Schopenhauer admitiu que, na herança genética recebida em cada indivíduo, o pai transmistiu certas faculdades, como a vontade, e a mãe transmitiu outras, como o intelecto.
«A componente desarmónica, desigual e oscilante da maioria dos homens se poderia talvez deduzir do facto de que o indivíduo não tem uma origem simples mas recebe a vontade do pai e o intelecto da mãe. Quanto mais heterogéneos e desproporcionados eram entre si ambos os progenitores, maior será aquela desarmonia, essa desavença interna.»
(Arthur Schopenhauer, El mundo como voluntad y representación, Complementos, pag 580, Editorial Trotta, Madrid; o negrito é da minha autoria).
«O sanguinário tirano e defensor fidei Henrique VIII de Inglaterra teve por filha do seu primeiro matrimónio a rainha Maria, destacada pela sua afectação de virtude e crueldade, que recebeu o sobrenome de bloody Mary pelas suas numerosas queimas de herejes.» (ibid, pag 573).
«Se houvesse de falar de casos em que um filho altamente dotado não tivesse uma mãe intelectualmente destacada, tal coisa poderia explicar-se pelo facto de que a sua mãe teria tido, por sua vez, um pai fleumático, pelo que o seu cérebro inusualmente desenvolvido não teria sido adequadamente excitado pela energia do fluxo sanguíneo (..) Não obstante, o seu sistema nervoso e cerebral, sumamente desenvolvido, ter-se-ia transmitido ao filho, ao que se haveria juntado um pai vital e apaixonado, com um ritmo cardíaco enérgico; e deste modo teria aparecido aqui a outra condição somática de uma grande força de espírito.» (ibid, páginas 579-580; o negrito é posto por mim).
Para Schopenhauer a vontade é, pois, masculina, e o intelecto é feminino, no plano ontogenético. Talvez isto seja demasiado dicotómico. Se invocarmos a lei da participação mútua dos contrários ( Yang, dilatação, luz, opõe-se a Yin, contracção, escuridão, mas no Yang há um pouco de Yin e viceversa), a vontade possui um pouco de intelecto e este contém um pouco de vontade.
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