Artur Schopenhauer( Danzig, 22 de Fevereiro de 1788 — Frankfurt, 21 de Setembro de 1860) escreveu sobre as impressões sensoriais, as palavras e os conceitos:
«Só há uma coisa que não está sujeita a essa desaparição instantânea da impressão nem à paulatina difuminação da sua imagem, ou seja, que está livre do poder do tempo: o conceito. Nele têm de depositar-se os ensinamentos da experiência e só ele está apto para ser um guia seguro dos nossos passos na vida. Com razão diz Séneca: "Se queres submeter tudo a ti, submete-te à razão." Epístolas, 37, 4. Eu acrescento que para impor-se aos outros na vida real, a condição irrecusável é ser reflexivo, quer dizer, operar segundo conceitos. Um instrumento tão importante da inteligência, como é o conceito, não pode identificar-se com a palavra, este mero som que como impressão sensorial desaparece com o presente ou como fantasma auditivo desaparece com o tempo. Sem embargo, o conceito é uma representação, cuja clara consciência e cuja conservação está vinculada com a palavra. Por isso os gregos denominavam "palavra", "conceito", "relação", "pensamentos" e "razão", com o nome do primeiro: o lógos.»
(Schopenhauer, El mundo como voluntad y representación, 2, Alianza Editorial, Madrid, 2016, pp. 90-91 ; o destaque a negrito é posto por mim).
No entanto, o conceito por ser uma abstração indispensável elimina o conhecimento intuitivo:
«Ao meditar a abstração lança fora o equipamento inútil, para facilitar o manejo dos conhecimentos a comparar. Elimina-se das coisas reais o insubstancial e o confuso para operar com poucas, mas essenciais, determinações pensadas em abstracto. (...) Pelo contrário, uma nova compreensão só pode criar-se a partir do conhecimento intuitivo, o único fecundo para isso, com a ajuda do discernimento. Como ademais o conteúdo e a extensão circundante dos conceitos estão em relação inversa, po seja, quanto mais há sob um conceito, tanto menos é pensado nele, os conceitos formam uma graduação, uma hierarquia desde o mais particular até ao mais universal, em cujo extremo inferior leva razão o realismo escolástico, tal como o nominalismo a leva no extremo superior»
(Schopenhauer, El mundo como voluntad y representación, 2, Alianza Editorial, Madrid, 2016, pág. 92 ; o destaque a negrito é posto por mim).
Note-se que o realismo escolástico afirma a existência de essências universais aplicáveis à generalidade dos entes físicos - exemplo: o platonismo estabelece que os arquétipos de Homem e de Mulher existem, imóveis, em um mundo acima do céu visível e se projectam, de certo modo, nos milhões de homens e mulheres vivos - ao passo que o nominalismo diz que as essências ou ideias gerais não existem, são apenas abstrações, nomes, e só existem os indivíduos todos diferentes entre si, singulares.
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© (Copyright to Francisco Limpo de Faria Queiroz)
Este é o primeiro teste escrito de filosofia de uma turma do 11º ano de escolaridade na capital do Baixo Alentejo, Portugal. O teste é centrado na lógica aristotélica, na retórica e na gnoseologia.
Agrupamento de Escolas nº1 de Beja
Escola Secundária Diogo de Gouveia, Beja
TESTE DE FILOSOFIA, 11º ANO TURMA A
9 de Novembro de 2016. Professor: Francisco Queiroz
I
“Algumas mulheres são doutoradas..
As feministas são mulheres..
As feministas não são doutoradas.».
1-A) Indique, concretamente, três regras do silogismo formalmente válido que foram infringidas na construção deste silogismo.
1-B) Indique o modo e a figura deste silogismo.
2)Construa o quadrado lógico das oposições à seguinte proposição:
«As vilas alentejanas possuem castelos»».
3)Distinga realismo crítico de Descartes do idealismo não solipsista subjetivo e da fenomenologia.
4)Tendo como primeira premissa a proposição «Se for a Évora, visito a Pousada dos Lóios», construa:
A) Um silogismo condicional modus ponens.
B)Um silogismo condicional modus tollens.
5)Relacione ethos, pathos e logos da retórica com argumentação, persuasão manipulatória e persuasão aleteiológica.
6) Defina e construa um exemplo de cada uma das seguintes falácias: depois de por causa de, do boneco de palha, da divisão, ad hominem, ad ignorantiam.
CORREÇÃO DO TESTE COTADO PARA 20 VALORES
A) Três regras infringidas da validade do silogismo acima foram: de duas permissas afirmativas não se pode extrair uma conclusão negativa; nenhum termo pode ter maior extensão na conclusão do que nas premissas (algumas doutoradas, na permissa maior/ nenhumas doutoradas, na conclusão); o termo médio ( mulheres) tem de ser tomado pelo menos uma vez universalmente e está tomado apenas no sentido de «algumas» e não de «todas». (VALE TRÊS VALORES).
1-B) O modo do silogismo é IAE, a figura é SP (sujeito e predicado refere-se à posição do termo médio nas premissas) ou 1ª figura.(VALE UM VALOR).
2) O quadrado lógico é o seguinte:
As vilas alentejanas possuem castelos. As vilas alentejanas não possuem castelos
(TIPO A- Universal Afirmativa) (TIPO E- Universal Negativa)
. Algumas vilas alentejanas possuem castelos Algumas vilas alentejanas não possuem castelos
(TIPO I - Particular Afirmativa) (TIPO O - Particular negativa)
As proposições A e E são contrárias entre si. As proposições I e O são subcontrárias entre si. As proposições I e O são subalternas respectivamente a A e E. A proposição A é contraditória com O e a proposição E é contraditória com I. (VALE DOIS VALORES)
3) O realismo crítico de Descartes é a teoria qiue sustenta que há um mundo real de matéria exterior às mentes humanas composto de uma matéria indeterminada, sem peso nem dureza/moleza, apenas formado de figuras geométricas, movimento, números (qualidades primárias, objetivas), sendo subjectivas, isto é exclusivamente mentais, as cores, os cheiros, os sabores, as sensações do tacto, o calor e frio (qualidades secundárias, subjectivas). O idealismo não solpsista ou pluralista e subjetivo é a teoria que sustenta que o mundo material é ilusório, existe apenas dentro de uma multiplicidade de mentes humanas e cada uma delas constrói esse mundo de modo diferente das ( «A torre de Belém que eu invento/vejo não é igual à torre de Belém que tu inventas/ vês»), A fenomenologia é a ontologia, nem realista nem idealista, mas cética no seu fundo, que sustenta não saber se o mundo material subsiste ou não fora das mentes humanas. (VALE QUATRO VALORES).
4) a) Se for a Évora, visito a Pousada dos Lóios.
Vou a Évora.
Logo, visitarei a Pousada dos Lóios. (VALE UM VALOR)
4.b) Se for a Évora visito a Pousada dos Lóios..
Não visitei a Pousada dos Lóios.
Logo, não fui a Évora.
(VALE UM VALOR)
5) A retórica é a arte de bem falar e argumentar de modo a convencer os interlocutores. Tem três dimensões: o logos, isto é, a racionalidade do discurso, articulando ideias e raciocínios; o pathos, o sentimento de arrebatamento ou paixão posto na oratória e reflectido no público; o ethos, isto é, o currículo e o carácter exibido pelo orador. A persuasão ou arte de convencer outrém é essência da retórica e reveste.se de duas modalidades: manipulatória, quando convence com sofismas e paralogismos; aleteiológica (aletheia, em grego, é desvelação da verdade) quando conduz o auditório a descobrir a verdade. A argumentação ou arte de encadear juízos e raciocínios, com certa dose de subjetividade ou intersubjectividade (ideologia), inclui a persuasão em ambas as modalidades. (VALE TRÊS VALORES).
6) A falácia depois de por causa de é o erro de raciocínio que atribui uma relação necessária de causa efeito a dois fenómenos vizinhos por acaso (exemplo: «Há 10 dias vi um gato preto e caí da bicicleta, há 5 dias vi outro gato preto e perdi a carteira, ontem vi um gato preto e o meu telemóvel avariou, logo ver gatos pretos dá-me azar). (VALE UM VALOR). A falácia do boneco de palha é aquela que falsifica a posição, os argumentos do adversário, de modo a assustar o auditório. Exemplo: «O governo de António Costa vai impor um imposto extraordinário sobre casas de valor patrimonial superior a 600 000 euros. Esse tipo de imposto é exigido pelos comunistas. Logo, o governo de António Costa vai dar aos comunistas o domínio do país.» A falácia da divisão ou indutiva é aquela que particulariza, de forma abusiva, do todo para a parte. Exemplo: «Os espanhóis falam todos muito alto. Juanito é nome de muitos espanhóis. Logo, esse Juanito (qualquer que seja) fala muito alto» (VALE UM VALOR). A falácia ad hominem é aquela que desvia a argumentação racional para o campo do ataque pessoal ao adversário (exemplo: «Ele´ganhou o concurso para gestor de empresas, mas é gay, vamos impedi-lo de subir a gestor da empresa»).(VALE UM VALOR). A falácia do apelo à ignorância ou ad ignorantiam é a que raciocina sobre um fundo desconhecido e o usa de forma tendenciosa, sustentando que uma tese fica demonstrada se a não se conseguiu demonstrar a sua contrária (exemplo: Nunca ninguém demonstrou que Deus existe, logo Deus não existe).(VALE UM VALOR)
© (Direitos de autor para Francisco Limpo de Faria Queiroz)
De acordo com o bispo Hipólito de Roma, autor de «Refutação de todas as heresias», publicada cerca do ano 222, a corrente gnóstica dos Peratas (péros, em grego, significa limite) sustentava a divisão do universo em três partes: o Pai, o Filho e a Matéria. Escreveu Hipólito:
«Segundo eles, o universo consiste em Pai, Filho e matéria. No espaço que medeia entre a matéria e o Pai, tem a sua sede o Filho, o Logos, a serpente em perpétuo movimento junto ao Pai imóvel, a qual move a matéria. O Filho ora se volta para o Pai e recebe as potências na sua própria pessoa, ora assume as potências e se volta para a matéria e esta, por si mesma carente de qualidade e de figura, recebe do Filho a configuração das formas, formas com as que o Filho tinha sido previamente configurado pelo Pai.»
(Los gnósticos, volume II, Hipólito de Roma, Refutación de todas las herejías, página 80, Biblioteca Clásica Gredos, Madrid).
É interessante constatar a ideia do Cristo Serpente ou Cristão Dragão Celeste que contraria a imagem que o cristianismo oficial fornece do Salvador oposto ao demónio simbolizado pela Serpente. E apesar de este texto sugerir o contrário, este Cristo não actua como o demiurgo em Platão o deus operário que não cria a matéria, mas imprime nela, segundo Platão, as formas arquetípicas. Há uma quarta entidade, situada entre Cristo e a matéria, que é o demiurgo, o arconte, que toma as formas perfeitas existentes no Filho, a serpente celeste e comete o erro de imprimir, através de um fluxo, essas formas na matéria em devir permanente. Escreve Hipólito:
«Assim, pois - prosseguem - quando o Senhor diz «Vosso Pai que está nos céus» refere.se àquele de quem o filho assumiu as formas para as introduzir neste mundo. Quando diz «vosso pai, desde o princípio, é homicida» refere-se ao arconte e demiurgo da matéria, o qual recolheu as formas fornecidas pelo Filho e engendrou as coisas deste mundo, desde o princípio é homicida. A sua obra opera a corrupção e a morte.»
«Assim pois - prossegue - ninguém pode salvar-se nem ascender a não ser por meio do Filho, que é a serpente.»
(Los gnósticos, volume II, Hipólito de Roma, Refutación de todas las herejías, páginas 81-82, Biblioteca Clásica Gredos, Madrid; o destaque a bold é posto por nós).
Sendo a matéria corruptível e fonte de corrupção, os gnósticos salvam-se, com a sua racionalidade, da enorme falácia teológica das igrejas católica, protestantes e judaica que é considerar Deus o autor de todas as coisas visíveis e invisíveis, isto é, não só dos céus, dos mares e das paisagens terrestres belas, da beleza e da saúde juvenil mas também dos vulcões, dos furacões e dos tsunamis que matam pessoas, da velhice decrépita, das criaturas disformes, dos cancros e outras doenças.
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Eis um teste de filosofia sem perguntas de resposta múltipla, de modo a que os alunos revelem, em discurso escrito a sua capacidade de conceptualização e de relacionação..
Agrupamento de Escolas nº 1 de Beja
Escola Secundária Diogo de Gouveia , Beja
TESTE DE FILOSOFIA, 11º ANO TURMA B
5 de Novembro de 2013. Professor: Francisco Queiroz
1) Considere o seguinte silogismo:
«Algumas divindades não pertencem à metafísica.»
«Vénus é uma divindade.»
«Vénus pertence à metafísica».
Indique, concretamente, duas regras da construção formalmente válida do silogismo que foram infringidas no silogismo acima.
2) Construa o quadrado lógico das oposições à proposição: «Os povos, em Hegel, fazem parte do espírito do mundo».
3) Relacione, justificando:
A) Ser em si e ser fora de si, na doutrina de Hegel, e lei dialéctica do salto qualitativo.
B) Ethos, Logos e Pathos, na retórica, e lei dialéctica da tríade.
C) Realismo Crítico, Idealismo solipsista e Fenomenologia.
4) Construa um silogismo disjuntivo ponendo-tollens e um silogismo disjuntivo tollendo-ponens, a partir da seguinte premissa: «Ou vou ver o jogo de futebol ou vou a Serpa.»
5) Disserte livremente sobre o seguinte tema:
«As falácias e os argumentos não falaciosos: falácia depois de por causa de, argumento do apelo à ignorância, argumento/falácia ad populum, falácia da composição, falácia da divisão, argumento circular, argumento ad misericordiam.»
CORRECÇÃO DO TESTE, COTADO EM 20 VALORES
1) Duas regras infringidas na construção de um silogismo formalmente válido foram: o termo médio (neste caso: divindades) tem que ser tomado universalmente ao menos uma vez; a conclusão segue sempre a parte mais fraca e, uma vez que a premissa maior é negativa, a conclusão teria de ser negativa. .(VALE DOIS VALORES)
2) Quadrado Lógico
A contrárias E
I sub-contrárias O
Proposição de tipo A (universal afirmativa):Os povos, segundo Hegel, pertencem ao espírito do mundo.
Proposição de tipo E (universal negativa).Nenhuns povos, segundo Hegel, pertencem ao espírito do mundo.
Proposição de tipo I (particular afirmativa):Alguns povos, segundo Hegel, pertencem ao espírito do mundo.
Proposição de tipo O (particular negativa): Alguns povos, segundo Hegel, não pertencem ao espírito do mundo. (VALE DOIS VALORES)
3) A) A fase do ser em si da Ideia Absoluta ou Deus é aquela em que este, sozinho, medita na criação do espaço, do tempo e do universo. É possível que a Ideia acumule lentamente conceitos, um a um, até que se dá uma mudança brusca em qualidade e a Ideia se transforma em ser fora de si, isto é, em espaço, tempo e universo material, impensante, mas regido por leis. A lei do salto qualitativo diz que a mudança lenta em quantidade conduz a uma brusca mudança de qualidade. (VALE TRÊS VALORES)
3) B) O ethos é o carácter do orador, na retórica. O pathos é o sentimento colocado na oratória ou na escrita. O logos é o conceito, o raciocínio desenvolvido. Segundo a lei da tríade, que divide um processo dialético em três fases - tese ou afirmação, antítese ou negação, síntese ou negação da negação - é possível estabelecer como tese o logos, o racional, como antítese o pathos, o irracional, e como síntese o ethos, porque possui elementos racionais e irracionais. (VALE TRÊS VALORES)
3) C) O realismo crítico aceita a realidade em si do mundo físico exterior mas diz que não o percepcionamos como é. Exemplo: as cores só existem na nossa mente e não nos objectos físicos exteriores. O idealismo solipsista sustenta que o mundo de matéria é de natureza mental, flutua no interior da única mente real: a minha. A fenomenologia sustenta que não se sabe se é o realismo se é o idealismo a ter razão: mente humana e mundo exterior são correlatos e não pode saber-se o fundo da questão. Comum a todos é a dúvida sobre a realidade de certos aspectos do mundo exterior. (VALE TRÊS VALORES)
4) Silogismo disjuntivo ponendo-tollens :
Ou vou ver o jogo de futebol ou vou a Serpa.
Vou ver o jogo de futebol.
Logo, não vou a Serpa.
Silogismo disjuntivo tollendo-ponens :
Ou vou ver o jogo de futebol ou vou a Serpa.
Não vou ver o jogo de futebol.
Logo, vou a Serpa. (VALE DOIS VALORES)
5) As falácias são uma espécie dentro do género argumento: são raciocínios incorrectos, equívocos, deliberados (sofismas) ou não (paralogismos). A falácia depois de por causa de é a que atribui uma relação necessária de causa efeito a dois fenómenos vizinhos por acaso (exemplo: «Há 10 dias vi um gato preto e caí da bicicleta, há 5 dias vi outro gato preto e perdi a carteira, logo ver gatos pretos dá-me azar). A falácia do apelo à ignorância é a que raciocina sobre um fundo desconhecido e o usa de forma tendenciosa (exemplo: Nunca ninguém viu Deus, logo Deus não existe). A falácia da divisão é a que atribui propriedades do todo a cada uma das partes (exemplo: «O povo alemão é rico, logo o mendigo alemão Hans, que dorme na rua, é rico»). A falácia da composição é a que generaliza precipitadamente atribuindo ao todo as características de uma parte (exemplo: «entre os animais, há muitos cavalos, logo todos os animais são cavalos»). O argumento ad populum é o que invoca a voz do povo ou o sentir maioritário da população (exemplo: «votamos em eleições porque a maioria do povo assim o quer, vacinamo-nos porque a população em geral o faz»). O argumento circular é aquele em que as premissas se fundam na conclusão, é um raciocínio em circuito fechado (exemplo: «Ela é bela porque é fisicamente agradável e é fisicamente agradável porque é bela»). O argumento ad misericordam é aquele que invoca o sentimento de compaixão. (VALE CINCO VALORES).
© (Direitos de autor para Francisco Limpo de Faria Queiroz)
Eis um teste de filosofia sem perguntas de resposta múltipla que exigem responder com cruzes e não desenvolvem a capacidade discursiva escrita do aluno.
Agrupamento de Escolas nº 1 de Beja
Escola Secundária Diogo de Gouveia, Beja
TESTE DE FILOSOFIA, 11º ANO TURMA C
1 de Novembro de 2013. Professor: Francisco Queiroz
1) Considere o seguinte silogismo:
«Algumas coisas belas são azuis.
«Os olhos da Catarina são azuis».
«Os olhos da Catarina não são coisas belas».
Indique, concretamente, três regras da construção formalmente válida do silogismo que foram infringidas no silogismo acima.
2) Construa o quadrado lógico das oposições à proposição: «As mulheres de Castro Verde são independentes».
3) Relacione, justificando:
A) Astúcia da razão, na doutrina de Hegel, e lei dialética dos 2 aspectos da contradição.
B) Ethos, Logos e Pathos, na retórica, e lei dialética da contradição principal.
C) Percepção empírica, Conceito empírico e pragmatismo.
4) Construa um silogismo condicional modus ponens e um silogismo modus tollens a partir da seguinte premissa: «Se reflectir, ultrapassarei o senso comum.»
5) Disserte livremente sobre o seguinte tema:
«As falácias e os argumentos não falaciosos: falácia depois de por causa de, falácia do homem de palha, argumento do apelo à ignorância, argumento/falácia ad populum, falácia da composição, falácia da divisão, argumento circular.
CORRECÇÃO DO TESTE, COTADO PARA 20 VALORES
1) Eis três regras de validade infringidas no silogismo acima: o termo médio deve estar distribuído pelo menos uma vez (ora isso não sucede, sendo o termo médio «azuis»); nenhum termo pode ter na conclusão maior extensão do que nas premissas (ora o termo "coisas belas" é particular na premissa e universal na conclusão); duas premissas afirmativas não podem gerar uma conclusão negativa. (VALE DOIS VALORES).
2) A E
I O
A (proposição universal afirmativa),: As mulheres de Castro Verde são independentes.
E (proposição universal negativa): As mulheres de Castro Verde não são independentes.
I (proposição particular afirmativa): Algumas mulheres de Castro Verde são independentes.
O (proposição particular megativa): Algumas mulheres de Castro Verde não são independentes. ( VALE DOIS VALORES)
3) a) A astúcia da razão, na doutrina de Hegel, é a manipulação das paixões dos grandes homens de Estado no sentido de os levar a conduzir o povo nesta ou naquela direcção. Exemplo: em 1799, a razão universal (Deus) usou a ambição e o carisma do general Napoleão Bonaparte para reduzir a cinzas a revolução popular iniciada em 1789 e, ao mesmo tempo, para impedir a restauração monárquica e criar a França burguesa do século XIX. Aplicando a lei dos dois aspectos da contradição que diz que em uma contradição há dois aspectos, em regra desigualmente desenvolvidos, o principal e o secundário, à astúcia da razão, podemos dizer que Deus ou ideia absoluta é o aspecto dominante e os homens de Estado (Napoleão, Bismarck, Salazar, Álvaro Cunhal, etc) são o aspecto dominado, executam inconscientemente, através da sua paixão pela política, o que a ideia absoluta lhes pede. (VALE TRÊS VALORES).
3) b ) Ethos é o carácter do orador na retórica ou arte de persuadir um público. Pathos é o sentimento colocado no discurso.Logos é o conteúdo intelectual, as ideias e raciocínios estruturantes do discurso. Segundo a lei da contradição principal, que resume a dois blocos a multiplicidade das contradições de um sistema, o Logos opõe-se ao bloco emocional formado pelo Ehos e pelo Pathos. (VALE TRÊS VALORES).
3) c) A percepção empírica é um conjunto ordenado de sensações e o conceito empírico é a ideia que se forma, por abstração, a partir de percepções similares. O pragmatismo é a corrente filosófica de tonalidade empirista que preconiza ser prático e buscar a utilidade das coisas. Aparentemente o pragmatismo apoia-se nas percepções e conceitos empíricos. (VALE TRÊS VALORES)
4) Silogismo condicional tipo modus ponens:
Se reflectir, ultrapassarei o senso comum.
Reflecti.
Logo, ultrapassei o senso comum.
Silogismo tipo modus tollens.
Se reflectir, ultrapassarei o senso comum.
Não ultrapassei o senso comum.
Logo,não reflecti. (VALE DOIS VALORES).
5) As falácias são uma espécie dentro do género argumento: são raciocínios incorrectos, equívocos, deliberados (sofismas) ou não (paralogismos). A falácia depois de por causa de é a que atribui uma relação necessária de causa efeito a dois fenómenos vizinhos por acaso. A falácia do homem de palha é a que falsifica o pensamento do nosso opositor de modo a assustar, como um espantalho assusta os pardais na horta, os que ouvem (exemplo: um homem disse «concordar com as nacionalizações de grandes empresas» e o adversário dele diz que «ele quer tirar a propriedade privada a toda a gente, sejam grandes, médios ou pequenos empresários»). A falácia do apelo à ignorância é a que raciocina sobre um fundo desconhecido e o usa de forma tendenciosa (exemplo: Nunca ninguém viu Deus, logo Deus não existe). A falácia da divisão é a que atribui propriedades do todo a cada uma das partes (exemplo: «O povo alemão é rico, logo o mendigo alemão Hans, que dorme na rua, é rico»). A falácia da composição é a que generaliza precipitadamente atribuindo ao todo as características de uma parte (exemplo: «entre os animais, há muitos cavalos, logo todos os animais são cavalos»). O argumento ad populum é o que invoca a voz do povo ou o sentir maioritário da população (exemplo: «votamos em eleições porque a maioria do povo assim o quer, vacinamo-nos porque a população em geral o faz»). O argumento circular é aquele em que as premissas se fundam na conclusão, é um raciocínio em circuito fechado (exemplo: «Ela é bela porque é fisicamente agradável e é fisicamente agradável porque é bela») (VALE CINCO VALORES).
© (Direitos de autor para Francisco Limpo de Faria Queiroz)
Os erros de hiper-análise - fragmentar, dissociar em partes isoladas ou duplicar artificialmente uma ideia ou essência una - atravessam toda a história da filosofia ocidental.
Platão equivocou-se em certa medida ao distinguir entre crença verdadeira ou opinião verdadeira (alethès doxa), por um lado, e conhecimento ou ciência (epistéme) , por outro lado, dizendo que só o segundo possui Logos (Razão).
Atente-se nos argumentos desenvolvidos neste excerto do «Teeteto» (as palavras em itálico correspondem a outra tradução que não a da Inquérito):
«SÓCRATES- Então, quando há juízes que se acham justamente persuadidos de factos que só uma testemunha ocular, e mais ninguém, pode saber, não é verdade que, ao julgarem esses factos por ouvir dizer, depois de terem formado deles uma opinião (crença) verdadeira, pronunciam um juízo desprovido de ciência (conhecimento), embora tendo uma convicção justa, se deram uma sentença correcta? »
«TEETETO- Com certeza. »
« SÓCRATES- Mas, meu amigo, se a opinião (crença) verdadeira dos juízes e a ciência fossem a mesma coisa, nunca o melhor dos juízes teria uma opinião correcta sem ciência (conhecimento). A verdade, porém, é que se trata de duas coisas diferentes.»
«TEETETO- Eu mesmo já ouvi alguém fazer essa distinção, Sócrates; tinha-me esquecido dela, mas voltei a lembrar-me. Dizia essa pessoa que a opinião (crença)verdadeira acompanhada de razão (Logos) é ciência e que, desprovida de razão, a opinião (crença)está fora da ciência (conhecimento)e que as coisas que não é possível explicar são incognoscíveis ( é a expressão que empregava)e as que é possível explicar são cognoscíveis». (Platão, Teeteto, Editorial Inquérito, Lisboa, 1990, pags. 158-159).
O exemplo que constitui o argumento de Platão para distinguir entre crença/opinião verdadeira e conhecimento/ciência é falacioso: os juízes raciocinaram bem e sentenciaram bem, com base em um testemunho do crime, que ignoram ser falso, e isso seria a «opinião verdadeira» mas não o «conhecimento» porque lhes teria faltado.. o Logos(Razão).
De facto, se reflectirmos, o Logos não faltou aos juízes, ao contrário do que Platão, pela voz de Teeteto, sustenta: faltou-lhes sim, a Empeiria (a Experiência Sensorial Directa) do crime. Os juízes tiveram conhecimento da versão da testemunha; não tiveram conhecimento das circunstâncias reais em que se deu o crime. Contudo, pensaram bem, de um ponto de vista lógico ideal. Obtiveram o conhecimento de um cenário, teoricamente possivel, mas que não teve lugar, e da correspondente sentença.
Dizer que o conhecimento é a adição do Logos à crença verdadeira é, ao menos neste exemplo, um erro do pensamento mecanicista, hiper-analítico. O Logos está presente, com gradações diversas, em todas as formas de pensamento. Decerto a distinção «crença verdadeira» (alethès doxa) e «ciência» (epistéme) tem fundamento se consideramos a primeira como o realismo natural (exemplo: o tampo desta mesa é liso) e a segunda como o realismo crítico (exemplo: o tampo desta mesa parece liso mas não o é, está cheio de espaços vazios entre os átomos, imperceptíveis à vista e ao tacto).
Se Platão errou ao exemplificar acima a distinção entre conhecimento de opinião verdadeira, como não haveríamos de esperar estas enormes confusões dos Manuais de Filosofia em voga que dizem enormidades analíticas como os postulados «acreditar e saber são coisas distintas» e «saber e conhecer não é o mesmo»?
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