José Ortega e Gasset, (9 de Maio de 1883, Madrid; 18 de Outubro de 1955) o grande filósofo espanhol do século XX, émulo de Heidegger e, a nosso ver, superior a este, expôs em síntese as ideias do filósofo alemão Johann Friedrich Herbart (Oldenburgo, 4 de Maio de 1776 - Goettingen, 11 de Agosto de 1841) o fundador da pedagogia como disciplina acadêmica. A metafísica, segundo Herbart, implicaria ou apresentaria quatro aspectos: metodologia, ontologia, synecologia e eidolologia.
Escreve Ortega, resumindo Herbart:
c) SYNECOLOGÍA
«A metafísica é "um movimento em forma de arco", que partindo da aparência, que é um problema, vai procurar a realidade absoluta, que é um princípio, e achado este torna a explicar aquela. A ontologia conduz aos problemas do mundo aparente: o espaço, o tempo, a matéria, o movimento que Herbart estuda como formas particulares de um problema geral: a continuidade. De aqui o nome de Synecologia.» (...).
«Todo esse mundo que resulta da metafísica é - dizíamos - uma "aparência objectiva", uma imagem firme, científica, mas, ao fim e ao cabo, uma imagem. Do que seja imagem, já o vimos; mas como "toda a aparência alude a um ser", é forçoso achar quem é o Ser em que a aparência surge, quem é o sujeito que imagina. Conclui, pois, a metafísica com a teoria da aparência ou imagem como tal (Eidolologia) que serve de fundamento e trânsito para a psicologia.»
d) EIDOLOLOGIA
«Toda a imagem apresenta-se como uma dupla referência: de um lado apresenta o imaginado; do outro, declara-se a si mesma como pertencendo a um eu. O mundo da aparência objectiva é um mundo de representações de um eu. Com isto damos com um daqueles temas contradictórios que a experiência iniludivelmente nos coloca. Não posso representar algo sem atribuir ao meu eu, como uma propriedade e parte dele, essa representação. Não obstante o meu eu aparece-me como uma unidade frente às muitas representações que o constituem. (...)»
«O eu é um Real que está em comércio e concorrência com outros Reais: às perturbações com que estes o ameaçam responde com actos de conseração de si mesmo, e estes são a génese das representações, propriamente as sensações, reações elementares da alma. A sua multidão, variedade, as suas idas e vindas, dependem das séries de Reais com quem entre ou deixe de entrar em concorrência».
(José Ortega y Gasset, Obras completas, Tomo I, 1902/1915, Penguin Random House e Fundación Ortega y Gasset, Sabadell, Barcelona, 2017, pp. 693-694; o destaque a negrito é posto por nós).
Na Grécia Antiga, eidolon (plural: eidola or eidolons) é uma imagem espiritual de uma pessoa viva ou morta, uma sombra ou fantasma com forma humana. Os prisioneiros da caverna descrita na alegoria da caverna de Platão viam na parede de fundo da caverna eidola, sombras da realidade que se desenrolava nas suas costas. No meu «Dicionário de Filosofia e Ontologia» plasmei o conceito de eidologia ( eidos, na teoria de Aristóteles, signifca essência ou forma comum a muitas entidades) como designando a ciência das essências incluída na ontologia:
«B) Por sua vez, a metafísica subdivide-se em duas áreas: teologia ou metafísica teológica e eidologia protológica ou teoria das essências principiais, excluindo divindades,»
(Francisco Limpo Queiroz, «Dicionário de Filosofia e Ontologia, Dialética e Equívocos dos Filósofos», Edições Colibri, Lisboa, 2017, pag.127).
É óbvio que eidolologia como ciência das imagens e eidologia como ciência das essências se opõem do mesmo modo que a sensação se opõe ao conceito e a doxa (opinião baseada na aparência) se opõe à episteme (ciência demonstrativa, operando sobre essências). A menos que se considere, como no fluxismo sensista, a essência como imagem efémera ab-rogada ou alterada a cada instante.
Note-se uma diferença entre a visão de David Hume e a de Johann Friedrich Herbart sobre o eu: para Hume, o eu não existe, há apenas um fluxo de sensações mutáveis a cada momento; para Herbart, como para Ortega, o eu existe em mutação devido à multiplicidade das representações.
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