Quarta-feira, 4 de Setembro de 2019
Equívocos de «Lógica Elementar» de Desidério Murcho

 

O recente livro de Desidério Murcho (18 de Maio de 1965-) «Lógica Elementar», das Edições 70,  espelha os equívocos desta pseudo ciência que é a lógica proposicional tornada obrigatória para todos os alunos dos cursos científicos e humanísticos do  ensino secundário em Portugal. 

 

A SUPRESSÃO DA DISTINÇÃO ENTRE DISJUNÇÃO EXCLUSIVA E DISJUNÇÃO INCLUSIVA, UM PASSO EM FRENTE

 

Em todos os manuais de filosofia do ensino secundário em Portugal, inclusive no de Desidério Murcho e Aires Almeida, se postula que na lógica proposicional há disjunção inclusiva e disjunção exclusiva. Publiquei há um ano, a 5 de Setembro, neste blog o artigo «Equívocos da Lógica Proposicional: disjunção inclusiva e disjunção exclusiva» que desmistifica esta falácia, artigo que afirma o seguinte:

 

Um dos equívocos da lógica proposicional é a falaciosa distinção entre disjunção inclusiva e disjunção exclusiva. No Manual Essencial  Filosofia 11º em voga em muitas escolas do ensino secundário em Portugal lê-se: 

 

«A disjunção inclusiva é representada por V.

«A disjunção exclusiva é representada por W.

Por exemplo: 

«Os livros estão escritos em prosa ou em poesia».

 

                                      PVQ

«Os livros estão escritos ou em prosa ou em poesia».

 

                                      PWQ

 

Neste último sentido, é claro que uma alternativa exclui por si só a outra».

 

(Amândio Fontoura, Mafalda Afonso e Maria de Fátima Vasconcelos, Essencial Filosofia 11º, Santillana, pág 71).

 

Esta distinção é uma falácia. Dizer, por exemplo, «Vou ao Porto ou vou a Lisboa» (disjunção inclusiva segundo esta lógica) é o mesmo que dizer «Ou vou ao Porto ou vou a Lisboa» (disjunção exclusiva segundo esta lógica proposicional). A disjunção é exclusiva em ambos os casos: ir ao Porto exclui, no mesmo instante, ir a Lisboa. O «ou..ou» é apenas uma forma mais enfática de dizer «ou». Na substância, não há diferença alguma entre estas «duas» disjunções.» (Francisco Limpo Queiroz, 5 de Setembro de 2018, in Filosofia e Epistemologia)

 

Neste livro «Lógica Elementar» de Agosto de 2019 que estamos a analisar, Desidério Murcho adopta a nossa tese sem qualquer autocrítica, fala apenas em disjunção,  e, claro, sem referir o nome Francisco Limpo Queiroz, cujas publicações estão no Index de Desidério e da Lekton, site da web que recusou difundir a existência do nosso «Dicionário de Filosofia e Ontologia, dialética e equívocos dos filósofos» - uma atitude de fascismo epistémico praticada pelos senhores da universidade. Já Schopenhauer dizia que é incompatível ser filósofo e ser professor universitário de filosofia, visto que este último alinha com a maioria que lhe dá sustento e prestígio institucional e não admite estar errado para brilhar ante os alunos...

 

O SUJEITO DE UMA PROPOSIÇÃO SÓ PODE SER UM ENTE INDIVIDUAL? NÃO PODE SER UM ENTE COLECTIVO?

 

Em uma tentativa de derrubar a lógica aristotélica, Desidério escreve:

 

«Uma deficiência capital da lógica de Aristóteles é encarar a frase "Todo o grego é europeu» como se resultasse de se acrescentar um quantificador a uma frase que tem a mesma estrutura lógica de "Sócrates é europeu", o que é falso. Nesta última frase, atribui-se um predicado a "Sócrates" , que é um sujeito genuíno; mas na primeira "grego"  não é realmente o sujeito da frase.  (...) Dizer que todo o grego é europeu não é atribuir o predicado "europeu" ao sujeito "grego" mas antes atribuir os predicados "ser grego" e "ser europeu"a particulares: todo o predicado que tem o primeiro predicado tem também o segundo. Para desenvolver a lógica de Aristóteles diz-se então que "grego", naquela frase, é o termo sujeito; mas é da máxima importância não confundir termos sujeitos com sujeitos, pois os primeiros na verdade são predicados que estão num lugar sintático que noutras frases, ilusoriamente vistos como análogos é ocupado por sujeitos genuínos»

(Desidério Murcho, Lógica Elementar, Edições 70, pág. 297; o bold é colocado por nós).

 

Segundo Murcho, o sujeito de uma proposição não pode ser um ente colectivo, uma multidão: é obrigatório que seja um ente individual. Assim, por exemplo, na proposição «Os benfiquistas celebram o emblema da águia na camisa vermelha" o termo "os benfiquistas" não seria sujeito genuíno, mas sim predicado, Esquece que "os benfiquistas celebram.." é decomponível nas proposições «Rui Vitória celebra o emblema da águia na camisa vermelha»,  «Bruno Lage celebra o emblema da águia na camisa vermelha», «Luís Filipe Vieira celebra o emblema da águia na camisa vermelha», «Manuel Alegre celebra o emblema da águia na camisa vermelha», «Francisco Louçã celebra o emblema da águia na camisa vermelha», etc, etc. Como é possível que só o ente individual seja sujeito e que no colectivo desapareça o carácter de sujeito? E o termo Portugal? Não passaria a ser um predicado na proposição «Portugal é um país europeu» visto que se compõe de muitas cidades e concelhos como Lisboa, Porto, Beja, Braga, Coimbra, Évora, Faro, etc.?

 

Esta negação do sujeito universal trata-se de uma subversão falhada, nominalista, da lógica aristotélica. Desidério, como anti dialético pensador (de segunda classe) que é, elimina o termo intermédio. O termo "grego" funciona ora como sujeito ora como predicado consoante o contexto - isto é dialética - mas Murcho não o entende ou finge não entender, na ânsia de inovar no campo da lógica. 

 

MURCHO ACEITA AS ERRÓNEAS LEIS DE MORGAN

 

Este manual de D.Murcho aceita como válidas as leis de Morgan, um erro colossal que demonstra o carácter enganador desta lógica. A primeira lei de Morgan enuncia-se assim:

 

«1ª Negação de uma conjunção:

A negação de uma conjunção é equivalente à disjunção das negações das suas proposições ou argumentos.»

 

Formalizemos:

                                                                   ¬ (P∧ Q) ↔  (¬ P ∨ ¬ Q)
 
 
Basta considerar exemplos - o que Desidério Murcho, João Branquinho, João Sáagua, Ricardo Santos, Manuel Maria Carrilho e mais, Fregge, Bertrand Russel e Wittgenstein não foram ou não são capazes de fazer-  para pôr a nu a inconsistência desta lei.
 
 
Segundo a primeira lei de Morgan,  a frase «Não é primo o número dois e não é ímpar o número dois»  equivale à frase «Não é primo o número dois ou não é ímpar o número dois». Ora, a equivalência não existe, pois a disjunção destrói a indissociabilidade das duas propriedades referentes ao número dois que não se podem colocar em alternativa pois não são contrárias mas colaterais.
 
 
E somos obrigados nós, professores de filosofia do ensino secundário, a exigir que os nossos alunos decorem estas patranhas pseudo lógicas da "lógica proposicional"? A filosofia decaiu muito nas últimas décadas ao subordinar-se a esta disciplina anti científica dita "lógica contemporânea", esta gramática do "pensar". Degradou-se com a universidade progressivamente ocupada por anti filósofos, mestres ou doutorados.
 

 

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        www.filosofar.blogs.sapo.pt

          f.limpo.queiroz@sapo.pt

 

© (Direitos de autor para Francisco Limpo de Faria Queiroz)

 

 



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Quarta-feira, 26 de Setembro de 2018
As Leis de Morgan, da lógica proposicional, estão erradas

 

As leis do matemático  Morgan (1806-1871), uma das bases da lógica proposicional, estarão certas? Não.

 

Atentemos no manual de filosofia do 11º ano do ensino secundário da Santilhana Editora que as expõe:

 

«Quais são as principais leis de Morgan?

 

1ª Negação de uma conjunção:

A negação de uma conjunção é equivalente à disjunção das negações das suas proposições ou argumentos.

 

Formalizemos:

                                                                   ¬ (P∧ Q) ↔  (¬ P ∨ ¬ Q)
 
 (Amândio Fontoura, Mafalda Afonso e Maria de Fátima Vasconcelos, Essencial Filosofia 11º, Santillana, pág 99).
 
 
Vejamos um exemplo que prova o erro desta fórmula:
 
P= Vou a Paris
 
Q= Vou a Londres
 
 
Não vou a Paris e não vou a Londres é equivalente a Não vou a Paris ou Não vou a Londres - diz a primeira lei de Morgan exemplificada. 
 
As duas construções - negação da conjunção e disjunção das negações - não se equivalem porque no segundo caso, da disjunção, posso completá-la assim: Não vou a Paris mas vou a Londres ou Não vou a Londres mas vou a Paris.
 
A disjunção quebra o bloco unitário Não vou a Paris e não vou a Londres e abre a possibilidade de não ir a Paris mas ir a Londres.
 
Voltemos ao manual citado que expõe a segunda lei de Morgan:
 
«2º -Negação de uma disjunção:
 
A negação de uma disjunção é equivalente à conjunção das negações das suas proposições ou argumentos.
 
Formalizemos:
 
¬ (P∨ Q) ↔  (¬ P  ¬ Q)
 

  (Amândio Fontoura, Mafalda Afonso e Maria de Fátima Vasconcelos, Essencial Filosofia 11º, Santillana, pág 99).

 

Um exemplo prova a equivalência falsa estabelecida nesta lei:

 

Não vou a Paris ou não vou a Londres é equivalente a Não vou a Paris e Não Vou a Londres. - de acordo com  a segunda lei de Morgan.

 

O facto de não ir a Paris não o impede de ir a Londres, na primeira frase, porque aí figura o ou, e o facto de ir a Londres não o impede de nessa circunstância ir a Paris. Portanto, não há equivalência entre a negação da disjunção e a conjunção das negações.

 

Tantos milhares de professores catedráticos universitários, tantas centenas de milhar de professores do ensino secundário estudaram/ decoraram e aceitaram acriticamente estas falaciosas «leis de Morgan» que o Ministério da Educação impõe como obrigatórias no ensino secundário em Portugal.

 

As cátedras universitárias nada valem, porque produzem e alimentam o erro. São títulos honoríficos - o catedrático é como o papa que «representa» Deus na terra e goza de infalibilidade - que embaraçam o livre filosofar profundo. Onde estão os filósofos nas cátedras universitárias? Não estão, salvo raríssimas excepções. Extingam-se estas e regresse-se à democracia filosófica de base. Acabe-se com os privilégios dos autores de manuais associados aos gabinetes que gizam os exames e programas nacionais. Eles não pensam, facturam. Corrompem a filosofia.

 

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