O manual «Como pensar tudo isto», do 10º ano de Filosofia, da ASA (grupo Leya), da autoria de Ana da Gama, Domingos Faria e Luís Veríssimo, contém alguns erros conceptuais.
UMA ERRÓNEA OU INCOMPLETA CONCEPÇÃO DE LIVRE ARBÍTRIO
O manual afirma:
«Temos livre-arbítrio se, e só se algumas das coisas que nos acontecem dependem de nós».
(Ana da Gama, Domingos Faria, Luís Veríssimo «Como pensar tudo isto, 10º ano de Filosofia», ASA, pág. 135)
Esta definição está errada ou, no mínimo incompleta. Há coisas, decisões que dependem de nós e não implicam livre-arbítrio, são tomadas por instinto, irracionalmente. Exemplo: uma criança não instruída escolhe, irracionalmente, entre comer um croissant ou uma banana.
UMA ERRÓNEA DEFINIÇÃO DE DETERMINISMO CONFUNDIDO COM CAUSALISMO
Lê-se no manual:
«Esta crença de que tudo o que acontece tem uma causa ficou conhecida como "determinismo". Ou dito de outra forma:
O determinismo é a tese de que tudo o que acontece é a consequência de acontecimentos anteriores e das leis da natureza.»(...)
«Em suma, se o determinismo for verdadeiro, o passado e as leis da natureza determinam a cada instante um único futuro possível. »
(Ana da Gama, Domingos Faria, Luís Veríssimo «Como pensar tudo isto, 10º ano de Filosofia», ASA, pág. 136-137).
Não há aqui a definição exacta de determinismo. Esta é a seguinte: nas mesmas circunstâncias, as mesmas causas produzem sempre os mesmos efeitos. Isto é diferente de dizer que tudo o que acontece é a consequência de acontecimentos anteriores. Porque existem o acaso na natureza e o livre-arbítrio no ser humano no momento atual, que estão fora do determinismo e não têm a ver com acontecimentos anteriores. Se decido jantar alheira hoje ou viajar a Santiago de Compostela e visitar o túmulo de Prisciliano, bispo de Ávila decapitado em 385, isso não resulta exclusiva e principalmente de causas anteriores mas sim de causas do momento atual, mais ou menos imprevisíveis, entre elas o meu livre-arbítrio e o meu instinto de improvisação, que são causas livres. É portanto ridículo assegurar que o passado e as leis da natureza determinam a cada instante um único futuro possível. Esta visão é o fatalismo, não o determinismo.
A correcta definição de Determinismo não é a de que tudo o que acontece tem uma causa. Isto é causalismo. Ora há dois tipos de causas: as causas necessárias não livres (exemplo: a lei da gravidade terrestre que faz cair os corpos inertes largados no ar), e as causas livres como o livre-arbítrio e a escolha irracional,instintiva a que Aristóteles chamava escolha voluntária. Mas nada isto é percebido e explicado pelos autores do manual.
NO DETERMINISMO MODERADO TUDO ESTÁ DETERMINADO?
O manual define assim o determinismo moderado, isto é, o determinismo biofísico com livre-arbítrio:
«O determinismo moderado sustenta que:
i) o livre-arbítrio é compatível com o determinismo.
ii) tudo está determinado
e
iii) tenos livre-arbítrio».
(Ana da Gama, Domingos Faria, Luís Veríssimo «Como pensar tudo isto, 10º ano de Filosofia», ASA, pág. 138).
Esta definição é uma incoerência: se, no determinismo moderado tudo está determinado então não há lugar para o livre-arbítrio que, por definição, é livre, está fora das algemas do determinismo biofísico. Livre opõe-se como contrário a determinismo, necessidade infalível. Enfim, um triste pântano de confusões...
NEBULOSAS DEFINIÇÕES DE COGNITIVISMO E NÃO COGNITIVISMO
O manual define confusamente as noções de cognitivismo (dogmatismo) e não cognitivismo (cepticismo):
«O não cognitivismo caracteriza-se por defender que, contrariamente ao que acontece com os juízos de facto, os juízos morais não são crenças. Na sua opinião, estes nem sequer são juízos propriamente ditos, mas sim uma espécie de pseudojuízos.» (...)
«Os cognitivistas sustentam que os juízos morais são crenças, o que significa que são juízos propriamente ditos, e não pseudojuízos. (...)
«Iremos centrar as nossas atenções em três perspetivas cognitivistas: o subjetivismo, o relativismo e o objetivismo.»
(Ana da Gama, Domingos Faria, Luís Veríssimo «Como pensar tudo isto, 10º ano de Filosofia», ASA, páginas 167-168).
Há aqui erros capitais: cognitivismo e não cognitivismo habitam igualmente o subjetivismo, o relativismo e o absolutismo de valores e juízos morais. O subjetivismo é cognitivista? Só algum. Exemplo de subjetivismo não cognitivista: «A verdade é íntima a cada um e eu não sei o que é o bem e o que é o mal, se o aborto voluntário é ou não pecado». O relativismo é cognitivista? Só algum. Exemplo de relativismo não cognitivista: «Nós os milhões de agnósticos não sabemos se Deus existe ou não e caso exista não sabemos se interfere no mundo e nos exige alguma ética». O absolutismo (mal denominado objetivismo) é cognitivista? Só algum. Exemplo de absolutismo não cognitivista: «Em todos os países do mundo, em todas as religiões nada se conhece sobre vida após a morte».
NENHUM TEMA VERDADEIRAMENTE FRACTURANTE COMO SERIA EXIGÍVEL EM FILOSOFIA
Estes manual e estes autores são meros instrumentos de propaganda da redutora filosofia oficial: a filosofia analítica, com a sua errónea lógica proposicional (só mentes estúpidas dizem que «Vou ao Porto ou vou a Lisboa» é diferente na estrutura lógica de «Ou vou ao Porto ou vou a Lisboa»). Fazem o discurso politicamente correcto, longe dos "extremismos", se exceptuarmos a dúvida hiperbólica cartesiana ou a teoria das conjecturas e refutações de Karl Popper. Não são filósofos mas funcionários de uma medíocre filosofia com a qual moldam a mente de alunos inteligentes.
Nenhum texto sobre astrologia histórica e não falta assunto filosófico: se o Partido Socialista venceu as eleições legislativas de 25 de Abril de 1983, com Júpiter em 9º do signo de Sagitário, e venceu as eleições legislativas de 1 de Outubro de 1995, com Júpiter em 10º do signo de Sagitário, e venceu as eleições de 6 de Outubro de 2019, com Júpiter em 18º-19º do signo de Sagitário, poderá dizer-se que Júpiter no signo de Sagitário (arco de 240º a 270º do Zodíaco) gera necessariamente vitórias do PS?
Nenhum texto questionando a vacinação e é tão oportuno fazê-lo.David Icke escreveu. «O processo de fabricação de vacinas inclui o uso de macacos, embriões de frangos e fetos humanos, além de estabilizadores como a estreptomicina, o cloreto de sódio, o hidróxido de sódio, o alumínio, o cloridrato, o sorbitol, a gelatina hidrolisada, o formaldeído,e um derivado do mercúrio chamado timerosal ...» (David Icke, «La conspiración mundial y como acabar con ella», Ediciones Obelisco, Barcelona, pag 819).
Os autores deste manual, como bons servos das multinacionais de farmácia, não contrapõem nada à teoria oficial.
Nenhum texto de Fernando Pessoa, poeta e filósofo da fenomenologia ou de outros pensadores portugueses metafísicos. Os autores deste manual de filosofia são estrangeirados, no mau sentido do termo. Não se dá importância ao que Pessoa escreveu:
«Não é possível uma futura civilização espanhola, nem uma futura civilização portuguesa. O que é possível é uma futura civilização ibérica formada pelos esforços da Espanha e de Portugal.»
«Todas as forças que se oponham a uma aliança, a um entendimento entre Portugal e Espanha devem ser desde já condenadas como inimigas. Essas forças são: os conservadores, sobretudo os católicos, e a Igreja Católica acima de tudo, que têm por ânsia íntima a união ibérica; a maçonaria, que é também estrangeira de origem, e é agora um organismo estranho metido na carne da Ibéria; a França, que com a sua cultura especial, tem envenenado, por excesso, a alma, ou as almas da Ibéria. A Inglaterra que politicamente tem espezinhado os países ibéricos.» (...)
«Para a criação da civilização ibérica é preciso a rigorosa independência das nações componentes dessa civilização. É um erro crasso supor que a fusão imperialista facilita a actividade civilizacional.»
(Fernando Pessoa, «Obra em prosa, Páginas de Pensamento Político-1, 1910-1919», Livros de Bolso Europa-América, páginas 135-136).
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© (Copyright to Francisco Limpo de Faria Queiroz)
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Há vários equívocos no manual de Domingos Faria, Luís Veríssimo e Rolando Almeida «Como pensar tudo isto? Filosofia 11º ano» da Editora Sebenta, sem embargo de o livro ter méritos.
SÓ O CONHECIMENTO PROPOSICIONAL PODE SER TRANSMITIDO?
Bertrand Russel teorizou haver três tipos de conhecimento: o saber fazer (exemplo: andar de bicicleta, nadar), o conhecimento por contacto (exemplo: olhar o rio Tejo a partir do cais das colunas, saborear gaspacho) e o conhecimento proposicional (exemplo: imaginar que o Big Bang se deu há 15 000 milhões de anos, supor que a matéria é composta de átomos, quarks e leptons).
O manual afirma.
«Apenas o conhecimento proposicional pode ser directamente transmitido de pessoa para pessoa».
(Domingos Faria, Luís Veríssimo e Rolando Almeida «Como pensar tudo isto? Filosofia 11º ano» da Editora Sebenta, pág. 130).
Isto não é verdade. O treinador de guarda-redes transmite o seu saber ao guarda redes rematando para este defender a bola e indicando-lhe se deve sair ou não ao encontro do avançado. Isto é saber fazer e conhecimento por contacto.
DAVID HUME OPUNHA-SE AO CEPTICISMO?
Sobre Hume escrevem os autores do manual:
«Tal como Descartes, David Hume recorre a uma abordagem fundacionalista para responder ao desafio cético.»
(Domingos Faria, Luís Veríssimo e Rolando Almeida «Como pensar tudo isto? Filosofia 11º ano» da Editora Sebenta, pág. 162).
Hume responde ao desafio céptico? Confusão dos autores. Hume sempre foi céptico, sempre duvidou da existência de objectos físicos exteriores à mente humana:
«A razão não nos dá e é impossível que alguma vez nos dê, em qualquer hipótese, qualquer convicção da existência contínua e distinta dos corpos. Esta opinião tem de se atribuir inteiramente à imaginação, que passa a ser o objecto da nossa investigação ».(Hume, Tratado da Natureza Humana, Fundação Calouste Gulbenkian, pag. 238; o destaque a negrito é posto por mim).
O FUNDACIONALISMO OPÕE-SE AO CEPTICISMO?
O manual opõe erroneamente fundacionalismo a cepticismo sem compreender que este é, basicamente, uma modalidade de fundacionalismo. Lê-se o seguinte no manual:
«O fundacionalismo é uma das mais antigas respostas ao problema do cepticismo. Os fundacionalistas rejeitam a primeira premissa do argumento cético da regressão infinita. Para estes autores, nem todas as nossas crenças se justificam com base em outras crenças, pois existem crenças que são de tal modo evidentes que podemos considerar que se justificam a si mesmas».
(Domingos Faria, Luís Veríssimo e Rolando Almeida «Como pensar tudo isto? Filosofia 11º ano» da Editora Sebenta, pág. 139).
Ora, nem todo o cepticismo sustenta a regressão infinita. E há fundacionalistas que sustentam a regressão infinita: por exemplo, os primeiros filósofos gregos como Tales de Mileto, que defendia a água como fundamento do mundo e uma regressão infinita do ciclo caos-cosmos, e Heráclito de Éfeso, que sustentava ser o fogo o fundamento do mundo e postulava a regressão infinita do ciclo caos (fogo em estado puro)- cosmos (fogo convertido em montanhas, rios, animais, homens, etc.). Quando o cepticismo afirma que «nada se pode conhecer, tudo é duvidoso» está a ser um fundacionalismo, estabelece uma verdade primeira que funda todo o seu sistema de pensamento.
A INCAPACIDADE DE DISTINGUIR COM CLAREZA "DISJUNÇÃO INCLUSIVA" DE "DISJUNÇÃO EXCLUSIVA", CONCEITOS FALACIOSOS
Os autores caem na falácia da lógica proposicional de colocar o mesmo tipo de disjunção sob duas formas diferentes baptizando uma de inclusiva e outra de exclusiva. E nem conseguem defini-las teoricamente limitando-se a exemplificar. Escrevem:
«Disjunção inclusiva
«A disjunção inclusiva "O José ganhou o euromilhões ou a Vera ganhou o Euromilhões" só é falsa se ambas as disjuntas forem falsas; será verdadeira se, nas restantes combinações possíveis de valores de verdade, pelo menos uma das proposições for verdadeira.» (...)
«Disjunção exclusiva»
«A disjunção exclusiva "Ou Sócrates nasceu em Atenas ou nasceu em Roma" diz-nos que uma das disjuntas é verdadeira , mas não as duas, pois é falso que Sócrates possa nascer em Atenas e em Roma: ou nasceu numj lugar ou nasceu no outro, não sucede que nasça nesses dois lugares ao mesmo tempo.»
(Domingos Faria, Luís Veríssimo e Rolando Almeida «Como pensar tudo isto? Filosofia 11º ano» da Editora Sebenta, pág. 58).
Afinal o que distingue a "disjunção inclusiva" da "disjunção exclusiva", segundo os teóricos da lógica proposicional? É que a primeira exprime-se por "ou" e a segunda exprime-se por "ou ...ou". Isto é ridículo. É o micropensamento de filósofos analíticos como Wittgenstein ou Bertrand Russel, imitado acriticamente por estes autores do manual. Chegamos a este ponto inacreditável: dizer «Sócrates nasceu em Atenas ou nasceu em Roma» é uma disjunção «inclusiva» mas dizer «Ou Sócrates nasceu em Atenas ou nasceu em Roma» é uma disjunção ...«exclusiva». Não há paciência para tanta ingenuidade «filosófica» que vê diferenças de conteúdo onde elas não existem...
Ou..ou.. é o mesmo que ou.
A ERRÓNEA TABELA DE VERDADE «CONDICIONAL» NA LÓGICA PROPOSICIONAL
Este manual escreve o seguinte sobre a tabela de verdade simples condicional:
«Condicional»
«A condicional "Se o conhecimento é sensação, então os porcos têm conhecimento» apenas é falsa se a antecedente for verdadeira e a consequente falsa. Deste modo na fórmula proposicional (P ⇒Q) todas as possíveis combinações de valor de verdade serão verdadeiras, exceto quando a antecedente for verdadeira e a consequente falsa.»
(Domingos Faria, Luís Veríssimo e Rolando Almeida «Como pensar tudo isto? Filosofia 11º ano» da Editora Sebenta, pág. 59; o destaque a negrito é posto por nós).
Segundo esta "lei" se antecedente e consequente são falsas a implicação é verdadeira. Eis um exemplo que desmente esta tabela de verdade:
Se os mares são imaginários (P), então os unicórnios existem na Terra (Q).
Ambas as frases são falsas e a sua implicação é falsa, ao contrário do que sustenta a lógica proposicional exposta neste manual.
UMA DESVALORIZAÇÃO INJUSTA DA SOFÍSTICA
Sobre a sofística na antiga Grécia, os autores do manual adoptam a posição clássica das filosofias católica e cristãs: Sócrates era «o pesquisador da verdade, o honrado filósofo», e os sofistas eram «filósofos desonestos, mentirosos, mestres na retórica manipuladora», ainda que fossem professores de gramática, dialética, aritmética, geometria, astronomia, música. Lê-se no manual:
«No entanto, os sofistas não olhavam a meios para atingirem os seus fins, ou seja, serem bem-sucedidos e eficientes nas disputas públicas, não se preocupando com a verdade. O que lhes interessava não era chegar à verdade, mas sim ganhar a todo o custo a discussão, por mais incoerentes que fossem as suas teses. Desta forma, a arte de argumentar tornava-se uma arte que recorria apenas a manipulações, falácias, apelo às emoções e sentimentos, entre outras ferramentas, para derrotar os adversários.»
(Domingos Faria, Luís Veríssimo e Rolando Almeida «Como pensar tudo isto? Filosofia 11º ano» da Editora Sebenta, pág. 105; o destaque a negrito é posto por nós).
«Sócrates opôs-se aos sofistas e à retórica manipulativa, e foi fundamentalmente um filósofo que procurou estimular o pensamento crítico na ágora(...) Portanto, a retórica em Sócrates é fundamentalmente distinta da dos sofistas. Vejamos as três características principais da retórica de Sócrates: a ironia, a maiêutica e o diálogo.» (ibid, pág. 107).
Quem pode garantir que a retórica de Sócrates era superior à dos sofistas? Sócrates procurava, por exemplo, demonstrar a imortalidade da alma humana recorrendo à analogia entre o ser humano e a árvore e a semente: a semente perpetuará a vida finita da árvore, etc.. Este raciocínio maieutico está isento de manipulação? A sofística é percursora do idealismo ontológico, do fenomenismo de David Hume, da própria filosofia analítica do século XX. Górgias de Leontinos, um dos mais famosos sofistas, preocupava-se com a verdade quando expôs o seguinte:
«2. No livro intitulado «Do não ser ou da natureza», Górgias definiu três princípios, a saber: primeiro, que nada existe, segundo, se algo existe é incognoscível e, terceiro, se fosse cognoscível não poderia ser nem comunicado, nem divulgado». (Pinharanda Gomes, Filosofia Grega Pré-Socrática, Guimarães & C.ª Editores, pág. 273).
Isto é mentir? De modo nenhum. É buscar a verdade, de uma certa perspectiva. Uma coisa é a sofística como movimento filosófico respeitável, portador do subjectivismo, do cepticismo, do relativismo, do pragmatismo, outra coisa é a prática de sofistas, advogados, professores e políticos que lucraram e ganharam a vida apelando a conceitos filosóficos antiplatónicos ou não platónicos.
Como pode considerar-se Sócrates como o detentor e pesquisador da verdade, quando ele, tal como o seu discípulo Platão, escondia ou ignorava o determinismo planetário, isto é, que a vida humana e a vida em geral na Terra está e sempre esteve completamente submetida aos movimentos dos planetas e do Sol na esfera celeste?
Os filósofos (Descartes, Hume, Kant, Hegel, Heideger, Ludwig Wittgenstein, Bertrand Russel, Edmund Gettier, Richard Swinburne, Simon Blackburn, Jerry Fodor, Thomas Nagel, Collin McGinn, Anthony Kenny, etc.) e os professores de filosofia actuais, ao ignorarem e negarem a predestinação da vida humana pelas posições astronómicas dos corpos celestes, não fizeram ou não fazem mais do que sofismar a verdade, mentir, tal como Sócrates o fez.
E, se têm dúvidas, expliquem por que razão teria de ser «coincidência» e não lei astrofísica o facto de Júpiter, cujo ciclo é de 12 anos no Zodíaco, ter estado praticamente na mesma posição astronómica em duas vitórias do PS em eleições legislativas nacionais em Portugal: 25 de Abril de 1983, Júpiter em 9º do signo de Sagitário, vitória do PS de Mário Soares sobre o PSD de Mota Pinto; 1 de Outubro de 1995, Júpiter em 10º do signo de Sagitário, vitória do PS de António Guterres.
As cátedras universitárias de filosofia e a grande mídia continuam a esconder a verdade, a censurar os que foram mais longe que elas na aventura do conhecimento, na alethéia (desocultação da verdade).
AUSÊNCIA DE REFERÊNCIA AO EU INEXISTENTE, UMA TESE CAPITAL DE HUME
Nas 17 páginas em que expõe a teoria de David Hume, da 162 à 179, o manual «Como pensar tudo isto?» omite um ponto capital, que não é empirista mas racionalista, da doutrina de Hume: a tese contraintuitiva de que o eu não existe.
Escreveu Hume (o negrito não é dele):
« Há certos filósofos que imaginam que temos permanentemente a consciência íntima do que chamamos o nosso eu; que sentimos a sua existência e a sua permanência; e que estamos seguros, mais do que através da evidência de uma demonstração, da sua identidade e simplicidade perfeita. »(....)
«Mas o eu, ou pessoa, não é uma impressão; é aquilo a que supostamente se referem as nossas diversas impressões e ideias. Se uma impressão gera a ideia do eu, essa impressão deve permanecer invariavelmente idêntica ao longo de toda a nossa existência, uma vez que se considera que o eu existe desse modo. Ora, não há nenhuma impressão constante e invariável. A dor e o prazer, as paixões e as sensações sucedem-se umas às outras, nunca existindo todas em simultâneo. A ideia do eu não pode, portanto, ter derivado de nenhuma dessas impressões ou de qualquer outra; consequentemente, uma tal ideia não existe.» (...)
«Pela minha parte, quanto penetro mais intimamente no que designo por eu, defronto-me sempre com uma ou outra percepção particular, de calor ou de frio, de luz ou de sombra, de amor ou de ódio, de dor ou de prazer. Nunca posso apreender-me a mim em momento algum, sem uma percepção, e apenas posso observar a percepção. Quando as minhas percepções deixam de operar por algum tempo, como durante um sono tranquilo, durante esse tempo deixo de ter consciência de mim, podendo realmente dizer-se que não existo».
(David Hume, A treatise of Human Nature, Oxford, Claredon Press, 1978, Livro I, 4ª Parte, Secção VI).
Hume não é um mero empirista porque usa a razão para negar o eu, centro do conhecimento humano. Há uma consciência empírica ou intuitiva do «eu» presente em Descartes e na apercepção pura transcendental em Kant mas que Hume, racionalmente, suprime.
PERSUASÃO OPÕE-SE A MANIPULAÇÃO?
Seguindo a distinção equívoca, estabelecida pelo programa de filosofia, entre persuasão e manipulação, que não são conceitos contrários mas colaterais, o manual expõe o seguinte:
« De acordo com o que foi dito podemos concluir que:
A manipulação consiste em levar alguém a aceitar uma tese sem avaliar criticamente (isto é, sem examinar de ,modo rigoroso e imparcial) as razões que existem a seu favor e contra ela.
A persuasão consiste em oferecer boas razões para que alguém seja conduzido a aceitar uma determinada tese.»
(Domingos Faria, Luís Veríssimo e Rolando Almeida «Como pensar tudo isto? Filosofia 11º ano» da Editora Sebenta, pág. 104; o destaque a negrito é posto por nós).
Ora existe manipulação sem persuasão quando se trata de um auditório que escuta um discurso? Não. Hitler e o partido nazi persuadiram, isto é, manipularam uma parte do eleitorado alemão a darem-lhes uma maioria relativa de deputados no parlamento em Março de 1933.
Há duas formas de persuasão: manipulatória e aleteiológica, isto é, desocultadora da verdade. O programa de filosofia equivoca-se ao opor manipulação a persuasão.
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© (Direitos de autor para Francisco Limpo de Faria Queiroz)
Vários equívocos impregnam o manual do professor Como pensar tudo isto? Filosofia 11º ano, de Domingos Faria, Luís Veríssimo e Rolando Almeida, revisão científica de Sofia Miguens, da editora Sebenta
O CEPTICISMO É AUTORREFUTANTE? É INSUSTENTÁVEL?
Sobre o cepticismo, lê-se no manual:
« Objecções ao cepticismo
O cepticismo é insustentável
«Alguns autores encaram o cepticismo como uma posição autorrefutante. Uma perspectiva é autorrefutante quando se refuta a si mesma, isto é, quando demonstra a sua própria falsidade. Em que medida se pode considerar que o cepticismo incorre neste tipo de erro? Bem, a resposta salta à vista: é simplesmente contraditório afirmar que se sabe que o conhecimento não é possível. Afinal de contas, se o conhecimento fosse verdadeiramente impossível nem isso se poderia saber. Mas será que isto constitui uma ameaça séria para o cepticismo?» (...)
«Há, contudo, uma crítica mais séria com a qual o cepticismo tem de lidar. No texto que se segue, Bertrand Russell, um dos mais importantes filósofos do século XX, faz notar que, embora possamos ter razões para suspender a crença em relação a este ou àquele assunto, é implausível pensarmos que temos razões para colocar em suspenso todas as nossas crenças em simultâneo.
"É claro que é possível que todas ou qualquer uma das nossas crenças possa estar errada, e consequentemente todas devem ser adoptadas com pelo menos um ligeiro elemento de dúvida. Mas não poderemos ter razão para rejeitar uma crença excepto com base noutra crença qualquer" . (Bertrand Russell, Os problemas da filosofia, Trad. Desidério Murcho, Lisboa, Edições 70, 2008, p.87)
«Com estas palavras, Russell pretende defender que, embora uma certa forma de cepticismo seja recomendada para nos prevenir de dar assentimento precipitado a algumas crenças, o cepticismo extremo é uma posição insustentável do ponto de vista racional. »
(Domingos Faria, Luís Veríssimo e Rolando Almeida, Como pensar tudo isto? Filosofia 11º ano, revisão científica de Sofia Miguens, editora Sebenta, pág. 137)
Esta argumentação dos autores do manual, e de Bertrand Russell, de que "o cepticismo é autorrefutante, insustentável" cai pela base se atentarmos na definição integral de cepticismo: «Corrente filosófica que afirma ser impossível o conhecimento em todos os domínios, à excepção do conhecimento da tese de que "nada se pode conhecer, tudo são aparências fugazes ou ilusões". Esta definição não se auto contradiz. A definição é a ilha no meio do mar da incerteza. O mar não submerge a ilha. Uma das falhas do pensamento analítico é a destruição da barreira entre definição e objecto definido, fazendo com que este último absorva e destrua a definição que o engloba e transcende.
Qual é o valor da argumentação de Russell contra o cepticismo? Nenhum. Ao dizer que «não podemos refutar uma crença a não ser que tenhamos outra» Russell não demonstra nada, faz uma profissão de fé (pistis, em grego) nos orgãos dos sentidos e nos conhecimentos erguidos a partir de estes. Ademais o cepticismo radical rejeita todos os conhecimentos/ crenças, com base na crença de que «nada se pode conhecer», portanto, cumpre a exigência de Russell no texto acima de não se ficar no vazio, sem crer em nada.
Por que razão podemos, segundo Russell, ser parcialmente cépticos mas não globalmente cépticos? Já sabemos que o céptico global é só 99% céptico porque aceita um único dogma, o de que «tudo é incognoscível»; em todo o yang há um pouco de yin. Russell não justificou a sua tese. Ninguém pode justificar o anti cepticismo de maneira categórica, excluente. É uma questão de gosto, de perspectiva. Do mesmo modo que ninguém pode refutar o comunismo leninista dizendo que «há mais liberdade individual sob o capitalismo de mercado e a democracia parlamentar». A refutação é intersubjectiva: os conservadores, os liberais e socialistas aceitam que o «leninismo é mau, ditatorial», os comunistas, vivendo em democracia capitalista, preferirão sempre a vida da Cuba leninista da "ditadura do proletariado" à vida dos EUA ou da Europa capitalista.
FALSA DICOTOMIA CEPTICISMO-FUNDACIONALISMO
O manual estabelece uma dicotomia entre cepticismo e fundacionalismo (ver gráfico da página 178, com bifurcação entre estes dois conceitos):
«O cepticismo é a perspectiva segundo a qual devemos suspender o juízo relativamente à verdade ou falsidade de uma proposição, pois no geral as nossas pretensões de conhecimento são injustificadas.» (...)
«O fundacionalismo rejeita a conclusão do argumento céptico da regressão infinita, pois defende que nem todas as crenças se justificam com base noutras crenças - existem crenças básicas, que são de tal modo evidentes que se justificam a si mesmas.»
(Domingos Faria, Luís Veríssimo e Rolando Almeida, Como pensar tudo isto? Filosofia 11º ano, revisão científica de Sofia Miguens, editora Sebenta, pág. 178-179)
Esta dicotomia cepticismo-fundacionismo é falsa, fruto do magma da confusão dos autores e revisora. O cepticismo pertence ao género ontognosiológico, ao passo que fundacionismo pertence ao género protológico. Não podem opor-se: são espécies de géneros diferentes. Sobre isto Blackburn, Zizeck e a multidão de autores analíticos ou fenomenológicos nada sabe. É dialéctica, no sentido mais alto do termo.
David Hume era céptico sobre a natureza da matéria exterior ao dizer que não se pode demonstrar que há objectos físicos como mesas, casas e montanhas, fora do nosso espírito, e ao mesmo tempo, era fundacionista ao colocar as impressões empíricas e as relações filosóficas inerentes à razão como fundamento do limitado conhecimento que o ser humano possui.
Os primeiros cépticos gregos Pirron e Timón eram fundacionistas uma vez que afirmavam poder conhecer as aparências - fundavam-se nas aparências - mas não a essência oculta e o sentido oculto das coisas. Assim, fundavam-se nos sentidos. Eram empiristas, de certo modo como David Hume seria séculos mais tarde.
A AUSÊNCIA DE REFERÊNCIA À OPOSIÇÃO REALISMO-IDEALISMO
Se consultarmos o glossário deste manual, não encontramos as definições de idealismo nem de realismo. Ora é impossível explicar cabalmente a gnosiologia de Descartes sem explicar e posicionar as teses do realismo e do idealismo ontognoseológico. Em 20 páginas a explicar o pensamento de Descartes, - da página 141 à página 161 - não há uma única referência aos conceitos de realismo e idealismo gnosiológicos, o que prova a fragilidade teórica do manual.
ERROS NAS RESPOSTAS DE ESCOLHA MÚLTIPLA
Como é habitual nas perguntas de escolha múltipla forjada por autores (de)formados pela escola da filosofia analítica, este manual e guias anexos contêm erros abundantes. Vejamos exemplos no «Guia do Professor, Como pensar tudo isto? Filosofia 11º ano».
No Teste Sumativo 4, figura a seguinte questão que pede uma única resposta certa, excluindo as outras:
6. En filosofia recorre-se à argumentação, ao diálogo e à discussão racional para:
A. descobrir como as coisas realmente são.
B. descobrir como prever o futuro.
C. descobrir a opinião de cada um.
D. descobrir como as coisas são para cada um. («Guia do Professor, Como pensar tudo isto? Filosofia 11º ano», pág. 32)
Segundo o manual, a única resposta certa é a 6-A.
Crítica Minha: não há uma mas três respostas certas, a 6-A, 6-C e 6-D. É absolutamente arbitrário e ilógico dizer que a filosofia visa «descobrir como as coisas realmente são» (hipótese A) mas não visa «descobrir como as coisas são para cada um» (hipótese D). Isso é fechar a porta da subjectividade à filosofia. E está ainda certo dizer que a filosofia visa «descobrir a opinião de cada um» (hipótese C). Por aqui se pode ver a roleta russa a que os alunos estão sujeitos com uma pergunta mal concebida de várias respostas certas.
No Teste Sumativo 5, figura a seguinte questão que pede uma única resposta certa, excluindo as outras:
2. O objecto do conhecimento prático é...
A. uma pessoa, lugar ou objecto.
B. uma proposição.
C. uma proposição verdadeira
D. uma actividade.
(«Guia do Professor, Como pensar tudo isto? Filosofia 11º ano», pág. 32)
Segundo o manual, a única resposta certa é a 6-D.
Crítica minha: há duas respostas certas, 6-A e 6-D. Que é o conhecimento prático? Não é apenas o saber-fazer. É também o conhecimento por contacto, isto é, a visão, audição, tacto, sabor, etc, das coisas diante de nós. Ora ver uma pessoa ou um objecto, vivenciar um lugar, é conhecimento prático. Opõe-se ao conhecimento teórico ou proposicional.
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