O CORPO- Ainda que o neguemos, por via de uma educação espiritualista e platonizante, amamos o corpo do ser amado - e tanto mais quanto mais fôr jovem e belo. Não se ama só o corpo, mas também a electricidade que o anima, o espírito, o charme sexy do outro. Difícil é estabelecer a proporção exacta de amor à carne, à forma plástica, e ao espírito, à forma não plástica... Talvez seja o número de oiro: 1,618. A favor do corpo. Isto daria 38,2% de amor ao espírito e 61,8% de amor ao corpo... Tudo muito matemático, tudo muito discutível.
OS TIPOS COMO EU - Os tipos como eu, excêntricos (verdadeiros intelectuais, modéstia àparte) passam largos períodos de travessia do deserto quando lhes salta da mão a mulher perfeita que amaram: não se contentam com meias tintas, com ventres obesos de mulher e rostos enrugados, com trintonas, quarentonas e cinquentonas com formação superior ou sucesso empresarial, por isso preferem a solidão. Necessitam de mulheres jovens (idade ideal: 25-30) para os inspirarem nas artes do pensamento que são também as artes do amor...
O AMOR ETERNO - É apenas a expectativa, persistente e vivamente sentida dentro de ti, do número de vezes que levas uma mulher (ou um homem) para a cama. O amor é tanto mais eterno quanto mais forte a imaginação. Mas de facto, nada há de eterno excepto o espírito e a matéria como determinações gerais das coisas. O amor é uma coisa.
INDIVIDUAÇÂO - 17 de Maio de 2012, cerca das zero horas. Ante um copo de bom vinho e queijo de cabra fatiado, num restaurante de Beja, Nuno tem finas observações que recolho e medito:
«Hoje a individuação desapareceu nas grandes cidades. Há demasiada população no mundo. As pessoas são números, átomos no meio da multidão. Aqui em Beja ainda somos reconhecidos na nossa individualidade, conhecem-nos pelo nome, traçam o nosso retrato psicológico. Os músicos e artistas criativos se fizerem músicas ou pintarem quadros que se afastem do comum do que a editora discográfica ou a galeria de arte vendem são marginalizados. Só triunfa e só vai à televisão, aos programas do Goucha, do Jorge Gabriel ou da Júlia Pinheiro, quem as editoras querem. E estas muitas vezes impõem ao músico alterar a obra original para se vender melhor. Desfazem a criatividade da obra».
Se a individuação desapareceu, desaparece com ela a filosofia, enquanto pensar genuíno do indivíduo. E a robotização do pensamento através da lógica proposicional e das teses redutoramente equívocas da filosofia analítica demonstram isso mesmo. Até que ponto a tomada das faculdades de filosofia nas academias por esta corrente antimetafísica não terá sido congeminada e decidida nos círculos de Bilderberg e afins, para descafeinar a filosofia e torná-la serva da «teologia» da nova ciência da electrónica e da medicina alopática e da «teologia política» da nova ordem mundial?
LESBIANISMO E FIDELIDADE CONJUGAL- 16 de Maio de 2012. Em conversa com Nuno, descubro que pensa como eu no capítulo da fidelidade conjugal. Diz: «Eu aceitaria a minha esposa na mesma, caso ela tivesse uma aventura com uma lésbica. Mas se a infidelidade fosse com um homem, não» . Surpreendo-me com esta opinião incomum e digo: «Penso exactamente assim, Nuno. Se a nossa esposa se entrega a outro homem isso fere mortalmente a nossa confiança nela e mina a autoconfiança de cada um de nós».
Obviamente, eu não sou deste tempo, nesta matéria. O marido de vanguarda, hoje, fecha os olhos às escapadelas sexuais da esposa e interpreta-a como um feixe e uma paciente de múltiplas atrações sexuais que o casamento não consegue anular, senão reprimindo.
OS DEUSES - Tenho conversas filosóficas frequentes com um amigo literato e chegamos à conclusão que os deuses troçam de nós. Diz o meu amigo: «Eles têm livro de instruções sabem o que podem esperar de nós e o que fazem. Nós, ao contrário, fomos postos aqui sem livro de instruções e encontramos um muro sem saber o que há para além dele, sem saber como agir com conhecimento».
Dedico-me ao estudo da astrologia histórico-social - a única científica - para detectar alguns dos lances que temos no nosso destino. Porque creio que nem os deuses têm poder de impedir o girar dos astros no céu e a influência determinante destes sobre tudo o que fazemos e pensamos.
SINCRONISMOS ONTOFONÉTICOS- A cada passo, comprovo a minha teoria da ocorrência simultânea, ou quase, de factos com onomástica e ideação similares, no mesmo dia ou em cada dois dias contíguos. Exemplos não faltam.
De 20 a 22 de Maio de 2012, as ideias de BELO, ROSSIO e ABRA em foco: no dia 20, CiBELE (evoca: BELA) Queiroz cumpre aniversário, a imprensa mundial exalta a vitória do Chelsea, clube de ABRAmovich, na final da Liga de Campeões, na véspera; no dia 22, no cine Pax Júlia em Beja, é exibido, em duas sessões, o magnífico filme «FlorBELA», e no final da exibição, o realizador Vicente do Ó declara que se tivesse mais do que os 600 000 euros que conseguiu para financiar o filme teria recriado cenas de 1927 no ROSSIO de Lisboa e faz argutos comentários sobre a parolice reinante em Lisboa e o carácter manipulador de jovens de programas televisivos como o «Ídolos», uma máquina de inspecção de vias férreas choca com um automóvel no ROSSIO ao sul do Tejo, em ABRantes (evoca: ABRA), o «Correio da Manhã» publica, como todas as terças-feiras, mais um acutilante artigo de Paulo Morais em que este alude ao deputado Manuel SeABRA (evoca: ABRA), agente de lobbies económicos, escrevendo que «já ao nível da AR, foi recentemente constituída uma comissão para avaliar as parcerias público-privadas mas esta não oferece garantias de independência; sem qualquer pudor, os partidos nomearam para seus membros deputados como o social-democrata Emídio Guerreiro, o socialista Manuel SeABRA, o centrista Altino Bessa, parlamentares cujos interesses no imobiliário os torna parceiros num sector cujos autores dominantes são exactamente os concessionários das PPP».
Em 10 de Maio de 2012, SAS e QUEDA DE FALÉSIAS em foco: o pianista Bernardo SASSeti, de 41 anos, morre ao cair de uma FALÉSIA em Cascais, enquanto fotografava, o telejornal da TVI mostra imagens do derrube por uma máquina-grua de cumes de FALÉSIA numa das 75 praias do Algarve onde há arribas em risco de desmoronamento, noticia-se a morte por leucemia do cabeleireiro britânico Vidal SASSon, de 84 anos.
Em 8 de Maio de 2012, a ideia de RAPAZ DERRUBADO DE VEÍCULO DE DUAS RODAS está em foco: na Avenida Fialho de Almeida, em Beja, junto à Escola Secundária Dom Manuel, um ADOLESCENTE é DERRUBADO COM O SEU MOTOCICLO ao chocar contra uma carrinha de transporte de valores e fica entre a vida e a morte, ficando também gravemente ferida uma rapariga que o acompanhava, à noite é exibido em sessão única no cine Pax Julia, em Beja, o belo filme «O miúdo da BICICLETA» em que Cyril, um pré-adolescente de 10-11 anos, é DERRUBADO DA SUA BICICLETA por um rapaz mais velho que se quer vingar dele.
Se o filme «O miúdo da bicicleta», com cenas de derrube de miúdos que vão numa bicicleta, não viesse a Beja neste dia 8 de Maio haveria o brutal acidente em Beja com o derrube de dois adolescentes que iam num motociclo?
AS HOMENAGENS A MIGUEL PORTAS- Miguel Portas, ex militante do PCP, dirigente e eurodeputado do Bloco de Esquerda, nascido em 1 de Maio de 1958, faleceu em 24 de Abril de 2012. As homenagens à sua memória uniram pessoas de diversos quadrantes políticos: desde o ex salazarista Pedro Santana Lopes até ao ex troskista Francisco Louçã, passando pelos sociais-democratas e socialistas membros do grupo de Bilderberg Francisco Pinto Balsemão, Jorge Sampaio, António Costa e outros, e pela burguesia lisboeta que apreciava a postura elegante e o discurso simultaneamente conciliador e contestatário de Miguel Portas. Mas quando a burguesia chora a morte de um «deputado revolucionário» a pergunta impõe-se: era Portas um revolucionário anticapitalista ou apenas um reformista de esquerda posicionado para travar os «excessos» da revolta popular, diluindo-a na acção parlamentar?
© (Direitos de autor para Francisco Limpo de Faria Queiroz)
São Tomás de Aquino escreveu:
«Mas, como se disse, a determinação da espécie, em relação ao género, realiza-se por meio da forma,enquanto que a determinação do individual, em relação à espécie, por meio da matéria.» (Tomás de Aquino, O Ente e a Essência, Contraponto, pag. 80-81; o negrito é meu).
Esta tese aristotélica é ilógica. A individuação é aqui confundida com materialização. Sendo, por definição, a matéria prima destituída de forma, toda ela geraria a mesma coisa se unida com uma dada forma ou essência. Seria uma materialização sem verdadeira individuação. Esta seria meramente numérica mas não quiditativa. Por exemplo, a forma específica homem unida à matéria prima (hylé) geraria uma série de homens absolutamente iguais entre si. O que permite distinguir um homem do outro, isto é, revelar o quid de cada um? É a matéria prima, pura? Não. É uma matéria impregnada de uma dada forma aqui e outra ali.
É, pois, pela forma imanente à matéria que os diversos indivíduos se distinguem entre si.
© (Direitos de autor para Francisco Limpo de Faria Queiroz)
O Dicionário de Filósofos, de Noella Baraquin e Jacqueline Lafitte, sem embargo de ser aparentemente uma obra de elevada qualidade filosófica, comporta erros sobre a teoria de Aristóteles, particularmente na doutrina da forma e da essência e na doutrina das quatro causas.
A FORMA (MORPHÈ) NÃO É A ESSÊNCIA (EIDOS)
Refere o dicionário a respeito da forma, da essência e das causas no sistema de Aristóteles:
«A forma sob a qual a coisa aparece constitui a sua essência e é indissociável da matéria (hilemorfismo). Ela é também o princípio que lhe confere a existência e que faz com que um ser pertença a uma dada espécie (princípio de individuação).»
«Assim, a existência de outras espécies corresponde ao movimento, à mudança de ordem do lugar, da quantidade e da qualidade.»
«A substância depende de quatro causas: material (o elemento), formal (a forma, o modelo), a causa eficiente ou motriz (o agente que actualiza o potencial) a causa final (que não é senão a substância ou essência, a forma para a qual tende a matéria.»
«Sendo agente e fim uma e a mesma coisa que a forma, as causas são redutíveis à forma e à matéria.» (Noella Baraquin e Jacqueline Lafitte, Dicionário de Filósofos, Edições 70, Pág 31-32).
Antes de mais, importa, rectificando o dicionário, frisar que a forma sob a qual a coisa aparece não constitui a sua essência no quadro do pensamento de Aristóteles: a forma individualizada, última, da coisa, é diferente da essência ou forma específica (eidos) que está na sua génese. A essência (eidos) precede a forma singular (morphé) porque esta resulta da impressão daquela na matéria-prima. Se a forma fosse a essência, diríamos que a forma Sócrates ou a forma Platão seriam a essência destes, o que Aristóteles nega rotundamente.
Também na citação acima é confusa a referência ao princípio da individuação. Não é este que faz com que um ente pertença a uma dada espécie, mas sim o princípio da especificação, a forma comum. A individuação conferida pela matéria afasta a coisa da espécie, singulariza.
AS QUATRO CAUSAS NÃO SE REDUZEM A DUAS, A FINAL NÃO É A FORMAL
A causa final está mal definida de um modo geral: confunde-se com a causa formal.
Reduzir as causas eficiente, formal e final a uma só é um equívoco: significaria dizer que o fabricante do relógio (causa eficiente), a forma do relógio (causa formal) e a contagem do tempo (causa final) são a mesma coisa, o que é absurdo.
Ora esta redução das quatro causas a duas é negada, em partes capitais da «Metafísica», pelo próprio Aristóteles que escreveu:
«Chama-se causa, num primeiro sentido, a matéria imanente da qual se faz algo; por exemplo, o bronze é causa da estátua, e a prata da taça, e também os géneros destas coisas. Em outro sentido, é causa a espécie e o modelo; e este é o enunciado da essência e os seus géneros (por exemplo, da oitava musical, a relação de dois para um, e, em suma, o número); e as partes que há no enunciado. Ademais, aquilo de onde procede o primeiro princípio da mudança ou da quietude; por exemplo, o que aconselhou é causa da acção, e o pai a causa do filho e, em suma, o agente, do que é feito, e o que produz a mudança do que a sofre. Ademais o que é como o fim; e isto é aquilo para o que algo se faz, por exemplo, do passear é causa a saúde. Porquê, com efeito, se passeia? Dizemos: para estar são.»
(Aristóteles, Metafísica, Livro V, 1013 a, Edición trilingue, Gredos, Madrid, pág 218-219)
Vemos que a definição do Dicionário «a causa final (que não é senão a substância ou essência, a forma para a qual tende a matéria.» está genericamente errada, uma vez que em numerosos casos a finalidade não é forma mas sim um estado afectivo ou qualidade. Exemplo: a causa final de um almoço de amigos não é a comida (substância ou essência) mas sim o convívio alegre e fraterno e a manutenção do corpo.
A causa final não é, em muitos casos, a forma acabada, perfeita (a enteléquia) por exemplo, o corpo perfeito que, num homem idoso, já não pode acontecer - mas um outro estado: a saúde, no exemplo dado por Aristóteles. Sob um ponto de vista orgânico-biológico poder-se-ia dizer que a causa final do bebé é um corpo de jovem adulto o que daria alguma razão às autoras do Dicionário mas a definição de causa final continua a ser deficiente, errónea em geral.
Mesmo que Aristóteles nalgum texto tivesse escrito que as quatro causas se reduzem a duas o que é possível, dado que há incoerências dentro do texto da Metafísica e em outros textos aristotélicos é equívoco colocar essa tese num Dicionário de Filosofia como corolário da teoria das quatro causas.
© (Direitos de autor para Francisco Limpo de Faria Queiroz)
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