Por justificacionismo, noção popularizada pela filosofia analítica, entende-se a atitude filosófica de fundamentação, isto é, estabelecimento de um sistema de explicações de uma teoria, tese ou visão do mundo, baseado em leis de causa-efeito, em analogias ou outro modelo de raciocínio. Não se pode colocar o justificacionismo ao mesmo nível do fundacionalismo e do coerentismo. Estes dois últimos são, por assim dizer, tipos de arquitectura filosófica – «casa fixa ao solo» o fundacionalismo; «casa rolante», o coerentismo- ao passo que o justificacionismo é empregue por ambos como método ideológico.
A justificação é uma explicação ou comprovação de uma ideia, raciocínio ou teoria a partir de outra instância, é uma razão ou prova, teórica ou empírica.
«Mas a justificação é o processo que consiste em apelar para uma instância independente.» (L. Wittengstei, Tratado Lógico-Filosófico e Investigações Lógico-Filosóficas, pag 345)
«638. “Não posso estar em erro” é uma frase normal que serve para indicar o valor da certeza de uma declaração . E, somente no seu uso quotidiano, ela é justificada.»
(Ludwig Wittgenstein, Da Certeza, Edições 70, Lisboa, 1998, pag 179)
Ao justificacionismo opõe-se o não justificacionismo
.Dancy assevera haver três vias de justificação:
«Então o que faz, neste caso, uma crença ser justificada?
«Há várias respostas. Uma é a resposta fiabilista: a crença justifica-se porque é o resultado de um processo fiável. Outra é a resposta coerentista: a crença justifica-se porque o meu mundo é mais coerente com ela do que seria sem ela. Uma terceira é a alegação fundacionalista clássica, que entende que a crença não é de facto não-mediata, mas inferida de uma crença sobre como as coisas me aparecem neste preciso momento.» (Jonathan Dancy, texto extraído de Oxford Companion to Philosophy, organizado por Ted Honderich (OUP, 1995, pp. 809-812; o destaque a negrito é posto por nós).
Esta é uma confusão de Dancy, um dos «grandes» da filosofia analítica: apresentar três respostas, onde só há duas. Não se percebe o que é o fiabilismo, separado do coerentismo ou do fundacionalismo. Estes dois são fiabilistas...Fiabilismo é, pois, uma atitude geral de espírito e coerentismo e fundacionalismo são modos de arquitectar a construção de uma teoria, ambos impregnados dessa atitude de confiança.
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Para designar realismo natural ou ingénuo, isto é, doutrina segundo a qual a mente humana apreende sensorialmente o mundo exterior da matéria tal como ele é, alguns epistemólogos empregam o termo «realismo directo».
É o caso de Dancy, que escreveu (o negrito é nosso):
«O realismo directo defende que na percepção dos sentidos estamos directamente conscientes da existência e natureza do mundo físico que nos rodeia. Todos os realistas directos concordam acerca disto, do carácter directo das coisas. Diferem, todavia, no grau de realismo que estão dispostos a abraçar. O realista, no nosso sentido presente, defende que os objectos físicos são capazes de existir e retêm pelo menos algumas das propriedades que apreendemos terem, mesmo quando inapreendidos. A frase crucial é «pelo menos algumas» , e a questão é saber exactamente quais. Distinguiremos dois tipos de realismo, o ingénuo e o científico; dependendo da natureza do caso, contudo, pode haver muitas posições intermédias possíveis.»
«O realista directo ingénuo defende que os objectos inapreendidos são capazes de reter propriedades que apreendemos terem. Com isto, ele quer dizer que um objecto inapreendido pode ainda ter não só uma forma e tamanho mas também ser quente ou frio, ter uma cor, um gosto ou um cheiro, ser rugoso ou liso e fazer barulho ou ser silencioso. A ingenuidade desta posição está na palavra «todos». A posição torna-se menos ingénua à medida que «todos» se reduz a «quase todos» e depois a uma «maior parte» e assim por diante, mas é para nós mais simples vê-la no caso mais completo e mais extremo.»
«Oposto à forma ingénua de realismo directo, está o realismo directo científico. Esta versão científica considera que a ciência demonstrou que os objectos físicos não retêm, quando inapreendidos, todas as propriedades que apreendemos terem; pois a existência dessas propriedades depende da existência de um sujeito percipiente. Assim a cor, o gosto, o som e o cheiro não são propriedades independentes do objecto que ele possa reter inapreendido. O objecto só as possui em relação ao sujeito percipiente. O realista directo científico aceita o carácter directo da nossa percepção do mundo, mas restringe o seu realismo a um grupo especial de propriedades.»
«A distinção elaborada está próxima da distinção de Locke entre qualidades «primárias» e secundárias (ver J.Locke, 1961, Lv. 2, cap. 8). Locke defendia que as qualidades primárias da forma, tamanho, textura molecular e movimento têm um status diferente das qualidades «secundárias» como a cor, o calor, o cheiro, o gosto, etc (poderíamos chamar a estas propriedades «sensoriais»). ( Jonathan Dancy, Epistemologia Contemporânea, Edições 70, pag. 186-187).
O problema de Dancy é o de falta de espírito de síntese, de uma arquitectónica de pensamento dialéctica: aquilo que designa por realismo directo científico não é directo, mas indirecto porque é científico, isto é, porque descobriu que a cortina das cores, sons, cheiros, etc, não permite ver directamente o objecto físico exterior que é despido destas qualidades secundárias. Ele mesmo afirma que o realista científico «restringe o seu realismo (directo, subentende-se) a um grupo especial de propriedades» - por outras palavras, é um realista indirecto.
O mais grave é que Dancy duplica as definições a partir de diferenças milimétricas que, de facto, não existem: fala em realismo directo, ingénuo e natural; e em realismo indirecto, ingénuo e natural. É uma obscuridade de pensamento disfarçada num vasto entrançado de definições, com bifurcações que nunca mais acabam. Um exemplo de catedrático erudito, muito comum nas universidades, que subjuga os alunos pela monumentalidade da sua verborreia, das suas infinitas classificações mais ou menos desconexas Monumentos não de pedra mas de cartão, facilmente desmontáveis por um pensamento lúcido e crítico.
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