Quinta-feira, 30 de Maio de 2013
Teste de filosofia do 11º ano (último do 3º período, em 2013)

Ao finalizar o ano lectivo de 2012-2013, eis um teste de filosofia do 11º ano de escolaridade que não vive da imitação do frágil modelo de perguntas de resposta múltipla com um "X" que a maioria dos professores de filosofia deste país, qual rebanho obediente, mecanicamente parece adoptar.

 

Escola Secundária Diogo de Gouveia com 3º Ciclo, Beja

TESTE DE FILOSOFIA, 11º ANO TURMA A

                     Professor: Francisco Queiroz     

28 de Maio de 2013

 

«Segundo Thomas Kuhn, os paradigmas científicos são participantes de revoluções epistemológicas mas incomensuráveis, posição que não coincide exactamente com o conjecturalismo de Karl Popper no qual existe a noção de falsificacionismo

 

1) Explique, concretamente, este texto.

 

 

2) Relacione, justificando:

A) O anarquismo epistemológico de Paul Feyerabend, os mitos e a ciência holística.
B)  Angústia, desespero e estádio estético segundo Kierkegaard.
C) Espaço e tempo segundo Kant, espaço e tempo segundo Einstein.

 

3) Disserte, livremente, sobre os seguintes temas:

«A teleologia dos movimentos no universo segundo Aristóteles. O princípio da incerteza de Heisenberg. Relativismo nas concepções sobre os «buracos negros» do universo. A causa-efeito e a matéria na teoria de Kant»

 

CORRECÇÃO DO TESTE (COTADO PARA UM TOTAL DE 20 VALORES)

 I

1) Paradigma científico é um modelo teórico-prático assente, em regra, no determinismo, uma teoria acompanhada, em regra, por métodos de experimentação. Exemplos: o paradigma do átomo, com um núcleo interior e órbitas electrónicas; o paradigma da psicanálise dividindo a psique em inconsciente, subconsciente e consciente. A revolução epistemológica é a mudança brusca ou total de paradigma. Por exemplo,a teoria do universo geocêntrico, paradigma dominante ou ciência normal na Idade Média, durante séculos, revelou anomalias e foi contestada no século XVII por uma nova ciência, denominada ciência extraordinária, do modelo heliocêntrico defendido por Copèrnico e Galileu. A ciência extraordinária acabou por impor-se na comunidade científica e transformou-se em ciência normal. Os paradigmas são incomensuráveis: não pode medir-se qual deles é o verdadeiro ou o mais verdadeiro que o outro. O conjecturalismo de Karl Popper sustenta que as ciências empíricas não passam de conjuntos de conjecturas ou suposições (exemplo:o átomo de hidrogénio com um só electrão é uma suposição) e supõe o falsificacionismo, isto é, uma ciência precisa de ser submetida a testes de falsificabilidade - a experiências que buscam incoerências ou excepções nas suas leis - e só receberá o título de ciência enquanto não for desmentida por um conjunto de factos relevantes. Mas em Popper é possível hierarquizar as ciências mais plausíveis e demarcá-las das não ciências. (VALE TRÊS VALORES).

 

II

 

2-A) O anarquismo epistemológico de Feyerabend é a concepção segundo a qual todos os saberes devem ter,à partida, um estatuto igual e direitos iguais, à moda da democracia de base anarquista: o astrólogo deve ser tão ouvido e convidado a ir à televisão quanto o astrofísico universitário, o curador através das plantas deve figurar na mesa redonda radiofónica com os médicos alopatas. Ademais, não há um único método científico mas deve-se explorar a pluralidade de métodos e improvisar: se um doente de cancro não obtèm sucesso com a quimioterapia por que não experimentar a medicina natural, os cataplasmas de argila molhada ou a mordedura do escorpião aplicada por um técnico ? Para Feyerabend,  a universidade, o sistema de saúde, a indústria e a esfera política são  controlados por homens arrogantes e desonestos, ligados a interesses financeiros e mediáticos espúrios, que canalizam para os seus projectos e cargos dinheiros do Estado e eliminam as ciências antigas tradicionais que lhes fazem concorrência. O mito, ou história lendária dos primórdios da humanidade, com deuses, heróis e monstros, ligado a um pensamento holístico, isto é global, é mais importante que as ciências . Foram os mitos que lançaram as bases da cultura, são eles que levam as pessoas a invocar os deuses segundo ritos que funcionam, desde que contextualizados, como a dança da chuva, o exorcismo, etc, e superam as modernas psicologia e medicina farmacológica e as ciências especializadas. (VALE TRÊS VALORES).

 

2-B) A angústia é a liberdade travada, não pela necessidade mas por si mesma. É uma ansiedade que normalmente acompanha uma expectativa sobre o futuro. No estádio estético, o protótipo é o Don Juan, insaciável conquistador de mulheres que vive apenas o prazer do instante, e sente angústia se está apaixonado por uma mulher e teme não a conquistar. O desespero é posterior à angústia: é a frustração sobre algo que já não tem remédio ou que se esgotou. Ao cabo de conquistar e deixar centenas de mulheres, o Don Juan cai no desespero: afinal nada tem, o prazer efémero esvaiu-se. (VALE DOIS VALORES)

 

2-C) Espaço e tempo segundo Kant são as formas a priori da sensibilidade, as «paredes» desta. São ambos anteriores à matéria e aos objectos materiais (fenómenos) que se formam dentro do espaço ou sentido externo. Mas espaço e tempo são irreais, nada são fora do sujeito percipiente (idealismo transcendental de Kant). Segundo Einstein, existe o espaço-tempo é inseparável da matéria, não existe espaço vazio. O universo é esférico e fechado, os raios de luz descrevem curvas, ainda que possam circular infinitamente. O espaço-tempo é irregular, possui curvatura, não é plano e infinito como na geometria euclidiana,  encurva na proximidade de grandes massas de matéria, e este espaço-tempo é real em si mesmo, existe independentemente dos sujeitos (realismo ontológico). Em Einstein, o avanço do tempo (a «flecha do tempo», irreversível) seria ralentizado ou anulado à medida que um corpo viajasse a uma velocidade próxima da velocidade da luz ou mesmo atingisse esta. (VALE TRÊS VALORES).

 

 

3) Teleologia é a ciência ou o estudo das finalidades, das causas finais (télos aitía). No mundo sub-lunar, composto por 4 esferas concêntricas e imóveis- Terra, ao centro, água, ar e fogo - os corpos deslocam-se com a intenção de regressar à sua origem. Exemplo:se atirarmos ao ar uma pedra (para a esfera do ar) ela cai porque deseja voltar à Terra, sua origem. No mundo celeste, composto por 54 esferas de cristal, 7 delas com um planeta incrustado e as outras 47 com constelações de estrelas incrustadas , o movimento é circular, perfeito e começou assim: a última estrela, da última esfera, mais próxima de Deus viu Este, que é o pensamento puro e desejou alcançá-lo, iniciando um movimento de rotação da esfera. As outras estrelas e planetas imitaram-na no desejo de alcançar Deus, o télos deste movimento celeste. (VALE DOIS VALORES). O princípio da incerteza de Heisenberg é indeterminista: afirma que é impossível conhecer em simultâneo a posição e a velocidade de um electrão. O simples facto de observamos ao microscópio electrónico interfere com o fluxo de electrões em análise. (VALE DOIS VALORES). Para muitos astrónomos, os buracos negros do universo eram restos do núcleo de estrelas que colapsaram sobre si mesmas mas Hawkins e Penrose, discípulos de Einstein, concebem os buracos negros como singularidades, lugares onde as leis da física conhecidas deixam de funcionar, portas de entrada de outros universos. Isto é relativismo - a verdade científica varia de época a época de cientista a cientista (VALE DOIS VALORES). Em Kant, a causa-efeito é uma das 12 categorias ou conceitos puros do entendimento, não está na matéria, e a matéria é um conjunto de sensações, irreais em si mesmas, existentes na sensibilidade, que desapareceriam caso o nosso espírito se extinguisse.(VALE TRÊS VALORES).

 

 

 

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Domingo, 29 de Maio de 2011
É legítimo induzir que Júpiter em 0º de Touro causará úma vitória do PS nas legislativas de 5 de Junho de 2011?

É legítimo induzir resultados político-eleitorais a partir de posições planetárias no céu, na faixa circular de 12 signos chamada Zodíaco?

Digo que é. O vulgar professor ou estudante de filosofia responde, mecanicamente: «A astrologia não é ciência. É uma supertição. Basta ler o que Carl Sagan e Karl Popper dizem sobre a astrologia.» 

 

Contra a estupidez cristalizada nas mentes que deveriam ser filosóficas, mas estão embotadas pelo preconceito, pouco ou nada há a fazer... Querem ser livres ou julgam ser livres e rejeitam, à partida, estudar a hipótese de sermos simples marionetas dos movimentos planetários, hipótese absolutamente racional, que já os filósofos estóicos da Antiguidade encaravam.

 

Em 4 de Junho de 2011, Júpiter transitará de 29º do signo de Carneiro - espaço do céu de 0º a 30º da eclíptica - para 0º do signo de Touro - espaço do céu de 30º a 60º da eclíptica. Assim, em 5 de Junho de 2011, Júpiter estará em 0º do signo de Touro , o que me levaria, por indução, a prognosticar a vitória do PS de Sócrates nas eleições legislativas.

 

 

Esta indução assenta em dois únicos exemplos:

 

1) Em 25 de Abril de 1976, com Júpiter em 6º-7º do signo de Touro, o PS de Mário Soares vence, sem maioria absoluta, as eleições legislativas em Portugal, e o CDS ascende a terceiro partido.

 

2) Em 10 de Outubro de 1999, com Júpiter em 1º do signo de Touro, o PS de António Guterres vence, elegendo 115 de um total de 230 deputados, as eleições legislativas em Portugal.

 

É legítimo fazer esta indução? Creio que sim, apesar de que a amostra é muito escassa e falível. Júpiter só um em cada doze anos atravessa o signo de Touro. Posso falhar ? Sim, atendendo a que há diversos ciclos planetários cujas influências se contrapõem ou se conjugam. No entanto, tenho um paradigma científico - o da Astrologia Histórico-Social, baseada em factos históricos - diferente do paradigma dos astrólogos, comerciais ou não, que constituem 99% dos que se debruçam sobre a influência planetária na vida humana.

 


 

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