para a cura em ligação com a oração ao deus criador). Feyerabend insistiu em que a visão especializada, fragmentária, das actuais ciências dos séculos XIX a XXI perdeu a percepção holística, global dos fenómenos. O homo sapiens primitivo conhecia a vida de forma global (intuição holística), não estava fragmentado em saberes particulares como o homem de hoje. Os homens do mito estavam livres do jugo da especialização que hoje impera: um engenheiro civil, especializado, só sabe temas de engenharia civil, nada sabe sobre a cura pelas plantas dos seus cálculos renais e de outras doenças e nada sabe sobre as fases da lua e os seus efeitos sobre as sementeiras e colheitas (VALE TRÊS VALORES). As ciências actuais são baseadas num racionalismo fragmentário - teoria que afirma ser a razão a principal fonte de conhecimento, mas não a razão holística que tudo abarca como por exemplo movimentos dos astros e deuses, racionalismo esse que fragmenta o conhecimento, separa o estudo do fígado do estudo do coração, separa o facto histórico-social terrestre do facto astronómico celeste, etc.  Essas ciências nasceram com o emergir da burguesia industrial e financeira actual e por isso estão impregnadas de ideologia - sistema de ideias e valores de uma classe social- burguesa. A ciência e a tecnologia do automóvel como veículo de transporte individual ou familiar insere-se na ideologia individualista da burguesia: «Enriquece, compra um carro próprio, viaja livremente». Feyerabend era anarquista epistemológico, isto é, sustentava a igualdade de base entre todas as doutrinas, que é necessário acabar com o domínio exclusivo da medicina química oficial, da biologia oficial (evolucionismo de Darwin) da electrónica, etc, porque são ideológicas, defendem certas classes e grupos sociais, visam aumentar lucros da grande indústria Que significa dizer que hoje temos uma religião sem ontologia?  Significa que temos um conjunto de ritos cujo simbolismo profundo já perdemos, em cuja filosofia já não penetramos. Por exemplo, ignoramos que o facto de a pia de baptismo de antigas ser . Constroem-se hoje igrejas com uma arquitectura moderna ignorando o número de oiro (1,618), número mágico de proporção entre o comprimento e a largura e a altura de um compartimento. Que significa dizer que hoje impera uma arte sem conteúdos? Significa, por exemplo, que uma tela branca salpicada de pontos vermelhos é um quadro sem conteúdo, um significante sem significado. Que significa dizer que há uma ciência sem sentido? Significa, por exemplo, que há uma medicina que não percebe o sentido da febre - acção de autodefesa do organismo, expulsando as toxinas através do suor ou de urinas escuras - e manda reprimir os sintomas, tomando anti piréticos.( VALE TRÊS VALORES).

 

2) O númeno ou objecto metafísico afecta de alguma maneira a sensibilidade fazendo nascer nesta um caos empírico de matéria indeterminada e as formas a priori de espaço (figuras, extensão) e tempo (duração, simultaneidade, sucessão) moldam essa matéria transformando-a no fenómeno cegonha, que é o objecto visível ou coisa para nós. As imagens do fenómeno são levadas pela imaginação às categorias de unidade, pluralidade, realidade e outras do entendimento ou intelecto ligado ao mundo empírico e aí são reduzidas à unidade, a um conceito único de cegonha (VALE TRÊS VALORES).

 

3-A) O positivismo lógico do círculo de Viena considera sem sentido a metafísica e afirmações desta como «Deus criou o Paraíso e o Inferno e pune os maus» porque não podem ser comprovadas empiricamente. Para este positivismo, só os factos empíricos ( exemplo: maçã, tornado, etc) e as suas relações lógico-matemáticas são verdade e a indução amplificante - generalização segundo uma lei necessária de alguns casos empíricos semelhantes entre si - é perfeitamente legítima. Karl Popper opõ-se ao positivismo lógico pois, na linha de David Hume, duvida da indução amplificante, achando que há sempre excepções a uma dada lei da natureza e considera ser impossível verificar essa lei pois teríamos de estudar centenas de milhar ou milhões de exemplos concretos. Popper diz que só é possível a corroboração ou confirmação de alguns exemplos através da testabilidade, isto é, realização de testes experimentais (VALE TRÊS VALORES).

 

3-B) O método hipotético-dedutivo baseia-se na indução amplificante, inferência que Popper não aceita como válida, e tem quatro fases: observação, hipótese, dedução matemática da hipótese e verificação experimental com confirmação ou não da hipótese. As ciências empírico-formais são as ciências da natureza biofísica - química, física, astronomia, biologia, geologia - e baseiam-se em leis necessárias ou tendencialmente necessárias e por isso assentam na indução amplificante. As ciências hermenêuticas, ou seja, as que se baseiam em interpretações mais ou menos subjectivas e leis estatísticas - psicologia, sociologia, história, economia, - não recorrem ou recorrem pouco à indução amplificante (VALE TRÊS VALORES).

 

3.C) O realismo crítico é a teoria segundo a qual a matéria é real e exterior às nossas mentes mas estas não espelham como ela é. O realismo crítico de Descartes é a teoria qiue sustenta que há um mundo real de matéria exterior às mentes humanas composto de uma matéria indeterminada, sem peso nem dureza/moleza, apenas formado de figuras geométricas, movimento, números (qualidades primárias, objetivas), sendo subjectivas, isto é exclusivamente mentais, as cores, os cheiros, os sabores, as sensações do tacto, o calor e frio (qualidades secundárias, subjectivas). A fenomenologia é a ontologia que sustenta não saber se o mundo material subsiste ou não fora das mentes humanas. O cepticismo é a corrente que duvida do que vai além dos dados empíricos imediatos ou até mesmo deste. A fenomenologia possui um fundo cético e o realismo crítico, na medida em que duvida de alguns dados dos sentidos, também (VALE TRÊS VALORES).  

 

2-D) O idealismo, isto é, a doutrina que diz que o mundo material exterior à mente humana não existe, é ilusório, é base da teoria de Hume. Por exemplo, o"eu" em David Hume não é uma realidade, mas uma ideia ilusória, uma vez que somos apenas uma corrente de percepções empíricas a que a memória e a imaginação atribuem um núcleo invariável chamado «eu». Do mesmo modo, a   substância (exemplos: as substâncias cadeira ou nuvem) é uma ideia fabricada pela nossa imaginação servindo-se das sete relações filosóficas que são disposições sensório-intelectuais a priori da mente humana: semelhança, identidade, relações de tempo e lugar, proporção de quantidade ou número, graus de qualidade, contrariedade e causação. A ideia de permanência, de continuidade entre as percepções empíricas forja as ideias de eu e de substância. As relações de tempo e lugar não estão em objectos materiais fora de nós mas são um modo de ver e pensar inerente à nossa mente - e isto é idealismo (VALE DOIS VALORES)

 

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Segunda-feira, 23 de Março de 2015
Teste de filosofia do 11º A (Março de 2015)

 

Eis um teste de filosofia do 11º ano de  escolaridade em Portugal, evitando as perguntas de escolha múltipla em que o aluno coloca um X na hipótese que supõe estar certa e fica dispensado de explanar as suas ideias num corpo discursivo coerente.

 

Agrupamento de Escolas nº1 de Beja
Escola Secundária Diogo de Gouveia, Beja
TESTE DE FILOSOFIA, 11º ANO TURMA A
16 de Março de 2015. Professor: Francisco Queiroz

 

.”. As ciências empíricas reduzem a qualidade à quantidade, o múltiplo ao uno. Feyerabend criticou o conjecturalismo de Popper pela posição deste face à astrologia e declarou que os homens da idade da pedra, inventores dos mitos, «livres do jugo da especialização, estavam conscientes da grande quantidade de relações entre os homens e entre estes e a natureza» e que, hoje, com o racionalismo actual, mera ideologia, « temos uma religião sem ontologia, uma arte sem conteúdos, e uma ciência sem sentido».(Paul Feyerabend, Diálogo sobre o método)

 

1) Explique estes pensamentos.

2) Relacione, justificando:

 

A) Fundacionismo e Coerentismo .
B) Fenómeno, númeno, espaço e tempo em Kant.
C) Fenomenologia e idealismo não solipsista subjectivo.
D) Positivismo lógico do círculo de Viena, metafísica e indução amplificante

 

CORRECÇÃO DO TESTE ESCRITO (COTADO PARA 20 VALORES)

1)«As ciências empíricas, como a física, a biologiia, a geologia, reduzem a qualidade, ou seja, as percepções empíricas plenas de cores, sons, cheiros e outras qualidades - exemplo: a percepção visual e táctil da água que corre, límpida ou barrenta -à quantidade, isto é, a fórmulas de carácter matemático - exemplo: a fórmula química da água é H2O . Galileu já no séxulo XVII escrevera que o grande livro da natureza está escrito em caracteres matemáticos. As ciências reduzem o múltiplo ao uno porque uma simples definição ou um só conceito representa milhões ou biliões de fenómenos similares entre si: por exemplo, o conceito de átomo de hidrogénio, com um único, electrão é uno e refere-se a biliões de átomos de hidrogénio espalhados pelo universo. (VALE DOIS VALORES). Feyerabend criticou a teoria das conjecturas e refutações de Sócrates segundo a qual as teses da ciência são todas duvidosas, simples conjecturas e hipóteses, e devem ser constantemente sujeitas a testes de falsificação que permitam encontrar as excepções a uma lei e  mostrar as incoerências. Os homens do mito estavam livres do jugo da especialização que hoje impera: um engenheiro civil, especializado, só sabe temas de engenharia civil, nada sabe sobre a cura pelas plantas dos seus cálculos renais e de outras doenças e nada sabe sobre as fases da lua e os seus efeitos sobre as sementeiras e colheitas. As ciências actuais, baseadas num racionalismo fragmentário - teoria que afirma ser a razão a principal fonte de conhecimento, mas não a razão holística que tudo abarca como por exemplo movimentos dos astros e deuses -  nasceram com o emergir da burguesia industrial e financeira actual e por isso estão impregnadas de ideologia - sistema de ideias e valores de uma classe social- burguesa. A ciência e a tecnologia do automóvel como veículo de transporte individual ou familiar insere-se na ideologia individualista da burguesia: «Enriquece, compra um carro próprio, viaja livremente».

Que significa dizer que hoje temos uma religião sem ontologia?  Significa que temos um conjunto de ritos cujo simbolismo profundo já perdemos, em cuja filosofia original já não penetramos. Por exemplo, ignoramos que o facto de a pia de baptismo de antigas ser octogonal porque o oito significava a oitava esfera . Constroem-se hoje igrejas com uma arquitectura moderna ignorando o número de oiro (1,618), número mágico de proporção entre o comprimento e a largura e a altura de um compartimento. Que significa dizer que hoje impera uma arte sem conteúdos? Significa, por exemplo, que uma tela branca salpicada de pontos vermelhos é um quadro sem conteúdo, um significante sem significado. Que significa dizer que há uma ciência sem sentido? Significa, por exemplo, que há uma medicina que não percebe o sentido da febre - acção de autodefesa do organismo, expulsando as toxinas através do suor ou de urinas escuras - e manda reprimir os sintomas, tomando anti piréticos. (VALE SEIS VALORES).

 

2)A) Fundacionismo é toda a doutrina cujas teses se erguem a partir de um alicerce, em regra, um facto ou conjunto de factos empíricos situados fora do raciocínio teórico. Exemplo: a teoria química sobre o cloreto de sódio funda-se no corpo material conhecido como sal marinho que está nas nossas cozinhas. Coerentismo é toda a doutrina que, não encontrando alicerce em factos empíricos exteriores, se baseia na lógica interna, isto é na coerência ou coesão lógica entre todas as suas teses. Exemplo: os cálculos matemáticos que «demonstram» a existência de universos paralelos ao nosso . (VALE DOIS VALORES)

 

2) B) Segundo a gnoseologia de Kant, o espaço é uma forma a priori da sensibilidade, isto é, uma estrututa subjectiva vazia onde se inserem os corpos materiais e que está antes de os objectos materiais nascerem com a experiência. O espaço é a parede externa e o grande reservatório externo da sensibilidade onde cabe o universo inteiro com planetas, galáxias e mares. Por isso, não é empírico, mas sim puro, anterior a toda a experiência. O fenómeno físico, isto é, o objecto que vemos e tocamos e  nos parece real, como por exemplo, casa, rio, cão, forma-se na sensibilidade, no espaço exterior ao meu corpo físico, por influência do númeno, do seguinte modo: de '«fora» da sensibilidade, os númenos ou objectos metafísicos incognoscíveis ( Deus, alma imortal, mundo como totalidade) afectam esta fazendo nascer nela um caos de matéria (exemplo: madeira, ferro, areia, etc, em um magma) que as duas formas a priori da sensibilidade, o espaço (com figuras geométricas) e o tempo (com a duração, a sucessão e a simultaneidade) moldam, fazendo nascer uma ou mais casas, rios, cães. O entendimento, com as categorias de unidade, pluralidade, necessidade, confere consistência ao fenómeno casa, rio, cão, etc.. (VALE QUATRO VALORES)

 

2) C) A fenomenologia, como ontologia, é a doutrina, céptica no seu fundo, que não sabe se o mundo de matéria existe ou não como real em si mesmo. O idealismo não solipsista subjectivo é a doutrina que diz que o mundo de matéria que vemos fora de nós é irreal em si mesmo, é uma ilusão de um conjunto de mentes humanas - as únicas realidades existentes -  e cada uma dessas mentes fabrica um mundo de matéria diferente dos das outras mentes. (VALE TRÊS VALORES).

 

2) D) O positivismo lógico do círculo de Viena considera sem sentido a metafísica e afirmações desta como «Deus criou o Paraíso e o Inferno e pune os maus» porque não podem ser comprovadas empiricamente. Para este positivismo, só os factos empíricos ( exemplo: maçã, tornado, etc) e as suas relações lógico-matemáticas são verdade e a indução amplificante - generalização segundo uma lei necessária de alguns casos empíricos semelhantes entre si - é perfeitamente legítima. (VALE TRÊS VALORES).

 

 

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Quinta-feira, 26 de Fevereiro de 2015
Feyerabend e a fraqueza das ciências contemporâneas universitárias

Paul Feyerabend (Viena, 13 de Janeiro de 1924- Genolier, 11 de Fevereiro de 1994)  talvez o maior filósofo do século XX, desmistificou as ciências contemporâneas, mostrando que elas brotam de um fanatismo «religioso» sectário. São, na sua raíz, ideologia, visão partidária própria de certas classes ou camadas sociais. Nada é absolutamente indiscutível nas ciências académicas: os diagnósticos médicos, os tratamentos hospitalares, os fármacos e as vacinas são métodos questionáveis e não podem ser apresentados como «a verdadeira ciência»; a astrologia não pode ser marginalizada ou reduzida a deturpações como «horóscopos generalistas de jornais», se os sábios antigos ou renascentistas, como Galileu e Kepler, a utilizavam na previsão de ciclos políticos, pessoais, etc. 

 

A ASTROLOGIA, CONDENADA SEM PROVAS, POR UMA «CIÊNCIA» QUE É A NOVA RELIGIÃO

 

Escreveu Feyerabend:

«A ciência é a nossa religião. O que sucede no seu interior é a Boa Nova. O que sucede extramuros de ela são idiotices pagãs. Não obstante, dito isto, devo pedir desculpa aos teólogos pela comparação porque, enquanto eles realizaram cuidadosos estudos sobre todo o tipo de heresias e crenças pagãs, os cientistas só possuem uma noção um tanto vaga das disciplinas que ridicularizam. A condenação da astrologia por cento e oitenta e seis cientistas - uma verdadeira encíclica científica - é um exemplo disso. Por complexa que seja a crítica, limita-se sempre à afirmação de que uma opinião ou um argumento não são correctos porque não são científicos, do mesmo modo que as teologias antigas se limitavam a afirmar que uma religião não era boa porque não era cristã e não era a religião da Santa Igreja Romana. E as palavras utilizadas na condenação - porque não posso qualificar como raciocínio o procedimento seguido - são quase as mesmas. Os padres da Igreja denominavam as teses pagãs de «superstições irracionais», precisamente a mesma expressão utilizada pelos Pais da Ciência para condenar o que não gostam nela. Assim, como não há nada que dispute a sua supremacia, hoje em dia a ciência parece, naturalmente, um assunto muito mais sublime que os demais e os acontecimentos científicos parecem os acontecimentos mais importantes, depois dos assuntos políticos e as bodas das estrelas de rock...« (Paul K. Feyerabend, «Dialogo sobre el metodo», Ediciones Cátedra, 1989, Madrid, pág 69-70; o destaque a negrito é posto por mim).

 

OS FILÓSOFOS SÃO MEROS AGENTES DE UMA OU MAIS CLASSES SOCIAIS

 

Acerca do triunfo dos filósofos sobre os poetas na Grécia antiga, Feyerabend escreveu:

«Ora bem, o problema é o seguinte: porque tiveram os filósofos tanto êxito? Que foi o que assegurou o seu predomínio, de modo que, posteriormente, a poesia pareceu simples emotividade ou simbolismo desprovido de todo o conteúdo? Não pode ter sido a força argumentativa, pois a poesia, adequadamente interpretada, já implicava por si uma argumentação. Podem realizar-se observações similares àcerca da origem da ciência no século XVII. Neste caso, a força motriz foi o nascimento de novas classes que se tinham visto excluídas do campo do conhecimento e que converteram a dita exclusão em proveito próprio, afirmando que o conhecimento era o que elas possuíam, e não o dos seus adversários. Uma vez mais esta ideia foi aceite por todos, nas artes, na ciência, na religião, até ao ponto de que hoje temos uma religião sem ontologia, uma arte sem conteúdos, e uma ciência sem sentido».

(Paul K. Feyerabend, «Dialogo sobre el metodo», Ediciones Cátedra, 1989, Madrid, pág 86-87; o destaque a negrito é posto por mim).

 

Que significa dizer que hoje temos uma religião sem ontologia?  Significa que temos um conjunto de ritos cujo simbolismo profundo já perdemos, em cuja filosofia já não penetramos. Por exemplo, ignoramos  o facto de as pias de baptismo de antigas catedrais e igrejas serem octogonais devido a simbolizarem a oitava esfera celeste, a esfera de Maria ou Sofia, a entidade salvadora das almas no cristianismo e na gnose cristã.   Constroem-se hoje igrejas com uma arquitectura moderna ignorando o número de oiro (1,618), número mágico de proporção entre o comprimento e a largura e a altura de um compartimento. Que significa dizer que hoje impera uma arte sem conteúdos? Significa, por exemplo, que uma tela branca salpicada de pontos vermelhos é um quadro sem conteúdo, um significante sem significado. Que significa dizer que há uma ciência sem sentido? Significa, por exemplo, que há uma medicina que não percebe o sentido da febre - acção de autodefesa do organismo, expulsando as toxinas através do suor ou de urinas escuras - e manda reprimir os sintomas, tomando anti piréticos.

 

E os filósofos de hoje são, na esmagadora maioria, os arautos da civilização tecnológica avançada e biologicamente atrasada em muitos campos que a burguesia promove - as vacinas infectam milhões de pessoas e os filósofos do establishment não as denunciam como erro médico, o omnivorismo é vendido como a natureza biodigestiva do homem quando este é um grande frugívoro como o chimpanzé ou o gorila, etc.

 

 

CONTRA A MEDICINA QUÍMICA QUE REDUZ O PACIENTE A ÁTOMOS E NÚMEROS DE ´GLÓBULOS VERMELHOS E BRANCOS, CONTRA A CONCEPÇÃO FRAGMENTÁRIA DA DOENÇA LOCAL

 

A medicina dos diagnósticos feitos por aparelhos complexos, incluindo computadores, praticada por médicos que não ouvem os pacientes, e os tratam apenas como aglomerados de átomos vivos, ignorando a psicossomática - como as tristezas psíquicas geram doenças físicas - é uma ciência fragmentária, errada. Há pessoas que as análises clínicas revelam estar nos «valores normais» que estão doentes, a ponto de morrerem de ataque de coração ou AVC, e outros com excesso de colesterol ou ácido úrico que estão mais saudáveis que as primeiras.

 

«Já te disse que os conceitos de saúde e doença variam dependendo das culturas e dos indivíduos. Curar significa restituir o estado desejado pelo paciente e não restabelecer uma condição abstracta que parece desjável a partir de um ponto de vista teórico. O tipo de doutor em que estou pensando mantém uma estreita relação pessoal com o paciente, não só porque é médico e o médico devia ser um amigo mais que um engenheiro do corpo, mas também porque necessita do contacto pessoal para aprender o seu ofício: a aprendizagem e as relações pessoais progridem a um ritmo semelhante. Sem embargo, o médico de formação científica observa o paciente através da lente de uma teoria abstracta; conforme a teoria que se adopte, o paciente converte-se num sistema de condutos, em um agregado molecular ou em um recipiente de humores».

(Paul K. Feyerabend, «Dialogo sobre el metodo», Ediciones Cátedra, 1989, Madrid, pág 110-111; o destaque a negrito é colocado por mim).

Feyerabend coloca em causa a teoria da doença localizada ou local que dá origem a tantas especialidades médicas quantos os orgãos do corpo: médico de rins, médico do fígado, médico gastro-intestinal, médico do coração, etc. Na verdade, a doença é geral, segundo os neo-hipocráticos e manifesta-se localmente. Exemplifiquemos: ingerir sal em excesso faz com que este circule no sangue que banha todos os orgãos do corpo e se deposite aqui ou ali causando sintomas e doenças locais diversas, dores nos rins, dores de cabeça, dores nas articulações, etc. A doença é uma só doença geral do organismo mas assume várias máscaras locais. Como diria o falecido biologista Pierre Marchesseau, os vírus não são a causa das doenças mas sim a consequência destas e afinal as doenças  consistem no terreno orgânico sujo por colas (açúcares, gorduras) e cristais (sais úricos e sulfúricos vindos das carnes, peixes, etc). Escreveu Feyerabend:

 

«Estreitamente ligada com essa fé, encontra-se a ideia de que toda a doença tem uma causa próxima, que é altamente teórica e se deve descobrir. Como se supõe que o diagnóstico revela a causa próxima, eis que se fazem radiografias, explorações cirúrgicas, biópsias e outras estupidezes do mesmo estilo. » (....)

«Mas quem nos diz que a causa da doença estriba num fenómeno localizável? Pode acontecer que a doença seja uma modificação estrutural do processo vital, que não tenha uma causa localizável, e a melhor forma de diagnosticá-la poderia consistir em prestar atenção às mudanças gerais do corpo, como por exemplo, o pulso, o tónus muscular...»

(Paul K. Feyerabend, «Dialogo sobre el metodo», Ediciones Cátedra, 1989, Madrid, pág 41; o destaque a negrito é colocado por mim).

 

OS HOMENS DA IDADE DA PEDRA ERAM MAIS INTELIGENTES QUE OS HOMENS DA CIVILIZAÇÃO TECNOLÓGICA DO SÉCULO XXI

 

Feyerabend insistiu em que a visão especializada, fragmentária, das actuais ciências dos séculos XIX a XXI perdeu a percepção holística, global dos fenómenos:

 

«Segundo o mito hopi da criação, a crescente abstração do pensamento humano e o crescente interesse do homem por si mesmo provocou um afastamento deste da natureza e, por consequência, os velhos ritos, que se baseavam na harmonia deixaram de funcionar. Não devemos estranhar em absoluto que os nossos antepassados estivessem em condições de descobrir ideias e procedimentos que são potenciais rivais das nossas teorias científicas mais avançadas. Por que teriam de ser menos inteligentes do que ´nós? O homem da idade da pedra já era um homo sapiens plenamente desenvolvido, tinha diante de si problemas e resolveu-os com grande engenho. Mede-se a ciência pelas suas conquistas, assim não esqueçamos que os inventores dos mitos descobriram o fogo e os meios para o conservar. Domesticaram os animais, criaram novas classes de plantas e identificaram as espécies melhor do que o poderia fazer a actual agricultural científica. Inventaram a rotação das culturas agrícolas e desenvolveram uma arte  que pode competir com as melhores criações do homem ocidental. Livres do jugo da especialização, estavam conscientes da grande quantidade de relações entre os homens e entre estes e a natureza, e serviam-se delas para fazer progredir a ciência e a sociedade: a melhor filosofia ecológica encontra-se na idade da pedra. Se se aprecia a ciência pelos seus resultados, dever-se-ia apreciar os mitos cem vezes mais, e com maior entusiasmo, já que as suas conquistas foram incomparavelmente maiores: os inventores dos mitos deram início à cultura, enquanto que os cientistas só a modificaram, e nem sempre para melhor. Já mencionei um exemplo: o mito, a tragédia e a velha épica tratavam, de forma simultânea, de emoções e estruturas reais e exerceram um profundo e benéfico influxo sobre as sociedades que os criaram.  Separaram-se o pensamento e a emoção, inclusive o pensamento e a natureza, e mantiveram-se afastados por decreto («elaboremos a astronomía sem ter em conta os céus», diz Platão »(Paul K. Feyerabend, «Dialogo sobre el metodo», Ediciones Cátedra, 1989, Madrid, pág 103-105; o destaque a negrito é posto por mim ).

 

A DANÇA DA CHUVA FUNCIONA

 

Feyerabend afirma, contra o racionalismo estreito de agnósticos e ateus, que cerimónias mágicas como a dança da chuva podem funcionar:

«Onde está a teoria incompatível com a ideia de que a dança da chuva traz a chuva? Como é lógico este modo de pensar baseia-se em algumas convicções fundamentais, mas, segundo eu entendo, as ditas convicções não encontram a sua expressão em teorias concretas, que pudessem ser utilizados para excluir os mitos. Tudo o que temos é uma vaga ainda que intensíssuma sensação de que no mundo da ciência a dança da chuva não pode funcionar. Não há um conjunto de observações que contradiga esta ideia». (Paul K. Feyerabend, «Dialogo sobre el metodo», Ediciones Cátedra, 1989, Madrid, pág 88-89; o destaque a negrito é posto por mim ).

 

OS FILÓSOFOS DA CIÊNCIA NÃO SABEM O QUE É CIÊNCIA

 

A informação que nos dão diariamente as televisões e as aulas nas diferentes escolas sobre o que é ciência e o que não é ciência é falaciosa, está contaminada pela ideologia dos filósofos de «mente quadrada» como Karl Popper, John W.Watkins ou Imre Lakatos. Popper, por exemplo, classificou a astrologia de pseudociência e a medicina de ciência que a conjectural - mas que sabia ele de astrologia para a eliminar, sumariamente, do campo das ciências? Nada. Popper ignorava, por exemplo, que a 1ª Guerra Mundial começou em 1 de Agosto de 1914, com Neptuno em 28º de Caranguejo (grau 118 de longitude eclíptica), e que a guerra do Golfo começou em 17 de Janeiro de 1991, com o Nodo Sul da Lua em 28º de Caranguejo. Não ligava factos terrestres similares e factos astronómicos similares. Feyerabend escreveu:

 

«A ciência não é mais que um "depósito" de conhecimentos, mas o mesmo se pode dizer dos mitos, fábulas, tragédias, relatos épicos, e muitas outras criações das tradições não científicas. (...) «És um optimista se crês que os filósofos da ciência têm alguma ideia da complexidade da ciência. (...) Eu diria, pelo contrário, se se trata de explicar ciência a gente de uma inteligência média, os divulgadores como Assimov fazem, no máximo, um trabalho melhor. Quem ler o Assimov sabe mais ou menos o que é ciência mas quem ler Popper, Watkins ou Lakatos aprenderá um tipo de lógica mais precisamente simplista, mas não o que é ciência. Ademais, ainda que a filosofia da ciência fosse melhor do que efectivamente é, continuaria a ver-se afectada pelo problema comum a todas as ciências, já que aceita pressupostos não facilmente comprováveis, que caem fora da esfera de competência dos seus seguidores.Portanto, complementar a ciência com a filosofia da ciêncianão elimina os problemas de que estamos falando, se acaso acrescenta problemas adicionais do mesmo tipo. A pesar de se poder ter opinião contrária, a confusão aumenta, não diminui, devido à ignorância e à mentalidade simplista dos filósofos» (Paul K. Feyerabend, «Dialogo sobre el metodo», Ediciones Cátedra, 1989, Madrid, pág 103-105; o destaque a negrito é posto por mim ).

 

Note-se a desproporção : em todos os manuais escolares de filosofia para o ensino secundário em Portugal dá-se um grande destaque às ideias de Karl Popper, ao passo que as ideias de Paul Feyerabend são omitidas ou truncadas, não havendo em regra nenhum texto deste último filósofo em cada manual. Longe de ser um terreno livre, a filosofia que se ensina aos adolescentes está condicionada, balizada, por escolas de sectários denominados «filósofos analíticos», «positivistas lógicos» e «fenomenólogos» que agem por meio de manuais escolares, da prova de exame nacional para formatar as mentes dos alunos. Os manuais e os programas estão, ao memos em abstracto, ao serviço da ideologia da burguesia democrática mundialista e dos seus agentes nas faculdades de filosofia e cabe a cada professor consciente desmontar este embrutecimento da capacidade de pensar.

 

 

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Terça-feira, 3 de Junho de 2014
Equívocos no manual «Ousar Saber, Filosofia 11º ano» da Porto Editora (Crítica de Manuais Escolares- LXV)

 

Diversos equívocos caracterizam o manual do professor da Porto Editora «Ousar saber, filosofia 11º ano» de João Simas, Luís Salvador, Artur Morão, André da Silva Costa, José Manuel Moreira, com revisão científica de Mendo Castro Henriques, sem embargo de possuir alguns textos de boa qualidade.

 

AMBIGUIDADE E ERRO EM PERGUNTAS DE ESCOLHA MÚLTIPLA

 

Diversos erros pautam exercícios com questões de escolha múltipla neste manual. Vejamos exemplos:

 

«Assinala com uma cruz a opção correcta.»

 

«1. Um argumento por analogia é um argumento...

 

A) dedutivo que faz uma comparação entre realidades diferentes.

B) não dedutivo que parte de diferenças significativas entre realidades análogas.

C) dedutivo que parte de um certo número de parecenças entre realidades díspares.

D) não dedutivo que parte de parecenças entre realidades dispares.»

 

 (João Simas, Luís Salvador, Adelino Cardoso, Artur Morão, André da Silva Costa, José Manuel Moreira, «Ousar saber, filosofia 11º ano», Parte 2, com revisão científica de Mendo Castro Henriques, Porto Editora, p. 74).

 

 O manual não indica «a única resposta correcta»... Porquê?  Receio de revelar a fragilidade de um pensamento hiper-analítico e deformador da realidade?

 

Crítica minha: Há duas respostas correctas: B e D. São quase indistinguíveis uma da outra: a analogia é uma semelhança intuída superiormente (ana, para cima) entre dois entes ou situações diferentes entre si. Por exemplo: o homem é análogo ao chimpanzé, possuem dentição e tubo digestivo de 6 a 8 metros de comprimento, mãos, nariz, etc. Portanto, a pergunta está mal construída.

 

Vejamos outro exemplo.

 

«Assinala com uma cruz a opção correcta.»

3. A manipulação pode ser definida como...

(A) a imposição de uma tese a um dado auditório.

(B) o contrário da sedução.

(C) a livre aceitação de uma tese por parte de um auditório.

(D) o contrário de demagogia.»

 

(João Simas, Luís Salvador, Adelino Cardoso, Artur Morão, André da Silva Costa, José Manuel Moreira, «Ousar saber, filosofia 11º ano», Parte 2, com revisão científica de Mendo Castro Henriques, Porto Editora, p. 105 )

 

Segundo os autores do manual, só uma  resposta está correcta mas não dizem qual.

 

Crítica minha: ao contrário deste manual que sustenta só uma hipótese correcta, há duas respostas correctas: A, C. De facto, a manipulação pode ser uma imposição do tipo «Ou aceitam um corte de 20% nos vossos salários ou eu, empresário, serei forçado a despedir dois terços dos trabalhadores». Mas também pode ser ou incluir a «livre aceitação de uma tese por parte de um auditório» como, por exemplo, o argumento manipulatório pró-vacinação «Deves vacinar-te porque os vírus atenuados e as toxinas da vacina ensinam o teu corpo a defender-se contra uma versão maior dessa doença». A apologia da vacinação é uma manipulação de milhões de pessoas com aceitação livre dos argumentos por parte desses milhões.

Persuasão racional não se opõe a manipulação porque esta inclui, muitas vezes, a persuasão racional. Manipulação opõe-se a não manipulação ou seja, a aleteia (desvelação da verdade) e heurística, descoberta da verdade por si mesmo.

 

HIPER-ANALITISMO NA DESCRIÇÃO DO ACTO COGNTIVO

 

A descrição do acto cognitivo neste manual padece de hper-analitismo, isto é, fragmentação excessiva de aspectos de um mesmo conceito, uma vez que oferece nove determinações ou momentos daquele acto, sem distinguir a substância do acidente, o sujeito do predicado:

 

«Momentos intrínsecos à actividade cognitiva

Imaginemos uma cena de laboratório (de física, de química, de biologia, erc).

 

a) Nos que ali trabalham, com empenho, concentração e entusiasmo, conseguimos reconhecer, em primeiro lugar, o momento psicológico: vibra no esforço e no desejo de entender, umas vezes no desânimo (...)

 

c) também lá se agita o momento pessoal, que muitos filósofos olham com desconfiança no plano cognitivo (...)

 

h) E, claro, da faina científica não podia estar ausente o momento metafísico que, de certo modo, está subjacente a todos os outros (...)

 

i) Rematando o processo cognitivo, emerge finalmente o momento transcendental: constitui o cerne da consciência (do cientista enquanto homem pleno) (...)

 

(João Simas, Luís Salvador, Adelino Cardoso, Artur Morão, André da Silva Costa, José Manuel Moreira, «Ousar saber, filosofia 11º ano», Parte 2, com revisão científica de Mendo Castro Henriques, Porto Editora, pp. 239-242 )

 

Há certa confusão neste texto. Se, ao contrário do que o texto indica, o momento psicológico está contido no momento pessoal, porque hão-de estar separados nesta divisão como alíneas distintas? A pessoa é substância e a sua  psique, um estado de alma, é qualidade, acidente dessa substância.

O momento transcendental está contido no momento metafísico, é por assim dizer, a metafísica interna do sujeito, - se por transcendental entendermos não o transcendente, o que está além de e fora de, mas a estrutura originária, a priori, do sujeito ou da relação sujeito-objecto. Não há pois razão para colocar metafísico e transcendental como momentos do conhecimento com igual estatuto, em alíneas separadas.

 

 

OCULTAÇÃO DA ESSÊNCIA DO PENSAMENTO DE PAUL FEYERABEND

 

Este manual refere o filósofo Paul Feyerabend, maior em amplitude pensante que Karl Popper e Thomas Khun, de forma superficial e parcelar:

 

«...o filósofo austríaco Paul K. Feyerabend (1924-1994) . Diz ele: "a ciência é uma empresa essencialmente anarquista, "houve teorias científicas que se impuseram apesar de numerosas incoerências", "todas as metodologias têm os seus limites, e a única regra que sobrevive é: tudo serve!" E juntamente com Kuhn partilha a ideia da incomensurabilidade das teorias, ou seja, que elas não são comparáveis...»

 

(João Simas, Luís Salvador, Adelino Cardoso, Artur Morão, André da Silva Costa, José Manuel Moreira, «Ousar saber, filosofia 11º ano», Parte 2, com revisão científica de Mendo Castro Henriques, Porto Editora, p. 236 )

 

Não é verdade que Paul Feyerabend defendesse a incomensurabilidade das teorias tal como Thomas Khun. No seu livro «Diálogo sobre o método», Feyerabend afirma, ao contrário de Kuhn e de Popper, o carácter científico da astrologia (não da astrologia comercial, degradada). Por isso, entre o paradigma astrológico, determinista, e o paradigma anti-astrológico, indeterminista, ele optou a favor do primeiro, porque é mensurável e não incomensurável. Escreveu, para demonstrar o princípio de que os astros (em cima) influenciam decisivamente os fenómenos terrestres (em baixo):

 

«Tomemos a ideia de que os cometas anunciam guerras .(..) Acreditava-se que os cometas eram fenómenos atmosféricos, uma espécie de incêndio nas camadas superiores da atmosfera. (...) Ademais a excessiva quantidade de fogo e os movimentos da atmosfera alterariam a normal composição de esta e afectariam o metabolismo de homens e animais. (...) As pragas propagar-se-iam mais facilmente, o sobreaquecimento do ar originaria também um sobreaquecimento dos cérebros que, por sua vez, provocaria um aumento de decisões irresponsáveis entre os homens poderosos, o que significaria em uma palavra, a guerra. É possível que a aparição de quatro ou cinco cometas se tenha visto acompanhada dos fenómenos descritos anteriormente. De facto, Kepler, que acumulou uma grande quantidade de material importante, advertiu sobre estas relações e utilizou-as quando tratou de edificar uma astrologia empírica.» (Paul Feyerabend, Diálogo sobre el método, Ediciones Cátedra, Madrid, pág. 90).

 

De igual modo, entre as medicinas alternativas e naturais (acupunctura, naturopatia, ervanária, etc) e a medicina ultramoderna das biópsias, raios X, medicação quínica, Feyerabend pronunciou-se a favor da superioridade das primeiras e da perigosidade das segundas e do tratamento em hospitais. Criticando o erro ( a ) da medicina universitária actual encontrar uma causa local específica para cada tipo de doença e recusar a ideia de Hipócrates de que a causa de todas as doenças é geral e uma só (a intoxicação dos humores, líquidos que banham os orgãos corporais), Feyerabend escreveu:

 

« Outro exemplo é a fé de que a investigação científica, não a experiência clínica, leva a descobrir os melhores tratamentos. Estreitamente relacionada com esta fé se encontra a ideia de que toda a doença tem uma causa próxima, que é altamente teórica e que se deve descobrir. Como se supõe que o diagnóstico revela a causa próxima, eis que se fazem radiografias, explorações cirúrgicas, biópsias e outras estupidezes do estilo.»

(Paul Feyerabend, Diálogo sobre el método, Ediciones Cátedra, Madrid, pág. 41).

 

Este conteúdo essencial do pensamento de Feyerabend , isto é, apologia da astrologia e da medicina natural, é ocultado neste manual, como em  todos os outros manuais de filosofia do ensino secundário, porque fere a ideologia dominante dos interesses dos grandes laboratórios e das classe médicas, académico-catedrática  e política que os representa. A universidade é, com a alta-roda da política, serva da indústria e do poder da finança. Não existe neutralidade nos currículos da universidade, em termos globais. Os manuais de filosofia em vez de serem contrapoderes teoréticos são vergonhosos agentes de doutrinação da ideologia dominante da democracia formal em que vivemos, democracia sequestrada.

 

A filosofia analítica contemporânea, juntamente com a fenomenologia, mais uma vez o dizemos, não é neutra: é a ideologia universitária da burguesia mundialista, está a monitorizar o ensino da filosofia, expurgando-o de astrologia, anarquismo, marxismo, esoterismo tradicional (Julius Évola, René Guenon, Jean Hanu, etc), sociologia holística (Ivan Ilich, etc), antroposofia, e de todo o pensamento metafísico livre ou não alinhado em geral. Vivemos, pois, sob um criptofascismo académico que proibe pensar em modo holístico livre e em certas áreas do conhecimento.

 

 

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Terça-feira, 18 de Fevereiro de 2014
Teste de filosofia do 11º B (Fevereiro de 2014)

 

Eis um teste de filosofia, o primeiro do segundo período lectivo do 11º B.

 

Agrupamento de Escolas nº1 de Beja
Escola Secundária Diogo de Gouveia , Beja
TESTE DE FILOSOFIA, 11º ANO TURMA B
14 de Fevereiro de 2014. Professor: Francisco Queiroz

 

Pensamentos sem conteúdo são vazios; intuições sem conceitos são cegas…A razão é incondicionada, o entendimento é condicionado… O entendimento faz a síntese do diverso da intuição empírica… ” (Kant, Crítica da Razão Pura).

 

1-A) Explique, concretamente, cada uma destas frases de Kant.

 

1-B) Explique como, segundo a doutrina de Kant, se formam o fenómeno JANELA e o conceito empírico de JANELA.

 

2) Relacione, justificando:

 

2-A) Idealismo, realismo crítico, fenomenologia e doutrina de Parménides sobre o ser.

 

2-B) Método hipotético-dedutivo das ciências e teoria de Popper sobre as ciências.

 

2-C) Três tipos de substâncias na ontologia de Descartes e três tipos de ideias na gnosiologia de Descartes.

 

2-D) Anarquismo epistemológico de Paul Feyerabend, medicina universitária e mito.

.

 

 

CORREÇÃO DO TESTE (COTADO PARA UM TOTAL DE 20 VALORES)

 

 

1-A) Ao dizer «pensamentos sem conteúdo são vazios», Kant quer significar que o conteúdo, a matéria-prima do pensamento do entendimento, vem das intuições empíricas da sensibilidade, faculdade onde se formam os fenómenos ou objectos aparentes.  Sem os dados da sensibilidade, o entendimento fica vazio. Só  pela intuição empírica de «erva verde»,  o pensamento do entendimento consegue formar o conceito empírico de erva ou o juízo empírico «A erva é verde», por exemplo.  Ao dizer «intuições sem conceitos são cegas» Kant queria dizer que a sensibilidade, lugar das intuições e fenómenos, é incapaz de interpretar o mundo físico que ela aberga, vê este mas não o pensa. (VALE DOIS VALORES) A razão é incondicionada porque, como faculdade das ideias e raciocínios, não está submetida à observação da natureza e às suas leis (sensibilidade+ entendimento), pensa livremente os númenos e pode até abdicar das categorias do entendimento como causa-efeito, etc. O entendimento, faculdade que pensa os fenómenos (exemplo: casa, rio, pássaro, céu)  é condicionado porque está subordinado aos fenómenos da sensibilidade que ele pensa e está proibido de produzir juízos erróneos como por exemplo «As sementes de roseira geram pinheiros» porque isto viola as categorias de realidade e de necessidade. (VALE DOIS VALORES)

O entendimento, função que pensa os fenómenos, reduz à unidade, a um resumo, o diverso, as múltiplas intuições empíricas. Exemplo: depois de a sensibilidade ver centenas de rosas que ela mesma cria em si mesma, o entendimento recebe as imagens da sensibilidade e, munido de categorias ou conceitos puros como «unidade», «pluralidade», «totalidade», constrói uma única rosa intelectual, um conceito empírico de rosa, abstraindo de pormenores como a cor, o perfume, etc. (VALE UM VALOR)

 

1-B) O númeno afecta «do exterior» a sensibilidade e cria, nesta, um caos de matéria (madeira, terra, ferro, etc). Este caos é moldado pelo espaço que nele imprime figuras geométricas e pelo tempo que lhe confere duração, sucessão, simultaneidade. Assim nasce o fenómeno janela, na sensibilidade «externa», isto é, no espaço. O entendimento intervém na medida em que confere à janela o carácter de substância, de divisibilidade (em partes: caixilhos de madeira ou metal, vidros, fecho, etc). São enviadas ao entendimento imagens de diferentes fenómenos janelas - janelas rectangulares, redondas, etc - e as categorias ou conceitos puros do entendimento como pluralidade, unidade e realidade misturam e tratam essas imagens empíricas transformando-as num só conceito empírico, o de janela, abstraindo dos pormenores das janelas particulares. (VALE TRÊS VALORES)

 

2) A) A fenomenologia é um cepticismo moderado: cingindo-se aos fenómenos - o que é visível, o que se manifesta- ela não se pronuncia a favor do idealismo ontológico nem do realismo ontológico. O idealismo solipsista afirma que o mundo de matéria é irreal e interior a uma única mente, a minha. O realismo crítico sustenta que o mundo de matéria é real, exterior às mentes humanas, mas estas captam-no de forma distorcida (exemplo: as cores violeta, amarela e castanha não existem no mundo exterior, são fabricadas na minha mente a partir de movimentos vibratórios de partículas no exterior).

Em Parménides a percepção empírica é ilusão («Nascimento e morte, alteração das cores maravilhosas são ilusões» ), o pensar está a todo o instante centrado no ser uno, imóvel, homogéneo, imprincipial, invisível, esférico, eterno. É portanto, uma teoria racionalista, que não dá crédito às percepções empíricas mas sim ao raciocínio ("Só o pensar, o raciocínio e a intuição inteligível captam o ser"). Esse racionalismo pode ser um realismo crítico - a esfera do ser pode ter carácter material, pode ser formada por uma matéria imperceptível aos sentidos - ou um idealismo crítico como em Kant.  (VALE TRÊS VALORES)

 

2) B) O método hipotético-dedutivo decompõe-se em quatro etapas: observação, hipótese (indução amplificante), dedução da hipótese e experimentação que confirma ou desmente a hipótese. Karl Popper opõe-se à indução amplificante, pois sustenta que a observação de casos particulares, por muito numerosos que sejam, não autoriza a formular leis gerais universais. Para Popper, as ciências empíricas são conjuntos de conjecturas, suposições, que podem ser temporariamente aceites enquanto não forem refutadas pelo debate de ideias e pelos testes experimentais que não verificam as leis mas apenas corroboram, isto é, confirmam exemplos. O princípio da falsificabilidade estabelece que só pode merecer o título de "ciência" provisória a doutrina que se exponha a testes (testabilidade) e propicie a sua auto-destruição ou rectificação. O conhecimento é uma perpétua aproximação à verdade, que nunca se atinge por completo. (VALE TRÊS VALORES)

 

2) C) Descartes admitia três tipos de ideias: adventícias, factícias e inatas. E três substâncias ontológicas: a res divina (Deus), a res cogitans (o pensamento humano) e a res extensa (o espaço com as figuras geométricas, os corpos na sua vertente de comprimentos, larguras e altura). Pode-se fazer corresponder a res divina Deus às ideias inatas porque estas são absolutamente seguras: as ideias de corpo, alma, Deus, figuras geométricas, números.

Por ideias adventícias, Descartes entendia as sensações e percepções empíricas. Exemplo: ver uma jarra de flores, saborear gaspacho, ouvir música. Ora, as percepções empíricas serão parcialmente ilusórias segundo Descartes: as cores (exemplo:o vermelho da rosa), os cheiros (exemplo: o perfume da rosa), os sabores, a dureza e a moleza, o calor e o frio, são qualidades secundárias, isto é não existem na realidade objectiva, no mundo material exterior ao corpo humano, surgem apenas na mente como ilusão, resultando do embate nos orgãos sensoriais de «poeiras» exteriores emanadas dos objectos. No entanto, as ideias adventícias, na medida em que reflectem as formas, o tamanho e o movimento dos objectos exteriores, isto é, as qualidades primárias, não transmitem ilusão mas sim verdade. Pode-se fazer corresponder as ideias adventícias à rex extensa.

Por ideias factícias, entende-se as ficções da imaginação (exemplo: uma sereia, um elefante com patas de leão, etc). Podemos fazê-las corresponder à res cogitans. (VALE TRÊS VALORES)

 

2) D) Anarquismo epistemológico de Paul Feyerabend é a doutrina segundo a qual não deve haver ciências contemporâneas - a biologia, a medicina, a física, a história, a filosofia, ensinadas nas universidades - em posição superior às ciências holísticas herdadas da antiguidade - astrologia, acupunctura, medicina natural, medicina hopi, alta magia, etc. Anarquismo significa autogestão, assembleias de base a decidir, ausência de chefes e de Estado. Epistemologia é reflexão sobre as ciências. A medicina universitária promove os diagnósticos com raios X, biópsias, o emprego massivo de vacinas, etc, que Feyerabend considera estupidez, tal como considera estúpida a teoria das causas locais da doença (Exemplo: «A doença de fígado nasceu no fígado devido a um vírus») porque a causa da doença é estrutural (holismo), geral, extensiva a todo o organismo. Feyerabend considerava os homens sapiens do mito como os criadores da cultura - as religiões, a magia, a ecologia, são frutos da mentalidade mítica, holística, ainda hoje presente em tribos índias afastadas da civilização tecnológica - e, portanto, mais inteligentes que os cientistas actuais que intoxicam a humanidade com drogas farmacêuticas e saturam o ar com radiações electromagnéticas (telemóveis, hi fi, etc) que causam cancros, perturbações nervosas e muitas outras doenças. (VALE TRÊS VALORES). 

 

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