Francisco Gomá, académico espanhol, escreve sobre a fenomenologia de Max Scheler no domínio da ética:
«Não podemos, liminarmente, colocar a pergunta: que são os valores porque os valores não são: simplesmente valem ou pretendem valer. Não têm cabimento na natureza como se fossem coisas ou maneiras de ser da coisa». (Historia de la ética 3 La ética contemporánea, Victoria Camps ed, pág 304)-
A posição de Scheler é diferente da de Platão. Este considerava muitos dos valores - o Belo, o Justo, o Triângulo, o número três, o Uno, o Homem e a Mulher Arquétipos, isto é, Ideais e imutáveis - como coisas em si, autosubsistentes, embora imateriais, situadas no mundo inteligível. Scheler achava que os valores são co-criação humana, não existiriam se não houvesse humanidade.
Em tempo de pandemia, eis um teste de filosofia sem as escorregadias questões de escolha múltipla, muitas vezes desordenadas.
Agrupamento de Escolas nº1 de Beja
Escola Secundária Diogo de Gouveia, Beja
TESTE DE FILOSOFIA, 10º ANO TURMA C
2 de Março de 2021, Professor: Francisco Queiroz
I
«O imperativo categórico de Kant é formal e autónomo. A moral de Stuart Mill é teleológica e hedonista. O fatalismo é diferente do determinismo biofísico sem livre-arbítrio (determinismo radical) e do determinismo biofísico com livre-arbítrio (determinismo moderado). A falácia ad ignorantiam é diferente da falácia depois de por causa de e da falácia ad hominem. A retórico tem ethos, pathos e logos. Os valores e os juízos podem dividir-se em objectivos, intersubectivos e subjetivos.
1)Explique estes pensamentos.
2)Segundo Max Scheler há 4 esferas de valores. Identifique quais se ligam aos seguintes actos ou estados e justifique:
A)«Para mim roubar é mau» (esfera dos valores……)
B «Estou a saborear morangos e adoro (esfera dos valores…)
C)«Estou a correr à frente de todos e sinto-me vitorioso» (esfera dos valores…)
D)«Rezo a Deus porque São Pio dizia que quem não reza não se salva.do inferno (esfera dos valores…)
Relacione justificando:
A)Multiculturalismo versus etnocentrismo democrático e etnocentrismo absolutista.
B)Estados totalitários e Estados de democracia pluralista ou parlamentar.
C) Dogmatismo científico, dogmatismo religioso,
D) Os três princípios da lógica formal e os três poderes no Estado de direito democrático.
CORREÇÃO DO TESTE COM COTAÇÃO MÁXIMA DE 20 VALORES
O imperativo categórico de Kant é formal porque se resume a enunciar de forma abstrata a verdadeira lei moral que diz “não trates as pessoas como meios dos teus interesses mas sim como fins em si mesmas, respeitando-as da mesma maneira que te respeitas a ti mesmo, aplicando a mesma lei para todos” e é autónomo porque varia de pessoa para pessoa. (VALE DOIS VALORES). A moral de Stuart Mill é teleológica porque é centrada na finalidade, nos frutos de uma ação, sendo esta a felicidade da maioria das pessoas, e é hedonista porque procura o prazer mesmo que não seja só o prazer próprio mas sim o prazer da maioria das pessoas (VALE DOIS VALORES). O fatalismo, que é a corrente ontológica que sustenta que não existe livre arbítrio nem o acaso e que tudo está predestinado pelos astros, por deuses incompreensíveis ou por um destino sem deuses, é diferente do determinismo biofísico sem livre-arbítrio (determinismo radical), que é a corrente ontológica que sustenta que na natureza física o determinismo impera mas existe alguma margem de acaso que impede o fatalismo e que sustenta que na natureza humana não existe livre-arbítrio pois são os nossos instintos ou os astros que nos comandam, e do determinismo biofísico com livre-arbítrio (determinismo moderado), que é a corrente ontológica que sustenta que há leis obrigatórias na natureza e no corpo humano mas que temos a liberdade de escolher racionalmente entre umas e outras ou entre o bem e o mal (VALE DOIS VALORES). A falácia ad ignorantiam, que é a falácia em que devido à ignorância de uma certa informação ou tese dá como certa a sua tese oposta ou antítese, é diferente da falácia depois de por causa de, que é a falácia que atribui uma relação causa-efeito a dois fenómenos vizinhos por acaso, e da falácia ad hominem, que é a falácia que em vez de argumentar racionalmente, faz um ataque à pessoa. (VALE DOIS VALORES)-
A retórica, que é a arte de argumentar, isto é, expor juízos e raciocínios em público de modo a convencer as pessoas que estão a ouvir, ou seja, um auditório, tem ethos, que é a exibição das virtudes do caráter do orador, pathos, que é o tom emocional que o orador utiliza no seu discurso de modo a impressionar o auditório, e logos, que é a racionalidade do discurso do orador. (VALE DOIS VALORES). Os valores, que são qualidades de várias naturezas (materiais, religiosas, éticas, estéticas, etc) que se organizam segundo uma hierarquia, e os juízos, que são afirmações ou negações que ligam dois ou mais conceitos através de um verbo, podem dividir-se em objetivos, que sustentam que os valores de belo, de feio, de belo, etc, são universais e comuns do mesmo modo a todas as pessoas, em intersubjetivos, que sustentam que os valores de belo, de feio, de bem, etc são comuns a determinados grupos de pessoas mas não à humanidade toda, e em subjetivos, que sustentam que os valores de belo, de feio, de bem, de mal, etc, variam de pessoa a pessoa e que estão dentro de cada subjetividade. (VALE DOIS VALORES).
2-A)«Para mim roubar é mau» Esfera dos valores espirituais, porque engloba os valores éticos (bem, mal, etc), os valores jurídicos (legal, ilegal, etc), os valores estéticos (belo, feio, etc), os valores filosóficos (verdade, erro, realidade, etc), os valores científicos (verdade, erro, experiência, etc) e os valores políticos (democracia, ditadura, povo, etc). (VALE 0,5 VALORES).
2.B) «Estou a saborear morangos e adoro» Esfera dos valores sensíveis, porque engloba os valores do agradável, do desagradável, do prazer, da dor, do útil e do inútil. (VALE 0,5 VALORES)
2-C)«Estou a correr à frente de todos e sinto me vitorioso» Esfera dos valores vitais e sentimentais, porque engloba os valores do nobre, do vulgar, do amor, do ódio, do sentimento da juventude, da vitória, do sentimento da velhice, da derrota ou decadência, da bravura, da covardia, da liberdade, do ciúme, do orgulho, da humildade, da saúde, da doença, etc. (VALE 0,5 VALORES)
2.D)«Rezo a Deus porque São Pio dizia que quem não reza não se salva.do inferno» Esfera dos valores do santo e do profano, porque engloba os valores da santidade, da oração a Deus, da indiferença dos profanos, dos ateus e do desespero de alguns destes.(VALE 0,5 VALORES).
A) Multiculturalismo é a ideologia que defende que num país devem estar em plano de igualdade e ser aceites as diferentes etnias, religiões, nacionalidades, sexualidades, culturas, etc, - por exemplo, um mexicano poder ser eleito presidente dos EUA - enquanto que o etnocentrismo democrático é aquele que dá um pouco mais de importância aos naturais do seu país do que aos imigrantes estrangeiros que neste vivem, porém, deixa-os exercer as suas religiões e culturas e dá-lhes assistencia médica e social tal como os naturais desse país, já o etnocentrismo absolutista é aquele que sustenta que a etnia, religião e cultura de um grupo de pessoas natural de um país é superior às minorias gays e lésbicas, ciganas, de imigrantes estrangeiros e estas minorias devem ser banidas ou silenciadas, rejeitando a entrada de estrangeiros e dos seus valores na estrutura antiga desse país, assim, este etnocentrismo utiliza métodos fascistas ou absolutistas.
B) Os Estados totalitários, que podem ser de esquerda (marxismo-leninismo) e de direita (fascismo, absolutismo monárquico, fundamentalismo islâmico ou outro) são aqueles que têm um regime político em que existe apenas um partido único e apenas um chefe, assim, é atribuido ao estado um poder absoluto que controla e manipula os cidadãos, fazendo com que não exista liberdade de imprensa, de greve, de eleição de um parlamento, entre outros, e com que sejam presos, mortos ou torturados os opositores deste regime, enquanto que os Estados de democracia pluralista ou parlamentar, que fundamentam a sociedade aberta, são aqueles em que existem as liberdades de imprensa, de greve, de manifestação de rua, de ensino, de formação de partidos políticos, de votar de modo a que os governos sejam compostos da maioria dos deputados, de ter a sua sexualidade livre, de montar empresas e permitir o capitalismo de concorrência de forma na combater os monopólios, de ter a sua cultura, entre muitas outras liberdades. (VALE UM VALOR)
C) O dogmatismo científico é aquele que afirma leis da natureza apoiado na experiência dos mundos empírico e racional, o dogmatismo religioso é a crença em deuses, demónios, almas vivas no Além, enquanto que o ceticismo é a corrente filosófica que duvida do que estamos a ver e a sentir, da ciência, da história, da religião, etc. (VALE UM VALOR)
D) Os três princípios da lógica formal são o princípio da identidade, que diz que uma coisa é idêntica a si mesma, o princípio da não contradição, que diz que uma coisa não pode ser, ao mesmo tempo, duas qualidades opostas entre si, e o princípio do terceiro excluído, que diz que uma coisa ou qualidade pertence ao grupo A ou não A não havendo terceira hipótese, já os três poderes no Estado de direito democrático são o poder legislativo, que é o parlamento que é eleito por votação, o poder executivo, que é o governo que é aprovado pela maioria do parlamento, e o poder judicial, ou seja, os tribunais que podem anular decisões do governo e do parlamento. Relacionar estas duas tríades é arbitrário. Por exemplo, o parlamento corresponde ao princípio da não contradição (um partido não pode votar ao mesmo tempo a favor e contra uma lei do governo), o poder judicial corresponde ao princípio da identidade (as leis mantêm-se idênticas a si mesmo), o poder executivo corresponde ao princípio do terceiro excluído (o governo opta ou não opta por construir uma linha do TGV entre Lisboa e Vilar Formoso). (VALE DOIS VALORES)
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Astrología y guerra civil de España de 1936-1939, de Francisco Limpo Queiroz
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Nota- O autor deste blog está disponível para ir a escolas e universidades dar conferências filosóficas ou participar em debates.
© (Copyright to Francisco Limpo de Faria Queiroz)
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Eis um teste de filosofia gizado por quem não perfilha as erróneas tabelas de verdade da lógica proposicional, esse refúgio dos que ainda não pensaram a fundo ontologia e metafísica.
Agrupamento de Escolas nº1 de Beja
Escola Secundária Diogo de Gouveia, Beja
TESTE DE FILOSOFIA, 10º ANO TURMA F
3 de Fevereiro de 2020, Professor: Francisco Queiroz
I
«O determinismo biofísico com livre-arbítrio (dito: determinismo moderado) distingue-se do determinismo sem livre-arbítrio (dito: determinismo radical) e do fatalismo. O dualismo estóico de Marco Aurélio inclui a epokê e pode comparar-se ao dualismo do ser humano em Kant e da sua moral. As essências na teoria de Platão ocupam um lugar diferente das essências na teoria de Aristóteles. Os valores dispõem de hierarquia e polaridade.»
1)Explique concretamente este texto.
2)Explique concretamente o seguinte texto:
“O ser em Parménides equivale ao mundo do ser em Platão. O princípio do terceiro excluído não é a mesma coisa que o princípio da não contradição.”
3)Relacione, justificando:
A ) Cosmologia de Heráclito e racionalidade.
B) Esfera dos valores vitais e sentimentais e esfera dos valores espirituais em Max Scheler.
C) Multiculturalismo versus Etnocentrismo em duas modalidades.
D) Esfera dos valores do santo e do profano e esfera dos valores sensíveis em Max Scheler.
1) O determinismo biofísico com livre arbítrio é a teoria que sustenta que na natureza física as mesmas causas produzem sempre os mesmos efeitos mas o homem dispõe de livre-arbítrio, isto é, o poder de reflectir e escolher racionalmente um caminho. Exemplo: apetece-me comer (determinismo) mas raciocino e delibero jejuar para emagrecer (livre-arbítrio). O determinismo biofísico sem livre arbítrio é a teoria que sustenta que na natureza física as mesmas causas produzem sempre os mesmos efeitos e o homem não dispõe de livre-arbítrio, age por instinto, sem reflexão e livre-arbítrio. Esta segunda teoria não exclui o acaso na natureza ou no comportamento humano e nisso se distingue do fatalismo, doutrina diz que tudo o que acontece está predestinado nos astros, na genética ou no pensamento de Deus ou no destino, não havendo livre-arbítrio nem acaso. (VALE TRÊS VALORES).
O dualismo estóico de Marco Aurélio divide o ser humano em duas partes: o eu racional, o guia interior, que é a nossa verdadeira essência e que corresponde ao eu numénico ou racional em Kant produtor do imperativo categórico («Age de modo que a tua ação seja como uma lei universal na natureza, sem favorecer especialmente a ti ou a teus amigos ou paridários»; o corpo físico que é algo exterior à essência e é capaz de suportar as maiores dores e tortura desde que controlado pelo eu racional e que em Kant corresponde ao eu empírico ou fenoménico, o eu dos instintos egoístas (comer, beber, favorecer os familiares e amigos em detrimento de outros, etc). A epokê é a suspensão do juízo preconizada por Marco Aurélio para manter a tranquilidade de espírito: «Calma! Dizem-te que o teu filho está doente mas não te dizem que vai morrer. Fica-te pois pelas primeiras impressões e nada lhe acrescentes». (VALE TRÊS VALORES).
As essências, na teoria de Platão - exemplo: o Belo, o Bem, o Homem, a Mulher, a Árvore, o triângulo - são modelos perfeitos, imóveis e eternos, arquétipos, invisíveis, situados acima do céu visível. Em Aristóteles, as essências são igualmente imóveis e incriadas mas existem no mundo de baixo: a essência Homem (eidos) está presente em cada um dos homens, a essência Árvore subjaz em todas as árvores, é a sua forma comum. (VALE DOIS VALORES).
Os valores, isto é, qualidades éticas, estéticas, filosóficas, económicas, políticas, biofísicas, etc., existentes por toda a parte possuem hierarquia, isto é, escala desde cima a baixo. Exemplo: saúde é mais importante que título universitário e este está acima de ausência de estudos e ser iletrado. Possuem também polaridade, isto é, para cada valor há um ou mais contra-valores: justiça em um pólo injustiça no outro, bondade em um pólo maldade no outro. (VALE UM VALOR)
2) O ser em Parménides é o que é, o que dura eternamente, não foi criado nem será extinto, é uno, indivisível, homogéneo, contínuo como uma esfera, invisível, imperceptível aos sentidos e só pode ser apreendido pelo pensamento (ser e pensar é um e o mesmo). Este conceito corresponde ao mundo inteligível de Platão tomado em bloco abstraindo das formas (arquétipos de Bem, Belo, Triângulo, Justo, etc.), excepto da de esfera (VALE DOIS VALORES). O princípio do terceiro excluído sustenta que cada coisa ou qualidade pertence ao grupo A ou ao grupo não A, excluindo a terceira hipótese. Isto é diferente do princípio da não contradição que diz que uma coisa não pode ser ela e o seu contrário ao mesmo tempo e no mesmo aspecto. (VALE UM VALOR).
3) A cosmologia de Heráclito estabelece que a substância origem do mundo, o arkê, é o fogo que constitui o caos que depois,orientado por um Logos (Inteligência Cósmica) se transforma em cosmos por processos de arrefecimento em diferentes graus produzido os astros, o planeta Terra, as árvores, os animais, os seres humanos. Este cosmos ao fim de milhares de anos voltará a ser fogo puro, isto é caos, este originará um novo cosmos. Há nisto racionalidade ou seja lógica: a oscilação pendular caos-cosmos, a omnipresença do fogo como essência oculta de homens, animais, mares, céus. (VALE DOIS VALORES)
3-B) A esfera dos valores vitais e sentimentais tem como principais valores o nobre e o vulgar. Engloba ainda os pares amor-ódio, sentimento de juventude e sentimento de velhice, alegria e tristeza, sentimento de vitória ou derrota, paixão e ciúme, orgulho versus humildade, desassobro versus vergonha, coragem versus cobardia, etc. A esfera dos valores espirituais engloba, segundo Scheler, os valores éticos (bem e mal) , estéticos, jurídicos (correcto, incorrecto, legal e ilegal) , filosóficos (verdade e erro) e os valores de referência, subordinados aos filosóficos, que são os científicos (verdade e erro). Cada valor desdobra-se em três níveis. Exemplo para um valor filosófico: valor de coisa, o livro «Metafísica» de Aristóteles; valor de função, ler e meditar a «Metafísica»; valor de estado, sentir-se esclarecido e feliz por adquirir vastas noções filosóficas aristotélicas(VALE DOIS VALORES).
3-C) Multiculturalismo é a ideologia que defende que em cada Estado devem coexistir em plano de absoluta igualdade de direitos políticos e sociais as diferentes etnias, a original do território, e as imigrantes, podendo, por hipótese, um imigrante mexicano ser eleito presidente dos EUA e todas as comunidades - estadounidense de raça branca, portuguesa, mexicana, chinesa, indiana, etc. - receberem igual financiamento para celebrarem as suas festas tradicionais e terem aulas para os seus filhos. Etnocentrismo é a ideologia que defende que em cada país há uma etnia dominante, como por exemplo, o povo católico de etnia caucasiana em Portugal. Reveste duas modalidades: etnocentrismo democrático, que concede direitos às etnias imigrantes e a minorias culturais e sexuais; etnocentrismo nazi, racista ou religioso intolerante ou de outro tipo, que esmaga outras etnias, expulsa imigrantes em massa, prende e persegue homossexuais etc. (VALE DOIS VALORES).
3-D) A esfera dos valores do santo e do profano engloba os valores de salvação, próprios do crente em Deus, e de desespero ou indiferença religiosa próprios do ateu. Cada valor desdobra-se em três níveis. Exemplo: valor de coisa, um crucifixo; valor de função, beijar ou crucifixo ou contemplá-lo devotamente; valor de estado, sentir-se salvo e protegido por Deus. A esfera dos valores sensíveis é a inferior: contém os valores de prazer e dor física e os valores subordinados de referência . o útil e o inútil. (VALE DOIS VALORES).
NOTA: COMPRA O NOSSO «DICIONÁRIO DE FILOSOFIA E ONTOLOGIA», 520 páginas, 20 euros (portes de correio para Portugal incluídos), CONTACTA-NOS.
© (Direitos de autor para Francisco Limpo de Faria Queiroz)
Sem embargo de ser um dos melhores manuais de filosofia para o 10º ano do ensino secundário em Portugal , o «Essencial Filosofia 10º ano» da Santilhana Constância Editores contém alguns equívocos. Sobre os valores, estipula o manual:
«Os valores são uma realidade diferente dos factos, acontecimentos objectivos que ocorrem diante de nós. Os factos incluem três categorias: a dos objectos, a dos acontecimentos e a dos seres.(...)
«Os valores não são seres reais, como os factos, nem seres ideais como as ideias.» (Amândio Fontoura e Mafalda Afonso, Custódia Martins (consultora), «Essencial Filosofia 10º ano», Santilhana Constância, pág 113; o itálico é posto por nós).
Há aqui alguns equívocos. Todas as coisas materiais, ou pelo menos um número infinito delas, são valores, económicos ou biofísicos. Uma árvore carregada de frutos é um valor. Há que recordar a tripla distinção de Max Scheler, o mais portentoso filósofo na teoria dos valores: há o valor de coisa (exemplo: uma maçã, uma pedra mármore), o valor de função (exemplo: mastigar e saborear a maçã, ter o mármore como soleira da porta) e o valor de estado (exemplo: ficar saciado com a maçã, sentir a beleza do mármore na entrada da casa.
Dizer que «Os valores não são seres reais, como os factos, nem seres ideais como as ideias.» é um erro. Uma revolução antifascista como a de 25 de Abril de 1974 a 11 de Março de 1975 foi um facto ou uma série de factos, um ser ou acontecimento real, e foi um valor positivo para os trabalhadores e um valor negativo para a oligarquia portuguesa. As ideias são valores: as ideias de beleza e fealdade, de justiça e de injustiça, de capitalismo e de socialismo marxista, de deuses e demónios são valores estéticos, éticos, políticos, religiosos.
NOTA: COMPRA O NOSSO «DICIONÁRIO DE FILOSOFIA E ONTOLOGIA», 520 páginas, 20 euros (portes de correio para Portugal incluídos), CONTACTA-NOS.
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Eis um teste de filosofia sem perguntas de resposta múltipla que exigem responder com cruzes e não desenvolvem a capacidade discursiva escrita do aluno.
Agrupamento de Escolas nº 1 de Beja
Escola Secundária Diogo de Gouveia , Beja
TESTE DE FILOSOFIA, 10º ANO TURMA A
11 de Dezembro de 2013. Professor: Francisco Queiroz
I
“ Aparentemente, o imperativo categórico, segundo Kant, reveste-se de multiculturalismo e não de etnocentrismo absolutista. Há quem conteste a divisão das éticas em deontológicas e teleológicas. O livre-arbítrio e o determinismo biofísico são compatíveis».
1) Explique concretamente este texto.
2) Relacione, justificando:
A) Nous e epithymia em Platão e os dois eus na moral de Kant.
B) Esfera dos valores vitais e sentimentais e esfera dos valores espirituais em Max Scheler.
C) Demiurgo em Platão, Deus em Aristóteles e Essência em ambos os filósofos.
D) Lei da contradição principal na dialética e princípio do terceiro excluído.
CORRECÇÃO DO TESTE, COTADO PARA 20 VALORES
1) O imperativo categórico é a verdadeira lei moral segundo Kant e formula-se assim: «Age como se quisesses que a tua máxima fosse lei universal da natureza». Dito de outro modo: trata a todos igualmente e põe-te no mesmo plano que eles. Isto parece corresponder ao multiculturalismo, doutrina que sustenta que, no interior de uma mesma comunidade nacional ou supra-nacional, as diferentes etnias (povos, grupos que falam a mesma língua e têm a mesma religião ou costumes sociais) devem ter direitos e oportunidades iguais. O etnocentismo absolutista, doutrina que afirma a supremacia incontestada de uma etnia e escraviza ou elimina outras etnias - caso do nazismo, ao eliminar judeus e ciganos - não deriva do imperativo categórico (VALE TRÊS VALORES). Há quem não concorde com a divisão das éticas, teorias do bem e do mal no comportamento, em deontológicas , isto é, centradas no dever (déon) e teleológicas, isto é, centradas na finalidade (télos)da acção. (VALE DOIS VALORES). O livre-arbítrio é a capacidade de escolher racionalmente. livremente, os seus valores, as suas acções e o determinismo biofísico é a lei geral da natureza segundo a qual as mesmas causas produzem sempre os mesmos efeitos, nas mesmas circunstâncias - por exemplo, as sementes de maçã originam sempre macieiras e não pinheiros, a lei da gravidade faz sempre cair para a Terra um corpo inerte largado no ar. Livre-arbítrio conjuga-se com determinismo biofísico (VALE DOIS VALORES).
2) A)Nous é a razão intuitiva ou superior em Platão. Apreende o Bem, o Belo, o Justo e outros arquétipos. Equivale ao eu numénico ou racional na teoria de Kant, uma vez que este eu superior está livre da subordinação aos instintos egoístas, aos interesses materiais particulares. Epytimia é a concupiscência, o leque dos instintos inferiores ligados ao ventre: comer, beber, possuir ouro e prata e terrenos ou lojas e oficinas, etc. Equivale ao eu fenoménico ou eu empírico/ corporal na doutrina de Kant, já que este eu exprime os apetites do corpo e fabrica o imperativo hipotético (VALE TRÊS VALORES)
2) B) A esfera dos valores vitais e sentimentais, segundo Max Scheler, alberga uma imensidão de valores anímicos, psíquicos ou psicofísicos: o nobre e o vulgar, os sentimentos de juventude, de velhice, de vitória, de derrota, a paixão amorosa, o ciúme, a inveja, o orgulho, a coragem, a cobardia, etc. A esfera dos valores espirituais opõe-se-lhe na medida em que alberga valores intelectuais ou afectivo-intelectuais: os valores estéticos (belo feio, sublime horrível), os valores éticos (bom, mau, justo, injusto), os valores de verdade (filosofia e, de forma derivada, as ciências) (VALE TRÊS VALORES).
2) C) O demiurgo é, na doutrina de Platão, o deus arquitecto que, com a ajuda dos deuses do Olimpo, faz imprimir na matéria caótica (chorá) as formas similares aos arquétipos. É, pois, um deus activo, modelador. O Deus de Aristóteles é pensamento puro, está imóvel, além do universo, não se preocupa com este e é causa indirecta do movimento circular das estrelas e planetas e respectivas esferas de cristal: os astros desejam alcançar. As essências em Platão existem no mundo inteligível, acima do céu visível: são eternas, imóveis, perfeitas, sem matéria, espirituais. Em Aristóteles, as essências existem nas coisas sensíveis e não há mundo inteligível separado: a essência de sobreiro é a forma pura e eterna que há em todos os sobreiros físicos, a essência de belo está na rosa bela, na mulher bela e em todos os objectos belos..(VALE QUATRO VALORES).
2) D) A lei da contradição principal estabelece que, num sistema de múltiplas contradições, se podem destacar dois grandes blocos que constituem a contradição principal, deixando, ou não de fora, em zona neutra, uma ou várias entidades. Por exemplo: na segunda volta das eleições presidenciais, o candidato presidencial do centro-esquerda reune em torno de si o bloco dos socialistas, comunistas, ecologistas, republicanos de esquerda, anarquistas possibilistas, etc e o candidato presidencial do centro-direita encabeça o bloco dos conservadores, neofascistas moderados, liberais e centristas. O princípio do terceiro excluído é parecido porque forma dois campos: o de uma coisa ou qualidade ser A ou não A, sem haver terceira hipótese. Exemplo: na segunda volta das presidenciais, ou votas no candidato de centro-esquerda ou não votas no candidato de centro-esquerda, não havendo a terceira hipótese. (VALE TRÊS VALORES):
© (Direitos de autor para Francisco Limpo de Faria Queiroz)
O fenomenólogo alemão Max Scheler (22 de Agosto de 1874- 19 de Maio de 1928), na linha das correntes vitalistas e não representacionistas, critica o conhecimento como uma apreensão racional-intelectual, visto unicamente como um aclarar da água turva de modo a ver o fundo do tanque:
«O problema da produção técnica das disposições afectivas e intelectuais necessárias para o conhecimento filosófico das essências é conhecido de todos os metafísicos, desde Buda, Platão, e Santo Agostinho até ao "esforço doloroso" de Bergson a fim de intuir a "durée" e até à teoria da "redução fenomenológica" de Husserl, que significa um problema epistemotécnico da atitude filosófica específica no saber e no conhecimento, em Husserl mascarado simplesmente sob uma aparente metodologia lógica e até aqui resolvido do modo mais deficiente. A técnica interna do saber filosófico e metafísico é justamente um problema de índole completamente peculiar e independente e não deve confundir-se com a técnica do conhecimento científico positivo nem os restantes procedimentos psicoténicos para outros "fins". Na dita técnica trata-se sempre de uma coisa: de produzir por meio de um acto de exclusão dos actos e impulsos que dão o momento de realidade dos objectos (a realidade é sempre, em simultâneo, o sumo e último "principium singularisationis") uma pura contemplatio das genuínas ideias e fenómenos primários e - na correspondência entre umas e outros - da "essência" livre de existência. Mas estes actos e impulsos são sempre de natureza dinâmica impulsiva - como reconheceram em comum Berkeley, Maine de Biran, Bouterweck, o Schelling do último período, Schopenhauer, W.Dilthey, Bergson, Frischeisen-Köhler, E.Jaensch, M.Scheler. Só como "resistência" oposta à atenção dinâmica impulsiva se dá a realidade em todos os modos da percepção e da recordação. Ora bem, estes actos a excluir, e não um mero procedimento lógico para "prescindir" dos modos da existência ou para "pôr entre parentesis" a existência como crê E.Husserl são, mesmo assim as raízes positivas de aquela vontade de domínio e aquela valoração do domínio que, como vimos, são em simultâneo uma das raízes psicológicas da ciência positiva e da técnica do domínio.»
(Max Scheler, Sociología del Saber, pag. 163-164, Editorial Leviatán, Buenos Aires, 1991; o destaque a negrito é de minha autoria).
A crítica de Scheler a Husserl aqui contida é a de que este reduziria o conhecimento a uma técnica de eliminação de pormenores empíricos singulares dos entes, separando a "essência" da existência, o que é impossível, segundo Scheler. A redução fenomenológica não é senão, a meu ver, a teoria do conceito como abstração das percepções empíricas similares entre si, formulada por Aristóteles. E esse tecnicismo que é a redução fenomenológica (Exemplo: «vejo vários pinheiros de ramagem a oscilar ao vento e abstraio das diferenças entre eles e isolo na minha mente, por redução, a essência de pinheiro») seria não uma atitude neutra mas assentaria em postulados metafísicos não explícitos e questionáveis, numa vontade de domínio, mais ou menos subjectiva.
Parece, pois, haver duas vias na fenomenologia: uma delas, a de Scheler e Heidegger, filiada em Schopenhauer e Kant, criadora, existencialista que defende o conhecimento como explosão da matéria das sensações com formação posterior da forma; a outra, a de Husserl, reprodutora, essencialista estática, espelhamento ou desvelação de um arquétipo ou forma essencial que existe desde o início encoberto ou mal entrevisto por uma cortina sensorial, de percepções empíricas ou imagens da memória. No entanto, há que analisar bem os textos de Husserl, como salientou Merleau-Ponty, e detectar se este superou a «redução fenomenológica» nalgum deles.
© (Direitos de autor para Francisco Limpo de Faria Queiroz)
Eis dois testes de filosofia para o 10º ano de escolaridade em Portugal, de final de primeiro período letivo, feitos com criatividade e riqueza de conteúdos, longe do simplismo monótono dos testes dos professores medianos que imitam os manuais de filosofia vigentes em Portugal. Todos estes últimos são muito limitados pela inércia do pensamento e pela «filosofia analítica» em voga (Oxford Dictionary of Philosophy, Routledge Dictionary of Philosophy, etc) cujas definições erróneas - do tipo «o libertismo é um incompatibilismo», «o relativismo não pode ser objetivista» ou «o subjetivismo contradiz-se» - e cujo vício lógico-formalista impedem a amplitude do pensamento livre, profundo e criador.
Escola Secundária com 3º ciclo Diogo de Gouveia, Beja
TESTE DE FILOSOFIA, 10º ANO TURMA A
Dezembro de 2011 Professor: Francisco Queiroz
I
“O realismo gnosiológico liga-se, sobretudo, à ideia de transcendência e o idealismo gnosiológico à ideia de imanência. Os juízos de valor assentam quase sempre na intersubjetividade e levam muitas vezes ao relativismo ou mesmo ao ceticismo.»
1) Explique, concretamente, cada uma destas frases.
II
“Entendi ser injusta uma cena em que duas raparigas agrediam uma terceira, enchi-me de coragem e intervim libertando a vítima, depois fui apreciar os quadros do Museu Regional de Beja, fiz um teste de matemática na escola, almocei frango assado e agradeci à Divindade sob um sol agradável.”
2), Identifique, nos termos a negrito deste texto, as quatro esferas de valores segundo Max Scheler e ainda valores de coisa e valores de função.
3) Relacione, justificando:
A) Imperativo categórico e imperativo hipotético em Kant e duas partes da alma humana segundo Platão.
B) Princípio lógico do terceiro excluído e lei dialética da contradição principal.
C) Hierarquia dos valores, ideologia e teleologia.
4) Disserte sobre o seguinte tema:
“A teoria das quatro causas e a teoria do ato e da potência de Aristóteles aplicada a:
A) A acção voluntária de marcar uma grande penalidade contra a equipa adversária num jogo de futebol.
5) Disserte sobre os seguinte tema:
a)- É compatível a existência dos arquétipos e da reminiscência da teoria de Platão com o livre-arbítrio? Justifique.
b)- Onde há maior grau de liberdade humana: no determinismo com livre-arbítrio ou no indeterminismo com livre-arbítrio ou no fatalismo? Justifique.
CORREÇÃO DO TESTE (COTAÇÃO MÁXIMA: 20 VALORES)
1) (NOTA: A FRASE VALE 2 VALORES). O realismo gnosiológico é a corrente que sustenta que há um mundo material exterior ás mentes humanas e, portanto, é transcendente a estas, ao passo que o idealismo gnosiológico é a corrente que sustenta que o mundo material está contido dentro da minha imensa mente cósmica e é irreal, desaparece se eu me extinguir, logo é imanente a mim. (A FRASE SEGUINTE VALE 3 VALORES).Os juízos de valor, isto é, as proposições que opinam com base no belo e no feio, no justo e injusto, no bem e no mal assentam quase sempre na intersubjetividade ou modo de pensar comum a várias subjetividades e conduzem muitas vezes ao relativismo, doutrina que afirma que os valores e a verdade variam de pessoa a pessoa, de povo a povo, de classe a classe social, de época a época, e ao ceticismo, doutrina que duvida das teorias científicas, religiosas, políticas, etc, e mesmo da existência dos entes ausentes ou invisíveis.
2) (NOTA: VALE DOIS VALORES). «Entendi ser injusta» é valor de função espiritual , isto é, um modo de perceber os valores éticos (justo e injusto) que, segundo Scheller, integra a esfera dos valores espirituais. «Enchi-me de coragem e intervim » é valor de função vital sendo o meu corpo um valor de coisa - a esfera dos valores vitais é a que se centra no anímico, no estado da alma, englobando o nobre e o vulgar, o excelente e o ruim, o sentir-se corajoso ou cobarde, jovem ou velho, vencedor ou vencido, etc. «Fui apreciar» é valor de função espiritual-estética, «os quadros do Museu Regional de Beja» é valor de coisa e pertence à esfera dos valores espirituais, que engloba a estética. «Fiz um teste de Matemática» é valor de função espiritual-científica, já que a ciência se centra nos valores de verdadeiro e falso, num sentido utilitário. «Almocei» é valor de função sensível e «frango assado» é valor de coisa, situada na esfera dos valores sensíveis. «Agradeci à divindade» é valor de função da esfera do santo e do profano, «sob um sol agradável» é valor de coisa da esfera dos valores sensíveis.
3) A) (VALE 2 VALORES) O imperativo categórico ou verdadeira lei moral segundo Kant - age como se quisesses que a tua ação fosse uma lei universal, isto é. aplicável imparcialmente a todos e sem te beneficiar a ti em exclusivo - equivale ao Nous, ou inteligência filosófica em Platão, que é a parte racional e superior da alma humana. O imperativo hipotético ou falsa lei moral segundo Kant - age beneficiando-te antes de mais a ti mesmo ou a ti e alguns amigos, secundarizando ou prejudicando outras pessoas - e equivale à epithimya ou concupiscência, isto é, à parte inferior da alma, aos instintos de comer, beber, possuir riquezas, devaneios sexuais egoístas, etc.
3) B) (VALE 2 VALORES) O princípio do terceiro excluído afirma que cada coisa ou qualidade é ou não é, pertence ao grupo A ou ao grupo não A, cria dois campos, e é similar à lei da contradição principal porque esta reduz a dois polos fundamentais as múltiplas contradições de um sistema. Exemplo: a contradição principal na II Guerra Mundial foi a que opôs os Aliados (Grã-Bretanha, EUA, Canadá, França livre, Brasil, etc) ao Eixo (Alemanha, Itália, Japão) havendo alguns países neutrais como Portugal, Espanha, Suíça, polos fora da contradição principal (esta deveria chamar-se, em rigor, contrariedade principal, de acordo com a terminologia aristotélica)..
4) A) (VALE 2 VALORES) Hierarquia de valores é a escala de valores, desde os mais elevados aos mais baixos ou contravalores. Em cada ideologia, isto é, sistema de ideias e valores de um dado grupo social ou povo há uma hierarquia de valores e uma teleologia ou estudo das finalidades dos processos naturais ou das finalidades dos valores. Exemplo: na ideologia burguesa, a hierarquia de valores coloca como valor supremo o direito a enriquecer através da acumulação de capitais como empresário ou investidor na bolsa em regime liberal, e põe como contravalores o comunismo, o anarquismo coletivista, a expropriação dos capitalistas e o fim da economia livre de mercado e tem por teleologia os valores do crescimento económico e de uma vida de prazer e conforto material material em liberdade.
4) a)(VALE 2 VALORES) A ação voluntária de marcar uma grande penalidade tem como causa formal - neste caso uma sucessão de formas- a corrida do jogador para a bola e o pontapé nesta rumo à baliza. Como causa material, a chuteira do jogador e a bola de couro. Como causa eficiente, o jogador que remata. Como causa final, marcar golo. Em ato, é o remate, em potência é a bola entrar ou não entrar na baliza.
5) a) (VALE 2 VALORES) O livre-arbítrio ou liberdade racional de deliberar como agir é compatível com os arquétipos de Bem, Belo, Justo, Número e outras formas espirituais puras existentes, segundo Platão, num mundo inteligível acima do céu visível. Podemos ou não inspirar-nos nos arquétipos. ao desenvolver ações terrenas - e isso é livre-arbítrio. As reminiscências são lembranças vagas dos arquétipos e são compatíveis com o livre-arbítrio.
5) b) (VALE 2 VALORES) O maior grau de liberdade, aparentemente, existe no determinismo com livre-arbítrio (os manuais chamam-lhe: determinismo moderado), doutrina segundo a qual a natureza se rege por leis necessárias, fixas e inflexíveis (as mesmas causas produzem sempre os mesmos efeitos) e temos liberdade para escolher este ou aquele determinismo, cujos efeitos conhecemos. Em seguida, com menor grau de liberdade, porque não conhecemos os seus contornos, vem o indeterminismo com livre-arbítrio (alguns manuais chamam-lhe libertismo...) isto é a doutrina segundo a qual a natureza não tem leis fixas e absolutamente previsíveis (exemplo: ao partir um ovo de galinha, não é certo encontrar clara e gema dentro, posso encontrar um trevo ou uma pérola) e sou livre de escolher. No fatalismo, doutrina segundo a qual os acontecimentos estão predestinados desde a mais remota antiguidade, não há livre-arbítrio.
NOTA: Há respostas alternativas a estas em algumas perguntas. O professor corretor deve ser flexível na captação de outras vias de racionalidade sugeridas por alguns alunos. Os conteúdos filosóficos deste teste estão todos contidos potencialmente no programa de filosofia, basta discerni-los, trazê-los à superfície. Na rubrica «O que é a filosofia» é possível a um professor dotado de visão holística e de rigor concetual ensinar a teoria de Platão (arquétipos, Mundos do Mesmo, do Semelhante e do Outro, reminiscência, participação, etc) princípios da lógica e leis da dialética, as teorias do ato e da potência de Aristóteles,etc.
Vejamos um segundo teste.
Escola Secundária com 3º ciclo Diogo de Gouveia, Beja
TESTE DE FILOSOFIA, 10º ANO TURMA D
Dezembro de 2011 Professor: Francisco Queiroz
I
“ A hierarquia de valores implica sempre o preferir e o postergar de valores. A lei dialética do uno parece relacionar-se mais com o tó on de Aristóteles mas a lei do devir parece ligar-se mais ao tó tí. Os juízos de valor levam muitas vezes ao relativismo ou mesmo ao ceticismo.»
1) Explique, concretamente, cada uma destas frases.
II
“ Estive a contemplar e apreciar um quadro de Picasso, depois bebi um sumo de laranja, senti-me animado com um telefonema em que me prometiam emprego por eu ter altas classificações em informática e agradeci à Divindade no meio de um campo sob um sol agradável.”
2), Identifique, nos termos a negrito deste texto, as quatro esferas de valores segundo Max Scheler e ainda valores de coisa e valores de função.
3) Relacione, justificando:
A) Dualismo antropológico e moral em Kant e duas partes da alma humana segundo Platão.
B) Realismo e idealismo gnosiológico.
C) Arquétipo em Platão, metafísica e conceito noético ou metaempírico.
4) Disserte sobre o seguinte tema:
A teoria das quatro causas e a teoria do ato e da potência de Aristóteles aplicada a:
A) A escola Diogo de Gouveia.
B) A acção voluntária de recolher alimentos a favor dos mais carenciados.
5)Disserte sobre os seguinte tema:
A)- Poderia haver valores éticos, estéticos e científicos se não houvesse livre-arbítrio? Justifique.
B)- Onde há maior grau de liberdade humana: no determinismo com livre-arbítrio ou no indeterminismo com livre-arbítrio ou no fatalismo? Justifique.
CORREÇÃO DO TESTE (COTAÇÃO MÁXIMA: 20 VALORES)
1) A) (A FRASE SEGUINTE VALE 1 VALOR) A hierarquia dos valores, isto é, o escalonamento ou escala destes de cima a baixo, implica o preferir, isto é, adotar alguns, e o postergar, isto é, o rejeitar ou colocar em último lugar de outros (exemplo: se prefiro a honestidade estou a postergar a desonestidade). (AS FRASES SEGUINTES VALEM 2 VALORES, NO TODO) A lei dialética do uno sustenta que no universo todas as coisas estão ligadas entre si fazendo um imenso Um ou Uno e o tó on, isto é, o ente, o que existe, referido por Aristóteles, é uma qualidade universal de todas as coisas, algo que as une, uma existência comum. A lei do devir sustenta que tudo está em devir ou incessante mudança e isso parece ligar-se ao tó tí, isto é, ao quê é, à forma ou essência particular, ao aspeto definidor (exemplo: o tó tí da semente, isto é, a sua forma distintiva, transforma-se no to tí da árvore, etc).(A FRASE SEGUINTE VALE DOIS VALORES). Os juízos de valor, isto é, as proposições fundadas nas noções de belo/feio, justo/injusto, bom/mau, levam muitas vezes ao relativismo, doutrina que constata que os valores variam de pessoa a pessoa, de classe a classe social, de povo a povo, de época a época, etc, e ao ceticismo, doutrina que duvida das teorias científicas, religiosas, políticas, etc, e de tudo o que esteja ausente à observação direta.
2) ( VALE 3 VALORES) "Estive a contemplar e apreciar" é valor de função estética ou valor de perceber o belo (esfera dos valores espirituais), "um quadro de Picasso" é valor de coisa, segundo a teoria de Max Scheler. «Bebi um sumo de laranja" é valor de função sensível (esfera dos valores sensíveis). «Senti-me animado com um telefonema» é valor de estado vital (estado de alma refere-se à esfera dos valores vitais) sendo o telefonema um valor de função vital, porque me anima, e de função espiritual, porque me comunica intelectualmente o valor de verdadeiro contido na informação de eu "ter altas classificações em informática" (estas representam um valor espiritual-científico de coisa). "Agradeci à divindade" é um valor de função da esfera do santo e do profano , "sob um sol agradável"é um valor de função e de coisa da esfera dos valores sensíveis.
3) A) (VALE DOIS VALORES) Dualismo antropológico e moral em Kant significa a divisão do ser humano (antropos) , feita por este filósofo, em dois polos, no plano moral: o eu numénico ou racional, gerador do imperativo categórico ou verdadeira lei moral, baseado na equidade universal e na ausência de egoísmo, e o eu fenoménico ou corporal, gerador do imperativo hipotético ou falsa lei moral, baseado no interesse egoísta do sujeito e na falta de equidade. O primeiro, numénico, equivale ao Nous, ou parte superior e racional da alma que contempla os arquétipos, segundo Platão, o segundo, fenoménico, equivale à Epithimya ou concupiscência, parte inferior da alma.
3) B) (VALE DOIS VALORES) O realismo gnosiológico sustenta que o mundo material é real em si mesmo e transcendente às mentes humanas. Ao invés, o idealismo gnosiológico sustenta que o mundo material está contido dentro da única ou das múltiplas mentes humanas, não sendo real em si mesmo.
3) C) (VALE DOIS VALORES) Arquétipo, em Platão, é uma forma espiritual eterna, imutável, imóvel e perfeita, situada acima do ceu visível, que serve de modelo aos entes do mundo terrestre: os arquétipos de Bem, Belo, Justo, Igual, Número Dois, etc. Conceito noético ou metaempírico é a ideia, formalmente subjetiva, que a mente humana forma de arquétipo, a representação deste no Nous ou inteligência superior. Tanto o arquétipo como o conceito noético que dele temos são metafísicos, visto que metafísica é a região dos objetos invisíveis e impalpáveis que transcendem a esfera dos sentidos e a natureza física percetível.
4) A) (VALE 2 VALORES) A teoria das quatro causas, de Aristóteles, aplicada à Escola Secundária Diogo de Gouveia, em Beja, resulta assim: a causa formal é a forma do edifício escolar, incluindo as salas, laboratórios, etc; a causa material é a matéria usada na construção, isto é, tijolo, ferro, cimento, mármore, telha, plástico, alumínio, etc; a causa eficiente é quem fabricou a escola, isto é, o onjunto dos pedreiros, carpinteiros, eletricistas, canalizadores, arquitetos, engenheiros, empreiteiros; a causa final é o desenvolvimento dos conhecimentos cientíicos e humanísticos e das habilidades técnicas dos alunos, a sua certificação e a constituição de um polo de saber irradiante, em que os professores são peça fundamental. A teoria do ato e da potência aplicada é a seguinte: a escola é uma escola secundária em ato ou realidade presente e é uma universidade ou qualquer outra coisa em potência, isto é, no futuro previsível.
4) B) (VALE UM VALOR) A ação de recolha de alimentos a favor dos carenciados tem como causa formal os gestos sucessivos de agarrar alimentos e transportá-los (gestos são formas moventes). Como causa material, tem os alimentos e os corpos dos que os carregam. Como causa eficiente, os doadores dos alimentos e os voluntários que os levam. Como causa final, alimentar as pessoas carenciadas.
5) A) (VALE DOIS VALORES) O livre-arbítrio ou liberdade racional de deliberar como agir é compatível com os valores éticos de bem e de mal, justo e injusto, com os valores estéticos de belo e feio, sublime e horrível, e com os valores científicos de verdadeiro, falso e verosímil. Livre-arbítrio é uma faculdade racional e valores são qualidades ou essências exteriores a essa faculdade racional.
5)B) (VALE 2 VALORES) O maior grau de liberdade, aparentemente, existe no determinismo com livre-arbítrio (os manuais chamam-lhe: determinismo moderado), doutrina segundo a qual a natureza se rege por leis necessárias, fixas e inflexíveis (as mesmas causas produzem sempre os mesmos efeitos) e temos liberdade para escolher este ou aquele determinismo, cujos efeitos conhecemos. Em seguida, com menor grau de liberdade, porque não conhecemos os seus contornos, vem o indeterminismo com livre-arbítrio (alguns manuais chamam-lhe libertismo...) isto é a doutrina segundo a qual a natureza não tem leis fixas e absolutamente previsíveis (exemplo: ao partir um ovo de galinha, não é certo encontrar clara e gema dentro, posso encontrar um trevo ou uma pérola) e sou livre de escolher. No fatalismo, doutrina segundo a qual os acontecimentos estão predestinados desde a mais remota antiguidade, não há livre-arbítrio.
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© (Direitos de autor para Francisco Limpo de Faria Queiroz)
A definição de valor dada por Simon Blackburn no seu "Oxford Dictionary of Philosophy» é a seguinte:
«valor Reconhecer um certo aspecto das coisas como um valor consiste em tê-lo em conta na tomada de decisões ou, por outras palavras, em estar inclinado a usá-lo como um elemento a ter em consideração na escolha e na orientação que damos a nós próprios e aos outros. Os que vêem os valores como subjectivos consideram esta situação em termos de uma posição pessoal, adoptada como uma espécie de escolha e imune ao argumento racional (embora, muitas vezes, e curiosamente, merecedora de um certo tipo de respeito). Os que concebem os valores como algo objectivo supõem que, por alguma razão - exigências da racionalidade, da natureza humana, de Deus ou de outra autoridade - a escolha pode ser orientada e corrigida a partir de um ponto de vista independente » (Simon Blackburn, Dicionário de Filosofia, Gradiva, pag 450).
Esta definição peca por ser vaga. Se reconheço que não posso ultrapassar um automóvel naquela curva apertada numa lomba, sem visibilidade do lado de lá, será a curva da estrada um valor, uma vez que determina a minha escolha da atitude enquanto condutor do meu veículo? Ou a curva é um suporte objectivo do meu valor de circular a alta velocidade na estrada? "Valor é um aspecto das coisas que nos obriga a decidir"... eis uma pobre definição de valor, esta, de Blackburn.
A meu ver, valor é uma qualidade ética, política, estética, científica, material, etc, que se compõe de uma ou duas dimensões: um "em si" e um "para nós". Cada valor possui ou gera um contra-valor diametralmente oposto formando uma bipolaridade axial, segundo a preferência de cada indivíduo ou comunidade. Assim, a beleza de um corpo é um valor em si e um valor para os que admiram e desejam esse corpo. O contra-valor do belo é o feio. O fio de cobre é um valor em si mesmo (um valor de bens, diria Max Scheler) e um valor para nós (o preço, a utilidade de que se reveste neste momento para as nossas casas e eletrodomésticos, etc).
Blackburn é intelectualmente muito pobre se comparado com Max Scheler, por exemplo. Há filósofos ditos não analíticos como Max Scheler que têm um poder de análise muito superior a filósofos analíticos como Simon Blackburn e outros. Fazem-nos sorrir aqueles que hoje se proclamam «analíticos» , como se esta palavra os salvaguardasse do erro, e revelam escassa capacidade de análise, isto é, miopia intelectual.
Scheler escreveu sobre os valores de forma muito mais clara e precisa do que Blackburn. Em matéria de clareza de pensamento, Scheler não fica abaixo de Marin Heidegger, talvez mesmo supere este. Cito algumas passagens de "Ética" do filósofo alemão falecido em 1928:
«Em primeiro lugar, cabe aqui o facto essencial de que todos os valores - éticos, estéticos, etc - se cindem em valores positivos e negativos (como pretendemos dizer por causa da simplicidade). Isso pertence à essência dos valores e é verdade independentemente do que nós possamos sentir exactamente as peculiares antíteses de valores (quer dizer, os valores positivos e negativos) como belo-feio, bom-mau, agradável-desagradável». (Max Scheler, Ética, Caparrós Editores, pag 145; o negrito é colocado por mim)
«Por outro lado, tão pouco há-de afirmar-se que a "superioridade" de um valor "signifique" unicamente que é o valor "que foi preferido". Pois, ainda que a superioridade de um valor seja dada "no" preferir, sem embargo essa superioridade é uma relação inserida na essência dos próprios valores respectivos. Por isso é algo absolutamente invariável a "hierarquia dos valores", enquanto que, em princípio, as "regras de preferência" variam ainda na história (variação que é muito distinta da apreensão de novos valores).» (Scheler, ibid, pag 153; o negrito é posto por mim).
«A beleza de uma paisagem ou de um tipo humano e o embelezamento do meu olhar nessa beleza são vivências claramente distintas, das quais a primeira é a base da segunda. A beleza não é um influxo vivido que a paisagem (desprovida de valor) exerce, mas é a sua beleza que actua, e essa sua acção transforma-se na mudança de um estado sentimental.» (Scheler, ibid, pag 349).
Não será, talvez por acaso, que não se encontra traduzida em português em edição acessível ao grande público a «Ética - novo ensaio de fundamentação de um personalismo ético» de Max Scheler: é uma obra demasiado profunda para as cabeças superficiais de muitos doutorados em filosofia que povoam as nossas universidades, cada vez mais pobres em pensamento, à medida que multiplicam os mestrados e doutoramentos em filosofia que fazem sobreviver, economicamente, a instituição.
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El término "contorno" designa, al menos, tres cosas distintas: la línea formada por el límite de una superficie o figura dibujada; el territorio o conjunto de lugares y cuerpos físicos que rodean a otro; el conjunto de ideas, fuerzas, sentimientos que desde los otros, desde la esfera psico-social, involucran a un individuo.
En la filosofía de Max Scheler, contorno tiene un doble significado: la parte del cuerpo físico del individuo dada por su percepción exterior, en conjunto con los otros cuerpos humanos y cuerpos inorgánicos exteriores más cercanos que constituyen el mundo operante, influyente directamente, sobre el organismo; las fuerzas psico-sociales - las personas de los otros, los Yos psíquicos - que envuelven al individuo en un modo más próximo. Aténtese en el siguiente texto de Max Scheler, uno de los más complejos de su Ética en el que distingue, no siempre de forma meridianamente clara, los conceptos de individuo, organismo, persona, Yo corporal, Yo psíquico o alma, contorno, mundo, mundo exterior:
«Nótese bien el sentido propio de la distinción contorno-individuo (o lo que hace las veces de tal individuo, por ejemplo: hombre, mongol, etc) Esta distinción nada tiene que ver con aquella "yo"- "mundo exterior" de la esfera psíquica y física. La distinción "individuo-contorno" es indiferente al punto de vista psicofísico; de aquí que todo individuo tiene, a su vez, en su contorno psíquico y en si mismo un elemento "psíquico" y "físico". Pertenece al primero todo aquello psíquico ajeno que vive como operando sobre sí, sin que esto quiera decir que ha de ser percibido; todos los sentimientos y pensamientos que el individuo no vive como "suyos", individuales, es decir, con el sello especial de su individualidad, una esfera que coincide con todo aquello que puede ser explicado por el principio de asociación - cosa que no puede demostrarse aquí - . Al contorno físico del individuo pertenece su organismo en cuanto le es dado en el fenómeno de la percepción exterior - dentro del medio y provisto de sus notas de valor positivas y negativas. Por lo tanto, la diferenciación de un cuerpo orgánico con los cuerpos que le rodean nada tiene que ver con la oposición individuo-contorno. Pues esa diferencia existe dentro de la esfera de los objetos de la percepción exterior y divide sus fenómenos - según la relación de dependencia respecto a los cuerpos orgánicos o inorgánicos - en físicos, en un sentido amplio, y fisiológicos. (Nada tiene que ver tampoco esa diferenciación con la relación real de alma a alma). Ni menos tampoco tiene que ver con la relación del yo psíquico, inmediatamente vivido, y la esfera de la vitalidad y el yo corporal, - asiento de todas las sensaciones orgánicas y tendencias instintivas: tal, por ejemplo, "tengo hambre" -. Pues, en este caso, esta diferenciación se realiza dentro de la esfera de la percepción íntima y divide los fenómenos de esta en fenómenos de la Psicología pura y fisiológica, fenómenos puramente anímicos y fenómenos del "sentido íntimo" - según que dependan del yo y del yo corporal - (Véase para esto mi trabajo Uber Selbsttäuschungen). Empero, el organismo como unidad de forma nos es dado en total independencia, tanto de la percepción exterior cuanto de la percepción interior, como un todo y como un contenido inmediatamente intuitivo y materialmente idéntico (no sólo merced a la constante coordinación de los fenómenos de la percepción exterior e interior del mismo organismo.) Y esa unidad del organismo es la que representa la contraposición esencial al "contorno". Al "organismo" como unidad formal - no al organismo corpóreo - se contrapone la "persona" (a su vez como unidad de los actos, indiferente psicofísicamente, véase para esto la Segunda parte). Desde el punto de vista del objeto, empero, se contrapone a la "persona", no un "contorno", sino un "mundo" de cuyos elementos una selección tan sólo representa el "contorno", selección importante para la unidad corporal y vivida como operante en ésta. Tenemos así las siguientes antítesis que se han de separar con todo rigor:
1. Persona-Mundo.
2. Organismo-Contorno.
3. Yo-Mundo exterior.
4. Organismo corporal-Cuerpos inorgánicos.
5. Alma- Yo corporal». (Max Scheler, Ética, Pág 220-221; nota de pie de página; la netra negrita es introducida por nosotros).
Que críticas hay a plantear a nuestro querido Max Scheler?
Hay, al menos una, contradicción inconsistente en estas antítesis. Scheler sostiene la oposición organismo-contorno pero es una contradictio in adjecto: el contorno comporta la parte del organismo físico dada en la percepción exterior (las manos y la nariz y el rostro que veo en el espejo y toco, los brazos, las piernas, el tronco). Entonces, la oposición planteada en 2 no es entre organismo y contorno sino entre organismo psíquico y físico interior, a un lado, y contorno, incluyendo el organismo fisico exterior, el Yo corporal en su faceta exterior, a otro lado.
Otra cuestión que importa aclarar es la oposición Persona-Mundo. Scheler escribió:
«No podemos emplear la palabra "persona" en todos los casos en que corrientemente admitimos yoidad, animación o incluso conciencia del valor y de la existencia del propio yo (conciencia del propio valor, conciencia de sí mismo). La animación, por ejemplo, es propia de los animales, quienes poseen incluso una yoidad del tipo que sea. ( ) Mas tampoco el "hombre" en cuanto hombre define el círculo de seres para los que vale el concepto de persona. Sino que es sólo a un determinado grado de la existencia humana al que se aplica este concepto.» (Max Scheler, Ética, Pág. 621)
«1ºToda objetivación psicológica es idèntica a la despersonalización. 2º La persona es dada siempre como el realizador de actos intencionales que están ligados por la unidad de un sentido. Por consiguiente, nada tiene que ver el ser psíquico con el ser personal.» (Ética, Caparrós, Pág. 623; la letra negrita es añadida por nosotros).
Persona incluye a la capa superior de la yoidad y al espíritu extra persona individual, que es una región del no yo que penetra mutuamente al Yo en múltiples seres humanos. Ese espíritu es mundo, por supuesto no mundo físico, sino mundo de esencias ideales, de conexión de afectos, que transciende la yoidad. La transmisión del saber ético, artístico, filosófico, religioso en las familias, las comunidades vecinales, en los colegios, en libros, en la radiotelevisión, iglesias, etc, es una manifestación del espíritu, ese oceano de esencias personales y transpersonales. El loco, por ejemplo, no es persona. El niño no es aún persona. El animal mamífero no humano no es persona. aunque posee yoidad corporal y psíquica. De ahí que es algo probemática la oposición persona-mundo diseñada por Scheler: no debería ser antes la antítesis persona-mundo exterior?
Pues cuando se habla de mundo interior ¿está este incluido o no en la esfera de la persona? Me parece que sí, al menos en parte. Pero estos textos de Scheler no aclaran esta cuestión.
Además en estes textos parece que Scheler identifica individuo con organismo. Pero a nosotros se nos antoja que el individuo es más amplio que organismo porque además de contener esto engloba la persona, el espíritu individuado.
© (Direitos de autor para Francisco Limpo de Faria Queiroz)
Concretividade, na linguagem de Scheler, designa o mesmo que talidade na filosofia de Zubiri e que determinabilidade na filosofia de Hegel. Em Hegel, o termo concreto adquire, ademais, o sentido de unidade ou síntese das diversas determinações dos concretos parcelares isto é um sentido não de tal qualidade mas de tais qualidades em bloco, como unidade estrutural do fenómeno.
A concretividade ou concrecção é a qualidade ou o conjunto de qualidades que essencializam ou individuam, caracterizam algo. Por exemplo, a concretividade de uma rosa é: tal tipo de pétalas, tal cheiro, tais espinhos, tal cor, etc; A concretividade de Portugal continental é: país no extremo ocidental da Europa, com 89 000 quilómetros quadrados, de forma aproximadamente rectangular, com orla marítima a oeste e a sul, tendo Lisboa e Porto como cidades principais, etc.
Scheler escreveu:
«Quien afirma un pensar concreto o un querer concreto, supone sin más el totum de la personalidad, pues de otro modo se trataría unicamente de esencias abstractas de actos. Empero, la concretividad pertenece a la esencia, no a la posición misma de la realidad.» (Max Scheler, Ética, Caparrós Editores, Pág 529; a letra negrita é nossa).
Por que razão diz Scheler que a concretividade pertence à essência e não à posição?
Porque entende por posição a ontologia, a teoria do ser, que cada um adopta. Por exemplo, o realismo ontológico é uma posição que sustenta que o universo material está «ali fora» e é independente da minha e das outras consciências humanas mas o idealismo defende uma posição diversa. Ora a eidologia, a teoria da essência (eidos), não é uma posição entre outras nem um conjunto de posições. É metaposicional, no sentido scheleriano do termo.
Assim tanto materialistas como espiritualistas têm a mesma descrição eidética, essencial, de Deus - ser espiritual, infinito, autosubsistente, omnipresente, omnisciente, etc - mas uma diferente posição ontológica: os materialistas dizem que a essência Deus não existe, a não ser na imaginação dos crentes, e os espiritualistas asseguram que a essência Deus é um ser realmente existente.
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