A palavra existência, capital em filosofia, vem do latim ex (fora) + sistere (estar). Significa, pois, estar fora. Esta palavra deveria ter, no vocabulário filosófico, outra que lhe servisse de contraponto: insistência, isto é,in (dentro, para dentro) sistência (estância, acto de estar), isto é, estar dentro, interioridade. Heidegger queixou-se, com razão, da insuficiência do vocabulário para traduzir certos estados de espírito, certas estruturas ou modos do ser e do acontecer. A in-sistência é mas não ex-iste. Kierkegaard disse algures que «Deus é, não existe, o homem não é, existe». A realidade não se limita à existência mas também à modalidade real da inexistência. Por outras palavras: real vai além de existente, engloba também o insistente, a interioridade não manifesta. O pensamento move-se da existência concreta para a insistência abstracta e viceversa.
Toda a essência conceptual ou ideal é uma insistência mas a essência em geral deveria distinguir-se da insistência ou estado de interioridade, que é uma sua propriedade acidental. Pode conceber-se uma in-sistência vazia, sem essências, como se pode conceber vazia a tela de um cinema antes de aí serem projectadas as imagens de um filme (essências). Nada impede que a essência seja o exterior, a forma visível e palpável, relativamente estável, da existência da coisa. Nada impede que haja essência plasmada apenas na existência, na exterioridade. O que caracteriza fundamentalmente a essência não é o ser interior a mas o ser forma ou conjunto de notas fundamentais de uma coisa. A essência é forma, diferente de espaço interior ou exterior em que se integra sem esquecer que espaço ou infinito das formas é também uma essência geral.
O ser é, assim, dupla consistência ou presença: insistência e existência. O ser determinado, isto é, dotado de forma, matéria, etc, é essência. Subsistência traduz outra coisa diferente de insistência: estar em posição inferior, estar debaixo de. Não é exactamente o mesmo que insistência ainda que, em certo sentido, possam ser sinónimas as expressões «o ser subsiste por si mesmo» e «o ser insiste por si mesmo».
A palavra insistência funciona como reiteração de algo. O ser reitera-se constantemente como presença contínua, permanência, estar com duração indefinida.
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