Friederich Nietzsche (Röcken, Reino da Prússia, 15 de outubro de 1844 – Weimar, Império Alemão, 25 de agosto de 1900) inaugurou o pós-modernismo no século XIX europeu com a sua teoria do perspectivismo, ou seja do subjectivismo multipolar. Esta corrente não nega a existência de múltiplas e variadas visões do mundo, uma para cada pessoa mas cada uma delas é pessoal, subjectiva, incapaz de se transcender e de conhecer a Verdade (fenomenalismo). Assim os valores absolutos da religião - a crença na verdade do Paraíso, no Purgatório e no Inferno para os católicos; a certeza da verdade da reencarnação para o budismo, o hinduísmo, o sikismo; a convição de verdade de que o mártir do Islão desfrutará no Paraíso de 72 mulheres virgens para os islâmicos - desaparecem, postos em dúvida tal como os valores absolutos da política e da sociologia do comportamento sexual - a democracia liberal republicana é superior às ditaduras, monárquicas ou não; o casamento heterossexual é a norma saudável, a união gay e lésbica é o desvio. Nietzsche escreveu:
«374- O nosso novo «infinito»- Até onde vai o carácter perspectivo da existência? Possui ela mesmo outro carácter? Uma existência sem explicação, sem «razão», não se torna precisamente uma «irrisão»? E, por outro lado, não é qualquer existência essencialmente «explicativa»? É isso que não podem decidir, como seria necessário, as análises mais zelosas do intelecto, as mais pacientes e minuciosas introspecções: porque o espírito do homem, no decurso destas análises, não se pode impedir de se ver conforme a sua própria perspectiva e só pode ver de acordo com ela. Só podemos ver com os nossos olhos; é uma curiosidade sem esperança de êxito procurar saber que outras espécies de intelectos e de perspectivas podem existir; se, por exemplo, há seres que sentem passar o tempo ao invés, ou ora em marcha para diante, ou ora em marcha para trás (o que modificará a direcção da vida e invertirá igualmente a concepção da causa e do efeito). Espero, contudo, que estejamos hoje longe da ridícula pretensão de decretar que o nosso cantinho é o único de onde se tem o direito de se possuir uma perspectiva. Muito pelo contrário, o mundo, para nós, voltou a tornar-se infinito, nosentido em que não lhe podemos recusar a possibilidade de se prestar a uma infinidade de interpretações.» (ibid, pag 287; a letra a negrito é posta por mim).
«Todos os nossos actos são bem, no fundo, supremamente pessoais, únicos, individuais, incomparáveis, certamente; mas desde que a consciência os traduz na sua língua, deixam de parecer assim...Eis o verdadeiro fenomenalismo, eis o verdadeiro perspectivismo, tal como eu o compreendo: a natureza animal faz com que o mundo de que nos podemos tornar conscientes não passe de um mundo de superfícies e signos, um mundo generalizado, vulgarizado» (Nietzsche, A gaia ciência, Guimarães Editores, Lisboa 1977, pag 251; a letra negrita é da minha lavra).
Gary Lachman ( 24 de Dezembro de 1955, Bayonne, New Jersey, EUA), escritor e investigador sobre misticismo e ocultismo, antigo guitarrista de banda rock, classifica Donald Trump de mago do caos, isto é, pessoa que acredita que pode transformar a realidade de um momento para o outro e produzir viragens imprevisíveis explicadas pela lei da atração ou pensamento positivo (pensar em grande de forma positiva, otimista, atrai o que se deseja). E insere Trump no heraclitismo, o que não parece inteiramente exato porque a filosofia de Heráclito segundo a qual as coisas são e não são, fluem em perpétuo devir, não contém a teoria do caos, de fazer surgir do nosso poder de concentração total a realidade que desejamos. Lachman liga Trump ao pós-modernismo .Escreveu:
«A confiança de Trump nos seus instintos e a capacidade de se "mover de forma rápida e decisiva quando chega a altura certa" aliadas à percepção fundamental da natureza fluida das coisas, ao seu carácter volátil, remontam ao filósofo grego Heráclito e refletem-se nos últimos avanços científicos, como por exemplo, na teoria do caos. Também proporcionam os alicerces da magia do caos.» (...)
«O pós-modernismo é uma perspectiva filosófica que surgiu no final do século XIX com influências da filosofia de Friederich Nietzsche e de Martin Heidegger, que anteriormente haviam quebrado com a noção de verdade estável e "objectiva", a que usamos no nosso dia a dia e é usada na ciência. De forma sucinta, a essência do pós-modernismo - apesar de negar que tem uma "essência" - pode resumir-se à frase "tudo flui". Para o pós-modernismo as certezas científicas e racionais que construíram o mundo moderno, assim como os valores tradicionais como a verdade, já não são relevantes. Pelo menos passaram a ser encarados com menos certeza.»
(Gary Lachman, Estrela negra a pairar, ocultismo e poder na era de Trump, Gradiva, páginas 15 e 16)
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Osho ou Bhagwan Shree Rajneesh (Kuchwada, Índia 11 de Dezembro de 1931- Puna, Índia, 19 de Janeiro de 1990) filósofo e místico indiano, defende que Deus nunca existiu, que a reencarnação é lei geral da existência, que a sexualidade é a energia libertadora mais poderosa e que o homem que se apercebe disso e medita racionalmente atinge o estado de um Buda ou iluminado:
«É absolutamente necessário que Deus esteja morto. Mas eu quero que compreenda o meu ponto de vista. Foi bom Friederich Nietzsche ter declarado que Deus estava morto. Eu declaro que ele nunca nasceu. É uma ficção criada, uma invenção, não uma descoberta (..)
«Eu quero destruir todos os sistemas de crenças, todas as teologias, todas as religiões. (…) A verdadeira medicina não é um sistema de crenças; a verdadeira medicina é a meditação (Osho, A conspiração de Deus, Editora Pergaminho, pp. 50-51).
E acrescenta:
«O padre sabe perfeitamente que Deus não existe. Ele é a única pessoa que o sabe perfeitamente. Mas é a sua profissão; ele vive de explorar as pessoas. Por isso, persiste em afirmar que Deus existe. Deus é o seu negócio. E quando é uma questão de negócio, é uma questão de subsistência. »
«E há milhões de padres, pertencentes a diferentes religiões. Há diferentes tipos de padres em cada país, mas todos eles exploram as pessoas a oferecer-lhes consolo. "Este casamento vai ser ótimo." E todos os casamentos são uma tragédia. Eu nunca vi um casamento que fosse uma comédia. »
«As pessoas só podem ser felizes se não forem casadas- Assim têm uma certa liberdade. É a partir desta liberdade que decidem permanecer juntas, não a partir de um contrato ou negócio qualquer, ou por serem forçadas pela sociedade. Não por causa de nenhuma lei - mas por causa de amor. - estão juntas apenas por amor e quando o amor falha...»
«E tudo falha, lembre-se. É ficção dos poetas que o amor é eterno. Não, o amor que você conhece não é eterno, e o amor que os poetas conhecem não é eterno; desvanece-se. Mantém-se se os amantes não se encontrarem.»
(Osho, A conspiração de Deus, Editora Pergaminho, pp. 276-277; o negrito é posto por nós).
O CASAMENTO ABERTO OU O FIM DA MONOGAMIA
Osho ataca todas as religiões na medida em que pregam a repressão sexual («Não cometas adultério», «Não penses em outras mulheres ou homens mas apenas no teu cônjugue», «Não vestirá o homem de mulher nem a mulher de homem») fechando as pessoas no casamento monogâmico que traz o sentimento de posse, o ciúme, a raiva no seio do casal.
«Se a sociedade fosse governada por gente inteligente - e não por gente que apenas deseja explorar - que procurasse satisfazera sua natureza até ao limite possível, o ciúme não existiria. A esposa compreenderia que, de vez em quando, o seu marido precisasse de outra mulher, "exatamente como eu também preciso de outro homem", E isso é perfeitamente natural. Somos todos seres humanos.»
«Onde está o mal de mudarmos de parceiro de ténis todos os dias? Há motivos para ciúmes? Claro que não.» (...)
«Quando não há ciúme não há raiva (...) Não acha que isso permitirá que a amizade cresça entre duas pessoas?» Um homem que conceda liberdade à sua esposa, uma esposa que conceda liberdade ao seu marido, isso implica a existência de uma grande amizade, de uma grande intimidade.»
«A mulher pode dizer ao marido como era o outro homem. O marido pode descrever à mulher como eram as coisas com a outra mulher. Não precisam de esconder. A amizade torna possível este tipo de proximidade e intimidade. Porém as sociedades do passado nunca quiseram que isso acontecesse. Queriam que as pessoas vivessem na rotina: unir uma mulher e um homem para sempre é iniciar uma peregrinação em direção ao tédio consumado. Estas pessoas entediadas, sofredoras não podem revoltar-se. Não podem atingir o clímax da inteligência: o tédio não pára de destruir qualquer espécie de possibilidade.» (OSHO, O livro do sexo, Pergaminho, pp. 208-209).
Osho critica não só o casamento por interesse material, difundido na Índia, como o sexo animal puro fácil que impera no Ocidente do «amor ivre»:
«O amor confia sempre ou então chega à conclusão de que a confiança não é possível e parte de uma maneira agradável; sem lutas nem conflitos. O sexo cria o ciúme; encontre, descubra o amor. Não faça do sexo a questão principal - porque não o é.»
«A Índia perdeu esssa possibilidade com os casamentos de conveniência; o Ocidente está a perdê-la devido ao "amor livre". »
«A Índia perdeu a capacidade de amar, porque os pais eram muito calculistas e menipuladores. Não permitiam que os seus filhos conhecessem o amor: isso é perigoso, ninguém sabe no que vai resultar. Foram muito espertos e, devido a essa esperteza, a Índia desperdiçou a sua possibilidade de amar.»«No Ocidente, as pessoas estão todas muito revoltadas, são demasiado jovens; não são espertas - são demasiado jovens e acriançadas. Tornaram o sexo uma coisa livre, disponível em todos os cantos e esquinas; não há necessidade de ir muito longe para descobrir o amor, basta gozá-lo e terminar num instante seguinte.»
«Através do sexo, o Ocidente está a perder-se; através do casamento, perdeu-se o Oriente. Mas, se estiver alerta, não precisa de ser oriental nem ocidental.» (OSHO, O livro do sexo, pp 236-237; o negrito é colocado por nós)
A NATUREZA BISSEXUAL DE TODOS OS SERES HUMANOS
Osho proclamou a bissexualidade psíquica como natureza de todos os seres humanos. Portanto, há que aceitar a diversidade dos comportamentos sexuais, com toda a liberdade, e rejeitar todas as religiões e os respectivos deuses na medida em que estas reprimem ou condicionam a sexualidade livre e espontânea e castram psiquicamente homens e mulheres.
«O Tantra diz que todos os homens e mulheres são bissexuais. Um homem não é simplesmente um homem. Á sua maneira, é também uma mulher. O mesmo se aplica à mulher. No seu íntimo, esconde-se um homem. Donde, todo o indivíduo, homem ou mulher, é bissexual. O oposto está escondido na camada mais profunda.»
«Na meditação profunda, dá-se um orgasmo sexual - não com alguém exterior a si, mas com o seu pólo interior oposto. É ali que se encontram: o seu lado feminino e o seu lado masculino. Esse encontro é espiritual e não físico. O yin e o yang interpenetram-se» (Osho, O livro do sexo, pág. 213).
A CONSCIÊNCIA INDIVIDUAL É IMORTAL, DEUS NÃO EXISTE
Mas o ateísmo de Osho pressupõe a imortalidade da consciência humana:
«A morte não destrói nada. Os cinco elementos do corpo são reabsorvidos de volta para a sua origem, e quanto à consciência há duas hipóteses: se não conheceu meditação, irá passar para outro ventre; se conheceu a meditação, se conheceu a sua eternidade, passará para o cosmos e desaparecerá na vastidão da existência. E esse desaparecimento é o momento alto da vida, em que se unifica com a sua origem, em que regressa e desaparece nela. »
«A religião autêntica não precisa de nenhum Deus, não precisa de nenhum padre. Não se esqueça: basta que explore o seu mundo interior.
«Essa exploração é o que eu chamo Zen. Em sânscrito chama-se dhyran; em chinês chama-se ch´an; em japonês chama-se zen. Mas é a mesma palavra. Dirigir-se ao seu interior, alcançar o ponto a partir do qual pode olhar, uma porta que se abre para o cosmos divino. Nesse ponto, você é um buda» (Osho, A conspiração de Deus, Pergaminho, pp. 279-280, o negrito é adicionado por nós).
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Nietzsche não acreditava, ao contrário de filósofos estóicos como Marco Aurélio, no determinismo astral, ainda que algo paradoxalmente, também não acreditasse no livre-arbítrio. Escreveu sobre astrologia:
«300- Prelúdios da ciência - Julgais então que as ciências teriam nascido, julgais que teriam crescido, se não tivesse havido antes estes mágicos, estes alquimistas, astrólogos e feiticeiros que foram primeiro obrigados, por meio da isca de miragens e promessas, a criar a fome, a sede, o gosto pelas forças escondidas, pelas forças proibidas? Julgais que não foi necessário prometer muito mais que aquilo que alguma vez se poderá cumprir para poder fazer a mais insignificante coisa no domínio do conhecimento? Nós vemos nisso simples prelúdios da ciência, exercícios preparatórios que não se sentiam, que não se executavam como tais; talvez da mesma forma, qualquer idade distante veja, em qualquer religião, também um simples exercício, um prelúdio.» (Nietzsche, A Gaia Ciência)
Assim, Nietzchze, inimigo dos sistemas ordenadores da história - excepto do dele, claro - à semelhança da generalidade dos pensadores contemporâneos, considerou a astrologia uma pseudo-ciência, um esforço mágico-intelectual no sentido de progredir para a ciência ainda desconhecida. Se conhecesse a movimentação dos planetas no céu e tivesse tido a intuição genial de a aplicar à história da França e da Alemanha, inclinar-se-ia no sentido da verdade, constatando que os ciclos planetários determinam os acontecimentos históricos.
Mas Nietzsche era um ignorante nesta matéria: não era suficientemente racional e sagaz para conceber o universo como uma máquina, com a aparência de ser vivo, em que todos os acontecimentos são desenhados pelo compasso das translações planetárias, solares e lunares sobre a coroa de 360º denominada Zodíaco, dividida em doze partes iguais chamadas signos, e, obviamente, todas presentes no céu a cada instante.
Só os grandes pensadores em todos os campos são capazes de conceber isso. Eduardo Lourenço e José Gil não têm essa amplitude de pensamento essa inteligência superior, tal como não a possuem os filósofos analíticos e os positivistas lógicos que dominam e afogam as universidades no cretinismo anti-determinismo astral que se serve da pseudo-astrologia dos jornais e dos programas de TV para denegrir a ciência astrológica real.
Fernando Pessoa, esse sim, possuía uma inteligência holística, bastante mais alta que José Gil, Eduardo Lourenço e qualquer outro catedrático de filosofia em Portugal, e sem embargo de não se ter libertado da tradição astrológica, da fantasiosa teoria das 12 casas, avançou minimamente na direção da Astrologia Histórico-Social, - que André Barbault, e eu, em especial desde 1996, com a publicação de quatro livros capitais ( «Leis planetárias em eleições gerais», 1996; «Sincronismos, cabala e graus do Zodíaco», 2001; «Astrología y guerra civil de España», 2006; «Os acidentes em Lisboa na astronomia-astrologia, elevamos à condição de ciência histórica.
Se Nietzsche tivesse feito um estudo astronómico da história saberia, por exemplo, que a passagem de Júpiter no signo de Virgem ( graus 150 a 180º da eclíptica ou trajectória aparente do Sol no Zodíaco, o que sucede durante um ano em cada 12 anos, aproximadamente, exalta a Alemanha, como o atestam os seguintes exemplos :
A) Em 31 de Outubro de 1517, com Júpiter em 17º do signo de Virgem, Lutero afixa na porta da igreja do castelo de Wittenberg as 95 Teses contra o abuso da absolvição ou indulgências, preconizado sobretudo pelo monge dominicano Johann Tetzel.
B) Em 3 de Agosto de 1529, com Júpiter em 2º do signo de Virgem, celebra-se o Tratado de Cambrai (Paz das Damas). negociado por Margarida de Áustria, tia de Carlos V, e Luisa de Sabóia, duquesa de Angoulême, mãe de Francisco I, pelo qual este rei da França paga dois milhões de coroas e renuncia às suas pretensões em Itália, na Flandres e no Artois e Carlos V, imperador dos Estados alemães, promete desistir da sua pretensão à Borgonha por algum tempo, libertando os príncipes franceses que estavam reféns.
C) De 30 de Janeiro a 29 de de Junho 1933, com Júpiter em 22º - 13º- 16º do signo de Virgem, Hitler ascende a primeiro-ministro da Alemanha (30 de Janeiro) e leva a cabo a destruição da república parlamentar, com o incêndio nocturno do parlamento em Berlim (27 de Fevereiro) e a subsequente suspensão das liberdades democráticas e detenção de mais de 4000 membros do Partido Comunista Alemão, a votação no novo parlamento do decreto que confere plenos poderes a Hitler por 441 votos a favor e 91 votos socialistas contra (23 de Março), a dissolução dos sindicatos (21 de Abril) e criação da Gestapo (26 de Abril), a dissolução do partido social-democrata alemão (22 de Junho) e dos partidos de direita (27-29 de Junho).
D) De 30 de Abril a 7 de Maio de 1945, com Júpiter 17º de Virgem, desmorona-se por completo o III Reich nazi, com o suicídio do chefe de Estado Adolf Hitler (30 de Abril) e a rendição formal da Alemanha ante os Aliados (7 de Maio).
Quanto ao silêncio da universidade portuguesa sobre astrologia histórica é revelador da ignorância dos «sumos sacerdotes do conhecimento» que são os catedráticos: atribuem doutoramentos uns aos outros sem a humildade de reconhecerem o determinismo planetário, são o Tribunal da Santa Inquisição Científica dos nossos dias.
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Os catedráticos de filosofia, como Adela Cortina e tantos outros, costumam dividir as éticas em deontológicas e teleológicas. Esta distinção é absurda: deontologia é uma das faces da ética, a face dos deveres e das regras a cumprir; teleologia é outra face da ética, a face das finalidades, do objectivo da acção moral. A ética de Kant é apresentada como «deontológica», a de Aristóteles como «teleológica», etc. Ora, na verdade, todas as éticas são deontológicas e teleológicas em simultâneo. Excepto, talvez, a ética que se resume a isto: «Faz o que te apetecer!». Esta ética possui um télos - a satisfação do ego do sujeito - e poderá, encapotadamente, albergar uma deontologia ao sabor da subjectividade de cada um: alguns, de tendência criminosa, preencherão a máxima «Faz o que te apetece, inclusive roubar e matar pessoas!» , outros aplicarão a máxima «Faz o que te apetece, excepto matar, roubar e violar».
A ética de Aristóteles, que Adela classifica como «ética de fins», é deontológica e teleológica, em simultâneo: deontológica porque incita a cumprir deveres, a ser virtuoso e a virtude é um hábito que é o meio termo entre dois vícios, teleológica porque visa a felicidade do indivíduo no quadro do bem-estar geral da sociedade. A ética de Stuart Mill, que Adela classifica como «ética de móbiles», é deontológica e teleológica, em simultâneo: deontológica porque incita a cumprir deveres, como o de proporcionar a felicidade à maioria das pessoas através de métodos moralmente aceitáveis, teleológica porque visa a felicidade dos indivíduos no quadro do bem-estar geral da sociedade
Adela Cortina escreve:
«Falar de um télos aristotélico não é aceitável, porque supõe adentrar-se numa presumível essência do homem. Sem embargo, a tendência ao prazer é observável, controlável e computável, e uma moral consagrada aos factos não tem mais que desejar. Com tudo isto, pretende-se apresentar o hedonismo como uma "ética de fim dominante" que pretende reduzir todos os possíveis fins a um só e como um teleologismo naturalista, que identifica tal fim com um natural: o prazer.» (Adela Cortina, Ética sem moral, Editorial Tecnos, Madrid, pag. 89)
Ética de fim dominante? Expressão ambígua. E o cristianismo ou o catolicismo genuínos que reduzem tudo ao fim da salvação da alma através da oração e de uma vida de sacrifício não será uma "ética de fim dominante", a salvação não hedonista do eu superior?
A ÉTICA DE NIETZSCHZE NÃO É TELEOLÓGICA?
Escreve Adela Cortina sobre a ética de Aristóteles, que classifica como "ética de fins", e a ética de Nietzshe:
«Apesar do empenho de Aristóteles em negar gradação às características essenciais, a ética de fins corre o risco de cair em uma moral das excelências inclusive essenciais. Neste sentido, e apesar do seu radical repúdio da teleologia, que impede considerar a ética nietzschiana como uma ética de fins, Nietzsche destaca, sim, uma qualidade humana - a capacidade criadora, cujo cultivo pode levar inclusive ao super-homem - A ética aristotélica, e a nietzschiana, coincidiriam nesse sentido.»
(Adela Cortina, Ética sem moral, Editorial Tecnos, Madrid, pág 50; o destaque a negrito é posto por mim)
Nietzschze repudiava radicalmente a teleologia, como sustenta Adela? Não é verdade. O super-homem é um alvo teleológico da humanidade triunfante segundo Nietzsche. A teleologia inscrita na ética de Nietzsche é o regresso ao reino da aristocracia greco-romana antiga, dos valores «autênticos», em que os senhores eram semideuses e fruiam a felicidade possível, governando, sem misericórdia nem princípios democráticos, a plebe (conjunto de classes desde a burguesia até aos escravos). E quanto à «capacidade criadora» exaltada por Nietschze que leva à condição de super-homem, não esqueçamos que era, em si mesma, uma capacidade destruidora da dignidade de outros seres humanos: os democratas humanistas, o proletariado, os escravos. O super-homem só existe na medida em que existe o infra-homem.
A FALACIOSA DISTINÇÃO ENTRE ÉTICAS DE MÓBILES E ÉTICAS DE FINS
Adela Cortina sustenta a divisão das éticas em dois tipos: éticas de móbiles e éticas de fins.
«As éticas de móbiles investigam empiricamente as causas das acções; pretendem descobrir quais são os móbiles que determinam facticamente a conduta humana. O bem ou fim moral consiste para elas em satisfazer estas operações fácticas, que uma investigação psicológica pode descobrir. Este tipo de éticas costuma surgir do afã de recorrer a factos constatáveis como fundamento da moral, fugindo das explicações metafísicas ou transcendentais. (...)»
«Entre as éticas de móbiles caberia considerar como paradigmáticas o epicurismo, parte da sofística, e as distintas versões do hedonismo, muito especialmente a versão utilitarista. Os problemas que este tipo de éticas coloca resumem-se fundamentalmente na dificuldade que para uma fundamentação do moral supõe o subjectivismo dos móbiles».
(Adela Cortina, Ética sem moral, Editorial Tecnos, Madrid, pág 47; o destaque a negrito é posto por mim).
Adela aponta o subjectivismo como o defeito das "éticas de móbiles". E contrapõe a estas as "éticas de fins" que veiculariam objectivismo:
«As éticas de fins, por seu lado, superariam tais dificuldades, consciente ou inconscientemente, tratando de investigar, não tanto o que move de facto os homens a agir, mas sobretudo em que consistem o aperfeiçoamento e a plenitude humanas. (...)
«Nas éticas de fins poderíamos incluir Platão, Aristóteles ou os estóicos, naquilo que se refere ao mundo antigo, e as correntes que restauraram este tipo de éticas, tanto na Idade Média como na Contemporânea. As suas grandes vantagens consistem em poder pretender objectividade para o conceito de bem e fim que propõem, bem e fim ligado ao querer dos sujeitos, enquanto supõe o aperfeiçoamento para o qual a sua essência tende, e em iludir a falácia naturalista porque o "é" de que se deriva um "deve" não é empírico, mas já normativo.»
(Adela Cortina, Ética sem moral, Editorial Tecnos, Madrid, pág 48; o destaque a negrito é posto por mim)
Dividir as éticas em éticas de móbiles e éticas de fins é como dividir os automóveis em dois tipos: automóveis de motores e automóveis de volantes (o volante, enquanto manobrado, indica o fim geográfico a que o carro se dirige). É uma distinção artificial porque, tal como os motores existem em todos os automóveis que circulam, os móbiles existem em todas as éticas, podendo ser mais ou menos explícitos. Por exemplo, a ética freudiana cujo fim consiste em desfrutar a vida, em particular a sexualidade, nos marcos de uma sociedade liberal de matriz cristã que condena a homossexualidade, investiga os móbiles da acção humana: o Eros polimorfo que se desenvolve em várias etapas e o super-ego que o condiciona ou contraria, influenciado pelo princípio de ética freudiana.
Também a ética platónica, cujo fim consiste em realizar a areté (virtude) própria de cada pessoa e estrato social - o fim do filósofo é apreender a verdade noética (o Bem, o Belo, o Justo, etc) e fazer leis justas para o governo da pólis; a finalidade do artesão é fabricar bons objectos e vendê-los a preço justo - e cujos móbiles são as três partes da alma humana, o Nous, ou razão superior, o Tymus, ou coragem e valor militar, e a Epytimia, ou desejos e prazeres do ventre, é uma ética simultaneamente de móbiles e de fins.
© (Direitos de autor para Francisco Limpo de Faria Queiroz)
Sem embargo de ser um filósofo genial, Friederich Nietzsche (1844-1900) manifestou lacunas importantes sobre a filosofia antiga - ele, que se considerava um agente de ressurreição de um certo helenismo aristocrático, contra-revolucionário!
Além de um ataque néscio, infundado à astrologia, ou melhor, à ideia de que as revoluções planetárias no céu determinam a vida humana e biológica na terra, - ideia que hoje em dia a esmagadora maioria dos filósofos consagrados rejeita por ignorância dos princípios da astronomia- Nietzsche produziu uma obtusa interpretação das teses da escola eleática de Parménides e Zenão. Escreveu:
«Assim que se admite que o conteúdo empiricamente dado das nossas representações, buscando neste mundo sensível, é uma veritas aeterna, chega-se a contradições. Se existe um movimento absoluto, não há mais espaço; se existe o espaço absoluto, não há movimento; se há um ser absoluto, não há multiplicidade; se existe a multiplicidade absoluta, não há mais unidade.» (...)
«No entanto, Parménides e Zenão sustentam a verdade e o valor universal dos conceitos e rejeitam o mundo sensível enquanto o oposto dos conceitos verdadeiros e universalmente válidos, como se fosse uma objectivação do que é ilogicamente, do que é ilógico e contraditório. Em todas as demonstrações que fazem, partem do pressuposto absolutamente indemonstrável, ou mesmo improvável, de possuirmos na faculdade conceptual o decisivo critério àcerca do ser e do não ser, isto é, àcerca da realidade objectiva e do seu contrário (Friederich Nietzsche, A filosofia na idade trágica dos gregos, Edições 70, pág 73; o negrito é posto por mim).
Não se percebem os supostos paradoxos delineados por Nietzsche: por que razão havendo espaço absoluto não pode haver movimento? Porque razão o ser absoluto exclui a multiplicidade, se a característica de ser não é, em si mesma, una nem múltipla ou é ambas as coisas? Falta de claridade nestas pseudo aporias...
Por outro lado, Nietzschze lança a errónea afirmação de que «Parménides e Zenão sustentam o valor universal dos conceitos.». Isto é nuvem de confusão. Ambos os filósofos eleáticos negaram, no plano do ser (einai), os conceitos universais de nascimento e morte, múltiplo, movimento, aumento e diminuição, infinito, devir e outros.
Parménides afirmou: «Sem o Ser, tal como foi enunciado, não poderíamos pensar, não havendo nada fora do Ser, considerando que a Necessidade o ordenou uno e imóvel. Por este motivo, as coisas são simples nomes atribuídos pelos mortais, na sua incredulidade. Nascimento e morte, Ser e Não-Ser, mutabilidade e alteração das cores maravilhosas!» (Parménides, Fragmentos, da Natureza, in Filosofia grega pré-socrática, Pinharanda Gomes, Guimarães Editores, pag 222; a letra negrita é minha).
Zenão escreveu:« Se o ser fosse adicionado a outra coisa, não a tornaria maior, porque nenhuma coisa pode ser maior pela adição de infinito, de onde se segue que o aumento é nulo. Mas, se for subtraído a outra coisa esta não fica menor; tal como a anterior não fica maior. Assim se demonstra que nem o aumento nem a diminuição têm qualquer significado.» (Zenão, Fragmentos, in Filosofia grega pré-socrática, Pinharanda Gomes, Guimarães Editores, pag 232; a letra negrita é minha).
Constata-se, nas citações acima, que os conceitos universais de nascimento e morte, mudança do ser ao não ser e vice-versa, aumento e diminuição são rejeitados por Parménides e Zenão de Eleia na sua aplicação ao Ser.
Nietzsche supõe que Parménides e Zenão pensavam exclusivamente por conceitos. Parece ignorar uma fonte fundamental do pensamento: a intuição noética ou inteligível que fornece a noção do uno primordial, do devir, da luta de contrários e que desempenha, por assim dizer, o papel da «sensação» no plano do espírito racional.
© (Direitos de autor para Francisco Limpo de Faria Queiroz)
Nietzsche abordou a filosofia de Parménides de um modo algo equívoco, sem o suficiente grau de análise, isto é, sem apreender todas as faces do poliedro gerado pela palavra grega ser (einai). Escreveu:
«Na filosofia de Parménides, preanuncia-se o tema da ontologia. A experiência não lhe ofereceu em lado algum um ser, como ele o imaginava, mas, em virtude de o ter podido pensar, concluiu que podia existir: conclusão esta que se baseia no pressuposto de que nós temos um órgão de conhecimento que penetra na essência das coisas e é independente da experiência. Segundo Parménides, a matéria do nosso pensamento nem sequer se encontra na intuição, mas é trazida de outro lado, de um mundo extra-sensível, ao qual temos directamente acesso pelo pensamento. Só que Aristóteles, contra todas as conclusões idênticas, já realçara que a existência nunca faz parte da essência, que a existência nunca pertence à natureza das coisas. «Por isso, não se pode deduzir do conceito de ser cuja essentia é precisamente o ser a existentia do ser. A verdade lógica dessa antinomia do ser e do não-ser é absolutamente vazia, quando não pode ser dado o objecto que serve de fundamento, a intuição, a partir do qual esta antinomia é deduzida por abstracção; ( )
«Mas logo que se busca o conteúdo da verdade lógica da oposição o que é, é; o que não é, não é! não se encontra, de facto, uma única realidade que seja estritamente conforme a essa oposição; posso muito bem dizer de uma árvore ela é, quando a comparo com todas as outras coisas, que chega a ser quando a comparo com ela mesma num outro momento, ou que ela não é, por exemplo, ainda não é uma árvore quando a observo em estado de arbusto. As palavras não passam de símbolos para as relações das coisas entre si e connosco, nunca afloram algures a verdade absoluta; e a palavra ser só designa a relação mais geral que liga todas as coisas entre si, como a palavra não-ser. Mas se é impossível demonstrar até a existência das coisas, a relação das coisas entre si, o que se designa por ser e por não-ser, não pode sequer fazer-nos avançar um passo para a região da verdade.» ( )
«É absolutamente impossível ao sujeito pretender ver ou conhecer algo para além de si mesmo, tão impossível que o conhecimento e o ser são as duas esferas que mais se opõem.» (Nietzsche, A filosofia na idade trágica dos gregos, Edições 70, Págs 70-71; a letra negrita é posta por mim).
Quando, ao referir-se ao ser, escreve que «a existência nunca pertence à natureza das coisas. Por isso, não se pode deduzir do conceito de ser cuja essentia é precisamente o ser a existentia do ser» Nietzsche equivoca-se: a essência do ser não é "o ser" mas sim um objecto uno, imóvel, ingénito, imutável, esférico, homogéneo, eterno, como se deprende de um texto abaixo. A palavra ser tem o duplo significado de existência, enquanto verbo, e de essência, enquanto substantivo.
Ao dizer que «a verdade lógica dessa antinomia do ser e do não-ser é absolutamente vazia, quando não pode ser dado o objecto que serve de fundamento, a intuição, a partir do qual esta antinomia é deduzida por abstracção» Nietzsche está a copiar Hegel que sustentou que no modo mais abstracto, sem possuir qualidade nenhuma (exemplo: espírito, matéria, natureza física, humanidade, etc,) o ser é tão vago que se confunde com o não ser. É o ser como existência abstracta, não o ser como essência. Nietzshze ignora aqui a definição essencialista de ser dada por Parménides como algo de "uno, imóvel, imutável, eterno, esférico" a qual, obviamente, é oposta à de não-ser, como algo de "múltiplo, móvel, mutável, perecível, não esférico". Dispara, pois, sem acertar no alvo.
Não é também verdade em toda a sua extensão a frase de Nietzschze «As palavras não passam de símbolos para as relações das coisas entre si e connosco, nunca afloram algures a verdade absoluta». Há palavras que são mais que símbolos: são portas de contacto imediato, toques na "pele" do ser das coisas, são partes fonéticas ou gráficas, pseudópodes dos próprios seres. As palavras «Portugal» e «Brasil», por exemplo, são, para os respectivos povos, nomeação do ser, motores afectivos e cognitivos, não símbolos, mas «carne» de seres colectivos.
Há, pois, uma interpretação existencial do termo ser e uma interpretação essencial do mesmo termo distinção que Nietzsche não faz, com clareza, optando por esta última interpretação, essencialista.
Nietzschze comete, no início do texto acima, um erro ao considerar que o ser em Parménides só pode ser interpretado como essência, como objecto.
Parménides escreveu dando um sentido diferente à palavra ser, isto é, o sentido de existir, constituir realidade:
«O que pode dizer-se e pensar-se deve ser (einai). Isto é o que te ordeno que consideres. Afasto-te, pois, desta primeira via de investigaçãoe depois daquela pela qual os homens ignorantes vagueiam bicéfalos; pois a impotência guia no seu peito o pensamento vacilante; são arrastados, cegos e surdos simultâneo, estupefactos, pessoas sem juízo, para quem o ser e o não ser são considerados como o mesmo e não o mesmo e para quem o caminho de todas as coisas é regressivo.
«Pois nunca se provará que sejam os não-entes (mé éonta). (Parménides in Simplício, Física 117, 4, fragmento 6).
Neste texto, Parménides faz coincidir o pensamento e a linguagem com o ser (existir) isto é, a essência, pensada e dizível, deve possuir existência, opõe a existência à não existência e critica os dialécticos, como Heraclito, que proclamam que «as coisas são e não são» e que «há um eterno retorno nas coisas».
Em outra passagem, Parménides delineia a essência do ente ou ser como objecto:
«..O ente (éon) é ingénito e imperecível, pois é completo, imóvel e sem fim. Não foi no passado, nem será, pois é agora todo em simultâneo, uno contínuo. » (Parménides in Simplício, Física 145, 1, fragmento 8).
«Mas porque o seu limite é o último, é completo em toda a parter, semelhante à massa de uma esfera bem redonda, igual em força a partir do centro por todas as partes; pois não é necessário que seja maior nem menor aqui ou ali.» (Parménides in Simplício, Física 146, 15, fragmento 8).
Para Parménides, o ser como ente algo que é - é a totalidade das essências, das coisas, o invólucro que tudo abarca e interpenetra- daí o facto de possuir esfericidade. Não está num mundo aparte de onde se infere isso? mas é a unidade subjacente à multiplicidade do mundo das aparências, dos fenómenos, que é mistura de ser (o uno, o imóvel, o contínuo, o imutável) e de não-ser (o múltiplo, o móvel, o descontínuo, o mutável). O ente é o próprio cosmos sob o aspecto da unidade e da eternidade.
Nietzchze não distingue, pois, de forma explícita e cristalina, as duas interpretações de ser em Parménides:
1) Como existência geral: é.
2) Como essência geral do cosmos: uno, ingénito, imperecível, imóvel, contínuo, esférico.
O facto de o ser se deixar apreender pelo pensamento não significa, ao contrário do que sugere Nietzshze, que o ser seja ideia, pensamento, essência metafísica, Deus ou númeno. Não. O ser poderá constituir o invólucro físico uno e imóvel de todos os entes que se agitam e compõem o cosmos. Seria então o lado formal-global, indiviso, do cosmos.
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Manuel Maria Carrilho não entendeu o que Nietzschze definiu como perspectivismo. Escreveu o catedrático português:
«O perspectivismo, ao postular a ubiquidade de interpretação, radicaliza de modo inédito e cheio de consequências o papel da linguagem. É que uma posição perspectivista não se traduz só na reivindicação da prioridade da interpretação face à ordem dos factos, mas sobretudo no carácter geral que essa prioridade apresenta e que, portanto, corta o passo ao privilégio de uma qualquer perspectiva particular.» (Manuel Maria Carrilho, O que é filosofia, Difusão Cultural, Pág. 92; a letra negrita é posta por mim).
Ora o perspectivismo, segundo Nietzschze, não postula a ubiquidade de interpretação nem tão pouco impede de privilegiar uma perspectiva particular em relação às outras . Quem postula a ubiquidade da interpretação é o holismo, que desemboca no fenomenalismo. A perspectiva é sempre mais ou menos fanática, convicta, porque é fragmento visual da realidade que se toma a si mesma como «visão total» ou «a visão mais credível». O perspectivismo é uma metaética individual: afirma que a pessoa («eu») está certa na sua perspectiva, e que esta é suprema, única. O perspectivismo funda o existencialismo no sentido kierkgaardiano, como doutrina da liberdade do «eu» enquanto doutrina de que a verdade é íntima a cada indivíduo e intransponível para outros. Em regra, o perspectivismo é incapaz de, por si mesmo, se colocar em dúvida. Ao fazê-lo, deixa de ser perspectivismo.
Que escreveu Nietzschze sobre o tema? ,
«Todos os nossos actos são bem, no fundo, supremamente pessoais, únicos, individuais, incomparáveis, certamente; mas desde que a consciência os traduz na sua língua, deixam de parecer assim...Eis o verdadeiro fenomenalismo, eis o verdadeiro perspectivismo, tal como eu o compreendo: a natureza animal faz com que o mundo de que nos podemos tornar conscientes não passe de um mundo de superfícies e signos, um mundo generalizado, vulgarizado» (Nietzsche, A gaia ciência, Guimarães Editores, Lisboa 1977, pag 251; a letra negrita é posta por mim).
Este texto é algo difícil de interpretar. Fenomenalismo é o mesmo que perspectivismo? Julgo que o fenomenalismo a concepção de que não podemos atingir senão os fenómenos, o que nos aparece, sem chegarmos à essência oculta da realidade é consequência do antiperspectivismo ou correlativo a este, ou seja, é consequência da superação do perspectivismo do indivíduo A resultante do facto de este constatar que há perspectivismos infinitos, B: C,D, E, F, etc. A meu ver, o perspectivismo, enquanto dogmatismo, está no início, é geneticamente anterior ao fenomenalismo, enquanto cepticismo parcial. Não são, pois, o mesmo: o segundo deriva dialecticamente do primeiro.
Nietzschze escreveu ainda:
«374- O nosso novo «infinito»- Até onde vai o carácter perspectivo da existência? Possui ela mesmo outro carácter? Uma existência sem explicação, sem «razão», não se torna precisamente uma «irrisão»? E, por outro lado, não é qualquer existência essencialmente «explicativa»? É isso que não podem decidir, como seria necessário, as análises mais zelosas do intelecto, as mais pacientes e minuciosas introspecções: porque o espírito do homem, no decurso destas análises, não se pode impedir de se ver conforme a sua própria perspectiva e só pode ver de acordo com ela. Só podemos ver com os nossos olhos; é uma curiosidade sem esperança de êxito procurar saber que outras espécies de intelectos e de perspectivas podem existir; se, por exemplo, há seres que sentem passar o tempo ao invés, ou ora em marcha para diante, ou ora em marcha para trás (o que modificará a direcção da vida e inverterá igualmente a concepção da causa e do efeito). Espero, contudo, que estejamos hoje longe da ridícula pretensão de decretar que o nosso cantinho é o único de onde se tem o direito de se possuir uma perspectiva. Muito pelo contrário, o mundo, para nós, voltou a tornar-se infinito, no sentido em que não lhe podemos recusar a possibilidade de se prestar a uma infinidade de interpretações.» (ibid, pag 287; a letra negrita é de minha autoria).
À tolerância ou visão holística relativista expressa na ubiquidade chama Carrilho «perspectivismo». Não é essa, parece-me, a ideia de Nietzshze. O perspectivismo não é a ubiquidade de visões, é a unilateralidade da visão de cada um. A infinidade de interpretações no seu conjunto é o antiperspectivismo, retira convicção e força aos fragmentos: cada interpretação isolada é perspectivismo. A ubiquidade é o antiperspectivismo, um ecletismo, ou melhor, um holismo que nasce em consequência da constatação do perspectivismo como hidra de muitas cabeças, uma em cada homem.
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Ao dizer «tenho tempo para isto ou para aquilo» significo: posso efectuar tal ou tal acção ou deixar que tal coisa actue sobre mim toda a acção é criação ou transformação de uma forma material, vital, social ou espiritual. Dar uma aula é uma sucessão de formas mentais e verbais o discurso do professor e dos alunos, as definições, as correlações entre estas que exige tempo, isto é, duração dessas formas. Portanto, ter tempo é criar, em potência, ou deixar desenvolverem-se formas, em potência: produzir ideias, raciocínios, imagens ou deixar que aconteçam, e no plano material e social, é manipular ou fabricar objectos, movimentar-se, fazer discursos, interpelar ou abraçar pessoas, etc. O tempo de que se dispõe é a duração da execução de uma tal acção ou seja o acto de plasmação de uma tal forma. O tempo é actualização do ser, passagem da potência ao acto. É manifestação do ser.
O tempo de trabalho na produção de ideias, serviços ou bens culturais e materiais determina, em princípio, ou deveria determinar, o nível de remuneração do trabalhador. Essas ideias, serviços ou bens culturais e materiais, são formas, minimamente estáveis, executadas e vigentes no tempo. Uma cadeira ou um automóvel são pensados automaticamente na sua coisidade, no ser das suas formas essenciais, e, secundariamente, são também pensados em termos de tempo de trabalho que exigiu a produção das suas formas.
HEIDEGGER NÃO CONCEBEU O TEMPO COMO PROPRIEDADE DA FORMA ESPACIAL
Heidegger esforçou-se por retirar o tempo do campo dos instrumentos de análise ontológica:
«O "tempo" funciona há muito como critério ontológico, ou melhor ôntico, da distinção ingénua entre as diversas regiões dos entes. Deslindam-se os entes "temporais" (os processos da natureza e a gesta da história) dos entes "intratemporais" (as relações espaciais e numéricas). Costuma-se destacar o sentido "intemporal" das proposições em relação ao curso "temporal" das orações que as enunciam. Encontra-se ademais um "abismo" entre o ente "temporal" e o eterno "supratemporal" e tenta-se franqueá-lo.» (Heidegger, El Ser y el Tiempo, Fondo de Cultura Económica, Pág. 27).
Mas toda a crítica de Heidegger, de que «a ontologia tradicional confundiu o ser com o tempo», passa por alto a natureza do tempo como propriedade das formas, isto é, permanência destas, passa por ignorar o carácter intrinsecamente temporal do ser. Heidegger continua prisioneiro do dualismo de Kant que postula o espaço, como sentido externo, e o tempo como sentido interno. Por isso, a concepção heideggeriana do ser é estática, imobilista como seria a de Platão se circunscrevesse rigorosamente o ser ao mundo do Mesmo. E a sua distinção entre ôntico-existente - por exemplo: «o tempo é infinito onticamente» - e ontológico-existencial ou existenciário - no exemplo: «o tempo real é finito ontologicamente» - é algo artificial porque o ôntico é a manifestação do ontológico que transporta dentro de si.
É por isso que, ao caracterizar a ontologia de Nietzschze, Heidegger distingue como ser a vontade de poder e como sua modalidade o eterno retorno que seria a existentia, a manifestação temporal externa. O equívoco heideggeriano está em que o ser é tanto a vontade de poder (ser em si) como o eterno retorno (ser por si e para si). Como seria possível conhecer o ser como vontade de poder, que, na teoria de Nietzschze, tem duas faces - a vontade de poder dos aristocratas esclavagistas ou feudais, antiliberais até à medula, e a vontade de poder da plebe, incluido a burguesia liberal e a populaça democrática ou mesmo anarquista e comunista na sua forma extrema - se na serpente circular do tempo não se manifestassem, alternadamente, estas duas faces? O ser inclui o tempo, desdobra-se neste.
O vínculo entre tempo e forma é indissociável: o tempo é a permanência, mais ou menos efémera, das formas das coisas, formas que são o ser. Como a permanência ou duração pertence às formas das coisas, ao ser, o tempo pertence ao ser, constitui a camada periférica deste.
Faz sentido distinguir um tempo psicológico de um tempo extra animam, objectivo, pois as formas psíquicas gozam de grande autonomia em relação às formas físicas.
Max Scheler falou na existência de uma duração sem sucessão. Tal só é possível na duração eterna ou eternidade, fora do tempo mutável, sinuoso. Porque a eternidade é da mesma natureza - ou seja duração - que o tempo historicamente delimitado: é a infinitude deste. Aliás, um dos problemas centrais da filosofia é justamente o de saber se a eternidade é real em acto ou apenas uma fantasia, uma potência ilusória.
A duração é a característica essencial do tempo.
© (Direitos de autor para Francisco Limpo de Faria Queiroz)
Frederico Nietzsche (1844-1900), o filósofo maldito, sempre nutriu uma especial admiração pela cultura da França, o país do humanismo por excelência: a França é a pátria europeia do cristianismo, depois é a pátria do humanismo filosófico, em terceiro lugar o berço da revolução de 1789-1799 e do humanismo político e social contemporâneo.
«No fundo é a um pequeno número de velhos franceses que regresso sempre: creio só na cultura francesa e tenho por equívoco tudo quanto na Europa se chame «cultura», para não falar de «cultura alemã».. Os poucos casos de alta cultura que na Alemanha encontrei, eram todos de origem francesa, e mais que todos a senhora Cosima Wagner, de longe a voz mais elevada em matéria de gosto que jamais ouvi. Se leio, se amo Pascal, como a vítima mais instrutiva do cristianismo, gradualmente assassinado, primeiro no corpo e logo no espírito, como lógico resultado dessa horrível forma de crueldade humana; se tenho no espírito, e, quem sabe?, também no corpo, alguma coisa da audácia de Montaigne; se o meu gosto de artista toma sob a sua protecção, não sem cólera, perante um género bárbaro como Shakespeare, os nomes de Moliére, Corneille e Racine; tudo isso não impede que, para mim, os franceses mais recentes constituam uma sociedade encantadora. Não vejo de modo nenhum em que século tantos psicólogos tão interessantes e, ao mesmo tempo, tão subtis poderiam encontrar-se como em Paris, nos nossos dias: tomo como exemplos, porque o número deles não é pequeno: Paul Bourget, Pierre Loty, Gyp, Meilhac, Anatole France, Jules Lemaitre, ou, para mencionar um dos de mais forte garra, autêntico latino, a que sou particularmente afeiçoado, Guy de Maupassant. Prefiro esta geração, seja dito entre nós, às dos seus grandes mestres, que foram estragados pela filosofia alemã (Taine, por exemplo, estragado pela leitura de Hegel, à qual deve o ter-se equivocado na compreensão dos grandes homens e das grandes épocas). Onde chega a Alemanha, corrompe-se a cultura. Só a guerra «salvou» o espírito em França.» (Nietzsche, Ecce Homo, Guimarães e Cª Editores, pags 56-57; o bold é nosso)
Contra-revolucionário, Nietzsche está longe de ser um espírito geométrico do tipo do racionalismo alemão, personificado em Kant ou Hegel. Constituído por uma rede de finas intuições psicológicas, o pensamento de Nietzsche é ainda um pensamento romântico, de um romantismo socialmente às avessas porque a liberdade do filósofo e da elite de aristocratas se vira contra a universalização da liberdade individual.
© (Direitos de autor para Francisco Limpo de Faria Queiroz)
Perspectivismo surge, com frequência, definido sem clareza em livros e manuais de Filosofia. Eis um exemplo, extraído de um manual de Filosofia do 11º ano em Portugal (o itálico no texto é colocado por nós):
«Diz-se, por vezes, que a beleza está nos olhos de quem a vê. Será que a verdade também depende da perspectiva que se adopta? Esse é um dos sentidos da expressão «plurivocidade da verdade».(...)»
«Podemos distinguir dois tipos de perspectivismo:»
«O perspectivismo fraco é a ideia de que podemos olhar para diferentes aspectos da realidade e concluir correctamente diferentes verdades.»
«O perspectivismo forte é a ideia de que podemos olhar para os mesmos aspectos da realidade e concluir correctamente verdades diferentes e incompatíveis.»
(Aires Almeida, Célia Teixeira, Desidério Murcho, Paula Mateus, Pedro Galvão, A arte de pensar, manual de Filosofia do 11º ano, Didáctica Editora, pag 222).
Não é claro este texto. O conceito de perspectivismo foi delineado por Nietzchze em "A gaia ciência" e não comporta «concluir correctamente diferentes verdades» mas apenas uma «verdade», a sua, ver o mundo não de todos os ângulos . Desse perspectivismo deriva, dialecticamente, um antiperspectivismo, um cepticismo relativo, a que Nietzschze chama fenomenalismo, que se limita a reconhecer que o conhecimento teórico se reduz a interpretações, a probabilidades de se alojar na verdade:
Citemos Nietzschze (o negrito é colocado por nós no texto):
«Todos os nossos actos são bem, no fundo, supremamente pessoais, únicos, individuais, incomparáveis, certamente; mas desde que a consciência os traduz na sua língua, deixam de parecer assim...Eis o verdadeiro fenomenalismo, eis o verdadeiro perspectivismo, tal como eu o compreendo: a natureza animal faz com que o mundo de que nos podemos tornar conscientes não passe de um mundo de superfícies e signos, um mundo generalizado, vulgarizado» (Nietzsche, A gaia ciência, Guimarães Editores, Lisboa 1977, pag 251; a letra negrita é da minha lavra).
Apesar da sua genialidade, Nietzsche não é inteiramente claro no pensamento acima. Não distingue de forma explícita o perspectivismo - posição metaética subjectivista - do fenomenalismo - posição céptica objectivista.
Escreveu ainda Nietzsche:
«374- O nosso novo «infinito»- Até onde vai o carácter perspectivo da existência? Possui ela mesmo outro carácter? Uma existência sem explicação, sem «razão», não se torna precisamente uma «irrisão»? E, por outro lado, não é qualquer existência essencialmente «explicativa»? É isso que não podem decidir, como seria necessário, as análises mais zelosas do intelecto, as mais pacientes e minuciosas introspecções: porque o espírito do homem, no decurso destas análises, não se pode impedir de se ver conforme a sua própria perspectiva e só pode ver de acordo com ela. Só podemos ver com os nossos olhos; é uma curiosidade sem esperança de êxito procurar saber que outras espécies de intelectos e de perspectivas podem existir; se, por exemplo, há seres que sentem passar o tempo ao invés, ou ora em marcha para diante, ou ora em marcha para trás (o que modificará a direcção da vida e invertirá igualmente a concepção da causa e do efeito). Espero, contudo, que estejamos hoje longe da ridícula pretensão de decretar que o nosso cantinho é o único de onde se tem o direito de se possuir uma perspectiva. Muito pelo contrário, o mundo, para nós, voltou a tornar-se infinito, no sentido em que não lhe podemos recusar a possibilidade de se prestar a uma infinidade de interpretações.» (ibid, pag 287; a letra a negrito é posta por mim).
Como se detecta nestas citações, Nietzsche define perspectivismo como a filosofia que reconhece que o homem é incapaz de conceber o mundo, a «realidade», fora da sua perspectiva pessoal. Ora a consideração racional das múltiplas interpretações ou perspectivas, todas diferentes de indivíduo para indivíduo, - isto é o holismo, o anti-perspectivismo ou multi-perspectivismo- torna impossível atingir uma verdade objectiva, consensual, dado que a psique de cada um interpreta, subjectiviza o real e não consegue compreender todas as outras perspectivas.
Não existe perspectivismo fraco nem perspectivismo forte, ao contrário do que se sustenta no manual «A arte de pensar». Existe perspectivismo.
O perspectivismo, em regra, tem a pretensão de atingir a verdade «em si», mas tal não acontece com o fenomenalismo (conhecemos o lado aparente, a superfície do mundo, não a sua estrutura ou essência oculta).
Por isso não é pertinente a seguinte objecção ao perspectivismo:
«Outro problema com o perspectivismo é o seguinte: ao considerar que todas as perspectivas são igualmente verdadeiras, o perspectivismo esvazia toda e qualquer discussão racional acerca do que quer que seja. Se todas as perspectivas são verdadeiras e se todos os filósofos dizem a verdade, ainda que do seu próprio ponto de vista, de que serve discutir as suas teorias?»
(Aires Almeida, Célia Teixeira, Desidério Murcho, Paula Mateus, Pedro Galvão, A arte de pensar, manual de Filosofia do 11º ano, Didáctica Editora, pag 222; o negrito é posto por mim).
Ora esta não é a posição do perspectivismo, mas sim do anti perspectivismo, de um certo ecletismo (teoria segundo a qual a verdade se compõe de teses e ideias contrárias entre si que podem ser conciliadas num todo heterogéneo). O manual A arte de pensar confunde, pois, perspectivismo com anti perspectivismo, com ecletismo e com fenomenalismo.
Nietzchze era ele mesmo um perspectivista e, usando a razão a-teórica que preconizava, tomou posição, por instinto, a favor de uma «verdade»: a moral aristocrática contra-revolucionária, que nega a igualdade universal de direitos humanos, a democracia liberal e o socialismo e preconiza a guerra, a fruição plena da vida pela elite anti-cristã dos «bons», a expansão da vontade de poder dionisíaca de uns poucos, o lazer e a recusa do trabalho industrial e obrigatório desses «bons» nobres.
Portanto, pode ser-se perspectivista e afirmar, por pragmatismo, uma «verdade», a que mais convém ao indivíduo.
É ambíguo afirmar o seguinte sobre o perspectivismo "forte":
«Afirmar que tudo depende da perspectiva obriga-nos a aceitar acriticamente todos esses comportamentos. Assim como nos obriga a respeitar teorias como o nazismo, que considera que matar judeus é correcto. O simples facto de não estarmos dispostos a aceitar isso mostra que há algo errado com o perspectivismo forte.»
«O que se passa é que o perspectivismo forte confunde a verdade com o que acreditamos ser a verdade».
(Aires Almeida, Célia Teixeira, Desidério Murcho, Paula Mateus, Pedro Galvão, A arte de pensar, manual de Filosofia do 11º ano, Didáctica Editora, pag 222).
O perspectivismo - e não o suposto «perspectivismo forte» - confunde, de facto, verdade com crença na verdade. Ser perspectivista não implica reconhecer necessariamente a multiplicidade de perspectivas filosóficas e científicas sobre o mundo e não conduz à neutralidade ou a valorar por igual todas as teorias nesta matéria: hierarquiza-se, escolhe-se sempre um ponto de vista, uma posição, ainda que se possa ou não reconhecer haver outros com certa plausibilidade.
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