Paul Davies escreveu no seu excelente livro «Deus e a Nova Física»:
«Um agente livre é aquele que pode causar certos actos no mundo físico. Num universo indeterminista, ocorrem eventos que não têm causa. Mas poder-se-á ser responsável pelos actos a não ser que sejam "causados" por alguém? Os defensores do livre arbítrio afirmarão que que as actividades da pessoa são determinadas, por exemplo, pelo seu carácter, inclinações, personalidade.»
«Suponhamos que um homem pacífico comete, repentinamente, um acto violento. O indeterminista diria: «Foi um acontecimento espontâneo, sem causa antecedente. Não se pode culpar o homem.» O determinista, por seu lado, declararia o homem responsável, mas confortar-se-ia com o facto de ele poder vir a ser reabilitado pela educação, persuasão, psicoterapia, drogas, que provocariam um comportamento diferente no futuro. » (Paul Davies, Deus e a Nova Física, Círculo de Leitores, 1989, pág. 171; o destaque a negrito é colocado por nós).
Ora o que sucede é exactamente o oposto do que diz Paul Davies. O que é o livre-arbítrio? É a escolha livre, ponderada, racional de um acto ou de valores sobrepondo-se ao determinismo biofísico. O livre-arbítrio é uma parte do indeterminismo, da inexistência de necessidade, de relações constantes causa-efeito. Portanto dizer que «Os defensores do livre arbítrio afirmarão que as actividades da pessoa são determinadas, por exemplo, por exemplo, pelo seu carácter, inclinações, personalidade» constitui um erro: se são determinadas pelo carácter ou inclinações, o livre-arbítrio desaparece.
Por outro lado, dizer, a respeito de um crime hediondo praticado por um homem até então bem comportado que « o indeterminista diria: «Foi um acontecimento espontâneo, sem causa antecedente. Não se pode culpar o homem.» é errado, pelo menos no que toca a uma parte dos indeterministas. Se há indeterminismo, maior é a responsabilidade de cada um, não há desculpas, o livre-arbítrio deveria ter-se exercido sobre a base da vigilância.
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© (Direitos de autor para Francisco Limpo de Faria Queiroz)
A beleza, enquanto percepção da proporção, simetria, geometria das coisas, do universo, inspira a concepção astrofísica do cosmos e a complementar concepção microfísica da matéria. O interessante é constatar que a estética se entrelaça com o determinismo biofísico, implica uma dimensão de objectividade. Escreveu Paul Davies:
«Todos os grandes cientistas são inspirados pela beleza do mundo natural que procuram entender . Cada nova partícula subatómica, cada objecto astronómico inesperado, produz deleite e espanto. Ao construirem as suas teorias, os físicos são frequentemente guiados por secretos conceitos de elegância na crença de que o universo é intrinsecamente belo. Muito frequentemente, este gosto artístico revelou-se um princípio orientador frutífero e conduziu a novas descobertas, mesmo quando, à primeira vista, parece contradizer os factos observados. Paul Dirac escreveu:
"É mais importante ter beleza nas nossas equações do que vê-las adaptar-se à experiência... Porque a discrepância pode ser devida a aspectos menores que não se tomam em consideração e que virão a ser esclarecidos com desenvolvimentos ulteriores da teoria... Parece que, se alguém trabalhar com o fito de obter beleza nas equações, e se tiver realmente uma sã penetração, está na verdadeira senda do progresso" (P.A.M. Dirac, The evolution of the physicist´s picture of nature, Scientif American (Maio de 1963).
É uma ideia sucintamente expressa por Bohm . «A física é uma forma de visão e como tal, é uma forma de arte». (D.Bohm, em «A Question of Physics: Conversations in physics and Biology, pag 129).
Einstein, embora manifestando desconfiança pela ideia de um Deus pessoal, exprimiu, apesar disso, a sua admitação pela "beleza.. da simplicidade lógica da ordem e da harmonia, de que nos apercebemos humildemente e só imperfeitamente".
(Paul Davies, Deus e a Nova Física, Círculo de Leitores, pp 266-267)
Assim, a matemática parece configurar a estrutura do universo e da matéria-energia e a essência do Belo cósmico. Se Deus existe e é o Criador, é o Supremo Geómetra, como pensava Pitágoras de Samos, mas também o Supremo Esteta.
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