Domingo, 22 de Maio de 2011
Questionar Goodman e Carmo d´ Orey: é convencional a oposição entre realismo e idealismo?

No excelente prefácio a «Modos de fazer mundos»  do filósofo construtivista norte-americano Nelson Goodman, Carmo d´Orey, catedrático da Universidade de Lisboa, escreve:

 
«O mundo é feito por nós, afirma Goodman. Ou, mais precisamente, o nosso conhecimento consiste na construção de "versões-de-mundos". Goodman gosta de escrever assim para sublinhar que as nossas construções não são diferentes interpretações ou explicações de um mesmo único mundo pré-existente e independente delas, mas sim que construções e mundo são uma e a mesma coisa. Podemos por isso, dizer indiferentemente que fazemos mundos ou que fazemos versões, quando usadas separadamente, estas noções são quase sempre insubstituíveis.» (Carmo d´Orey in prefácio de Nelson Goodman, Modos de fazer mundos, pag 5, Edições Asa, 1995; o negrito é posto por mim).
 
«Uma vez que o mundo é construído é construído através de sistemas de símbolos, torna-se difícil inserir o ponto de vista de Goodman em qualquer esquema que pressuponha a distinção sujeito/objecto, portanto, no realismo ou no idealismo. O que consideramos mundo e o que consideramos discurso sobre o mundo depende das nossas convenções. Em rigor, não é possível traçar qualquer linha divisória entre os dois. Na prática, traçamo-la onde queremos e mudamo-la sempre que queremos. Num dos extremos temos o realismo, no outro o idealismo.» (Carmo d´ Orey, ibid, pag. 8; a letra negrito é de minha autoria).
 
Não é verdade que a diferença entre realismo e idealismo seja puramente convencional. Isso é o mesmo que dizer que é convencional a diferença entre o preto e o branco, entre a noite e o dia. Convencionais são os nomes, não as realidades ontológicas. Os nomes são interpretações, as realidades ontológicas, ideais ou materiais, são factos, que podem ser assumidos ou ignorados.
 
O que contesto é a frase: «em rigor, não é possível traçar qualquer linha divisória entre os dois.» É uma frase ambígua: incorrecta, do ponto de vista filosófico, metafísico; correcta, do ponto de vista do comportamento quotidiano prático, porque os idealistas evitam os choques eléctricos, as colisões de veículos e as quedas de janelas ou varandas do mesmo modo que os realistas.
 
 
NÃO HÁ DIFERENÇA ENTRE CONVENÇÕES E FACTOS?
 
Escreve ainda Carmo d´Orey explanando a tese de Goodman:
 
«Não há então qualquer diferença entre convenções e factos? Em absoluto, não. Dentro de cada versão sim e é muito importante. Adoptar um sistema consiste em adoptar uma convenção que fixa a referência dos seus seus termos. Essa convenção pode ser produto de habituação ou de estipulação. Mas, uma vez adoptado o sistema, o que uma coisa é torna-se uma questão de facto no âmbito desse sistema.»
«Para demarcar a sua posição quer do realismo quer do idealismo, Goodman denomina-a "irrealismo". Mas a denominação de "realismo interno", com o sentido que tem em Putnam, é também adequada.» (Carmo d´Orey in  prefácio de "Modos de fazer mundos", pag 8, Edições Asa; a letra a negrito é posta por mim).
 
Discordo da tese de Goodman de que não há, em absoluto, qualquer diferença entre factos e convenções, ou seja, de que tudo é convencional. Não é assim. As percepções empíricas - por exemplo, de árvores, de Grande Canyon nos EUA, de promontório de Sagres - não são convenções, são factos comuns a todos os observadores e encontram-se, ontologicamente, antes da convenção, isto é do acordo entre pessoas e comunidades para nomear ou interpretar algo. Convencional é chamar "promontório de Sagres" àquela massa rochosa altaneira com um forte no alto que confina com o mar no extremo sul ocidental de Portugal, mas a massa rochosa não é uma convenção - apenas o nome o é. Há pois um núcleo vastíssimo de factos não convencionais comuns a todos os mundos possíveis ou versões de mundos que, por isso mesmo, não ficam hermeticamente fechados e incomunicáveis entre si. O incêndio do Chiado, de 25 de Agosto de 1988, foi um facto que pode ser interpretado segundo as várias convenções ou leituras epistémico-ideológicas.
 
Por outro lado, se Goodman denomina a sua posição de "irrealismo" para a demarcar do realismo e do idealismo, comete um erro na taxonomia uma vez que o idealismo já é uma forma de irrealismo, sendo outra a fenomenologia.
 
 
O ANTI INTELECTUALISMO OPÕE A ARTE À CIÊNCIA?
 
Expondo a teoria de Goodman sobre a arte, escreve Carmo d´Orey:
 
«Admitida a nova epistemologia, a concepção anti-intelectualista, que opõe a arte à ciência, torna-se insustentável. Dicotomias vagas e obscuras, mas profundamente enraizadas, são superadas: não mais de um lado a beleza, a intuição e a emoção, e do outro, a verdade, a racionalidade e o saber. Porque nenhuma destas propriedades é privilégio da arte nem da ciência e todas são insuficientes para distinguir
uma da outra.» (Carmo d´Orey, ibid, pag 17).
 
A concepção anti-intelectualista opõe a arte a ciência? E por que não será a concepção intelectualista aquela que opõe a ciência à arte, dizendo que a arte é basicamente, sensação e percepção empírica e que a ciência é intelecto, raciocínio? Não se entende, com exactidão, o que Carmo d´Orey - que eventualmente estará correcto no seu raciocínio - pretende dizer com a "concepção anti intelectualista".
 
O CONHECER NÃO ASPIRA À CRENÇA?
 
Goodman é defensor de um pluralismo eclético - entendendo por ecletismo a doutrina que reune teorias diferentes e mesmo opostas entre si no seio do imenso oceano da verdade, feito de muitos mundos possíveis. Assim a teoria evolucionista de Darwin que faz derivar o homem de um antropóide situado geneticamente entre o gorila e o homem é, em princípio, tão aceitável como a teoria fixista criacionista de que Deus criou o homem e outros animais no sexto dia da Criação e estas espécies assim se mantiveram até hoje:
 
«O que tenho estado a dizer tem relação com a natureza do conhecimento. Nestes termos, conhecer não pode ser exclusivamente ou mesmo primeiramente uma questão de determinar o que é verdadeiro. A descoberta equivale frequentemente, como quando eu coloco uma peça num puzzle, não a chegar a uma proposição para declarar ou defender, mas a encontrar uma adequação. Muito do conhecimento aspira a algo que não à crença verdadeira nem a qualquer crença. (...)
«Mais ainda, se os mundos são tanto feitos quanto descobertos, assim também o conhecimento é tanto refazer como relatar. Todos os processos de feitura do mundo que discuti entram no conhecer. Perceber o movimento, vimo-lo, consiste frequentemente em produzi-lo. Descobrir leis envolve delineá-las. Reconhecer padrões é em em grande medida uma questão de os inventar e impor. A compreensão e a criação andam juntas.» (Nelson Goodman, Modos de fazer mundos, pag 60, Edições Asa; o negrito é colocado por mim)
 
Discordo de Goodman: todo o conhecer é um pôr da verdade, seja a verdade aparente ou interna, subjectiva ou objectiva - porque há uma verdade das aparências, como admitiam os cépticos pirrónicos - seja a verdade real e externa, hiperobjectiva. Todo o conhecimento aspira à crença - senão, aspira a quê? Goodman dá ao termo verdade um sentido unilateral: realidade externa, objectiva. Afirma que o conhecimento é compreensão, não captação da verdade. Mas a compreensão é sempre a captação de uma verdade imaginária, uma verdade que reside no reino da imaginação e tem bases no mundo da percepção empírica

 

 

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Domingo, 12 de Dezembro de 2010
Sobre o "quase realismo" de Simon Blackburn

 

Simon Blackburn, filósofo inglês de renome, quis entronizar-se na história da ética como autor de uma teoria sonante que baptizou de "quase realismo". A posição não é original: afinal o quase realismo de Deus, da alma e da liberdade já foi arquitectado por Kant na sua "Crítica da Razão Prática". Empurrado para a parede do cepticismo no que respeita aos númenos, entes incognoscíveis, em particular  Deus e a alma imortal, que não podem demonstrar-se experiencialmente - podem até não existir -  Kant salvou essas certezas da metafísica medieval cristã transformando-as em "postulados da razão prática", isto é semi certezas, holofotes que iluminam a acção humana e lhe dão sentido. Da causa final ("o supremo bem", "o dever") extraiu Kant a causa formal, a quididade ou a ecceidade de "Deus", da "imortalidade da alma", de "liberdade".

Blackburn escreveu sobre a sua teoria, pretensa "terceira via" entre o realismo e o irrealismo dos valores:

 

«quasi-realism Term coined by the English philosopher Simon Blackburn (1944-     ) to identify a position holding that an expressivist or projectivist account of ethics can explain and make legitimate sense of the realist-sounding discourse within which we promote and debate moral views. This is in opposition to writers who think that if projectivism is correct then our ordinary ways of thinking in terms of a moral truth, or of knowledge, or the independence of ethical facts from our subjective sentiments, must all be in error reflecting a mistaken realist metaphysics. The quai-realist seeks to earn our right to talk in these terms on the slender, projective basis. The possibility of quasi-realism complicates the methodology of realist/antirealist debates in many areas.» (Simon Blackburn, The Oxford Dictionary of Philosophy, Oxford University Press, 2005, pag 304).

 

 

Blackburn pretende que a sua teoria é um intermédio entre realismo e irrealismo dos valores (os valores não são reais em si mesmos, são apenas entidades fictícias que a mente humana concebe). Trata-se de uma espécie de agnosticismo. No entanto, há que não esquecer que o agnosticismo ou cepticismo não apaga, em matéria de metafísica religiosa, a dualidade de fundo: ou Deus e deuses existem (realismo teológico) ou não existem (irrealismo teológico). A "terceira via"  da social-democracia entre capitalismo e socialismo não existe: Tony Blair, Sócrates, Zapatero estiveram ou estão do lado do capitalismo financeiro e industrial contra o socialismo, que implica a desaparição da alta e da média burguesia e da correspondente economia privada. Logo, a teoria de Blackburn ou é realismo ou irrealismo (não realismo). O quase realismo tem de inserir-se num destes dois campos exclusivistas.

 

A meu ver, a teoria de Simon Blackburn não é, senão, um projectivismo objectivista, que entra na categoria do realismo. Por projectivismo deve entender-se a teoria ética segundo a qual os valores éticos e estéticos são meras projecções da sensibilidade de cada um e de uma colectividade humana. Projectivismo sugere irrealismo, à primeira vista. Em minha opinião, não é exactamente assim. Há um projectivismo realista - há valores reais na subjectividade de cada um, valores que são intersubjectivos, comuns a grande parte ou a toda a humanidade, como, por exemplo, o valor da "solidariedade" e o valor concreto do "acarinhar e proteger os bebés"; os valores são reais dentro e exteriorizam-se nas acções, leis e instituições sociais, projectam-se - e um projectivismo irrealista - os valores não existem, são projecções subjectivas do imaginário, como, por exemplo, o valor do "amor a alguém" é irreal, exprime apenas uma tendência hormonal, um desejo contingente, ama-se e deixa-se de amar tal pessoa concreta.  

 

Simon Blackburn é um erudito, mas não um filósofo de águas profundas e céus infinitos. O seu meritório "The Oxford Dictionary of Philosophy," periodicamente reeditado, é uma obra rica em definições e referências úteis, sem embargo de padecer relevantes deficiências. Uma destas é a sua definição unidimensional de objectivismo que ele só consegue formular no plano ético (não existe a entrada "objectivism" no seu dicionário, versão de 2005):

 

«ethical objectivism. The view that the claims of ethics are objectively true; they are not relative to a subject or a culture, nor purely in their nature, in opposition to error theories, scepticism and relativism. The central problem is finding the source of the required objectivity.» Simon Blackburn, The Oxford Dictionary of Philosophy, Oxford University Press, 2005, pag 121).

 

Blackburn não parece capaz de conceber que o seu «quase realismo» é um objectivismo de valores intra anima. Aliás não distingue objectivismo extra anima de objectivismo intra anima - e esta é uma das pedras de toque que distingue os filósofos profundos dos superficiais. Como se explica que Blackburn, profundo conhecedor das lógicas formal e proposicional, não consiga arquitectar um edifício coerente e multidimensional de teorias no campo da gnosiologia (objectivismo, subjectivismo, intersubjectivismo, etc)?  Explica-se pelo facto de as leis da lógica serem meras estruturas abstractas de ordenação destituídas do poder de determinar a verdade material de conceitos e juízos, destituídas de intuição noética, isto é, do pensar intuitivo e a-lógico (noein) e Blackburn não possuir este noein em  grau muito elevado. Neste caso, Blackburn não distingue entre objectivismo interior (intra anima) e objectivismo exterior (extra anima) e nem um «inspector de circunstâncias», instrumento da lógica, o pode ajudar a discernir isso. O muito saber na lógica formal não evita a má filosofia, recheada de paralogismos, porque a filosofia é substancial, não é feita apenas de raciocínios mas de intuições inteligíveis, como uno, ser, eterno, e de conceitos empíricos, como ditadura, democracia, utilidade, individualidade, cor, substância concreta, gerar-se, corromper-se. De qualquer modo, Blackburn parece-me intelectualmente superior a Peter Singer, um académico de mediana qualidade que goza de um prestígio exagerado e imerecido a nível internacional. Singer aliás ofuscou, pela marginalização (censura discreta), as teorias dos que o fariam revelar-se um filósofo de terceira classe: no seu volumoso " A companion to Ethics" (Compêndio de Ética, 1991, 1995) Singer evitou desenvolver, por pouco que fosse, a doutrina ética de Max Scheller que reduziria a proporções teóricas diminutas o teor das éticas de Singer, James Rachels, Jonathan Dancy e outros.

 

 

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