João Escoto Eriúgena, filósofo, supostamente irlandês, do século IX, foi um dos mais brilhantes pensadores do período escolástico.
Sustentou que a base do mundo criado é a ousía (substância, entidade), incorpórea, incorruptível, inextensa, transcendente aos corpos materiais, e que todas as outras determinações a ela associadas são acidentes. Homem, por exemplo, é ousía, mas esta não existe em cada homem ( João, Mariana, Carlos) que são, antes, dotados de formas substanciais, que imitam a ousía indivisível.
Ouçamos Eriúgena (o negrito é nosso):
«A ousía, que não se estende em comprimento, largura e altura porque - e além do mais - repousa na indivisível simplicidade da sua natureza, é incorporal. Assim, pois nenhuma ousía é corporal porque carece de espaço, como nenhum corpo, porque se estende no espaço, é ousía.» (Juan Escoto Eriúgena, División de la naturaleza, Folio, Barcelona, 2002, pag 113).
É óbvio que aqui se deve colocar uma questão: como pode Homem ser ousía e esta não possuir comprimento, largura e altura, ao menos em termos qualitativos, relacionais? O Homem não é um ser informe e possui estas três dimensões, inclusive na sua natureza transcendente ou ousía. Quando se retira desta a determinação da forma, que lhe resta?
Abaixo da ousía, desdobram-se as diversas categorias ou predicamentos que conferem ser e configuração aos entes.
«Certamente a quantidade é uma espécie de sujeito segundo, depois da ousia; e em
consequência, situamo-la em primeiro lugar depois dela na ordem das categorias, já que sem a quantidade a qualidade não pode ser manifestada.» (ibid, pag 120).
É interessante notar que, ao invés dos que sustentam ser a qualidade superior à quantidade, Eriúgena opta pela hierarquização inversa.
(Direitos de autor para Francisco Limpo de Faria Queiroz)
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