Domingo, 3 de Janeiro de 2016
Teste de filosofia do 10º ano turma B (Dezembro de 2015)

Eis um teste de filosofia numa perspectiva que ultrapassa o modelo de testes dos manuais escolares da chamada «filosofia analítica» que se limita quase só à análise lógica da linguagem e à ética, ignorando quase todos os grandes  problemas da ontologia e da metafísica.

 

Agrupamento de Escolas nº1 de Beja
Escola Secundária Diogo de Gouveia, Beja
TESTE DE FILOSOFIA, 10º ANO TURMA B
10 de Dezembro de 2015.

Professor: Francisco
Queiroz

I

“Os movimentos dos corpos no mundo sublunar e no mundo celeste, em Aristóteles, são teleológicos e Deus segundo o mesmo filósofo, é o acto puro (energeia), não tem potência (dynamis). Lao Tse, filósofo do taoísmo, entendia a dualidade Yang-Yin e escreveu que «aquele que se dedica ao Tao vai diminuindo sempre até chegar ao não agir e pelo não agir nada há que se não faça

 

1)Explique, concretamente este texto.

 

2)Mostre as diferenças entre determinismo com livre-arbítrio («moderado»), determinismo sem livre-arbítrio («radical»), indeterminismo (biofísico) com livre-arbítrio e fatalismo.

 

3)Defina radicalidade filosófica, explanando os quatro passos gnosiológicos do racionalismo de Descartes desde a dúvida absoluta.ou hiperbólica até à certeza do mundo exterior.
  

4)Relacione, justificando;
    

A) Percepção empírica, conceito e juízo.
B) Esfera dos valores espirituais e esfera dos valores vitais e sentimentais na teoria de Max Scheler.

 

CORREÇÃO DO TESTE COTADO PARA UM MÁXIMO DE 20 VALORES

 

1) Segundo Aristóteles, o mundo sublunar era composto de quatro esferas concêntricas - Terra, Água, Ar e Fogo - e os corpos existentes neste mundo são dotados de movimentos teleológicos, isto é, com finalidades (télos significa finalidade) inteligentes: os corpos movem-se no sentido de regressar à origem, à esfera do seu constituinte principal (exemplo: a pedra largada no ar cai porque deseja regressar ao seu lugar de origem, a mãe Terra). No mundo celeste, de 54 esferas de cristal, incorruptíveis, estas giram porque a finalidade dos planetas e estrelas incrustados nelas é atingir Deus, o motor imóvel, espírito puro, que se encontra fora do universo e não criou este. Deus é acto puro, isto é, realidade presente, não tem potência, isto é, capacidade de mudar e vir a ser algo diferente, porque é perfeito em absoluto, não carece de aperfeiçoamento. (ESTA PRIMEIRA PARTE VALE TRÊS VALORES). O taoísmo preconiza que a Mãe do Universo é o Tao, um ritmo sinusoidal do universo que se compõe de duas ondas (dualismo), Yang ( alto, avanço do mar, expansão, luz do dia, fogo, verão) e Yin (baixo, recuo do mar, contração, escuridão da noite, água, inverno) Lao Tse entendia por não agir o levar a vida sem ambições políticas, económicas, profissionais de renome, isto é, dedicar-se a trabalhos agrícolas de autosubsistência, contemplar o céu e o curso das estações do ano, ficar quieto em sua casa, Por isso aquele que se dedica ao Tao ou ritmo ondulatório do universo vai diminuindo em notoriedade pública já que não vai à universidade nem frequenta altos negócios nem os círculos políticos influentes. Através desse não agir, isto é, quietismo, ele consegue tudo: saúde, paz, alegria no trabalho, reflexão filosófica. (VALE TRÊS VALORES)

 

2) Determinismo com livre-arbítrio (vulgo: determinismo moderado) é a teoria segundo a qual, na natureza, as mesmas causas produzem sempre os mesmos efeitos e o homem dispõe de liberdade racional de escolha (livre-arbítrio). Exemplo: um homem decide, racionalmente, atirar-se do alto de um avião em páraquedas, sabendo que se sujeita ao determinismo na lei da gravidade, que o faz cair para a Terra. Determinismo sem livre-arbítrio (vulgo: determinismo radical) é a teoria segundo a qual, na natureza, as mesmas causas produzem sempre os mesmos efeitos e o homem não dispõe de liberdade racional de escolha (livre-arbítrio). Exemplo: movido por uma força irracional, sem liberdade de escolha,  um homem atira-se do alto de um arranha-céus, sujeitando-se determinismo na lei da gravidade, que o faz cair para a Terra e morrer esmagado. Indeterminismo com livre-arbítrio  é a teoria segundo a qual, na natureza, as mesmas causas não produzem sempre os mesmos efeitos e o homem não dispõe de liberdade racional de escolha (livre-arbítrio). Exemplo: beber água nem sempre faz funcionar os rins, às vezes paralisa-os (indeterminismo) e um grupo de pessoas ingere água por motivo de uma sede abrasadora, por  decisão livre e meditada. Fatalismo  é a teoria segundo a qual tudo na vida está predestinado e os homens não dispõem de livre-arbítrio nem existe o acaso. (VALE TRÊS VALORES).

 

.2) A radicalidade filosófica consiste no poder de a filosofia ir à raíz dos problemas, destruindo certezas do senso comum e inventando hipóteses e teses incomuns, especulativas. Os quatro passos do raciocínio de Descartes são pautados pelo racionalismo, doutrina que afirma que a verdade procede do raciocínio, das ideias da razão e não dos sentidos, racionalismo esse que é uma forma de radicalidade filosófica:

 

Dúvida hiperbólica ou Cepticismo Absoluto( «Uma vez que quando sonho tudo me parece real, como se estivesse acordado, e afinal os sentidos me enganam, duvido da existência do mundo, das verdades da ciência, de Deus e até de mim mesmo »).

 

Idealismo solipsista («No meio deste oceano de dúvidas, atinjo uma certeza fundamental: «Penso, logo existo» como mente, ainda que o meu corpo e todo o resto do mundo sejam falsos»).

 

3º Idealismo não solipsista («Se penso tem de haver alguém mais perfeito que eu que me deu a perfeição do pensar, logo Deus existe).

 

Realismo crítico («Se Deus existe, não consentirá que eu me engane em tudo o que vejo, sinto e ouço, logo o mundo de matéria, feito só de qualidades primárias, objetivas, isto é, de figuras, tamanhos, números, movimentos, existe fora de mim»). Realismo crítico é a teoria gnosiológica segundo a qual há um mundo de matéria exterior ao espírito humano e este não capta esse mundo como é. Descartes, realista crítico, sustentava que as qualidades secundárias, subjectivas, isto é, as cores, os cheiros, os sons, sabores, o quente e o frio só existem no interior da mente, do organismo do sujeito, pois resultam de movimentos vibratórios exteriores e que o mundo exterior é apenas composto de formas, movimentos e tamanhos e uma matéria indeterminada. (VALE CINCO VALORES).

 

4-A) A percepção empírica é um conjunto organizado de sensações visuais, tácteis, olfativas, térmicas, sonoras, etc. Exemplo: vejo e cheiro esta rosa vermelha. O conceito é a ideia de uma qualidade ou coisa ou classe de coisas, obtida geralmente por comparação e abstração de percepções empíricas similares. Exemplo: vejo várias rosas, fecho os olhos, e formo, no intelecto, a imagem abstrata de uma rosa vermelha. O juízo é uma afirmação ou negação, ligando dois ou mais conceitos através de uma forma verbal. Exemplo: A rosa é vermelha.

 

4. B) A esfera dos valores espirituais, na concepção de Scheler, engloba os valores estéticos (belo e feio), éticos ( bom e mau, justo e injusto), jurídicos (legal, ilegal; justo, injusto), filosóficos (verdade e erro) científicos (verdade e erro por referência, isto é, na experiência, no pragmatismo). Há valor de coisa - por exemplo, o quadro Mona Lisa de Leonardo da Vinci - valor de função - no exemplo olhar o quadro, apreciar o sorriso de Mona Lisa - e valor de estado - no exemplo: a felicidade resultante dessa contemplação visual.

A esfera ou modalidade dos valores vitais e sentimentais engloba os valores anímicos: o nobre e o vulgar, o amor e o ódio, o ciúme e a indiferença, o sentimento de juventude e o sentimento de velhice, o sentimento de vitória e o sentimento de derrota, a coragem e a cobardia.

 

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Domingo, 11 de Novembro de 2012
Fim do mundo em 21 de Dezembro de 2012? Que se pode saber mediante a Astrologia Histórico-Social?

Ocorrerá o fim do mundo, uma catástrofe que destruirá o planeta Terra ou grande parte dele, em 21 de Dezembro de 2012, como dizem os que se apoiam numa antiga profecia maia? Não sei, mas presumo que não.

 

Apenas posso formular, a partir da posição dos planetas nesse dia, hipóteses com base nos factos históricos, certo que estou do determinismo planetário-zodiacal sobre os humanos e toda a vida na Terra.  Deixarei, apenas factos, sem me atrever a formular uma previsão.

 

Nesse dia 21 de Dezembro de 2012, Úrano estará em 4º 38´/ 4º 39´ de Carneiro, Saturno estará em 8º  de Escorpião, o Sol estará em 29º do signo de Sagitário e 0º do signo de Capricórnio, Marte estará em 26º do signo de Capricórnio, Plutão estará em 8º 56´/ 8º 58´ de Capricórnio - o mesmo ponto do Zodíaco em que esteve em 20-23 de Fevereiro de 2012 e (retrógrado) em 30-31 de Maio e 1 de Junho de 2012, datas que convém investigar. Não esquecer que um signo é um arco de 30º da circunferência celeste e que todos os signos estão em simultâneo no céu a cada instante, 5 ou 6 na metade visível do céu e os restantes na metade invisível, abaixo da linha do horizonte.  

 

PONTO 4º 37´/ 4º 40´ DE QUALQUER SIGNO:

 

LISBOA, PORTUGAL

 

Em 21 de Dezembro de 2012, Úrano estará em 4º 39´/ 4º 40´ do signo de Carneiro. Aliás em quase todo o mês de Dezembro Úrano estará neste ponto ou, quase estacionário, na sua vizinhança mais próxima: em 1 de Dezembro, Úrano estará em 4º 41´/4º 40´ de Carneiro, em 13 de Dezembro estará em 4º 37´ de Carneiro, e em 24 de Dezembro, mover-se-á em 4º 40´ de Carneiro.Isso sugere, pela teoria dos graus minutos numericamente homólogos entre si de todos os signos, que descobri cerca de 2002, e publiquei em 2008 no livro "Os acidentes em Lisboa na astronomia-astrologia, Astrology and accidents in USA», que Portugal, vinculado ao ponto 4º 37´/ 4º 40´ de qualquer signo zodiacal,  deverá estar no «olho do furacão» da influência planetária nesse mês e, quiçá, no dia 21 de Dezembro.

 

 

 Em 23 de Abril de 1909, com Júpiter em 4º 39´/ 4º 37´ de Virgem, cerca das 17 horas e 40 minutos, um abalo de terra abala toda a região do vale inferior do rio Tejo, afectando Lisboa, Évora, Coimbra, Tavira e destruindo por completo a vila de Benavente e parcialmente Salvaterra de Magos, Samora Correia e Santo Estevão, com um saldo de 46 mortos e 75 feridos nesta zona ribatejana; em 25 e 26 de Novembro de 1967, com Júpiter em 4º 40´/ 4º 45´ de Virgem, chuvas torrenciais em Lisboa e arredores causam inundações diluvianas e 457 mortos confirmados além de numerosos desaparecidos e casas destruídas; em 25 de Abril de 1974, com Plutão em 4º 42´/ 4º 41´ de Balança, um golpe militar não sangrento dirigido pelo movimento dos capitães (MFA) derruba a ditadura direitista de Marcelo Caetano e instaura as liberdades democráticas em Portugal abafadas desde 1926, registando-se 4 mortos e dezenas de feridos na Rua António Maria Cardoso, em Lisboa, devido a rajadas de agentes da DGS, polícia política fascizante, entrincheirados na sua sede; em 25 e 26 de Novembro de 1975, com Úrano em 4º 36´/ 4º 46´ de Escorpião, a extrema-esquerda revolucionária incarnada nos páraquedistas de Tancos, extintos pelo VI Governo, desencadeia um golpe militar em Portugal ocupando as bases de Tancos, Monte Real , Montijo, Ota e o Estado Maior da Força Aérea e outras unidades revolucionárias sublevam-se, no dia 25, os comandos da Amadora de Jaime Neves, interpretando a “contra-revolução “liberal e legalista e contando com a passividade de Otelo Saraiva de Carvalho, comandante de Copcon, assaltam no dia 26 o Regimento da Polícia Militar e desarticulam o golpe, havendo 8 mortos nos confrontos, o triunfo da democracia parlamentarista e a derrota da esquerda extraparlamentar.

 

  

 

SATURNO EM 8º DE ESCORPIÃO:

BEIRUTE, LÍBANO

 

 

Em 21 de Dezembro de 2012, Saturno estará em 8º  37´/ 8º 42´ de Escorpião.

 

Em 12 de Novembro de 1983, com Saturno em 8º 39´/ 8º  46´ de Escorpião, termina o prazo dado a Yasser Arafat para deixar Beirute, onde com as suas forças da Organização de Libertação da Palestina continua cercado, numa semana que termina com 381 mortos e mais de 800 feridos.

 

ÁREA 29º DE SAGITÁRIO E 0º-1º DE CAPRICÓRNIO:

COSTA, SCOTT, ESCÓCIA, ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA DO NORTE

 

 

 

Em 21 de Dezembro de 2012, o Sol estará em 29º do signo de Sagitário e 0º do signo de Capricórnio. Esta posição sugere entes e femómenos de nome COSTA e nomes de ressonâncias parónimas como SCOTT ou ESCÓCIA. E ainda EUA.

 

Em 9 de Janeiro de 1913, com Marte em 28º 50´/ 29º 35´ de Sagitário, toma posse o primeiro governo do Partido Republicano Português, agora chamado Partido Democrático, chefiado por Afonso COSTA.

 

Em 21 de Dezembro de 1940, com Sol de 28º 59´ de Sagitário a 0º 0´ de Capricórnio, morre o escritor norte-americano SCOTT Fitzgerald.

 

Em 21 de Dezembro de 1984, com Sol de 28º 59´ de Sagitário a 0º 0´ de Capricórnio, Gorbachev anuncia em Edimburg, EsCÓCIA, a morte do ministro da defesa da URSS, marechal Dmitri Ustinov, de 76 anos de idade.

 

Em 21 de Dezembro de 1988, com Sol de 29º 18´ de Sagitário a 0º 19´ de Capricórnio, um Boeing 747 da Pan Am despenha-se sobre Lockerbie, na EsCÓCIA, por atentado à bomba levado a cabo por um líbio, morrendo 258 passageiros e 17 habitantes da aldeia.

 

Em 15 de Dezembro de 1975, com Mercúrio em 1º 18´/ 2º 52´ de Capricórnio, 4 operários químicos morrem e 79 outras pessoas resultam feridas quando um vagão tanque, cheio de cloro líquido, explode junto das cataratas do Niagara, nos EUA;

 

Em 11 de Setembro de 2001, com Marte em 1º 10´/ 1º 41´ de Capricórnio,  num atentado múltiplo executado supostamente pela Al-Qaeda, manipulado pela cúpula da CIA e pela Administração Bush para lançar depois uma cruzada dos EUA no Médio Oriente, dois aviões de passageiros sequestrados por pilotos islâmicos esmagam-se contra as Torres Gémeas do World Trade Center de Nova Iorque que, cerca de uma hora depois ruem, graças a bombas montadas no interior, morrendo 2 749 pessoas, um outro avião sequestrado esmaga-se num campo em Shanksville, Pensylvania, morrendo 40 pessoas, e um míssil atravessa uma parede do Pentágono, perecendo 148 pessoas.

 

 

 

ÁREA 25º-27º DO SIGNO DE CAPRICÓRNIO:

 

AS INUNDAÇÕES DA GRANDE LISBOA EM 1967, ACIDENTES OU CRIMES NOTÁVEIS EM SANTO TIRSO, EXPLOSÃO EM OFICINA DE PIROTECNIA, QUEDA DE AVIÃO EM PORTUGAL

 

 

Em 21 de Dezembro de 2012, Marte estará em 26º 4´/ 26º 51´ do signo de Capricórnio. Vejamos algumas efemérides sobre a passagem de Marte e de outros planeta nesta área do Zodíaco que nos poderão sugerir o que irá suceder.

 

 

Em 24 de Outubro de 1922, com Marte em 25º 19´/ 26º 0´ de Capricórnio, o parlamento irlandês aprova uma Constituição para o Estado Livre da Irlanda.

 

Em 25 e 26 de Novembro de 1967, com Marte em 24º 44´/ 26º 16´ de Capricórnio, chuvas diluvianas geradoras do transbordo de rios e ribeiras assolam o concelho de Loures e outros da área da Grande Lisboa, em particular  lugares como Bairro Espírito Santo, Silvado, Pombais, Arroja, Póvoa de Santo Adrião, Olival de Basto, Senhor Roubado, Urmeira, Bairro de Santa Maria, Pontinha, Serra da Luz, Famões, Bairro da Barrosa Odivelas, causando um total de 457 mortes humanas confirmadas e um número indefinido de desaparecidos, devendo o número de mortos elevar-se a cerca de 700.

 

Em 2 de Outubro de 1986, com Marte em 26º 17´/ 26º 48´ de Capricórnio, um homem de uniforme militar dispara três tiros de pistola contra Rajiv Gandhi e o presidente da república da Índia, que escapam ilesos, à saída de um templo hindu onde haviam ido prestar homenagem à memória do Mahatma Gandhi.

 

Em 8 de Fevereiro de 1990, com Mercúrio em 24º 46´/ 26º 0´ de Capricórnio, Plutão em 17º 46´ de Escorpião, Marte em 6º 48´/ 7º 31´ de Capricórnio, pelas 4.00 da madrugada, José Reis, guarda-costas do Tirsense, é assassinado à facada por um gang da droga composto por 3 homens e duas mulheres que assaltam o seu automóvel junto a uma discoteca na estrada de Santo Tirso, e o presidente do Brasil, Color de Mello, chega a Lisboa no início de uma visita oficial a Portugal; em 18 de Março de 1994, com Urano em 25º 33´/ 25º 35´ de Capricórnio, Júpiter em 14º 11´/ 14º 8´ de Escorpião, às 7.30 horas, produz-se uma série de choques em cadeia de 48 veículos na auto estrada Porto-Braga, A3, junto à saída para Santo Tirso, devido ao nevoeiro; em 17 de Janeiro de 1997, com Sol em 26º 54´/ 27º 58´ de Capricórnio, Vénus em 8º 29´/ 9º 44´ de Capricórnio, um indivíduo encapuzado e armado assalta a estação dos Correios de Caldas da Saúde, em Santo Tirso, levando o dinheiro de uma das caixas.

 

Em 16 de Janeiro de 2002, com Vénus em 26º 2´/ 27º 17´ de Capricórnio, uma explosão numa pirotecnia em Oleiros, Ponte da Barca, causa 1 morto e 1 ferido; em 31 de Janeiro de 2005, com Vénus em 26º 40´/ 27º 56´ de Capricórnio, uma explosão na pirotecnia Viana & Filhos no lugar de Monte, em Antas, Esposende, mata o operário Jorge Viana Alves.

 

Em 8 de Fevereiro de 1989, com Mercúrio em 26º 16´/ 26º 36´ de Capricórnio, um avião norte-americano da “ Independent Air Corporation”, voo 1851, despenha-se na ilha de Santa Maria, quando se fazia à pista, causando a morte dos 138 passageiros, quase todos italianos, e sete tripulantes que seguiam a bordo;em 4 de Dezembro de 1989 , com Vénus em 25º 50´/ 26º 33´ de Capricórnio,  um avião da FAP, procedente da Base Aérea de Beja, despenha-se num olival, perto de Vila Viçosa, morrendo o piloto, o tenente-coronel Joaquim Augusto dos Santos Soares.

 

 

  

OS FILÓSOFOS CONTEMPORÂNEOS E OS ASTROFÍSICOS NÃO POSSUEM RACIONALIDADE HOLÍSTICA

 

Os filósofos, em geral, e também os astrofísicos,  são, no plano da cosmologia holística, verdadeiros cretinos. Vergonha para Descartes, Kant, Nietzsche, Hume, Conte, Marx, Bakunine, Moore, Husserl, Einstein, Heisenberg, Russel,  Wittgenstein, Heidegger, Popper, Carl Sagan, Hawkins, Foucault, Derrida, Deleuze, José Gil, Nelson Goodman, Thomas Nagel, Zizeck, Simon Blackburn, Peter Singer e tantos outros que nunca souberam descobrir o determinismo astral-zodiacal e desprezaram, atacaram ou atacam, em graus diferentes, com a arrogância dos néscios, o princípio da predestinação astrológica!  Honra a Siger de Brabant, a Fernando Pessoa, a Paul Feyerabend, que possuíam a intuição holística de que o macrocosmos zodiacal comanda o microcosmos terrestre!

 

Por sua vez, a multidão dos professores de filosofia e história, de inteligência limitada e quase nenhum espírito de contestar as autoridades (Popper, Blackburn, Heidegger, Carl Sagan, Ferdinand Braudel, etc), atreve-se a atacar este tipo de  análise histórico-astronómica que elaboro, este tipo de estudo científico, este modo de fazer astrologia que não é senão cruzar dados histórico-sociais com dados astronómicos .

 

Os catedráticos de filosofia, história, sociologia, antropologia, jornalismo, astrofísica, geografia e comunicação social e outros são apenas veículos da ideologia da classe dominante, seja esta capitalista, teocrática ou «comunista»: a classe dominante não permite, nas suas universidades, jornais, revistas, programas televisivos, o estudo e a difusão da astrologia histórica, recheada de dezenas de milhar de dados precisos, como ciência exacta, porque isso demonstraria que tudo está escrito nas estrelas, mas autoriza e promove os astrólogos tradicionais, místicos ou comerciais, para iludir o público e satisfazer, falaciosamente, o desejo de este conhecer o destino.

 

Por isso reina o fascismo epistémico anti astrologia nas universidades e no ensino secundário: «Não investigarás história mediante a astronomia, proibirás a difusão da ideia de que os astros e o Zodíaco comandam as vidas dos homens, as revoluções e contra-revoluções, os acidentes de comboio, avião, centrais nucleares, etc, de astrologia só poderás falar como uma crença mística antiga ou como uma corrente de psicologia fundada nos meses do ano em que se nasce». Aventureiros anticientíficos doutorados, intelectuais de uma deficiente racionalidade, mandam nas esferas da cultura oficial, do ensino, da comunicação social neste país e no planeta!

 

Não sou um astrólogo tradicional. Rejeito a teoria das 12 casas do horóscopo. Rompi com esta astrologia «qualitativa», «aristocrática», que despreza a riqueza de dados do mundo empírico e é, em grande parte, retórica fantasista, charlatanismo. Faço ciência indutiva. É certo que reconheço a dificuldade em coordenar todos os ciclos planetários de modo a prever, com exactidão, muitos acontecimentos mas, a posteriori, detecta-se quase sempre os factores planetário-zodiacais que provocaram tal queda de avião em França, tal queda de governo em Portugal ou tal acidente de comboios na Holanda. A Astrologia Histórico-Social, jóia da coroa da ontologia e das ciências empíricas, está em construção.

 

PS- Se é professor ou estudante de filosofia, história, astrologia ou demais ciências, porque não começa a compreender os movimentos planetários e a astrologia histórico-social e libertar-se da crucial ignorância a que o votaram nessa matéria? Adquira na nossa loja online www.astrologyandaccidents.com as nossas obras «Álvaro Cunhal e Antifascismo na Astrologia Histórica», recentemente lançada, «Os acidentes em Lisboa na Astronomia-Astrologia» e outras que lhe fornecem conhecimentos que em nenhum outro lado pode encontrar. É tempo de ser culto e profundo! Pense por si, sem receio dos clichés dominantes.

 

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Segunda-feira, 5 de Novembro de 2012
Teste de Filosofia do 11º ano de escolaridade (Outubro de 2012)

 

Eis um teste de filosofia para o 11º ano de escolaridade em Portugal, dado a meio do primeiro período lectivo.

 

Escola Secundária Diogo de Gouveia com 3º Ciclo, Beja
TESTE DE FILOSOFIA, 11º ANO TURMA A
30 de  Outubro de 2012.            Professor: Francisco Queiroz

 

I
1) Considere o seguinte silogismo:

 

 

«Alguns homens são filósofos.»
«Alguns filósofos são pensadores.»
«Os homens são pensadores.»

 

 

A) Indique, concretamente, três regras da construção formalmente válida do silogismo que foram infringidas no silogismo acima.

B)  Indique o modo e a figura do silogismo. Justifique.

 

 

2) Construa o quadrado lógico das oposições à proposição «As mulheres de Moura são independentes».

 

 

3) Aplique, justificando, o princípio do terceiro excluído à tríade realismo-idealismo-fenomenologia.

 

 

4)Construa um silogismo modus ponens e um silogismo modus tollens a partir da seguinte premissa: «Se filosofar, ultrapassarei o senso comum.»

 

 

5) Distinga lógica formal de lógica informal.
 
6) Disserte livremente sobre o seguinte tema:

 

«A metafísica e a ontologia: baseiam-se em percepções empíricas, em conceitos empíricos, em raciocínios ou em intuições noéticas?  Usam mais a dedução, a indução (amplificante necessitarista, probabilística) ou a analogia?  Justifique.»

 

 

 

« CORREÇÃO DO TESTE (COTAÇÃO MÁXIMA DE 20 VALORES)»

 

1) A) Três regras da validade formal de um silogismo regular infringidas no silogismo são: de duas permissas particulares («Alguns») nada se pode concluir; o termo médio tem de estar tomado universalmente ao menos uma vez nas premissas( ora, o termo médio «filósofos» é sempre particular, «alguns filósofos», em ambas as premissas); a conclusão não pode ter maior extensão que as premissas ( «Todos os homens» na conclusão é um termo universal e as premissas são particulares).  (NOTA: A RESPOSTA VALE TRÊS VALORES). 

 

1) B) O modo do silogismo é a sua classificação mediante três letras (A,E, I, O), espelhando o tipo de proposição de cada premissa e da conclusão. Neste caso o modo é IIA (premissas particulares afirmativas, proposição tipo I, conclusão universal afirmativa, A). (NOTA: ESTA PARTE DA RESPOSTA VALE UM VALOR) . A figura do silogismo é a sua classificação consoante a posição do termo médio nas premissas. Há 4 figuras possíveis e a deste silogismo é PS ( Predicado, Sujeito), isto é, a quarta figura, em que o termo médio ("filósofos") é predicado na primeira premissa e sujeito na segunda. (NOTA: ESTA PARTE DA RESPOSTA VALE UM VALOR).

 

 

2)    A                        E

       


         I                         O


O quadrado lógico tem no vértice superior esquerdo a proposição «As mulheres de Moura são independentes», proposição tipo A, universal afirmativa, e no vértice superior direito a proposição «Todas as mulheres de Moura não são independentes», proposição tipo E, universal negativa. A relação entre A e E é: contrárias. No vértice inferior esquerdo está a proposição «Algumas mulheres de Moura são independentes», proposição de tipo I, particular afirmativa. No vértice inferior direito figura a proposição «Algumas mulheres de Moura não são independentes», proposição de tipo O, particular negativa. A relação entre as proposições I e O é subcontrárias. As relações de diagonal entre as proposições A e O, por um lado,  e E e I, por outro lado, são (imperfeitamente) designadas por contraditórias. A proposição I é subalterna à proposição de tipo A, a proposição de tipo O é subalterna à proposição de tipo E. (NOTA: A RESPOSTA VALE DOIS VALORES)

 

3) O realismo ontológico, enquanto doutrina da existência de um mundo real de matéria separado das consciências humanas, opõe-se ao idealismo ontológico, enquanto doutrina de que o mundo de matéria não é mais que ideias e imagens a flutuar fora do corpo do sujeito. A fenomenologia, enquanto ontologia heideggeriana, é céptica: não apoia o realismo nem o idealismo. O princípio do terceiro excluído diz que em cada tema só há dois campos. Neste caso, a gnosiologia (por alguns chamada epistemologia) ou é realismo ou não é realismo (idealismo + fenomenologia), não havendo a terceira hipótese. (NOTA: ESTA RESPOSTA VALE QUATRO VALORES)

 

4) Silogismo condicional tipo modus ponens:

     «Se filosofar, ultrapassarei o senso comum.»

      «Filosofo.»

       «Logo, ultrapasso o senso comum» .    (NOTA: VALE UM VALOR)

 

      Silogismo condicional tipo modus tollens:

      «Se filosofar, ultrapassarei o senso comum»

       «Não ultrapassei o senso comum.»

        «Logo, não filosofei.»         (NOTA: VALE UM VALOR)

 

5)  A lógica formal é a ciência das regras abstractas do pensamento, do «esqueleto» do pensar. Usa três princípios: identidade, não contradição, terceiro excluído. A lógica informal é a ordenação do pensamento com base em percepções empíricas e conceitos empíricos ou metafísicos, isto é, o conteúdo concreto do pensamento empírico e racional, a «carne do pensar». Exemplos: «Os deuses criaram o universo», «O universo é incriado e eterno», «O Alentejo tem paisagens lindíssimas de sobreiros e azinheiras». A lógica informal engloba a lógica formal mas adiciona-lhe o alógico das intuições empíricas ou inteligíveis.  (NOTA: VALE DOIS VALORES).

 

 

6) Metafísica é a região invisível e impalpável que (supostamente) está além do mundo físico, visível, audível e palpável. Ontologia é a teoria do ser, do ente (ón, em grego). Se tomarmos ontologia no sentido geral, esta é a teoria de tudo o que existe, na matéria, no raciocínio ou na imaginação, e então a metafísica, do mesmo modo que as teorias científicas, os mitos e os próprios objectos físicos se incluem na ontologia.  A ontologia geral, enquanto base das ciências e do senso comum, baseia-se em percepções empíricas (Visão, audição, tacto de algo) e forma juízos (frases declarativas simples, ligando dois ou mais conceitos; exemplo: «o átomo de hidrogéneo é o mais abundante no universo») e também raciocínios (articulação lógica e inferencial de dois ou mais juízos), sendo muitos desses juízos induções amplificantes necessitaristas que generalizam a partir de alguns casos ( exemplo, da Astrologia Histórica que investigo e elaboro: em 23 de Janeiro de 1909, quando Vénus deslizou em 8º-9º do signo de Capricórnio, um sismo em Fars, no Irão, matou 7000 pessoas, em 22 de Fevereiro de 2005, com Marte a transitar os graus 10º-11º do signo de Capricórnio, um sismo abalou Kerman, no Irão, fazendo 602 mortos, em 20 de Dezembro de 2010, quando Marte transitava 8º-9º do signo de Capricórnio, eclodiu um sismo em Bam, no Irão, matando 11 pessoas, portanto, induzo que o trânsito de um planeta na área 7º-10º de Capricórnio é factor gerador de  sismos no Irão e infiro que, de 26 de Novembro a 1 de Dezembro de 2012,  quando Marte transitar a área 7º-10º de Capricórnio eclodirá um novo sismo no Irão).

 

Há também a indução probabilística, mais incerta que a necessitarista (exemplo: o dono de um restaurante serviu 35 refeições num sábado, 45 no sábado seguinte, 39 no terceiro sábado e induz poder vir a servir cerca de 40 refeições no próximo sábado).  A metafísica pode usar a percepção empírica como ponto de partida (exemplo: olhar as abóbadas góticas de uma catedral é uma percepção empírica que pode levar a intuir noeticamente, isto é, através da idealização metafísica, da captação intelectual de uma essência invisível,  o que será Deus ou se há deuses no alto) mas constrói raciocínios de analogia, que estabelecem semelhanças entre objectos bastante diferentes entre si ( exemplo: Deus construiu o mundo como um relojoeiro constrói um relógio) e raciocínios dedutivos, inferências que partem do geral para o particular (exemplo: «Deus ama todos os homens, logo também ama os bejenses e a mim»). (NOTA: VALE CINCO VALORES).

 

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Terça-feira, 14 de Fevereiro de 2012
É a ontologia mais estática do que a gnosiologia e a ética?

 

A ontologia é mais estática do que a gnosiologia. O grau máximo do ser , entendido como essência existente, é o mundo das formas eternas e perfeitas ou arquétipos que, em Platão, se situa acima do céu visível, no hiperurânio. Esses arquétipos estão imóveis por toda a eternidade. Na gnosiologia, há uma dualidade entre o cognoscente, aquele que conhece ou está em busca do conhecimento, e o cognoscível/ incognoscível, que é o objeto do cognoscente, a meta do movimento sensório-intelectual deste. A ética é também menos estática do que a ontologia porque pressupõe um movimento prático ou teorético-sentimental do sujeito em direção a valores de bem ou de mal, de justo ou de injusto. E se esses valores não existirem mas forem meramente imaginários - irrealismo ético - há, mesmo assim, um movimento do sujeito em direção a ideias imaginárias, ilusórias.

 

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Segunda-feira, 7 de Março de 2011
Equívocos de Rambaldi sobre o Pirronismo e a Teoria Conjecturalista de Popper

 

Em «Oposição/ Contradição», um artigo muito interessante sobre a dialéctica, Enrico Rambaldi desenvolveu variados equívocos.  Passemos a analisar alguns.

 

O REALISMO DA CONTRADIÇÃO NÃO É EXCLUSIVO DA DIALÉCTICA (INTERNALISTA) 

 

Após descartar o senso comum por rejeitar a racionalidade da existência de contradições e oposições e "não ser significativo", Rambaldi escreve:

 

«Entre os modos de entender a oposição e a contradição que, pelo contrário, são significativos, um é o de evidenciá-las, para negar que seja possível um juízo de verdade, ou para contradizer um discurso e sobre ele construir outro; um segundo é o de analisá-las para delimitar o campo do saber; um terceiro, realista, é o de considerá-las o motor de todo o desenvolvimento.» (Enrico Rambaldi, Oposição/Contradição, Enciclopédia Einaudi, volume 10, pag 45, Casa da Moeda).

 

Esta distinção está confusa: há realismo da contradição - ou seja existência autónoma desta, fora da mente humana - tanto na segunda posição como na terceira, esta última heraclitiana/ hegeliana /marxista. O realismo não pode restringir-se à doutrina que coloca a contradição como motor interno de desenvolvimento de todos os entes e processos. É realista também a doutrina que reconhece a contradição como forma externa às coisas e entre estas mas não situada na essência interna de cada coisa.

 

Quanto ao cepticismo, não se trata de privação absoluta: o cepticismo apenas nos priva da certeza ontológica, mas não da imagem sensorial gnoseológica. Assim, o céptico possui algo, a verdade da aparência em si mesma e a dúvida metódica sobre a meta-aparência, a essência oculta, o ser do fenómeno.

 

O CEPTICISMO PIRRÓNICO É SUBJECTIVISMO RADICAL NEGATIVO? E O CONJECTURALISMO DE POPPER É SUBJECTIVISMO MODERADO CONSTRUTIVO?

 

Rambaldi designa o cepticismo de subjectivismo radical negativo:

 

«Subjectivismo radical negativo»

«(...) Na sua forma mais rigorosa (pirronismo), o cepticismo não deixa qualquer possibilidade de que este ou aquele juízo possa, mesmo fortuitamente, ser verdadeiro, mas demonstra , pelo contrário,  a necessidade da dúvida universal. » (Enrico Rambaldi, Oposição/Contradição, Enciclopédia Einaudi, volume 10, pag 45-46, Casa da Moeda; o negrito é colocado por mim).

 

Esta definição de cepticismo é parcialmente errónea: o cepticismo comporta juízos verdadeiros, para o cepticismo pirrónico o juízo «sinto calor neste dia de verão» é verdadeiro, porque se reporta a sensações, a percepções empíricas. Para os cépticos, a dúvida não é universal no sentido de extensão total, de abrangente de todo o tipo de representação e ideação. A dúvida hiperbólica desenvolvida por Descartes, essa sim, foi total, mas não coincide com o pirronismo. Descartes duvidou das percepções empíricas, do "eu", de tudo, Pirron duvidou só do lado oculto, física ou especulativamente falando.

 

Na verdade, o cepticismo pirrónico não é um subjectivismo radical negativo: Pirrón não negava que vissemos o céu como azul e sentíssemos como salgada a água do mar, simplesmente negava que pudéssemos saber (intelectualmente ou sensório-idealmente)  o que é o sabor salgado e se a côr existe mesmo no céu ou não. É um objectivismo antimetafísico e anti-racionalista: objectivismo no seu duplo sentido, porque a doutrina é perfilhada por muitos e porque capta o objecto exterior tal como é, na sua aparência visível e palpável; anti-racionalismo porque nega à razão o poder de arquitectar certezas por si mesma, para além da evidência sensorial E a teoria de Popper de que «as ciências são conjuntos de conjecturas, inverificáveis como teses» não é, senão, um cepticismo pirrónico.

 

Rodolfo Mondolfo escreveu:

 

«Os primeiros cépticos, PIRRÓN e TIMÓN, colocam três problemas capitais para o sábio: qual é a natureza das coisas; que atitude devemos assumir face a elas; que resultará dessa atitude. À primeira questão respondem (desenvolvendo motivos do relativismo de Heráclito e de Protágoras): só conhecemos o que sentimos; podemos afirmar que o fenómeno tal como nos aparece, por exemplo que o mel nos parece doce, mas que tal seja o seu ser em si. E por isso, a resposta à segunda questão é que devemos reconhecer e seguir os fenómenos, mas suspender o juízo sobre o que está oculto (a coisa em si); desta maneira temos no fenómeno o critério necessário para a conduta prática, sem possuir o inalcançável critério da verdade objectiva.» ( Rodolfo Mondolfo, Breve Historia del pensamento antiguo, Editorial Losada, pág 75, Buenos Aires, 1953; o negrito é posto por mim).

 

E Rambaldi classifica, de forma errónea, a teoria das conjunturas e refutações de Karl Popper de subjectivismo moderado construtivo:

 

«1.2 Subjectivismo moderado construtivo»

«Nem todas as perspectivas que excluem (ou se recusam a examinar a examinar se) os conceitos podem recapitular o mundo exterior implicam, no entanto, um tal pessimismo. Existem, pelo contrário, algumas que desenvolvem um uso heurístico positivo de contradições e oposições. Assim, Popper critica grande parte da epistemologia sua contemporânea porque ela lhes não concedia espaço adequado.» (Enrico Rambaldi, Oposição/Contradição, Enciclopédia Einaudi, volume 10, pag 46, Casa da Moeda; o negrito é colocado por mim).

 

Popper não é, em termos de princípio filosófico, mais construtivo do que Pirron ou Carnéades, autor do probabilismo, um cepticismo diferencial. Sucede que Popper é um céptico pragmático e, como tal, valoriza a acção, os exemplos corroborados, mas nega certeza a qualquer doutrina científica fundada na indução, excepto à matemática e à ontologia realista (o mundo material subsiste fora do meu espírito). Não há, pois, razão para esta distinção entre subjectivismo radical negativo e subjectivismo moderado construtivo, quando se põe Pirron num prato da balança e Popper no outro. Decerto, a obra de Popper é muito mais substancial do que a de Pirron mas a posição filosófica é, talvez salvo uma ou outra diferença, a mesma: cepticismo.

 

Nem o cepticismo pirrónico clássico nem a teoria de Popper são espécies do género subjectivismo. Subjectivismo pertence ao género "número de sujeitos que perfilham uma doutrina" e cepticismo é espécie do género «grau de certeza de uma doutrina».

 

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Sábado, 29 de Janeiro de 2011
Místico, segundo Wittgenstein

Wittgenstein, um dos fundadores da filosofia analítica contemporânea, escreveu:

 

«6.4.4. O que é místico é que o mundo exista, não como o mundo é.» (Wittgenstein, Tratado Lógico-Filosófico..., pag 140, Fundação Calouste Gulbenkian).

 

A mística é uma vivência ou um conhecimento irracional, em grande parte ou na totalidade impossível de ser descrita em palavras e raciocínios lógicos. Assim a ontologia é mística no seu fundamento mas a eidologia (como o mundo é, a essência das coisas como quid, causa formal) não é mística, mas conhecimento empírico-racional. E haverá, certamente, quem defenda que a eidologia, a rede das essências, brota da ontologia, o ser, do mesmo modo que o tronco e os ramos da árvore brotam da raíz.

 

Escreveu ainda:

 

«6.4.5   A contemplação do mundo sub specie aeterni é a sua contemplação como um todo limitado.

              Místico é sentir o mundo como um todo limitado.» ((Wittgenstein, Tratado Lógico-Filosófico..., pag 140, Fundação Calouste Gulbenkian).

 

 

Por que razão é místico sentir o mundo como um todo limitado? Presumivelmente, porque idealizar o cosmos como esférico e fechado, à maneira dos antigos gregos ou de Albert Einstein, é místico, ou seja, não se apoia numa verificação empírica nem numa demonstração lógica. É um "palpite"  de uma parte dos filósofos e cientistas. Entre Wittgenstein e o positivismo lógico há assim uma diferença: o primeiro afirma a existência de uma região ontológica inexprimível, mística, ao passo que o segundo proibe a especulação acerca dessa região, põe em dúvida a sua existência, declarando-a "sem sentido".

 

«6.5.2   Existe no entanto o inexprimível. É o que se revela, é o místico.» (ibid, pag. 141).

 

Assim, o místico revela-se, mas não se exprime. O fundo oculto das coisas existe mas é inexprimível por palavras ou proposições: é o místico. Só pode apreender-se por intuições sentimentais. 

 

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Terça-feira, 23 de Março de 2010
A ambígua interpretação de Nietzsche sobre o ser de Parménides

Nietzsche abordou a filosofia de Parménides de um modo algo equívoco, sem o suficiente grau de análise, isto é, sem apreender todas as faces do poliedro gerado pela palavra grega ser (einai). Escreveu:

 

«Na filosofia de Parménides, preanuncia-se o tema da ontologia. A experiência não lhe ofereceu em lado algum um ser, como ele o imaginava, mas, em virtude de o ter podido pensar, concluiu que podia existir: conclusão esta que se baseia no pressuposto de que nós temos um órgão de conhecimento que penetra na essência das coisas e é independente da experiência. Segundo Parménides, a matéria do nosso pensamento nem sequer se encontra na intuição, mas é trazida de outro lado, de um mundo extra-sensível, ao qual temos directamente acesso pelo pensamento. Só que Aristóteles, contra todas as conclusões idênticas, já realçara que a existência nunca faz parte da essência, que a existência nunca pertence à natureza das coisas. «Por isso, não se pode deduzir do conceito de “ser” – cuja essentia é precisamente o ser – a existentia do ser. A verdade lógica dessa antinomia do “ser” e do “não-ser” é absolutamente vazia, quando não pode ser dado o objecto que serve de fundamento, a intuição, a partir do qual esta antinomia é deduzida por abstracção; (…)

«Mas logo que se busca o conteúdo da verdade lógica da oposição – “o que é, é; o que não é, não é! – não se encontra, de facto, uma única realidade que seja estritamente conforme a essa oposição; posso muito bem dizer de uma árvore “ela é”, quando a comparo com todas as outras coisas, que “chega a ser” quando a comparo com ela mesma num outro momento, ou que “ela não é”, por exemplo, “ainda não é uma árvore” quando a observo em estado de arbusto. As palavras não passam de símbolos para as relações das coisas entre si e connosco, nunca afloram algures a verdade absoluta; e a palavra “ser” só designa a relação mais geral que liga todas as coisas entre si, como a palavra “não-ser”. Mas se é impossível demonstrar até a existência das coisas, a relação das coisas entre si, o que se designa por “ser” e por “não-ser”, não pode sequer fazer-nos avançar um passo para a região da verdade.» (…)

«É absolutamente impossível ao sujeito pretender ver ou conhecer algo para além de si mesmo, tão impossível que o conhecimento e o ser são as duas esferas que mais se opõem.» (Nietzsche, A filosofia na idade trágica dos gregos, Edições 70, Págs 70-71; a letra negrita é posta por mim).

 

Quando, ao referir-se ao ser, escreve que «a existência nunca pertence à natureza das coisas. Por isso, não se pode deduzir do conceito de “ser” – cuja essentia é precisamente o ser – a existentia do ser»  Nietzsche equivoca-se: a essência do ser não é "o ser" mas sim um objecto uno, imóvel, ingénito, imutável, esférico, homogéneo, eterno, como se deprende de um texto abaixo.  A palavra ser tem o duplo significado de existência, enquanto verbo, e de essência, enquanto substantivo.

Ao dizer que «a verdade lógica dessa antinomia do “ser” e do “não-ser” é absolutamente vazia, quando não pode ser dado o objecto que serve de fundamento, a intuição, a partir do qual esta antinomia é deduzida por abstracção» Nietzsche está a copiar Hegel que sustentou que no modo mais abstracto, sem possuir qualidade nenhuma  (exemplo: espírito, matéria, natureza física, humanidade, etc,) o ser é tão vago que se confunde com o não ser. É o ser como existência abstracta, não o ser como essência. Nietzshze ignora aqui a definição essencialista de ser dada por Parménides como algo de "uno, imóvel, imutável, eterno, esférico" a qual, obviamente, é oposta à de não-ser, como algo de "múltiplo, móvel, mutável, perecível, não esférico". Dispara, pois, sem acertar no alvo.

 

Não é também verdade em toda a sua extensão a frase de Nietzschze «As palavras não passam de símbolos para as relações das coisas entre si e connosco, nunca afloram algures a verdade absoluta». Há palavras que são mais que símbolos: são portas de contacto imediato, toques na "pele" do ser das coisas, são partes fonéticas ou gráficas, pseudópodes dos próprios seres. As palavras «Portugal» e «Brasil», por exemplo, são, para os respectivos povos, nomeação do ser, motores afectivos e cognitivos, não símbolos, mas «carne» de seres colectivos.

Há, pois, uma interpretação existencial do termo ser e uma interpretação essencial do mesmo termo – distinção que Nietzsche não faz, com clareza, optando por esta última interpretação, essencialista.

Nietzschze comete, no início do texto acima, um erro ao considerar que o “ser” em Parménides só pode ser interpretado como essência, como objecto.

 

Parménides escreveu dando um sentido diferente à palavra ser, isto é, o sentido de existir, constituir realidade:

«O que pode dizer-se e pensar-se deve ser (einai). Isto é o que te ordeno que consideres. Afasto-te, pois, desta primeira via de investigaçãoe depois daquela pela qual os homens ignorantes vagueiam bicéfalos; pois a impotência guia no seu peito o pensamento vacilante; são arrastados, cegos e surdos simultâneo, estupefactos, pessoas sem juízo, para quem o ser e o não ser são considerados como o mesmo e não o mesmo e para quem o caminho de todas as coisas é regressivo.

«Pois nunca se provará que sejam os não-entes (mé éonta). (Parménides in Simplício, Física 117, 4, fragmento 6).

 

 

Neste texto, Parménides faz coincidir o pensamento e a linguagem com o ser (existir) isto é, a essência, pensada e dizível, deve possuir existência, opõe a existência à não existência e critica os dialécticos, como Heraclito, que proclamam que «as coisas são e não são» e que «há um eterno retorno nas coisas».

 

Em outra passagem, Parménides delineia a essência do ente ou ser como objecto:

«..O ente (éon) é ingénito e imperecível, pois é completo, imóvel e sem fim. Não foi no passado, nem será, pois é agora todo em simultâneo, uno contínuo. » (Parménides in Simplício, Física 145, 1, fragmento 8).

«Mas porque o seu limite é o último, é completo em toda a parter, semelhante à massa de uma esfera bem redonda, igual em força a partir do centro por todas as partes; pois não é necessário que seja maior nem menor aqui ou ali.» (Parménides in Simplício, Física 146, 15, fragmento 8).

 

Para Parménides, o ser como ente – algo que é - é a totalidade das essências, das coisas, o invólucro que tudo abarca e interpenetra- daí o facto de possuir esfericidade. Não está num mundo aparte – de onde se infere isso? – mas é a unidade subjacente à multiplicidade do mundo das aparências, dos fenómenos, que é mistura de ser (o uno, o imóvel, o contínuo, o imutável) e de não-ser (o múltiplo, o móvel, o descontínuo, o mutável). O ente é o próprio cosmos sob o aspecto da unidade e da eternidade.

 

Nietzchze não distingue, pois, de forma explícita e cristalina, as duas interpretações de ser em Parménides:

1)      Como existência geral: é.

2)      Como essência geral do cosmos: uno, ingénito, imperecível, imóvel, contínuo, esférico.

O facto de o ser se deixar apreender pelo pensamento não significa, ao contrário do que sugere Nietzshze, que o ser seja ideia, pensamento, essência metafísica, Deus ou númeno. Não. O ser poderá constituir o invólucro físico uno e imóvel de todos os entes que se agitam e compõem o cosmos. Seria então o lado formal-global, indiviso, do cosmos.

 

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Sábado, 6 de Fevereiro de 2010
Ter tempo para algo: A gestação das formas do intelecto, da acção interpessoal, dos objectos

Ao dizer «tenho tempo para isto ou para aquilo» significo: posso efectuar tal ou tal acção ou deixar que tal coisa actue sobre mim– toda a acção é criação ou transformação de uma forma material, vital, social ou espiritual. Dar uma aula é uma sucessão de formas mentais e verbais – o discurso do professor e dos alunos, as definições, as correlações entre estas – que exige tempo, isto é, duração dessas formas. Portanto, ter tempo é criar, em potência, ou deixar desenvolverem-se formas, em potência: produzir ideias, raciocínios, imagens ou deixar que aconteçam, e no plano material e social, é manipular ou fabricar objectos, movimentar-se, fazer discursos, interpelar ou abraçar pessoas, etc. O tempo de que se dispõe é a duração da execução de uma tal acção ou seja o acto de plasmação de uma tal forma. O tempo é actualização do ser, passagem da potência ao acto. É manifestação do ser.

 

 

O tempo de trabalho na produção de ideias, serviços ou bens culturais e materiais determina, em princípio, ou deveria determinar, o nível de remuneração do trabalhador. Essas ideias, serviços ou bens culturais e materiais, são formas, minimamente estáveis, executadas e vigentes no tempo. Uma cadeira ou um automóvel são pensados automaticamente na sua coisidade, no ser das suas formas essenciais, e, secundariamente, são também pensados em termos de tempo de trabalho que exigiu a produção das suas formas.

 

  

 

HEIDEGGER NÃO CONCEBEU O TEMPO COMO PROPRIEDADE DA FORMA ESPACIAL

 

  

 

Heidegger esforçou-se por retirar o tempo do campo dos instrumentos de análise ontológica:

 

 

«O "tempo" funciona há muito como critério ontológico, ou melhor ôntico, da distinção ingénua entre as diversas regiões dos entes. Deslindam-se os entes "temporais" (os processos da natureza e a gesta da história) dos entes "intratemporais" (as relações espaciais e numéricas). Costuma-se destacar o sentido "intemporal" das proposições  em relação  ao curso "temporal" das orações que as enunciam. Encontra-se ademais um "abismo" entre o ente "temporal" e o eterno "supratemporal" e tenta-se franqueá-lo.»  (Heidegger, El Ser y el Tiempo, Fondo de Cultura Económica, Pág. 27).

 

 

Mas toda a crítica de Heidegger, de que «a ontologia tradicional confundiu o ser com o tempo», passa por alto a natureza do tempo como propriedade das formas, isto é, permanência destas, passa por ignorar o carácter intrinsecamente temporal do ser. Heidegger continua prisioneiro do dualismo de Kant que postula o  espaço, como sentido externo, e o tempo como sentido interno. Por isso, a concepção heideggeriana do ser é estática, imobilista como seria a de Platão se circunscrevesse rigorosamente o ser ao mundo do Mesmo. E a sua distinção entre ôntico-existente - por exemplo: «o tempo é infinito onticamente» - e ontológico-existencial ou existenciário - no exemplo: «o tempo real é finito ontologicamente» - é algo artificial porque o ôntico é a manifestação do ontológico que transporta dentro de si.

 

É por isso que, ao caracterizar a ontologia de Nietzschze, Heidegger distingue como ser a vontade de poder e como sua modalidade o eterno retorno que seria a existentia, a manifestação temporal externa. O equívoco heideggeriano está em que o ser é tanto a vontade de poder (ser em si) como o eterno retorno (ser por si e para si). Como seria possível conhecer o ser como vontade de poder, que, na teoria de Nietzschze, tem duas faces - a vontade de poder dos aristocratas esclavagistas ou feudais, antiliberais até à medula, e a vontade de poder da plebe, incluido a burguesia liberal e a populaça democrática ou mesmo anarquista e comunista na sua forma extrema - se na serpente circular do tempo não se manifestassem, alternadamente, estas duas faces? O ser inclui o tempo, desdobra-se neste.

 

O vínculo entre tempo e forma é indissociável: o tempo é a permanência, mais ou menos efémera, das formas das coisas, formas que são o ser. Como a permanência ou duração pertence às formas das coisas, ao ser, o tempo pertence ao ser, constitui a camada periférica deste.

 

Faz sentido distinguir um tempo psicológico de um tempo extra animam, objectivo, pois as formas psíquicas gozam de grande autonomia em relação às formas físicas.

 

Max Scheler falou na existência de uma duração sem sucessão. Tal só é possível na duração eterna ou eternidade, fora do tempo mutável, sinuoso. Porque a eternidade é da mesma natureza - ou seja duração - que o tempo historicamente delimitado: é a infinitude deste. Aliás, um dos problemas centrais da filosofia é justamente o de saber se a eternidade é real em acto ou apenas uma fantasia, uma potência ilusória.

 

A duração é a característica essencial do tempo.

 

 

 

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Quarta-feira, 28 de Outubro de 2009
Equívocos do «Dicionário Escolar de Filosofia» da Plátano Editora

Lançou a Plátano Editora, de Lisboa, em Setembro de 2009, uma segunda edição do Dicionário Escolar de Filosofia, com  entradas de 12 autores, entre eles o organizador, Aires Almeida. Apesar de conter um bom número de tópicos interessantes, e propiciar um certo número de conhecimentos úteis aos leitores, este dicionário é portador de um considerável número de equívocos teóricos, de erros e imprecisões. Vejamos alguns deles.

 

OMISSÃO DA DISTINÇÃO ENTRE  EIDOS PLATÓNICO E  EIDOS ARISTOTÉLICO

 

Um dos artigos equívocos é o que se refere ao eidos:

 

Eidos

 

«Termo grego que significa «forma» ou «ideia». PLATÃO considerava que as formas ou ideias eram imutáveis, imateriais e não podiam ser percepcionadas pelos sentidos, mas eram a realidade última, sendo as coisas apenas uma pálida sombra das formas.»  DM   (Aires Almeida e outros, Dicionário Escolar de Filosofia, Plátano Editora, pag 95).

 

O que há de impreciso, omisso, equívoco, nesta definição fornecida por Desidério Murcho (DM)?  Antes de mais, o ocultar o carácter eterno das ideias, segundo Platão, e a sua permanência no Mundo do Mesmo ou Inteligível, acima do céu visível.

 

Em segundo lugar, o esquecimento de que o termo eidos designa essência.

 

Em terceiro  lugar, a omissão das diferentes concepções que Platão e Aristóteles perfilhavam sobre o termo eidos: para Platão, a essência é ideia, uma forma singular e única, própria, - em grego, próprio diz-se idios - que não existe no mundo material; para Aristóteles, a essência é uma forma comum ou espécie (eidos), existente no mundo físico em todos os entes singulares por ela abrangidos (exemplo: a essência ou eidos cavalo está neste cavalo de raça lusitano, naqueles cavalos andaluzes, e, enfim, em todos os cavalos físicos do mundo). O eidos segundo Aristóteles, omisso na definição de DM, não é exterior ao mundo físico como o eidos teorizado por Platão e possui, ademais, um carácter intrinsecamente agrupador.

 

   

 

CONFUSÃO SOBRE O RELATIVISMO MORAL ENUNCIADO COMO UM ABSOLUTISMO EM CADA SOCIEDADE

 

A definição fornecida de relativismo moral, neste dicionário, é parcialmente errónea:

 

«Relativismo moral»

 

«Teoria Metaética segundo a qual os factos morais são instituídos pela sociedade e, portanto, podem variar de sociedade para sociedade ou de época para época. Se numa sociedade a maior parte das pessoas acredita, por exemplo, que a pena de morte é justa, então nessa sociedade a pena de morte é justa. Para o relativista, os juízos morais limitam-se a reflectir certos costumes sociais. Quando os costumes ou as crenças morais de uma sociedade mudam, também os factos morais se alteram.» PG

 

(Aires Almeida e outros, Dicionário Escolar de Filosofia, Plátano Editora, pag 222).

 

Pedro Galvão (PG), tal como Peter Singer, James Rachels e outros famosos da ética, não tem um conceito correcto de relativismo. Que é o relativismo? É a doutrina segundo a qual a verdade é relativa às epocas e lugares, isto é, varia de época a época e de lugar a lugar, varia de povo a povo, de país a país, varia segundo as classes e grupos sociais no interior de cada país ou sociedade.

 

A democracia liberal é, por essência, um regime relativista: o facto de em Setembro de 2009, o PS de Sócrates ter vencido as eleições legislativas em Portugal não torna a ideologia do PS - ou as ideologias europeístas do PS e do PSD que em conjunto abarcam a maioria dos eleitores portugueses votantes - a verdade única para toda a sociedade. Não. Continuam a subsistir segmentos sociais, políticos e culturais diversos - a direita nacional neosalazarista do PNR, a direita conservadora CDS, a esquerda neoestalinista do PCP, a esquerda radical ou semianarquista do BE, etc; os católicos e os islâmicos opositores da legalização das uniões homossexuais, etc - com outras verdades éticas e políticas. É este mosaico multicor que constitui o relativismo.

 

Há, pois, relativismo no seio de cada sociedade - várias verdades ou interpretações sobre a mesma coisa (por exemplo: defensores e detractores do aborto livre; comunistas e não comunistas, etc)-mas Galvão não concebe isso: sustenta a unicidade e uniformidade ética, isto é, que a verdade da maioria é a verdade de todos. É absolutismo de maiorias e não relativismo o que Pedro Galvão define como "relativismo". O único relativismo que reconhece é o da variação de leis ou costumes dominantes de sociedade para sociedade - por exemplo, a liberdade da mulher nas democracias ocidentais em contraste con a opressão da mulher na Arábia Saudita e em outros países de gritante hegemonia masculina. É uma concepção "coxa", parcialmente deformada, de relativismo.

 

CONFUSÃO DE DETERMINISMO COM FATALISMO

 

Um erro em que o próprio Thomas Nagel, premiado internacionalmente em filosofia (!), incorre, e que o presente dicionário escolar repete,  é a confusão entre determinismo e fatalismo:

 

Determinismo/Indeterminismo

 

«O determinismo é uma tese que nos diz que o passado, mais as leis da natureza, determinam a cada instante, um único futuro. Assim, num mundo determinista não há mais do que uma forma de o mundo ser a cada instante. Esta apresenta-se como uma linha de comboio sem bifurcações ou encruzilhadas. O indeterminismo é a tese oposta: a ideia de que o estado do mundo num dado momento é compatível com vários estádios distintos num momento posterior. Ou seja, a linha de comboio tem bifurcações, momentos claros de possibilidades alternativas. Actualmente, não sabemos se o determinismo é verdadeiro ou não. A questão é empírica, e não há razões suficientes para decidir a questão.» MA

 

(Aires Almeida e outros, Dicionário Escolar de Filosofia, Plátano Editora, pag 88; o bold é nosso).

 

Determinismo está mal definido por Miguel Almeida (MA). Que é o determinismo? É o princípio de repetição segundo o qual nas mesmas circunstâncias, as mesmas causas produzem os mesmos efeitos. É uma das modalidades da Necessidade. A lei da gravidade exerce-se, de forma determinista, sobre os milhares de páraquedistas que se atiram de aviões mas o livre arbítrio de cada um deles, operando a abertura dos paraquedas, impede que o determinismo da queda livre actue plenamente e os faça esmagar-se na terra. O que MA define acima como «linha de comboio sem bifurcações» é o fatalismo, a predestinação, diferente do determismo. Este só na aparência traduz predestinação visto que pode ser «desviado» ou contrariado pelo livre-arbítrio e pelo acaso. O determinismo, ao contrário do que sustenta Miguel Almeida, é uma «linha de comboio com ramificações e bifurcações»: usando as "agulhas" do livre-arbítrio - ou sendo o acaso a mudá-las - o maquinista pode fazer o comboio ir pela via da esquerda ou pela via da direita, avançar ou parar. O que não pode é fazer sair o comboio dos carris do determinismo...

 

O nosso mundo rege-se pelo determinismo mas a guerra do Iraque, lançada pelos EUA e Grã-Bretanha em 2003, podia, ao menos teoricamente, ter sido evitada se Barack Obama e não George Bush ocupasse a presidência dos EUA.

 

Indeterminismo está igualmente mal definido no artigo acima. Há que distinguir indeterminismo no resultado final - que é compatível em regra com o determinismo biofísico visto que a este se adiciona certa dose de acaso- de indeterminismo estrutural ou modal, que é a negação do determinismo ou conexão necessária, infalível, entre causas de tipo A e efeitos de tipo B.

 

Que sentido tem definir compatibilismo como «coexistência do determinismo com o livre-arbítrio» como o faz este Dicionário se neste artigo se toma o termo determinismo como fatalismo, predestinação absoluta? É uma incoerência, tal como é incoerência distinguir determinismo moderado de determinismo absoluto.

 

A "DEFINIÇÃO" PELA NEGATIVA DE CORROBORAÇÃO

 

Herdeiro de uma certa falta de clareza intelectual de Karl Popper, o presente Dicionário não define claramente o que é corroboração para este filósofo inglês:

 

corroboração

 

«Na sua FILOSOFIA DA CIÊNCIA, POPPER rejeita a INDUÇÂO e, consequentemente, a ideia de que uma hipótese ou teoria científica pode ser confirmada por dados empíricos. Assim, no seu FALSIFICACIONISMO a noção de CONFIRMAÇÂO dá lugar à de corroboração. Uma hipótese ou teoria científica é corroborada por dados empíricos quando sobrevive a testes experimentais, isto é, quando não é refutada depois de ter sido posta à prova. E quanto mais severos são os testes, maior é o grau de corroboração que a teoria adquire» PG (Aires Almeida e outros, Dicionário Escolar de Filosofia, Plátano Editora, pag 76).

 

Se repararmos bem, corroboração não é definida nesta entrada: são apenas definidos os efeitos que produz, ou seja, a sobrevivência da hipótese a sucessivos testes experimentais. É como se ao definir automóvel o fizéssemos da seguinte maneira:« automóvel é quando se percorre a 100 quilómetros por hora estradas de asfalto». Não estamos a definir o veículo mas efeitos da sua acção. Pedro Galvão (PG) não nos oferece uma definição positiva, clara, de "corroboração"- talvez nem Popper o faça. Mas nós vamos fazê-lo: a corroboração é a confirmação, por testes empíricos, de um ou mais casos particulares de uma hipótese ou teoria dentro da respectiva série de casos possíveis. É uma tolice dissociar o conceito de "confirmação" do de "corroboração": ambos significam o mesmo, ainda que Popper pretenda dar maior amplitude ao primeiro.

 

A ERRÓNEA IDENTIFICAÇÃO DE PENSAMENTO E PROPOSIÇÃO

 

A incapacidade de definir conceito manifesta-se na correspondente entrada deste dicionário:

 

«conceito

 

«Os constituintes dos pensamentos (ou proposições). A PROPOSIÇÃO de que Lisboa é uma bela cidade tem como um dos seus constituintes o conceito de cidade. Ter um conceito é, argumentavelmente, saber usá-lo correctamente. Por exemplo,se alguém apontar para uma bola e disser que é um tigre, é porque não tem o conceito de tigre (nem de bola); mas se for competente no uso o termo "tigre", tem o conceito em causa. Uma das muitas questões em aberto é a de saber se os conceitos são entidades abstractas independentes da mente ou se dependem desta para existiem.» CT (Aires Almeida e outros, Dicionário Escolar de Filosofia, Plátano Editora, pag 68; o bold é nosso).

 

Esta definição de Célia Teixeira (CT), caracterizada pela vagueza, omite que um conceito é uma representação intelectual simples, uma ideia de algo (ao invés, Schopenhauer distinguia entre ideia, singular e superior, e conceito, designando um colectivo).

 

É uma definição parcialmente errónea ao dizer que «os conceitos são os constituintes do pensamento». Também os juízos e os raciocínios são constituintes do pensamento. Ademais, CT identifica pensamento e proposição, o que constitui, em rigor, um erro. A proposição é expressão de um pensamento mas nem todo o pensamento se traduz em proposições. Os conceitos de «átomo», «quark», «metafísica», «Deus» são pensamentos mas não são proposições.

 

A FILOSOFIA NÃO DISPÕE DE MEIOS DE PROVA, EMPÍRICOS E FORMAIS?

 

A distinção entre ciência e filosofia é superficial neste Dicionário como se torna patente na seguinte entrada:

 

problema filosófico

 

«A filosofia tal como a ciência, procura resolver problemas que nos afectam a todos. A diferença entre os problemas da filosofia está no tipo de problemas que ambas enfrentam. A filosofia trata de problemas para os quais não dispomos de meios empíricos nem formais de prova. São problemas reais, embora muitas vezes de carácter conceptual àcerca dos fundamentos da ciência, da religião, da arte, e até do nosso dia a dia. Por exemplo, problemas como o de saber o que é a justiça, o que é o conhecimento, qual o mecanismo através do qual os nomes referem as coisas que referem, etc. Muitas vezes tomam-se como filosóficos problemas que claramente o não são. Por exemplo, saber se a religião contribui para a coesão das sociedades não é um problema filosófico, mas sociológico(Aires Almeida e outros, Dicionário Escolar de Filosofia, Plátano Editora, pag 209; o bold é nosso).

 

Equivoca-se Aires  Almeida (AA) sobre a natureza da filosofia. A filosofia não dispõe de meios formais de prova?  Se não dispusesse destes meios não servia para nada, não tinha sequer o estatuto de pensamento reflexivo superior. É a filosofia, através do seu ramo lógico, que hierarquiza os entes em indivíduo ou substância individual, espécie e género. Ora esta divisão conceptual é um meio formal de prova de milhões de asserções entre elas a seguinte: «A Rússia é um país euroasiático ( Euro-Ásia é espécie) do planeta Terra (Terra é género)».

 

São Tomás de Aquino provou formalmente por cinco vias a existência de Deus. Objectar-se-á: falta a prova empírica. Mas as provas formais estão na Suma Teológica.

 

A filosofia usa igualmente provas empíricas para numerosas das suas teses. Exemplo: as filosofias liberal, conservadora, socialista democrática e anarquista atacam a filosofia marxista-leninista e os Estados que a adoptam com provas empíricas variadas, como os 3 milhões de mortos pelo Goulag estaliniano no século XX, o fuzilamento do general Ochoa em 1990 pelos sicários de Fidel Castro após uma vergonhosa auto-crítica fruto de brutais ameaças, o massacre dos marinheiros de Cronstad em Março de 1921, as barbaridades da Grande Revolução Cultural Proletária de Mao Ze Dong, etc.

 

Aires Almeida distancia a filosofia da ciência como o céu da terra mas, de facto, as coisas não são assim: a alma oculta e rebelde de cada ciência é a filosofia, na sombra de cada tese científica desponta a lanterna indagadora da filosofia.

 

A filosofia está para as ciências, para a religião e para a ontologia como o género para a espécie, como o género animal está para as espécies homem, elefante, zebra e outras: ela contém as ciências, ainda que estas se diferenciem dela - pela diferença específica, que inclui a necessidade e o modo de ser próprio de cada ciência. A relação entre filosofia e ciência não é a relação entre duas espécies do mesmo género ou dois géneros diferentes, como supõem Aires Almeida e outros. É, sim, a relação entre o todo (filosofia) e as suas partes (ciências: química, sociologia, matemática, biologia, etc).

 

Igualmente se equivoca AA ao dizer que «saber se a religião contribui para a coesão das sociedades não é um problema filosófico, mas sociológico». O erro reside em separar mecanicamente sociologia de filosofia. Ora, a filosofia penetra no húmus da sociologia, como as raízes da árvore penetram na terra. Saber se a religião coesiona as sociedades é, formalmente, um problema filosófico, e materialmemte um problema sociológico.Tão simples quanto isto.

 

A INCOMPREENSÃO SOBRE A CONTRADIÇÃO/LUTA DE CONTRÁRIOS COMO ESSÊNCIA DE TODAS AS COISAS

 

Não tendo entre os seus 12 autores nenhum verdadeiro conhecedor da dialéctica enquanto ontologia, isto é, enquanto modo de ser da realidade, este Dicionário Escolar de Filosofia só poderia dar uma definição truncada, parcialmente errónea, de contradição:

 

  

 

«Contradição

 

1. Uma falsidade lógica; isto é, uma proposição cuja falsidade se pode determinar exclusivamente por meios lógicos. Por exemplo, a afirmação "Sócrates é mortal e não é mortal" é uma contradição.

 

2. Duas proposições são mutuamente contraditórias quando têm valores de verdade opostos em qualquer circunstância logicamente possível. Por exemplo, as afirmações "Tudo é relativo" e "Algumas coisas não são relativas" são contraditórias. Não se deve confundir inconsistência com contradição; todas as contradições são inconsistências, mas nem todas as inconsistências são contradições. Ver consistência/inconsistência. DM» (Aires Almeida e outros, Dicionário Escolar de Filosofia, Plátano Editora, pag ;75 o bold é nosso).

 

Comecemos por descortinar que, ao contrário do que  sustenta DM, a proposição «Sócrates é mortal e não é mortal» não é, necessariamente, uma falsidade lógica. Se a metafísica religiosa espiritualista fôr verdadeira -isto é se a nossa alma racional, o nous, o atmã, fôr imortal - é consistente dizer que Sócrates é mortal nos seus corpos físico, vital e de desejos e imortal no seu corpo espiritual racional. Isto é dialéctica. Não viola o princípio da não contradição porque a contrariedade se exerce entre aspectos diferentes do mesmo ente. A lógica proposicional que Desidério Murcho (DM) defende é, em muitos aspectos, antidialéctica, unilateral, falsificadora da realidade.

 

Aquilo que Desidério Murcho  ignora - decerto não compreendeu Heráclito, Aristóteles, São Tomás de Aquino, Hegel, Marx, Althusser e tantos outros - é que a contradição consistente, a oposição de contrários - por exemplo: protões de carga positiva, e electrões, de carga negativa, no átomo; assimilação e desassimilação, na célula; inverno e verão, no ritmo das estações; sístole e diástole no bater do coração, etc - é a essência de todos os fenómenos da natureza biofísica e humano social e individual.

 

Afirmar que «todas as contradições são inconsistências» é um grave erro: é esvaziar a palavra contradição do seu sentido real, ontológico - «um divide-se em dois que lutam entre si e coexistem» - e atribuir-lhe o sentido de paradoxo. De facto há contradições inconsistentes - exemplo: «eu sou homem e cavalo, fisicamente falando» - e contradições consistentes que, aos biliões, constituem a trama ontológica da realidade - exemplo: «sou bom e mau em simultâneo, bom para com os cidadãos pacíficos e honestos e mau para com os arrogantes e prepotentes». DM não concebe esta distinção, preso que está na masmorra do castelo da antidialéctica.

 

A INCAPACIDADE DE DELIMITAR ONTOLOGICAMENTE FENOMENOLOGIA

 

A incapacidade de definir fenomenologia, de a situar ontologicamente face ao realismo e ao idealismo, é outro traço deste Dicionário:

 

«fenomenologia

 

«Termo pelo qual é designado o movimento filosófico surgido a partir da obra de Edmund Husserl (1859-1938) e que tem por objectivo principal a investigação e a descrição dos fenómenos (ver fenómeno) tal como ocorrem na consciência, independentemente de quaisquer preconceitos, pressupostos ou teorias explicativas. É possível detectar pelo menos quatro tendências principais neste movimento: a fenomenologia realista, que põe ênfase na descrição das essências (ver essência) universais (Nicolai Hartman, Max Scheler); a fenomenologia constitutiva, que procura dar conta dos objectos em termos da consciência que temos deles (Dorion Cairns, Aron Gurwitsch); a fenomenologia existencial (ver existência), que realça a existência humana no mundo (Hannah Arendt, Jean-Paul Sartre e Maurice Merleau-Ponty); e a fenomenologia hermenêutica (ver hermenêutica), que realça o papel da interpretação em todas as esferas da vida (Hans-Georg Gadamer, Paul Ricoeur). O termo é também usado para a descrição qualitativa de experiências. Em geral, a fenomenologia de uma experiência é a descrição da qualidade dessa experiência, do modo como essa experiência se dá na nossa consciência.» AN  (ibidem, pag 120; o bold é nosso)

 

Há uma fenomenologia realista e uma fenomenologia anti realista? É a fenomenologia idealismo ou distingue-se deste? Nada disto é esclarecido por Álvaro Nunes (AN) neste artigo onde a profusão de referências historicistas e a descrição da fenomenologia como método disfarça a incapacidade de definir ontologicamente fenomenologia.

 

AMBIVALÊNCIA NA DEFINIÇÃO DE VALIDADE E INVALIDADE DE UM ARGUMENTO

 

Mesmo no terreno da lógica, este Dicionário tem insuficiências:

 

«validade/invalidade

 

«A correcção ou incorrecção de um argumento. Há dois tipos de validade: a dedutiva e a não dedutiva. Um argumento dedutivo é válido quando é impossível que as suas premissas sejam verdadeiras e a sua conclusão falsa; se isso for possível, o argumento é inválido. Um argumento não dedutivo é válido quando é improvável, mas não impossível, que as suas premissas sejam verdadeiras e a sua conclusão falsa; se for provável, é inválido. Não deve confundir-se este sentido lógico dos termos "validade" e "invalidade" com o seu sentido popular, que significa "com valor" e "sem valor". Assim, popularmente diz-se que uma proposição é válida ou inválida, querendo dizer que tem valor ou que não tem valor (e, muitas vezes, que é verdadeira ou falsa). Mas não se pode dizer que uma proposição é válida ou inválida no sentido lógico do termo. No sentido lógico do termo só os argumentos podem ser válidos ou inválidos; as proposições são verdadeiras ou falsas, interessantes ou entediantes, e muitas outras coisas, mas nunca podem ter a propriedade da validade argumentativa. » DM

 

  Sendo um «especialista em lógica proposicional», Desidério Murcho (DM) mergulha numa falácia anfibológica centrada na noção de «validade argumentativa». ´Que é validade argumentativa? DM define-a de forma vaga: correcção no argumento. Mas não diz se se trata de uma correcção propriamente formal, indepedendente de todo e qualquer conteúdo material - como é o caso da validade dedutiva - ou se se trata de uma correção formal-material, baseada na realidade empírica do mundo - como é o caso da chamada "validade indutiva".

 

Neste segundo caso, nunca se deveria chamar validade mas sim outra coisa: verdade material, plausibilidade (verdade plausível), solidez. DM, tão cuidadoso em vincar que «validade nada tem a ver com verdade» acaba por fundar a validade indutiva na verdade material e nem dá conta disso...Usa pois falaciosamente o termo validade, com duplo sentido, com ambiguidade.

 

Registe-se ainda o erro por vagueza, imprecisão, na definição de argumento não dedutivo fornecida por DM: «Um argumento não dedutivo é válido quando é improvável, mas não impossível, que as suas premissas sejam verdadeiras e a sua conclusão falsa; se for provável, é inválido.» Crítica: Improvável é, ontologicamente, o mesmo que provável: ambos estão na esfera da probabilidade. Onde acaba o improvável e começa o provável? Com que escala se medem? Desidério Murcho não é capaz de o dizer. É uma definição trémula, confusa, a da validade não dedutiva.

 

O PRINCÍPIO DO TERCEIRO EXCLUÍDO É UM PONTO DE CHEGADA E NÃO UM PONTO DE PARTIDA?

 

Outra definição imperfeita, parcialmente errónea, neste Dicionário é a seguinte:

 

«princípio do terceiro excluído

 

«Chama-se "princípio do terceiro excluído" à ideia de que, para qualquer afirmação P, é verdade que P ou não P. Ou seja: o princípio declara que não há uma terceira possibilidade, entre P e não P, seja qual for a afirmação. Por exemplo: relativamente à afirmação "Sócrates é alto", só há estas duas alternativas: "Sócrates é alto" ou "Sócrates não é alto". Quando uma lógica aceita o princípio do terceiro excluído significa que qualquer afirmação com a forma "P ou não P" será uma verdade lógica. Algumas lógicas modernas recusam este princípio, como é o caso da lógica intuicionista. Não se deve confundir o terceiro excluído com o princípio da bivalência: este último é a ideia de que só há dois valores de verdade e que todas as proposições têm um dos dois, e só um dos dois. A relação precisa entre o terceiro excluído e a bivalência é objecto de disputa filosófica. Não se deve também pensar que o terceiro excluído é de alguma maneira um axioma da lógica clássica; na verdade, é um resultado, um ponto de chegada, e não um ponto de partida.» D.M (Dicionário Escolar de Filosofia)

 

Crítica: o princípio do terceiro excluído não se limita ao plano das afirmações (Logos predicativo), como supõe Desidério Murcho. É, antes de mais, um princípio das coisas, dos conceitos (Logos nominal), situadono plano da conceptualização antepredicativa. Exemplo: Peixe ou não Peixe (isto não é uma proposição). A proposição não é o lugar originário da verdade, mas sim a apreensão das coisas, a conceptualização. O pensamento (Noein) vem antes do discurso (Logos). O terceiro excluído existe já aí, anterior a toda a proposição - por exemplo: ser versus não ser - e por isso é um ponto de partida, um modo do ser, e não um mero ponto de chegada como sustenta DM.

 

A AFIRMAÇÃO DO CONSEQUENTE NO SILOGISMO CONDICIONAL NÃO É NECESSARIAMENTE UMA FALÁCIA

 

Este Dicionário veicula o erro lógico da moderna lógica proposicional àcerca da afirmação do consequente da primeira premissa no silogismo condicional MODUS PONENS:

 

«falácia da afirmação do consequente

 

 falácia que consiste em supor que da condicional "Se P, então Q" e da afirmação da consequente dessa condicional, "Q", se pode concluir "P". Exemplo: "Se jogamos bem, então ganhamos o jogo. Ganhámos o jogo. Logo, jogámos bem." É fácil apresentar uma refutação desta forma de argumento com um contra-exemplo com a mesma forma lógica: o argumento "Se isso é sardinha então isso é peixe. É peixe. Logo, é sardinha.", implicando a falsidade "Basta ser peixe para ser sardinha", mostra que este padrão argumentativo é falacioso.» JS (in Dicionário Escolar de Filosofia)

 

Ao contrário do que supõe Júlio Sameiro (JS), afirmar o consequente da primeira premissa de um silogismo condicional na segunda premissa deste não é necessariamente um erro lógico, não é uma falácia.

 

Eis um exemplo de silogismo condicional válido:

 

«Se for ao Porto, entro na Torre dos Clérigos.»

 

«Entrei na Torre dos Clérigos.»

 

«Logo, fui ao Porto».

 

Que falácia existe neste raciocínio? Nenhuma. Está correctíssimo. Mas contraria a norma da lógica proposicional que declara inválido afirmar o consequente da primeira premissa. Este silogismo, válido e verdadeiro, demonstra a pseudociência que é a lógica proposicional.

 

CONFUSÃO DO PRINCÍPIO DA NÃO CONTRADIÇÃO COM O PRINCÍPIO DO TERCEIRO EXCLUÍDO

 

O artigo sobre o princípio da não contradição revela-se um pântano de confusão:

 

«não contradição, princípio da

 

«Chama-se "princípio da não contradição" à ideia de que duas afirmações contraditórias não podem ser ambas verdadeiras nem ambas falsas. Por exemplo: dado que as afirmações "Sócrates é alto" e "Sócrates não é alto" são contraditórias, o princípio declara que não podem ser ambas verdadeiras nem ambas falsas. Quando uma lógica aceita o princípio da não contradição significa que qualquer afirmação com a forma "P e não P" será uma falsidade lógica. Algumas lógicas modernas recusam este princípio, como é o caso da lógica paraconsistente. Não se deve confundir a não contradição com o princípio da bivalência: este último é a ideia de que só há dois valores de verdade e que todas as proposições têm um dos dois, e só um dos dois. Não se deve também pensar que a não contradição é de alguma maneira um axioma da lógica clássica; na verdade, é um resultado, um ponto de chegada, e não um ponto de partida. Aristóteles defende o princípio na sua obra Metafísica (Γ 4). Note-se que a redução ao absurdo só é válida caso se aceite o princípio da não contradição. DM (Dicionário Escolar de Filosofia).

 

Desidério Murcho (DM) designa como princípio da não contradição aquilo que é, de facto, o princípio do terceiro excluído. O exemplo escolhido por DM é defeituoso. De facto, alto e não alto não são contrários na lógica aristotélica, mas contraditórios. Dizer " Sócrates é alto ou é não alto" como, no fundo afirma DM, é exemplificar o terceiro excluído. Distracção fatal deste autor brasileiro que parece especialista em lógica mas se confunde no magma de definições algo desconexas. Se queria escolher um exemplo correcto para o princípio da não contradição seria o seguinte: «Sócrates não pode ser alto e baixo ao mesmo tempo e no mesmo aspecto ou sentido».

 

Aristóteles enuncia assim o  princípio da não contradição, definição que não é a dada por DM acima:

 

«Digamos, em continuação, qual é este princípio; é impossível que o mesmo se dê e não dê no mesmo ao mesmo tempo e no mesmo sentido» (Metafísica, Livro IV, 1005 b).

 

Em suma, o princípio da não contradição enuncia-se assim: uma coisa não pode ser ao mesmo tempo e no mesmo aspecto duas qualidades ou propriedades contrárias entre si. É diferente do princípio do terceiro excluído.

 

O SOFISMA DA "METAFILOSOFIA"

 

Uma definição, surpreendente e sofística, é a de metafilosofia expressa neste Dicionário:

 

metafilosofia

 

«Chama-se "metafilosofia" às teorias acerca da natureza da filosofia. Estas teorias não tratam conceitos como, por exemplo, os de verdade, bem, justiça, dever, beleza, ser, conhecimento, etc.; nem respondem a problemas como, por exemplo, o de saber se todas as desigualdades são injustas ou se existe um sentido da vida, etc.. Em metafilosofia examina-se a natureza dos problemas filosóficos, como se devem estudar as teorias e os argumentos da filosofia, ou que papel desempenha a interpretação de textos, o conhecimento do contexto histórico ou o domínio da lógica no trabalho filosófico. Por exemplo, quando se discute a utilidade, a historicidade ou a universalidade da filosofia está-se em pleno campo metafilosófico.» APC (Dicionário Escolar de Filosofia).

 

A tentação do grupo que está por detrás deste Dicionário Escolar de Filosofia e da revista "crítica na rede" e actual direcção da Sociedade Portuguesa de Filosofia é grande:  como não domina os grandes temas do tronco e das raízes da árvore da filosofia - por exemplo: as ontologias fenomenológica de Heidegger e Sartre, a ontologia reísta de Xavier Zubiri e outras - ficam-se pela rama da lógica proposicional, do que pomposamente chamam lógica modal e procuram transformar estas últimas numa "metafilosofia", isto é, numa "segunda filosofia" que controle como um açaimo o lobo livre da grande filosofia especulativa, do pensamento por excelência. Desde quando é que discutir a utilidade, a historicidade ou a universalidade da filosofia é sair fora do campo da filosofia e constitui «metafilosofia»? Isso sempre foi filosofia e continuará a sê-lo.

 

É óbvio que podemos conceder que as ciências, lógica incluída, ou as religiões são uma metafilosofia - estão além da filosofia - mas não reconhecemos o sentido de "metafilosofia" que António Paulo Costa (APC) quer instituir aqui.

 

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© (Direitos de autor para Francisco Limpo de Faria Queiroz)

 

 

 



publicado por Francisco Limpo Queiroz às 23:58
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Segunda-feira, 14 de Setembro de 2009
São Tomás de Aquino e a ambígua equiparação de Aliquid, Bonum e Verum

São Tomás de Aquino, o Doctor communis, designou por ente, pelo menos às vezes, aquilo que Aristóteles designava por o ente determinado, o quê-é, o ser isto ou aquilo. É uma ligeira deslocação de sentido que transforma um predicado universal - o que é (em grego: to ón) -  numa essência ou num sujeito-substância dotado de essência– o quê é (tò tí), ou seja um indivíduo determinado, ou cada essência existente nas coisas individuais ou um acidente (característica secundária) existente nestas. O ente (ón) em Aristóteles é predicado universal, informe, mas em São Tomás é substância-sujeito (ousía) , espécie (eidos) ou género (génos), tem forma, individual ou específica, ou consiste em um conjunto genérico de formas. Transitamos pois, sem nos apercebemos, da ontologia formal em Aristóteles para a eidologia em São Tomás.

 

 São Tomás sustentou que nada de se pode acrescentar, à maneira de natureza estranha, ao ente transgenérico e que a substância - isto é, a coisa individual, por exemplo: esta couve, aquela casa, a cidade de Atenas, o Sporting Clube de Portugal - «não acrescenta ao ente nenhuma diferença que signifique uma natureza acrescida ao ente, mas que por esse nome se exprime um modo especial de ser, a saber, o ente por si; e o mesmo sucede com os outros géneros.»  Não parece que Aristóteles sustentasse esta posição: para o filósofo grego, o quê-é - a forma, o composto - da substância, acrescenta, de facto, uma natureza ou uma diferença acidental, uma ou várias determinações (exemplo: forma esférica, metal, cobre, cor vermelha, lugar tampo da mesa, etc) a o que é, isto é, ao ente.

 

 

 Escreveu o grande pensador da Escolástica:

 

«Otra manera (de añadirse al ente) es de suerte que el modo expresado sea un modo que acompaña universalmente a todo ente. Este modo puede, a su vez, ofrecerse de dos maneras: uno, en cuanto que acompaña a todo ente en sí; otra, en cuanto que acompaña a todo ente en orden a otra cosa. Si es de la primera manera, será, o porque expresa en el ente algo afirmativamente, o porque lo expresa negativamente. Ahora bien, no hay nada dicho afirmativamente en sentido absoluto, que pueda encontrarse en todo ente, sino su esencia, por la cual se dice que es; y así, se impone el nombre res, que difiere del de ente, según Avicena en el principio de la Met., en que ente se toma del acto de ser (essendi); y el nombre de res, en cambio, expresa la quididad o esencia del ente. Por su parte, la negación que sigue a todo ente absolutamente, es la indivisión: a esta la expresa el nombre de uno; uno, en efecto, no es más que el ente indiviso. Pero, si el modo del ente presenta el segundo carácter, a saber, por orden de una cosa a otra, esto a su vez puede suceder de dos maneras. La una, en o por la división (distinción) de una cosa de otra; esto lo expresa el nombre de aliquid; aliquid, en efecto, viene a ser como aliud quid; así que, así como al ente se le dice uno en cuanto que es indiviso en sí, así se le dice aliquid (algo) en cuanto que es distinto de otros seres. La otra manera es por la conveniencia de un ente respecto de otro; lo cual no puede tener más lugar que si se trata de algo que tiene capacidad para tener convivencia con todo ente. Tal ser es el alma, que, en cierta manera, es todas las cosas, como se dice en 3 De anima (text. 37). Ahora bien, en el alma se da la potencia cognitiva y la apetitiva. La conveniencia del ente con el apetito lo expresa el nombre de bien, como se dice en el principio de la Etica: bien es lo que todos apetecen; y la conveniencia del ente con el entendimiento lo expresa el nombre de verdad

 

(Santo Tomás de Aquino, De Veritate, citado in Clemente Fernández SI «Los filósofos medievales/ Selección de textos”, volumen II, Biblioteca de Autores Cristianos, paginas 269-270; o negrito é nosso)

 

 

Encontramos, pois, neste texto, a seguinte divisão dos transcendentais ou determinações universais que se aplicam a todos ou quase todo os entes:

 

 1. No ente tomado absolutamente: a res entendida como essência (plano afirmativo); o uno ou indiviso (plano negativo).

 

 2. No ente tomado relativamente a outro: aliquid (alguma coisa, algo); o bem e a verdade, gerados, respectivamente, como a articulação entre o desejo da alma e a articulação entre o entendimento (da alma) e o ente.  

 

Não é absolutamente clara esta divisão. A verdade não é definida por São Tomás como realidade em si, res, mas como adequação do entendimento às coisas, às diferentes res. Aliquid - ser algo, alguma coisa - é um transcendental formal, mas o bem e a verdade são transcendentais informais, conteudais. Não parece que possam ser colocados ao mesmo nível. Estamos a misturar a estrutura formal - na linguagem de Heidegger: o existenciário -  com o conteúdo substancial - na linguagem de Heidegger: o factum, a facticidade.

 

 

ZUBIRI E A «DUVIDOSA TRANSCENDENTALIDADE DO ALIQUID»

 

 

Javier Zubiri sustentou, no seu estilo apurado e profundo, que há seis transcendentais e que é problemático o carácter transcendental do aliquid:

 

 «La Escolástica ha llamado a este orden «modos generales del ser», es decir, aquellos que competen a todo ente por su mera razón de ente. Y estos modos son los seis transcendentales clásicos ens, res, unum, aliquid, verum, bonum. No se trata de una simples enumeración, sino que entre estos momentos existe una interna fundamentación.La Escolástica, pues, admite innegablemente un estricto orden transcendental. El problema está en cómo entiende este orden.»  (...)

 

«La negatividad del unum no es, pues, transcendentalmente suficiente.

 

«Y lo mismo sucede con el aliquid. El aliud, la alteridad del quid, es, desde luego, algo negativo. Pero ¿sobre qué recae esta alteridad? La propia Escolástica carece de concepción precisa en este punto. Suele decirse a veces que el aliud opone el quid a la nada, es decir, que aliquid sería non-nihil. Pero ésta es una mera conceptuación logicista: la nada, precisamente porque es la nada, no es ni tan siquiera un término al que se puede oponer, o del que se puede distinguir, la realidad .Esto sería hacer de la nada "algo". Por eso, otros han pensado que el aliud es otro quid; y en tal caso la aliquidad sería la mera consecuencia del unum: la división de todo lo demás. Pero entonces no sería en rigor una propiedad transcendental del ente en sentido escolástico, porque el aliquid así entendido reposa sobre la multitud de los entes, una multitud que en manera alguna pertenece a la razón formal del ente »

 

(Xavier Zubiri, Sobre la Esencia, Alianza Editorial/ Fundación Xavier Zubiri, pag 418-421;  o bold é nosso).

 

 

Aliquid, entendido como ser algo, alguma coisa, qualquer coisa, é o ser determinado, do ponto de vista formal. Todas as coisas - cão, vaca, homem, nuvem, pássaro, montanha, etc - são aliquid (alguma coisa)  e portanto parece fundamentado o carácter transcendental do aliquid, ao invés da opinião de Zubiri.

 

www.filosofar.blogs.sapo.pt

 

f.limpo.queiroz@sapo.pt

 

© (Direitos de autor para Francisco Limpo de Faria Queiroz)

 



publicado por Francisco Limpo Queiroz às 04:58
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