Sábado, 9 de Maio de 2020
Dialética, transumanismo e singularidade, essencialismo, existencialismo

 

Eis algumas questões a que os alunos de filosofia podem responder se os professores forem suficientemente autónomos e inteligentes para rejeitar a filosofia analítica e a sua ridícula lógica proposicional e souberem explicar a dialética nas suas leis objectivas.

 

1) Enuncie e aplique a lei da contradição principal à segunda guerra mundial 1939-1945. 

 

Resposta: A  Lei da Contradição Principal da dialética diz que « Um sistema de múltiplas contrariedades é susceptível de ser reduzido a uma só contradição, designada por principal, colocando num polo um certo número de contrariedades, reduzidas à condição de secundárias entre si, e no outro as restantes, também secundárias entre si. Uma nova contradição principal surge depois em outra fase.»

 

Exemplo: na Segunda Guerra Mundial, de 1939 a 1945, a  contradição principal é haver dois blocos ou polos, por exemplo, a Inglaterra liberal não gostava da Rússia comunista mas aliou-se a esta para combater a Alemanha de Hitler:  num dos polos os Aliados ( França livre, Inglaterra, EUA, URSS, Brasil, etc) e no outro polo as potências do Eixo nazi-fascista-imperial ( Alemanha, Itália, Japão).

 

Terminada a guerra com a derrota deste Eixo, surgiu, em 1946-1950, uma nova contradição principal na política internacional, entre o bloco dos países ditos socialistas e aliados (a URSS, Roménia, Checoslováquia, Bulgária, Polónia, China, etc) e o bloco ocidental capitalista e países dependentes (EUA, Grã Bretanha, França, Itália, Alemanha Ocidental, etc). 

 

2) Aplique a lei da contradição principal à pandemia da Covid actual.

 

Resposta: os países do mundo (EUA, Itália, Portugal, etc) têm contradições entre si mas unem-se todos no mesmo polo ou bloco e no outro pólo está o Covid 19 invisível.

 

3) Aplique a lei da contradição principal à mutualização das dívidas públicas (todos a pagar as dividas dos mais pobres)  na UE em 2020.

 

Resposta: Há estados europeus (Portugal, Espanha, Grécia) com muito mais dinheiro a pagar ao Banco Central Europeu do que outros como a Holanda e a Austria. Assim os países mais pobres (Portugal, Grecia, Itália) unem-se num polo da contradição principal para pedir a criação de eurobonds (empréstimos a juros muito baixos fáceis de pagar) mas no outro polo da contradição principal estão os países ricos como Alemanha, Holanda, Austria. que não querem criar esses eurobonds.

 

4)  Exponha a lei da luta de contrários e aplique-a à estrutura do ser humano segundo a psicanálise de Freud.

 

Resposta: A  Lei da Luta de Contrários)  diz o seguinte: «Cada fenómeno ou ser tem, por essência, uma luta de contrários que constitui o motor de desenvolvimento desse fenómeno ou ser. Os contrários formam, entre si, na sua luta recíproca, uma unidade, mais ou menos instável, que constitui a totalidade desse fenómeno ou ser.» Freud dizia que no ser humano há uma luta entre o infra-ego (as paixões ou instintos do corpo: comer, beber, energia sexual, desejo de riquezas, violência sobre outros, etc.) e o super-ego (a consciência moral vinda da sociedade: não matar, não roubar, não violar, não ofender por palavras, etc.). Estes contrários lutam a cada dia dentro de nós e formam a nossa essência ou maneira de ser permanente.

 

5) Aplique a lei da luta de contrários às atitudes metafísica e pragmática. 

 

Resposta: A metafísica é, na acepção comum,  o mundo invisível do Além com os seus deuses, espíritos malignos, milagres, mitos da cosmogénese, se porventura esse mundo existe, e leva as pessoas a rezar a Deus, a acreditar no Paraíso ou na reencarnação e por vezes a perderem bons negócios. O pragmatismo é o uso prático e vantajoso do mundo empírico (das sensações: ver, saborear, tocar, etc.) o mundo das coisas práticas, do dinheiro, da realidade possível. Lutam entre si embora sejam conciliáveis na mesma pessoa. Por exemplo: uma igreja é metafisica se não pede esmolas aos fregueses mas só pede orações e opõe-se a uma igreja pragmática que pede 10 por cento do salário a cada freguês (se ganhas 900 euros ao mês tens de dar 90 euros à igreja).

 

6) Enuncie a lei do devir e aplique-a à lei da oferta e da procura vigente na UE

 

Resposta: A Lei do Devir diz : «Nada está estático e inalterável, tudo está em constante Devir, transformação». A lei da oferta e da procura da economia de mercado diz que quando há muita oferta de produtos e pouca demanda/procura, os preços descem (é o caso da gasolina neste mês) e quando há muita procura e pouca oferta os preços sobem. Assim a oferta e a procura estão sempre a mudar, isto é, em devir, em transformação.

 

7) Enuncie a lei do salto de qualidade e aplique-a à passagem da água do estado líquido ao estado gasoso e à passagem de situações pacíficas a revoluções.

 

Resposta: 4ª (Lei do Salto Qualitativo diz que : «A acumulação lenta e gradual, em quantidade, de um aspecto num fenómeno ou ser conduz, num dado momento, a um brusco salto de qualidade nesse fenómeno ou ser.»

Exemplos: a água vai aumentando de forma gradual, quantitativa, a temperatura (90º, 91º, 92º.93º,94º)  até que ao passar de 99º para 100º entra bruscamente em ebulição (salto qualitativo) passando ao estado de vapor; a acumulação gradual e lenta num país de greves económicas massivas, manifestações de rua, greve política e confrontos violentos com forças da ordem determina que, num dado instante, um governo, democrático ou ditatorial, se demita ou seja destituído (salto qualitativo), abrindo um novo ciclo político na sociedade.

 

8) Aplique a lei do salto de qualidade à formação dos conceitos de «sobreiro» e de «cavalo».

 

Resposta: a criança vê um sobreiro (percepção empírica: ver e tocar), vê outro e mais outro sobreiro, acumulação em quantidade de imagens do mesmo tipo, fecha os olhos e abstrai de pormenores deste e daquele sobreiro, dá o salto de qualidade ao formar a ideia ou conceito de sobreiro, ideia abstracta. Com o cavalo é o mesmo: acumula visões ou percepções empíricas de cavalo, etc.

 

9) Aplique a lei da tríade aos regimes políticos desde o fascismo de Salazar (1932-1974) até hoje e às estações do ano.

 

Resposta: A lei da tríade diz que «Num processo dialéctico há três fases: a tese ou afirmação , a antítese ou negação e a síntese ou negação da negação. A síntese não é a soma das duas anteriores, mas a sua superação e conservação fragmentária e o início de um novo processo triádico. A síntese é um volver no sentido da tese e transforma-se em tese de um novo processo dialético.»  Aplicada à política em Portugal: o fascismo de extrema direita é a tese (povo sem poder nenhum, só o partido dos ricos a mandar), a revolução anarquista e comunista de extrema esquerda em 1974-1975 é a antitese (o povo com o poder todo nas ruas, ocupando herdades, os patrões a fugir) e a democracia parlamentar, regime de centro (liberdade de partidos, o poder na mão dos ricos mas o povo pode fazer greve, manifestação de rua) é a síntese. Nas estações do ano é assim: o verão é a tese, o inverno e antítese, a primavera e o outono são síntese porque são meio termo misturam calor e frio.

 

10) Aplique a lei dos dois aspectos da contradição à situação dentro de uma fábrica e à política portuguesa dos últimos anos. 

 

Resposta: a Lei dos Dois aspectos da Contradição) diz: «Numa contrariedade há dois aspectos ou polos, em regra desigualmente desenvolvidos: o aspecto principal ou dominante e o aspecto secundário ou dominado. Em certas circunstâncias, há uma inversão de posições (salto qualitativo): o dominante passa a dominado e vice-versa.».

 

Exemplo: numa fábrica, durante o dia de trabalho normal, o aspecto principal da contrariedade é a administração e o aspecto secundário os trabalhadores das oficinas, que se subordinam ao ritmo de tarefas imposto; contudo, os dois pólos invertem-se, ao irromper uma greve com ocupação de fábrica e sequestro da administração, passando esta a ser, por algum tempo, o aspecto secundário e os operários revoltosos passam a ser o aspecto principal.  Na política portuguesa de 2005 a 2011, o PS governou sozinho e por isso foi o aspecto dominante e os outros partidos o aspecto dominado mas isto inverteu-se de 2011 a 2015 porque o PSD e CDS governaram coligados e passaram a ser o aspecto dominante e o PS o dominado e de 2015 até hoje o PS governa sendo por isso o aspecto dominante da contradição.

 

11) A astrologia, acredite-se nela ou não, aplica a lei do uno. Explique.

 

Resposta: A lei do uno diz «No universo nada está isolado, tudo se relaciona». A astrologia determinista (com leis exactas) diz que as posições dos planetas muito distantes criam os acontecimentos na Terra. Exemplo: Júpiter no signo da Virgem (150º a 180º de arco) dá a vitória ao PSD (caso das eleições legislativas de 1979, 1980, 1991, 2015). O planeta está unido através da sua radiação com a Terra.

 
Pergunta 12-Qual a diferença entre a singularidade tecnológica do transumanismo e a singularidade gravitacional da teoria de Einstein?
 
 
Resposta: A singularidade tecnológica prevista no transumanismo iluminista de Silicon Valey (EUA) é a época ou o ano em que os ciborgues e a inteligência dos supercomputadores ultrapassam a humanidade e dirigem o futuro desta, imprevisível. Alguns dizem que será em 2045. A singularidade gravitacional em Einstein é um ponto do espaço-tempo com densidade e massa infinitas como o Big Bang ou os Buracos Negros que atraem toda a matéria em seu redor e são imensamente densos (supõe-se; os físicos marxistas discordam, dizem que são apenas restos de estrelas ardidas). A singularidade tecnológica não é natural, resulta do avanço da ciência (supostamente) mas a singularidade gravitacional é natural.
 
 
Pergunta - Como actua a lei da acumulação em quantidade /salto qualitativo em ambas as singularidades?
 
 
Resposta - Os avanços da pesquisa científica na inteligência artificial, cibernética vão-se acumulando grau a grau, ano a ano, até que se dá o salto de qualidade: a máquina supera o homem e comanda-o (singularidade tecnológica). O ponto do espaço-tempo que segundo a teoria do Big Bang concentra a massa inteira do universo vai ficando cada vez mais denso até que explode e é o Big Bang.
 
 
Pergunta - Que analogia há entre a astúcia da razão em Hegel e a tese de que o Estado é tudo, o indivíduo é nada? 
 
 
Resposta: Em ambas as teses há uma razão universal (Deus)que manipula os homens. Na astúcia da razão Deus usa as paixões dos homens (exemplo: escolheu Napoleão em 1799, amante da ditadura não monárquica para meter ordem na revolução francesa que mergulhara no caos) . No caso do Estado, que é Deus incarnado em forma de Estado de um dado povo, os indivíduos dvem obedecer às leis do Estado. 
 
 
Pergunta - Por que razão a teoria de Hegel não pode ser considerada um existencialismo e a teoria de Kierkegaard pode?
 
 
Resposta: Porque a definição de existencialismo é: doutrina que supõe que a existência de cada indivíduo ou do colectivo vem antes da essência, isto é, não existe à partida um modelo, um arquétipo fixo que preside a todo o desenvolvimento ulterior e a. vida é imprevisível, feita de escolhas livres.
 
Ora em Hegel a mente de Deus sozinho, na primeira fase, delineia as essências (formas estruturais)  e isto é essencialismo (a essência vem antes da existência- Deus pensa o espaço, o tempo, os planetas e animais que virá a criar na fase seguinte a fase da natureza. E na terceira fase, a de Deus incarnado em humanidade, esta não é livre mas obedece ao plano divino, essencialista, que estabelece a sucessão de Estados (mundo oriental despótico, mundo greco-romano de só alguns homens livres, mundo cristão reformado por Lutero em que todos os homens são livres de interpretar a Bíblia traduzida para alemão). Apesar de teorizar que a liberdade de espírito é o fim da história, a  ideia de liberdade em Hegel é mais a de liberdade de um povo do que liberdade do indivíduo. Hegel vive na altura das revoluções nacionais libertadoras do colonialismo no primeiro terço do século XIX.
 
 
A teoria de Kierkegaard é um existencialismo porque enfatiza a liberdade individual, a escolha livre que o homem pode fazer em cada momento de um destes três estados: o estético (o Don Juan a saltitar de mulher em mulher, preso ao prazer momentâneo) o ético (o homem casado fiel à mulher que educa bem os filhos e cumpre as obrigações sociais, é um funcionário honesto, vai à missa, etc.) e o religioso (o asceta ou o místico a meditar isolado ouvindo a voz de Deus agindo contra a «boa moral» da maioria dos crentes em Deus como o padre Abel Varzim que, nos anos 40-50, visitava as prostitutas do Bairro Alto para as confessar e fazer rezar e comungar a hóstia e era incomodado pela PIDE de Salazar).
 
 
Pergunta- Esclareça os conceitos de angústia, desespero, paradoxo e alternativa (ou...ou) em Kierkegaard.
 
No existencialismo de Kierkegaard, doutrina da liberdade individual alcançável plenamente na união com Deus, o conceito de angústia é central: o homem vive ansioso por conhecer o futuro, por sentir ou temer a dor, a morte, a má sorte. O desespero é a frustração quando já não há nada a fazer. Exemplo: a angústia da neta antes da avó ser operada, o desespero da neta ao saber que a avó faleceu da cirurgia. O paradoxo é a contradição do pensamento. Exemplo: «Deus é infinitamente bom mas envia ao inferno as almas dos maus», «Quanto mais jejuns e sacrifícios fizeres neste mundo terreno mais alto e feliz serás no Paraíso». Kierkegaard diz que o cristão tem de aceitar o paradoxo: «É vontade de Deus que sofras, não te perguntes porquê». Kierkegaard é fideísta: Deus não se demonstra com o raciocínio como São Tomás de Aquino o fez mas Deus sente-se, prova-se através da fé (fides). A alternativa é a possibilidade de livre-arbítrio, de livre escolha a cada momento. Exemplo: «Ou continuo a ser um Don Juan, namoradeiro, ou me caso e sou fiel à esposa». 
 
 
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Sábado, 29 de Novembro de 2014
Teste de Filosofia do 10º C (Novembro de 2014)

 

 Eis um teste de Filosofia do 10º ano da escolaridade, em final do primeiro período lectivo do ensino secundário em Portugal. As leis da lógica dialética, que figuram neste teste,  são ignoradas pela generalidade dos autores de manuais escolares e, no entanto, estão contidas virtualmente no ponto 1.2 do programa de filosofia do 10º ano «Quais são as questões da filosofia?» e no ponto 1.3 «A dimensão discursiva do trabalho filosófico».  Por que razão a grande maioria dos docentes lecionam aos alunos os princípios da lógica formal (identidade, não contradição e terceiro excluído)  e não leccionam as leis da lógica dialética (uno, devir, contradição principal, etc) geradas no taoísmo, em Heráclito, Hegel, Marx, Althusser?  Porque não sabem lógica dialéctica, deixando-se submergir, no seu limitadíssimo saber, pela maré sectária da chamada filosofia analítica com a sua lógica proposicional .

 

:Agrupamento de Escolas nº 1 de Beja
Escola Secundária Diogo de Gouveia , Beja
TESTE DE FILOSOFIA, 10º ANO TURMA C
26 de Novembro de 2014.            Professor: Francisco Queiroz

 I

 

“Nalguns casos, a filosofia em acto é ciência em potência e vice-versa. As percepções empíricas originam os conceitos mediante a lei do salto qualitativo. É costume dizer que a metafísica se situa na transcendência mas as essências, na visão de Aristóteles, são metafísica na imanência. »

 

1) Explique concretamente este texto.

 

2) Defina determinismo com livre-arbítrio («moderado»), determinismo sem livre-arbítrio («radical»), indeterminismo (biofísico) sem livre-arbítrio e fatalismo indeterminista e aplique a estas quatro correntes a lei da contradição principal, lei que deve também definir.

 

3) Defina e aplique a lei dialéctica da luta de contrários à sua vida pessoal. como estudante adolescente em Beja, e às matérias da Biologia, da Química, da Matemática, do Português.
 

4)   Relacione, justificando:

 

A) Proté Ousía, Forma Eterna (Eidos) e Hylé, em Aristóteles, e lei da tríade.
     

B)  Esfera dos valores espirituais na teoria de Max Scheler, e Mundo do Mesmo em Platão.

 

CORRECÇÃO DO TESTE DE AVALIAÇÃO (COTADO MAXIMAMENTE PARA 20 VALORES)

 

1) Aquilo que hoje é  filosofia, isto é, interpretação especulativa do mundo, em acto, ou seja, na realidade presente, é ciência em potência, isto é, no futuro previsível. Assim aconteceu com a filosofia atomista de Demócrito e Leucipo na antiguidade grega: converteu-se em ciência detalhada nos séculos XIX e XX, desenvolvendo as noções de protão, electrão, neutrão, núcleo, órbitas e outras. Inversamente, uma ciência em acto, como por exemplo, a vacinação pode vir a reduzir-se a uma mera filosofia no futuro - em potência - quando se descobrir que a «imunização não existe, é uma tentativa de falsear a lei biológica de causa-efeito, lei que inclui o facto de que vírus ou toxinas inoculados no organismo humano prejudicam sempre este criando anticorpos» (VALE DOIS VALORES). A percepção empírica, isto é, um conjunto de sensações visuais, auditivas, tácteis, etc - exemplo: ver uma árvore - origina o conceito, isto é, a ideia de uma classe de coisas - exemplo: a ideia de árvore, que se tem de olhos fechados - através da lei do salto de qualidade que teoriza que a acumulação gradual e lenta, em quantidade, de um certo factor num fenómeno gera, em dado instante, um salto nítido de qualidade nesse fenómeno: vejo um pinheiro, depois um sobreiro, depois uma macieira e abstraindo (salto qualitativo) nasce em mim o conceito ou ideia de árvore (VALE DOIS VALORES). Diz-se que a metafísica, isto é, o reino das essências (formas) ou entes invisíveis, impalpáveis, que está além do mundo físico visível e palpável se situa na transcendência, isto é no Além - no Mundo Inteligível, acima do céu visível, em Platão - mas Aristóteles sustentou que as essências ou formas eternas estão inerentes aos objectos físicos (exemplo: a essência cavalo existe apenas em todos os cavalos físicos, reais) por isso são metafísica (formas imóveis, além da phisis ou região do movimento) na imanência, isto é, dentro das coisas físicas (VALE DOIS VALORES).

 

2) Determinismo com livre-arbítrio (vulgo: determinismo moderado) é a teoria segundo a qual, na natureza, as mesmas causas produzem sempre os mesmos efeitos e o homem dispõe de liberdade racional de escolha (livre-arbítrio). Exemplo: um homem decide, racionalmente, atirar-se do alto de um avião em páraquedas, sabendo que se sujeita ao determinismo na lei da gravidade, que o faz cair para a Terra. Determinismo sem livre-arbítrio (vulgo: determinismo radical) é a teoria segundo a qual, na natureza, as mesmas causas produzem sempre os mesmos efeitos e o homem não dispõe de liberdade racional de escolha (livre-arbítrio). Exemplo: movido por uma força irracional, sem liberdade de escolha,  um homem atira-se do alto de um arranha-céus, sujeitando-se determinismo na lei da gravidade, que o faz cair para a Terra e morrer esmagado. Indeterminismo sem livre-arbítrio  é a teoria segundo a qual, na natureza, as mesmas causas não produzem sempre os mesmos efeitos e o homem não dispõe de liberdade racional de escolha (livre-arbítrio). Exemplo: beber água nem sempre faz funcionar os rins, às vezes paralisa-os (indeterminismo) e um grupo de pessoas ingere água por motivo de uma sede abrasadora, sem decisão livre e meditada. Fatalismo indeterminista é a teoria segundo a qual tudo na vida está predestinado segundo forças do capricho, incompreensíveis, e os homens não dispõem de livre-arbítrio. Exemplo: tudo estava e está predestinado, incluindo que Hitler escapasse com vida no atentado à bomba de 20 de Julho de 1944 e em outros e não há explicação racional, determinista, para esses «acasos» predestinados. A lei da contradição principal estabelece que um sistema de múltiplas contradições (em rigor deveria dizer-se: contrariedades; exemplo: a contrariedade entre a URSS e os EUA, a contrariedade entre a França e a Espanha, etc.) pode ser reduzido a uma só grande contradição, formada por dois grandes blocos ou pólos, denominada contradição principal. Assim, no caso das quatro correntes acima definidas a contradição principal pode ser a que opõe as correntes deterministas (determinismos com e sem livre-arbítrio) às correntes indeterministas (indeterminismo sem livre-arbítrio, fatalismo indeterminista) (VALE CINCO VALORES).

 

3) A lei dialéctica da luta de contrários diz que cada ente ou fenómeno se compõe de um par de contrários que lutam entre si e constituem uma unidade instável que é a essência e o motor de desenvolvimento desse ente ou fenómeno. Na vida de estudante, a luta entre a consagração ao estudo das disciplinas escolares e comparência nas aulas, por um lado, e a diversão extraescolar e faltas às aulas, por outro lado. Na Biologia, a luta entre as células procariontes, que carecem de membrana nuclear e as células eucarióticas, que possuem essa membrana, a luta entre assimilação e a desassimilação nos organismos, a luta entre genótipo e fenótipo. Na Química, a luta entre ácidos e bases, electrões e protões, metais e não metais. Na Matemática, a luta entre números negativos e números positivos, entre multiplicação e divisão, etc. No Português, a oposição entre prosa e poesia, substantivo e adjectivo, voz activa e voz passiva. (VALE TRÊS VALORES).

 

4) A) A lei da tríade diz que um processo dialéctico se divide em três momentos: a tese ou afirmação, a antítese ou negação e a síntese ou negação da negação, sendo a síntese não a soma das duas anteriores mas um resumo, um termo intermédio e convertendo-se em tese de um novo processo. Aplicando à teoria de Aristóteles temos o seguinte: as formas eternas ou eidos são a tese, a hylé ou matéria-prima universal ( eis uma imagem imperfeita da hylé: uma espécie de nevoeiro que não existe e espera condensar-se nas formas eternas) é a antítese e a proté ousía ou substância primeira, coisa individualizada, é a síntese já que nasce da união do eidos e da hylé (VALE TRÊS VALORES).

 

4) B) A esfera dos valores espirituais em Max Scheler engloba os valores éticos (bem, mal, justo, injusto), estéticos (belo, feio), filosóficos (verdade, falsidade) e os valores de referência das ciências empíricas (verdade e falsidade utilitárias) e do direito (legal, ilegal, etc.). Parte destes valores figuram no Mundo do Mesmo ou Mundo Inteligível de Platão como arquétipos ou essências perfeitas e imóveis: o Bem, o Belo, o Justo, o Triângulo, o Círculo, o Número (VALE TRÊS VALORES).

 

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Quinta-feira, 28 de Novembro de 2013
Teste de Filosofia do 10º Ano B, final de Novembro de 2013

 

O presente teste de filosofia centra-se nas rubricas do programa de Filosofia do 10º ano de escolaridade «1.1 O que é a filosofia», «1.2. Quais são as questões da filosofia», do módulo I «Iniciação à Actividade Filosófica»- nas quais se incluem as leis da dialética (tríade, contradição principal, dois aspectos da contradição) as noções aristotélicas de hylé, eidos e proté ousía - e na rubrica 1.2 «Determinismo e liberdade na acção humana» do módulo II do programa «A acção humana e os valores - na qual se incluem os conceitos de indeterminismo biofísico com livre-arbítrio (designado "libertismo" por alguns) e e determinismo biofísico sem livre-arbítrio (determinismo "radical"), as noções de hierarquia e polaridade de valores, e a teoria das quatro modalidades ou esferas de valor de Max Scheler.

 

.Agrupamento de Escolas nº 1 de Beja
Escola Secundária Diogo de Gouveia , Beja
TESTE DE FILOSOFIA, 10º ANO TURMA B
28 de Novembro de 2013. Professor: Francisco Queiroz

 

I

 

«.Deu-me prazer beber o batido de morango, e senti-me mais vigoroso, enquanto contemplava a beleza daquela rapariga. Senti ciúmes quando um rapaz se aproximou dela e pensei que a essência mulher está presente num número quase infinito de entes e que o amor de Cristo me pode salvar de qualquer desilusão e quebra no percurso da vida.»

 

1-A) Identifique a que esfera de valor, em Max Scheler, pertence cada um dos valores inerentes às expressões a negrito.

 

1-B)  Aplique a lei da contradição principal da dialéctica ao conjunto das quatro esferas de valores teorizadas por Max Scheler .

 

 

2) Relacione, justificando:

 

A) Acto e potência, em Aristóteles, e lei do salto qualitativo..
B) Hierarquia de valores e lei dos dois aspectos da contradição.

C) Indeterminismo biofísico com livre-arbítrio e determinismo biofísico sem livre-arbítrio ("determinismo duro").
D)  Mundo do Mesmo, Mundo do Semelhante, Noésis e Dianóia, em Platão. .
E) Hylé, Eidos e Proté Ousía, em Aristóteles, e lei da tríade..

 

 

CORREÇÃO DO TESTE COTADO PARA 20 VALORES

 

 

1) a) Deu-me prazer beber é um valor da esfera sensível, do prazer e da dor instintivos; senti-me mais vigoroso, é um valor da esfera dos valores vitais; enquanto contemplava a beleza é um valor estético da esfera dos valores espirituais; senti ciúmes é um valor da esfera dos valores vitais; pensei que a essência mulher está presente é um valor do conhecimento da verdade (filosofia) da esfera dos valores espirituais; o amor de Cristo, é um valor da esfera do santo e do profano (VALE DOIS VALORES).

 

1) b) A lei da contradição principal, que estabelece que um sistema de muitas contradições se pode reduzir a uma só, composta por dois grandes blocos, deixando eventualmente de fora algumas na zona neutra, pode aplicar-se assim às quatro esferas de valor de Max Scheler:  de um lado, no mesmo polo, a esfera dos valores sensíveis (o prazer e a dor físicos; o útil e o inútil) e a esfera dos valores vitais e sentimentais (sentimento de juventude ou de velhice, de vitória ou de derrota, paixão amorosa, ciúme, vingança, sentimento do nobre, do vulgar, etc., ), porque derivam das emoções e sensações; do outro lado, no outro polo, a esfera dos valores espirituais (belo e feio; bom e mau, justo e injusto; verdadeiro e falso descoberto pela filosofia e ciências) e a esfera do santo e do profano (Deus, espaço e tempo sagrados; matéria eterna, inexistência de Deus) porque ambas se centram no intelecto dirigido ora para o campo físico-social ora para o metafísico. (VALE TRÊS VALORES).

 

2) A) Acto, é segundo Aristóteles, a realidade presente de algo. Potência é a possibilidade de vir a ser tal coisa em acto. A acumulação lenta e gradual, em quantidade, de sucessivos actos - exemplo: exercícios físicos em ginásio - faz com que um dia o corpo musculoso que cada um gostaria de ter e que só existe em potência, em perspectiva, se torne real, em acto, momento que constituirá um salto qualitativo (VALE TRÊS VALORES).

 

2) B)  Hierarquia de valores é uma escala de valores desde os superiores aos inferiores, passando pelos intermédios. A lei dos dois aspectos da contradição diz que nesta existem dois aspectos, em regra desigualmente desenvolvidos, o dominante e o dominado, que às vezes invertem as posições. Ora a hierarquia de valores implica contradição em que, por exemplo, o bem é aspecto dominante e o mal é aspecto dominado, a paz é valor dominante e a guerra valor dominado, o belo é valor dominante e o feio valor dominado (VALE DOIS VALORES).

 

2) C) Indeterminismo biofísico com livre-arbítrio é a teoria segundo a qual a natureza não tem leis constantes de causa-efeito (exemplo: a água dos rios congela no verão, a gravidade deixa de funcionar as vezes e os objectos flutuam no ar) e o homem dispõe de liberdade de escolha racional dos seus actos e valores. Determinismo biofísico sem livre-arbítrio é o oposto: a natureza fisica  tem leis fixas,  não é livre, e o homem também não, age por instinto, sem reflexão profunda. (VALE TRÊS VALORES).

 

 

2) D) O mundo do Mesmo é o mundo Inteligível dos arquétipos de Bem, Belo, Número, Triângulo, etc., essências imateriais que são sempre as mesmas, nunca mudam. É o Nous ou razão intuitiva  que através da Noese (intuição inteligível) apreende os arquétipos. O Mundo do Semelhante é o do céu visível, dos astros em movimento, dos números móveis, do tempo. É apreendido na sua totalidade pela Dianóia ou inteligência matemática e analítica que raciocina e realiza operações matemáticas. A Aisthesis ou Sensação só apreende, em parte, este mundo intermédio. (VALE TRÊS VALORES)

 

2) E) A lei da tríade estabelece que um processo dialéctico se divide em três fases: A hylé é a matéria-prima universal indeterminada - não é água, nem ar, nem fogo, nem terra, nem éter, etc., - que só existe em potência, pode ser classificada como tese; as formas eternas de cavalo, árvore, homem, montanha, isto é, aos diferentes eidos ou essências que existem algures na imanência podem ser consideradas a antítese, porque são a negação da hylé. A síntese é o composto (synolón) , nascido da união entre a hylé e o eidos (forma comum ou essência) e que é, em muitos casos, a proté ousía ou substância primeira, indivíduo concreto. Assim, cada um de nós é uma proté ousía, resultante da fusão da hylé com o eidos Homem. (VALE TRÊS VALORES)

 

 

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Sábado, 21 de Setembro de 2013
A capitulação de Wittgenstein ante as ciências positivas

 

A última fase de Ludwig Wittgenstein (26 de Abril de 1889, Viena de Austria - 29 de Abril de 1951, Cambridge) caracterizada como quietismo filosófico, é a capitulação completa da filosofia antes as ciências empíricas e a matemática. Wittgenstein anula o poder especulativo da filosofia, a capacidade desta derrubar tal e tal ciência, tal ou tal ideologia, tal ou tal tese:

 

«126. A Filosofia, de facto, apenas apresenta as coisas e nada esclarece nem nada deduz. - E uma vez que tudo está à vista, também nada há a esclarecer. Porque aquilo que está talvez oculto, não nos interessa

«Poder-se-ia também chamar Filosofia a tudo o que é possível antes de todas as novas descobertas e invenções.»

 

«127. O trabalho do filósofo consiste em reunir memórias para um determinado fim.»

 

«128   Se se quisesse estabelecer teses em Filosofia, nunca seria possível discuti-las, porque todos estariam de acordo com elas

 

(Ludwig Wittgenstein, Investigações Filosóficas, pag 263, Fundação Calouste Gulbenkian; o destaque a negrito é posto por mim).

 

O que Wittgemstein nos propõe aqui é a anti-filosofia: desaparece a subjectividade, a aventura especulativa de cada um .Não filosofamos sobre se os medicamentos químicos escondem os sintomas e deixam a doença reprimida no interior do corpo, em vez de curar verdadeiramente, não filosofamos sobre se há Deus ou deuses ou eternidade das almas humanas, não filosofamos sobre se temos ou não livre-arbítrio, nem sobre a inteligência da natureza, biofísica, não filosofamos sobre a lei da tríade estabelecida por Hegel ( ao ser em si sucede o ser for de si e a este o ser para si), etc.

 

A Filosofia desce ao nível do mais rasteiro senso comum, da descrição dos sentidos, do triunfo da opinião da esmagadora maioria, do consenso generalizado. Assim a Filosofia seria apenas história da filosofia (reunião de memórias) e estaria presa nas correntes do observável, do empiricamente testável. O Nous - a inteligência metafísica - seria abandonado a favor da Empeiria, a experiência sensorial.

 

 

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Domingo, 12 de Fevereiro de 2012
Testes de filosofia do 10º ano de escolaridade em Portugal (segundo período lectivo)

 

Eis dois testes de filosofia para o 10º ano de escolaridade, a meio do segundo período lectivo, possíveis de ser dado só dentro de uma cultura de exigência e ensino filosófico autêntico. Os alunos dos professores populistas e facilitistas que ensinam pouco, e dão altas classificações sobreavaliadas a muitos desses alunos, não conseguem, presumivelmente, responder com êxito a este teste.

 

 

Escola Secundária Diogo de Gouveia, Beja

 

TESTE DE FILOSOFIA, 10º ANO TURMA A

 

Fevereiro de 2012        Professor: Francisco Queiroz            

 

I

 

“O imperativo categórico em Kant tem analogia com a democracia liberal e é formal e autónomo. O livre-arbítrio, incompatível com o fatalismo mas compatível com o determinismo, parece corresponder às causas eficiente e final de certos actos. A concepção de Estado marxista-leninista é diferente da concepção de Estado fascista.”

 

 

 

1) Explique, concretamente, cada uma destas frase

 

II

 

2) Construa um diálogo entre um anarquista, um liberal e um social-democrata sobre a natureza do Estado de democracia liberal e o valor das eleições, a propriedade privada das empresas e a economia, os impostos, os direitos à greve, ao aborto voluntário, o ensino, o sistema de saúde, o rendimento mínimo garantido.

 

III

 

«Aquele que se dedica ao estudo cresce de dia para dia, aquele que se dedica ao Tao diminui de dia para dia. Vai diminuindo sempre até chegar ao não agir. Pelo não agir, nada há que se não faça.» (Lao Tse)

 

 

IV

 

4) Relacione, justificando:

 

A) Arquétipo, em Platão, e Tó Tí e Tó On.

 

B) Hermenêutica, ideologia e juízo de valor.

 

C) Empirismo/ Racionalismo e doutrinas éticas de Kant e Stuart Mill.

 

D) Realismo Ontológico/ Idealismo Ontológico e Sujetividade/Objetividade.

 

  

5)Disserte sobre os temas seguintes:

 

«A essência, a lei da tríade e o princípio do terceiro excluído na minha escola e na minha cidade.»

 

 

 

 CORREÇÃO DO TESTE (COTADO EM 20 VALORES)

 

 Respostas: 

 

1) O imperativo categórico, em Kant, é a verdadeira lei moral que preconiza «Age como se quisesses que a tua máxima fosse lei universal da natureza», isto é, um princípio igualmente aplicável a todos os homens, incluindo a ti mesmo, princípio de equidade e não de prazer egoísta. Isto tem semelhança com a democracia liberal (regime político-social de eleições livres, liberdade de associação empresarial, sindical e política, liberdade de greve e manifestação de rua, de religião ou ateísmo, liberdade de criação artística, etc) já que essa democracia deriva do seguinte imperativo categórico existente em milhões de pessoas;. «Age politicamente e vive como se quisesses que a tua ação expandisse a toda a humanidade os princípios da liberdade individual concretizados nas regras de de «a cada um homem, um voto», em eleições livres e periódicas aos parlamentos nacionais, regionais e locais, em liberdade de imprensa, de manifestação de rua, de organização e acção livre de sindicatos, empresas privadas e partidos políticos, etc». O caráter formal do imperativo categórico é o facto de ser abstrato, sem conteúdo, e o caráter autónomo é o facto de variar de pessoa a pessoa, ser criação desta. ( A RESPOSTA A ESTA PRIMEIRA FRASE DO TEXTO VALE DOIS VALORES). 

 

O livre-arbítrio, isto é, capacidade de deliberar, livre e racionalmente, sobre atitudes a adotar ou valores a escolher harmoniza-se com o determinismo - princípio segundo o qual nas mesmas circunstâncias as mesmas causas produzem sempre os mesmos efeitos - mas não pode coexistir com o fatalismo, uma vez que este é a teoria segundo a qual todos os acontecimentos estão predestinados ou escritos antes de se materializarem e, portanto, o livre-arbítrio é nele uma ilusão, os seres humanos são marionetas nas mãos do destino. O livre-arbítrio na medida em que exige «ver» intelectualmente a finalidade das nossas decisões e actos corresponde à causa final de algo (exemplo: decido jejuar 24 horas porque "vejo" o resultado final dessa acção, o meu corpo purificado de um excesso de colesterol e ácidos) e na medida em que desencadeia a acção do sujeito corresponde à causa eficiente, isto é, ao agente que faz ou fabrica algo (exemplo: a minha vontade de manter o jejum desvia-me da comida e da bebida). (A RESPOSTA À SEGUNDA FRASE DO TEXTO VALE DOIS VALORES) 

 

A concepção de Estado marxista-leninista é a seguinte: o Estado deve ser um instrumento do poder da classe operária e do seu partido comunista, por isso deve centralizar a economia (nacionalizar todas ou quase todas as empresas e dar emprego a toda a gente), suprimir as eleições "livres" porque estas possibilitam aos partidos da burguesia (conservadores, liberais, centristas e socialistas) fazer propaganda contra o Estado socialista leninista, suprimir o pluripartidarismo, a liberdade de imprensa, de greve e manifestação, eliminar os opositores de esquerda (anarquistas, trotskistas, etc). A concepção de Estado fascista é diferente, embora igualmente ditatorial: o Estado deve ser um instrumento de poder da nação e do seu partido fascista, que regulará a economia deixando coexistir o capitalismo privado e o capitalismo de estado, não permitirá eleições livres e partidos políticos, nem imprensa e televisão livre, impedirá a luta de classes (as greves, as manifestações de rua, etc) e a entrada de emigrantes, fará prender através da polícia política os ativistas de esquerda, centro ou direita liberal que sejam antifascistas perigosos. (A RESPOSTA À TERCEIRA FRASE VALE DOIS VALORES).

 

II

 

2) ANARQUISTA: Não deve haver Estado. O Estado, seja uma ditadura fascista ou monárquica, ou uma democracia liberal ou uma ditadura marxista-leninista, é sempre uma máquina burocrática, uma ditadura sobre a classe operária e os trabalhadores. A propriedade privada das fábricas, terras, bancos e supermercados, empresas de pesca e transportes e comunicações,  é imoral, assenta na exploração dos trabalhadores pela burguesia e deve ser abolida. Sou pela extinção do capitalismo através da autogestão: as fábricas aos operários, as terras aos jornaleiros agrícolas, as escolas aos alunos e professores! O poder aos operários nas fábricas, reunidos em assembleias de base! O poder à assembleia de moradores em cada bairro! O rendimento mínimo garantido é uma concessão dos capitalistas para calar os mais pobres, uma reforma, uma esmola, mas queremos mais, queremos a revolução social, o socialismo autogestionário, a economia colectivista e descentralizada. Apoiamos o direito ao aborto e à greve. 

 

SOCIAL-DEMOCRATA: Tem de haver Estado, um estado de direito democrático, que permita organizar a vida de um povo. A anarquia ou ausência de Estado é uma utopia, um ideal impraticável. Sou contra os Estados totalitários, dominados por um só partido político ou por um presidente ditatorial: o Estado marxista-leninista, à esquerda, e o Estado fascista, à direita, que coincidem ao eliminar as liberdades individuais e as eleições livres, em nome da "classe" ou da "nação". A economia, embora capitalista, deve ter um sector estatizado (metropolitano, carris, águas, electricidade, um canal de televisão, sistema nacional de saúde e ensino, etc) onde o serviço ao público, com preços e taxas baixos se deve sobrepor à busca do lucro. Favoreço o direito à greve, ao aborto livre e impostos progressivos sobre os ricos.O rendimento mínimo garantido e o subsídio de desemprego de longa duração são criações da social-democracia que evitam as situações de pobreza extrema.

 

LIBERAL: O Estado é imprescindível e deve ser uma democracia pluripartidária com eleições livres mas precisamos de menos Estado, isto é, muitas empresas estatais (águas, eletricidade, caminhos de ferro, hospitais e centros de saúde, o sistema prisional ou parte dele, etc) podem e devem ser privatizadas de modo a que desçam os impostos sobre os cidadãos e se atraiam os capitais dos muito ricos, nacionais ou estrangeiros. O capitalismo privado é o grande motor da economia e o modelo justo de sociedade. Sou contra os anarquistas, defensores de um comunismo libertário, de base, e sou contra o socialismo democrático com a sua tendência estatizadora de empresas e o seu rendimento mínimo garantido que desencoraja pessoas válidas a procurar emprego. Sou pela privatização das universidades e dos hospitais, ou de muitos deles, e de parte ou todo o ensino secundário que custam muitos milhões em impostos aos contribuintes. Admito o direito ao aborto livre e à greve. (VALE TRÊS VALORES, NO CONJUNTO DO DIÁLOGO).

 

3)  O Tao é o ritmo do universo, a mãe do Universo, o fundo oculto de onde brotam o ser e o não ser. É uma onda que se desdobra em Yang (calor, convexidade, expansão) e Yin (frio, concavidade, contração). Ver nascer o sol no campo integra-se no Tao mas estar a essa hora numa discoteca a dançar freneticamente ao som de batidas rápidas não é conforme ao Tao. Estudar horas e horas diárias opõe-se ao Tao porque exige um esforço artificial e o estudo não produz os alimentos simples da vida, como o pão, os frutos, as hortaliças. O camponês que cuida do gado e das árvores, esse, sim, dedica-se ao Tao (o ritmo das estações do ano, o crescer e amadurecer das plantas, etc) e vai diminuindo em prestígio até chegar ao não agir, isto é, a não intervir social e politicamente, a apagar-se em importância. E quando não se age, isto é, quando se deixa correr o ritmo natural das coisas, tudo se consegue obter, como no caso daquele que, sentido-se indisposto, jejua dois dias seguidos e com o jejum (não agir) dá repouso ao fígado e permite à força vital corporal eliminar ácido úrico, gorduras de modo a reencontrar a saúde. (VALE DOIS VALORES).

 

4) A)  Arquétipo é uma forma eterna, imutável, do mundo inteligível, incorruptível e perfeita que possui um tó tí, uma determinação ou forma (exemplo: Belo é um to tí diferente de Justo e de Número Dois e todos estes são arquétipos) e possui também um tó ón, uma existência sem forma comum a todos os arquétipos. (VALE DOIS VALORES)

 

4) B) Hermenêutica é a arte de (bem) interpretar os textos e os símbolos em geral, a interpretação supõe juízos de valor isto é afirmações ou negações mais ou menos subjectivos - exemplo: « os líderes políticos e artísticos que saudam fazendo cornos com o dedo indicador e o dedo mínimo estão a transmitir uma mensagem subliminar iluminatti» - e supõe uma ou várias ideologias, isto é, sistemas de valores e ideias correspondentes a grupos sociais, classes sociais, nações, civilizações. (VALE DOIS VALORES).

 

4) C) Empirismo é a doutrina que afirma que a fonte quase exclusiva das nossas ideias é o campo das percepções empíricas e que as ideias são cópias descoloridas dessas percepções. Racionalismo é a doutrina que afirma que a fonte quase exclusiva das nossas ideias é o campo das intuições inteligíveis e dos raciocínios que negam, com frequência, as percepções empíricas. Aparentemente pelo menos, a doutrina de Kant é a mais racionalista, pois formula o imperativo categórico, que despreza o eu empírico e brota do eu racional, que concebe o dever. E a doutrina de Mill é mais empirista, pois maximizar o prazer (sensual ou empírico, antes de mais) implica conhecer bem o terreno, o número de pessoas envolvidos, os resultados práticos - tudo condições empíricas. (VALE DOIS VALORES). 

 

4) D) Realismo ontológico é a doutrina segundo a qual o mundo material é real em si mesmo, fora dos espíritos humanos.Liga-se à objetividade pois considera-se a matéria objetiva, isto é, exterior a nós, visível e palpável a todos. Idealismo ontológico é a doutrina segundo a qual o mundo de matéria não é real fora de nós mas dentro do nosso espírito, em forma de ideias e sensações. Isto parece ligar-se a subjetividade ou seja interioridade psíquica variável de pessoa a pessoa. (VALE DOIS VALORES).

 

5) A essência é a forma fundamental de algo. Na minha escola, a essência é dupla: o edifício, com salas de aula, ginásio, biblioteca, etc, (essência física); o processo de aprendizagem intelectual e manual que aí se realiza todos os dias, envolvendo professores e alunos. Na minha cidade, a essência é a forma geral arquitectónica e a população que nela vive.

A lei da tríade afirma que um processo dialético se compõe de três partes: a tese ou afirmação, a antítese ou negação e a síntese, ou negação da negação, representando esta última um regresso à tese. Na escola, a aula é a síntese, o resultado do confronto intelectual entre os professor (tese, aquele que põe uma matéria) e os alunos (antítese, aqueles que negam ou ignoram, de início, essa matéria). Na cidade, o centro histórico é a tese, os bairros modernos da segunda metade do século XX e XXI é a antítese, as ruas ou praças em que confluem é a síntese.

O princípio do terceiro excluído afirma que uma coisa ou qualidade ou é tal ou não é tal, ou seja, ou pertence ao grupo A ou ao grupo não A, não havendo a terceira hipótese. Na escola, as salas ou são de aulas ou não são de aulas, não havendo a terceira hipótese. Na cidade, cada casa está classificada como património de interesse municipal ou não está classificada como património de interesse municipal. (VALE DOIS VALORES).  

 

 

Nota para a correção: nas perguntas de relacionação entre dois ou mais conceitos, a cotação para cada resposta dada deve obedecer a um princípio de premiar o aluno que estuda e sabe as definições separadamente: assim deverá receber 50% a 60% da cotação da pergunta desde que defina correctamente os conceitos, embora não consiga interligá-los.

 

Analisemos agora outro teste.

 

Escola Secundária Diogo de Gouveia, Beja

 

TESTE DE FILOSOFIA, 10º ANO TURMA D

 

Fevereiro de 2012            Professor: Francisco Queiroz

 

I

“O princípio da máxima felicidade em Stuart Mill tem analogia com a democracia liberal e o imperativo categórico em Kant é formal e autónomo. Nas quatro causas de um ente teorizadas por Aristóteles, duas parecem ter íntima ligação com o livre-arbítrio, e duas parecem ter maior ligação com o determinismo. A concepção de Estado social-democrata é diferente da concepção de Estado fascista.”

 

1) Explique, concretamente, cada uma destas frases.

                                                        II

2) Construa um diálogo entre um anarquista, um comunista leninista e um conservador sobre a natureza do Estado de democracia liberal e o valor das eleições, a propriedade privada das empresas e a economia, os impostos, os direitos à greve, ao aborto voluntário, o ensino, o sistema de saúde, o rendimento mínimo garantido.

III

«.A virtude suprema é sem virtude, é por isso que ela é a virtude. A virtude inferior não se afasta das virtudes, é por isso que não é a virtude. O Tao que se procura alcançar não é o próprio Tao. Pelo não-ser, atinjamos o seu segredo; pelo ser, abordemos o seu acesso. »(Lao Tse)

 

3)  Explique este poema de Lao Tse.

IV

4) Relacione, justificando:

A) Os três mundos em Platão , em Platão, percepção empírica e conceito.

B) Hedonismo cirenaísta, ideologia e mais-valia.

C) Empirismo/ Racionalismo e Metafísica/Pragmatismo.

D) Realismo Ontológico/ Idealismo Ontológico e Dogmatismo/Ceticismo.

 

5)Disserte sobre os temas seguintes:

«A essência e o acidente (interno e externo), e a lei da luta de contrários na minha escola e na minha cidade.»

 

 

CORREÇÃO DO TESTE (COTADO EM 20 VALORES)

 

1) O princípio da máxima felicidade, segundo Stuart Mill, é o que prescreve proporcionar a felicidade à maioria das pessoas envolvidas numa dada situação mesmo que isso implique sacrificar o prazer de quem realiza a ação ou da minoria de pessoas envolvida nessa situação. Sendo a democracia liberal o regime baseado em eleições livres e periódicas por sufrágio universal, com liberdade de imprensa e ação dos partidos políticos, sindicatos, igrejas, etc, regime que forma o seu governo a partir de maiorias de votos da população e dos deputados eleitos por esta, obedece ao princípio da felicidade para o maior número. (VALE UM VALOR) O imperativo categórico de Kant é formal, visto que é vazio de indicações concretas, e autónomo, visto que se baseia no juízo livre de cada pessoa e varia de pessoa a pessoa (VALE UM VALOR).

 

Das quatro causas de um ente, em Aristóteles, as duas que parecem estar mais ligadas ao livre-arbítrio, isto é,à liberdade consciente de escolha são a causa eficiente ( o agente que fabrica o ente; exemplo, os operários que fazem uma casa) e a causa final (a finalidade do ente; exemplo, a casa servir para habitação), ao passo que as causas mais ligadas aparentemente ao determinismo, princípio segundo o qual nas mesmas circunstâncias as mesmas causas produzem sempre os mesmos efeitos, são a causa formal (a forma do ente; exemplo, a forma da casa, com 2 pisos, 5 quartos, etc) e a causa material (a matéria segunda de que o ente é feito; exemplo, os tijolos, o cimento, o ferro, a tinta da casa) (VALE DOIS VALORES; NOTA: HÁ OUTRAS RESPOSTAS VÁLIDAS).

 

A concepção ou seja a ideia fundamental do Estado social-democrata é: o Estado deve garantir direitos iguais a todos os cidadãos, logo deve ser uma democracia multipartidária e parlamentar, permitindo as liberdades de greve, manifestação de rua, imprensa, associação e ação política e sindical, aborto, e deve favorecer a economia capitalista, de livre concorrência e propriedade privada das empresas, mas deve regular essa economia de modo a evitar oligarquias e, portanto, manterá algumas empresas estratégicas em seu poder (exemplo: eletricidade, águas, um canal de televisão, etc) aplicará impostos progressivos aos ricos, de modo a que haja um sistema nacional de saúde e de ensino gratuitos, uma segurança social que estenda o subsídio a todos os desempregados, incluindo o rendimento mínimo. Este Estado democrático de tonalidade social-democrata difere muito do Estado fascista, que é anti parlamentar e tem um caráter policial repressivo de extrema direita, da oposição e das massas populares, impondo a censura à imprensa escrita e televisão, proibindo eleições livres, sindicatos e partidos políticos, favorecendo as igrejas conservadoras que atacam a liberdade de abortar, as uniões de gays e lésbicas, limitando ou impedindo de todo as entradas de imigrantes estrangeiros no país em nome da "unidade da raça, da pátria, da família, de Deus", intervindo na economia de modo a limitar a plena expansão do capitalismo, admitindo os patrões mas proibindo-lhes despedir operários e proibindo a estes a greve e o sindicalismo livre. (VALE DOIS VALORES).

 

2) Anarquista: O capitalismo é um mau regime. Não deve haver Estado. O Estado, seja uma ditadura fascista ou monárquica, ou uma democracia liberal ou uma ditadura marxista-leninista, é sempre uma máquina burocrática, uma ditadura sobre a classe operária e os trabalhadores. A propriedade privada das fábricas, terras, bancos e supermercados, empresas de pesca e transportes e comunicações,  é imoral, assenta na exploração dos trabalhadores pela burguesia e deve ser abolida. Sou pela extinção do capitalismo através da autogestão: as fábricas aos operários, as terras aos jornaleiros agrícolas, as escolas aos alunos e professores! O poder aos operários nas fábricas, reunidos em assembleias de base! O poder à assembleia de moradores em cada bairro! O rendimento mínimo garantido é uma concessão dos capitalistas para calar os mais pobres, uma reforma, uma esmola, mas queremos mais, queremos a revolução social, o socialismo autogestionário, a economia colectivista e descentralizada. Apoiamos o direito ao aborto e à greve. 

 

Comunista leninista: O capitalismo é sem dúvida um mau regime. Assenta na extração de mais valia pelos patrões aos operários assalariados: se, por exemplo, o operário gera um valor de 80 euros diários, o patrão só lhe paga 30 euros, sendo a mais valia equivalente a 50 euros. O anarquismo, de extrema esquerda, é utópico porque faz desaparecer o Estado e permite que a restauração da ordem pública seja levada a cabo pelas forças de direita. A autogestão generalizada não resulta. É necessário um Estado centralizado, forte, a ditadura do proletariado sobre a burguesia, que nacionalize quase todas as empresas, substuindo o patrão por um gestor público comunista. O partido leninista e os sindicatos e sovietes serão a ossatura do novo Estado socialista operário que acabará com as chamadas "eleições livres" da democracia liberal, onde os vencedores são sempre os partidos que a burguesia financia: conservadores, liberais, centristas, socialistas. No Estado leninista, ensino e cuidados de saúde são gratuitos, não há desemprego, são proibidas as greves, há um partido único, o comunista e são proibidos os partidos políticos burgueses e os grupos anarquistas e trotskistas, da extrema-esquerda sectária e irrealista. No entanto, dentro das democracias liberais, nós comunistas concorremos às eleições, promovemos greves, manifestações de rua, acções sindicais e políticas variadas.

 

Conservador: O capitalismo é o melhor regime possível. O Estado é imprescindível e deve ser uma democracia pluripartidária com eleições livres mas precisamos de menos Estado na economia, isto é, muitas empresas estatais (águas, eletricidade, caminhos de ferro, hospitais e centros de saúde, o sistema prisional ou parte dele, etc) podem e devem ser privatizadas de modo a que desçam os impostos sobre os cidadãos e se atraiam os capitais dos muito ricos, nacionais ou estrangeiros. O capitalismo privado é o grande motor da economia e o modelo justo de sociedade. Sou contra os anarquistas, defensores de um comunismo libertário, de base, e sou contra o comunismo leninista, estatizador e totalitário, e contra socialismo democrático com a sua tendência estatizadora de empresas e o seu rendimento mínimo garantido que desencoraja pessoas válidas a procurar emprego. Sou pela privatização das universidades e dos hospitais, ou de muitos deles, e de parte ou todo o ensino secundário que custam muitos milhões em impostos aos contribuintes. Não admito o direito ao aborto livre e ao casamento de gays e lésbicas. Favoreço a moral religiosa tradicional, apoiando igrejas como a católica ou as protestantes, de modo a que não reine a ausência de valores éticos.  (VALE TRÊS VALORES NO SEU CONJUNTO).

 

3) «A virtude suprema é sem virtude» significa: a virtude superior, como por exemplo, a sabedoria, é interior, discreta, não se apresenta com sinais exteriores de virtude (o sábio pode ir dar uma conferência em mangas de camisa, sem gravata e outros adereços exteriores ligados à imagem de "cientista ou professor universitário"). «A virtude inferior não se afasta das virtudes, é por isso que não é a virtude» significa: a virtude inferior, como por exemplo, saber pôr o dinheiro a render em depósitos de juros altos, coisa que toda a gente faz se puder, não é virtude, é esperteza prática. «O Tao que se procura alcançar não é o próprio Tao» pode significar: o Tao ou ritmo ondulatório do universo e fonte de todos os seres é inatingível e não pode ser alterado, é composto de oscilações «Yang» (luz, dilatação, vermelho) e Yin (escuridão, contração, azul) e não é o Tao pessoal que rege a nossa vida (exemplo:o meu Tao é levantar-me às oito da manhã, trabalhar até ao meio dia, almoçar, fazer uma sesta das duas às três, voltar ao trabalho...)«Pelo não ser atinjamos o seu segredo» significa: através do vazio, do não agir, do não desejar nada (não desejar construir um hotel ou um restaurante num lindíssimo campo de oliveiras do Alentejo, por exemplo) entendemos o segredo do Tao, o ritmo do universo. «Pelo ser, abordemos o seu acesso» significa: como o ser é visível e palpável, ao contrário do não ser, é através do ser natural, físico, que acedemos ao Tao (exemplo: o agricultor observa que em tal dia é lua cheia - ser visível- e sabe que dias depois iniciará uma dada sementeira, conforme ao ciclo natural ou Tao). (VALE DOIS VALORES).

 

4) A) Os três mundos em Platão são: o mundo do Mesmo ou Inteligível, povoado de essências eternas, imóveis e imateriais, como o Bem, o Belo, o Justo, o Igual, o Sábio, o Jústo, o Número Um, o Número Dez, mundo que a mente humana só pode alcançar através do conceito, nunca através da perceção empírica ou visão, audição, tato, gosto, gerada nos orgãos sensoriais; o mundo do Semelhante ou do Céu Visível, onde os astros incorruptíveis giram e geram o tempo, «imagem móvel da eternidade», e na medida em que são vistos estão ao alcance da perceção empírica, mundo que é também o das operações matemáticas e nessa medida é alcançado pelo conceito ou ideia que geramos; o mundo do Outro ou Sensível, onde vivemos fisicamente e onde os "seres" nascem, crescem, declinam e morrem e que está ao alcançe da percepção sensível e do conceito. (VALE DOIS VALORES)

 

4) B) O hedonismo cirenaísta ou sensualista identifica o maior bem com os prazeres físicos (comer, beber, nadar ou correr por gosto, etc) e o maior mal com os sofrimentos físicos (dores corporais, fome, sede, etc) e constitui em si uma ideologia - sistema de ideias e valores próprios de um dado grupo social ou de uma civilização - e a mais valia, ou fruto do trabalho operário ilicitamente apropriado pelo capitalista, manifesta o hedonismo cirenaísta deste último («Vou pagar mal aos meus operários para extrair grande mais valia deles e ter jantares de caviar e faisão com as minhas amantes ou acompanhantes»). (VALE UM VALOR).

 

4)C) O empirismo, corrente que sustenta que quase todas as nossas ideias são cópias pálidas das perceções empíricas, liga-se, aparentemente, ao pragmatismo, corrente que centra o conhecimento nas coisas (pragnata) visíveis e sensíveis, e na utilidade delas, pondo entre parêntesis a metafísica, ou reino das entidades invisíveis, inaudíveis, impalpáveis cuja existência é dificil ou impossível de demonstrar. A metafísica liga-se ao racionalismo se este é definido como a corrente que sustenta que as nossas ideias fundamentais são provenientes não dos orgãos dos sentidos mas da razão ou de um mundo racional-ideal que transcende cada pessoa. (VALE DOIS VALORES)

 

4)D) O realismo ontológico diz que o mundo material é real em si mesmo, independente das consciências humanas. Na medida em que não duvida da exterioridade da matéria, é um dogmatismo. O idealismo ontológico diz que um mundo material é ilusório em si mesmo, é um filme montado no salão vastíssimo da nossa consciência. Na medida em que duvida da realidade exterior da matéria, é um cetismo. (VALE DOIS VALORES).

 

5) Essência é a forma fundamental e estável de algo. Exemplo: O edifício da escola, a comunidade alunos em aprendizagem e professores em transmissão dos saberes e avaliação quotidiana.  Acidente interno é um aspeto interior à essência que se manifesta só às vezes. Exemplo: A campainha da escola que toca em cada 45 minutos, aproximadamente. Acidente externo é o que não pertence à essência mas lhe sobrevém. Exemplo: a vinda da equipa médica hospitalar à escola num determinado dia. A lei da luta de contrários estipula que em cada coisa há uma luta de contrários que constitui a essência e o motor de desenvolvimento dessa coisa. Exemplo: na cidade, a luta política entre a burguesia (os ricos, os agricultores abastados, os grandes comerciantes) e o proletariado e semiproletariado (os operários agrícolas, os pequenos funcionários, os empregados de armazém, as cozinheiras, os varredores, etc) (VALE DOIS VALORES).

 

Nota para a correção: nas perguntas de relacionação entre dois ou mais conceitos, a cotação para cada resposta dada deve obedecer a um princípio de premiar o aluno que estuda e sabe as definições separadamente: assim deverá receber 50% a 60% da cotação da pergunta desde que defina correctamente os conceitos, embora não consiga interligá-los.

 

www.filosofar.blogs.sapo.pt

 

f.limpo.queiroz@sapo.pt

 

© (Direitos de autor para Francisco Limpo de Faria Queiroz)



publicado por Francisco Limpo Queiroz às 09:21
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