Na Suma de Teologia, uma das grandes obras da filosofia perene, Tomás de Aquino sustenta que a qualidade (por exemplo: cor branca)- um dos acidentes, na classificação de Aristóteles - resulta da forma substancial (por exemplo: homem). Nessa óptica, classifica a luz não como forma substancial, substância, mas como acidente, qualidade.
No Tratado da Criação Corpórea, da Suma de Teologia, escreveu Tomás de Aquino:
«Artigo 3
A luz é ou não qualidade?
Objecções pelas quais parece que a luz não é qualidade:
1) Toda a qualidade permanece no sujeito inclusive depois de desaparecer o agente. Exemplo: o calor permanece na água depois de tirá-la do fogo. Mas a luz não permanece no ar uma vez retirado o corpo que despede luz. Por tanto, a luz não é qualidade. (...)
Solução:
...Portanto há que dizer: assim como o calor é uma qualidade activa consequência da forma substancial do fogo, assim também a luz é uma qualidade activa consequência da forma substancial do sol ou de qualquer outro corpo com luz própria, se é que há outro. (...)
Resposta às objecções: 1. À primeira há que dizer: Como a qualidade é consequência da forma substancial, o sujeito comporta-se de maneira distinta ante a recepção da qualidade e a recepção da forma. Pois quando a matéria recebe completamente a forma, também fica firmemente ancorada nela a qualidade que é consequência da forma. Como se a água se convertesse em fogo. Pelo contrário, quando a forma substancial é recebida incompleta, por certa incoacção, então a qualidade permanece algum tempo, mas não sempre. Como a água aquecida que volta ao seu estado natural. Mas a iluminação não é produzida por alguma mudança que se dá na matéria ao receber a forma substancial, como se houvesse alguma incoacção da forma. Por isso a luz não permanece mais do que estando o agente.
3. À terceira há que dizer: Assim como o calor pela sua forma substancial coopera instrumentalmente na produção da forma do fogo, assim também a luz, em virtude dos corpos celestes, coopera instrumentalmente na produção de formas substanciais; e também em fazer que as cores sejam visíveis, enquanto é a qualidade do primeiro corpo sensível.»
(São Tomás de Aquino, Suma de Teología I, parte I, pags 631-632, Biblioteca de Autores Cristianos)
Note-se uma contradição na análise do doutor angélico: acima designa o calor como qualidade da forma substancial fogo e por último atribui forma substancial ao calor. Ou seja, num lado é acidente e no outro substância.
© (Direitos de autor para Francisco Limpo de Faria Queiroz)
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