Eis um teste sem perguntas de escolha múltipla, simplistas, em tempos de suposta pandemia muito útil à indústria das vacinas e ao poder global.
Agrupamento de Escolas nº1 de Beja
Escola Secundária Diogo de Gouveia , Beja
TESTE DE FILOSOFIA, 11º ANO TURMA C
26 de Fevereiro de 2021. Professor: Francisco Queiroz
I
“A concepção de ciência em Karl Popper, em particular os seus conceitos de verificação, corroboração e critério de demarcação, não coincidem por completo com a teoria da incomensurabilidade de paradigmas de Thomas Kuhn. Gaston Bachelard afirmou que em ciência «Nada é natural. Nada é dado. Tudo é construído» o que implica haver obstáculos epistemológicos..
1) Explique estes pensamentos.
2) Relacione, justificando
A) A lei do salto qualitativo e as revoluções científicas na teoria de Kuhn.
B) Facto bruto, facto científico e racionalidade.
C) Positivismo lógico do Círculo de Viena, Indução e Enunciados Metafísicos
D) Anarquismo epistemológico e inteligência do homo sapiens inventor dos mitos segundo Paul Feyerabend..
E) A observação e outras fases do método hipotético dedutivo e a observação segundo Popper.
F) Lei dialética da contradição principal e princípio do terceiro excluído.
CORREÇÃO DO TESTE COM A COTAÇÃO MÁXIMA DE 20 VALORES
1) Karl Popper afastou-se do circulo de Viena, uma vez que adotou em parte a linha de pensamento de David Hume, duvidando da indução amplificante. O método que perfilha Popper é o das conjeturas e refutações, método falsificacionista. Para Popper é impossível verificar as teses de uma ciência, excepto a matemática, uma vez que isso implicaria que observássemos milhares de milhões de exemplos e deste modo só é possível a corroboração – confirmação de alguns exemplos através da testabilidade, ou seja, realização de testes experimentais. Segundo Popper nós aproximamo-nos da verdade mas nunca a alcançamos e entra aqui a questão do dogmatismo/ceticismo: Popper é dogmático em acto e cético em potência ou é sempre céptico, conforme as leituras Aceita como cientificas provisoriamente as teses que resistam a tentativas de refutação e falsificação feitas pelos testes experimentais e pela discussão teórica racional. O critério da demarcação em Popper é a diferenciação. Kuhn não tem uma preferência, ao contrário de Popper que consegue meter-se do lado de uma ciência, uma vez que não acredita nas que designa como pseudo-ciências(astrologia, benzeduras, cura pela argila, cura pelos cristais, xamanismo, etc). Incomensurabilidade dos paradigmas é a impossibilidade de comparar o valor de paradigmas (modelos científicos) opostos. Deste modo não podemos saber se a conceção da Terra esférica é superior em valor à conceção da Terra plana, ainda que algumas pessoas possam dizer que a primeira é a mais correta porque assenta em fotografias tiradas do espaço e a segunda é errónea. Popper mete-se do lado do paradigma que acha mais certo. (VALEQUATRO VALORES).
Bachelard sustenta que na ciência nada é dado porque tudo ou quase tudo é construção racional, exemplo: a teoria do espaço-tempo de Einstein, em que mostra que o espaço fica mais curvo na proximidade de grandes massas não nos é transmitida pelos orgãos dos sentidos, mas sim pensada na razão. O obstáculo epistemológico em Bachelard é todo o entrave ao conhecimento científico: a primeira impressão, a experiênciainicial, o realismo natural, o preconceito do senso comum, a falta de tecnologia apropriada (exemplo: a falta de microscópios, reagentes químicos, bússolas, aparelhos de refrigeração,etc.) e o preconceito racial ou religioso.(VALE DOIS VALORES)
2-A) A lei do salto qualitativo é uma acumulação lenta, em quantidade, por um fenómeno que conduz de repente a um salto brusco, por exemplo: aquecemos a água numa panela e ela lentamente vai aumentando os graus até atingir os 100 graus em que ocorre este salto bruscoe a água entra em estado de vapor. Em Kuhn quando há uma nudança de paradigma, ou seja, quando um paradigma é substituído por outro dá-se um salto qualitativo, brusco, fruto de uma acumulação gradual de anomalias no paradigma normal, isto é, na ciência dominante (ex: o geocentrismo na Idade Média) . anomalias que são apontadas e fazem crescer a ciência extraordinária ou paradigma marginalizado (ex: o heliocentrismo na Idade Média) que virá a tornar-se ciência normal (ex: o heliocentrismo no século XVII com Galileu). Chama-se revolução científica porque os paradigmas são inconciliáveis entre si e um abole o outro (VALE DOIS VALORES).
2-B) O facto bruto é aquele que os orgãos dos sentidos nos oferecem, com carácter ilusório: o mármore é frio, a lã é quente, o céu diurno é azul, etc. O facto científico é a interpretação racional dos dados dos sentidos mediante a racionalidade, isto é, a ordem lógica no pensamento, a análise e síntese do quadro perceptivo e da idealidade: o mármore não é frio simplesmente é bom condutor de calor e retira electrões ao corpo humano que a ele se encosta, a lã não é quente mas é má condutora de calor e não deixa sair este do corpo que reveste, o céu diurno é negro mas parece azul devido à luz solar ao entrar na atmosfera se dispersar, etc. (VALE DOIS VALORES).
2-C) O positivismo lógico nascido em 1929 em Viena reduzia a verdade aos factos da experiência ou factos positivos e às suas relações lógicas. Postula a indução amplificante, isto é, a generalização de alguns exemplos empíricos segundo uma lei necessária, É uma corrente antimetafísica: diz que os enunciados metafísicos tipo «Deus existe, o Diabo existe», «A alma sobrevive no Além» são enunciados sem sentido, porque não podem verificar-se. (VALE DOIS VALORES)
2-D) O anarquismo epistemológico de Feyerabend é a teoria que nivela completamente as ciências universitárias com as ciências tradicionais (medicina espagírica, astrologia, numerologia, arquitectura sagrada, etc.) e práticas empíricas tradicionais (dança da chuva, benzeduras, orações). O anarquismo é contra as hierarquias, os chefes, a própria universidade considerada como cúpula do saber com as suas cátedras e doutoramentos, defende a autogestão generalizada, as fábricas e bairros dirigidos por assembleias de operários e moradores. Feyerabend não era anarquista no sentido político era-o no sentido epistémico, dizia que a universidade é dominada por homens maus, ligados a interesses carreiristas servindo a grande indústria, e deve ser aberta à astrologia, às medicinas alternativas, etc. E sustentava que os cientistas de hoje são menos inteligentes que o homo sapiens dos mitos antigos porque se especializaram e perderam a noção do todo, a visão holistica. Os homens antigos descobriram o fogo, a rotação das culturas, o poder curativo das plantas e inventaram os mitos - a psicanálise bebeu o complexo de Édipo no mito de Édipo, os ecologistas inspiram-se na filosofia da natureza viva, de Gea, da idade da pedra - e os cientistas limitaram-se a copiar e muitas vezes mal - o fumo poluidor dos automóveis e da indústria, a energia nuclear - os homens do mito. Feyerabend advoga a adoção de métodos ad hoc, improvisados para situações inesperados. Exemplo: um doente de cancro no intestino, desenganado da medicina artificial, começa a tomar argila diluída em água e a jejuar, o que sai fora da ortodoxia médica. (VALE TRÊS VALORES).
2-E) O método experimental divide-se em 4 fases: a observação ; a hipótese matematizada ou não; a dedução da hipótese; a verificação experimental que valida ou não a hipótese. Karl Popper apoiando condicionalmente este método negava que a observação neutra fosse a fase inicial porque toda a observação está impregnada de ideologia, de teoria, da subjectividade do cientista. Assim por exemplo quando observar o céu nocturno onde em 10 de Março de 2021 se verificará a conjunção entre a Lua e Júpiter, pensarei, como especialista de astronomia-astrologia, que ela se dá no grau 18 do signo de Aquário (grau 318 de longitude na eclíptica) mas as pessoas a meu lado observarão o mesmo fenómeno sem o interpretar como eu. (VALE DOIS VALORES).
2-F) A lei da contrariedade principal estabelece dois pólos: um sistema de múltiplas contrariedades é susceptível de ser reduzido a uma só grande contrariedade (dita, com imprecisão: contradição principal) agrupando num dos polos algumas contrariedades (exemplo: a Alemanha de Hitler, a Itália de Mussolini, o Japão de Hirohito, em 1941-1944) e no outro polo quase todas as outras (ex: a França livre do maquis, a Grã-Bretanha, os EUA, o Canadá, o Brasil, etc) havendo uma zona intermédia neutra (Portugal de Salazar, Espanha de Franco, etc.). O princípio do terceiro excluído estabelece a contradição, isto é, dois polos sem intermédio: uma coisa ou ideia é do grupo A ou do grupo não A, não havendo a terceira hipótese (exemplo: qualquer coisa do mundo ou é peixe ou não peixe e neste último grupo cabem os sobreiros, as planícies, os cães, os seres humanos, os computadores, etc.). Ambos, a lei dialética e o princípio, se fundam na dualidade. (VALE TRÊS VALORES).
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© (Copyright to Francisco Limpo de Faria Queiroz)
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Contrariamente à nossa posição habitual de não fazer perguntas de escolha múltipla nos testes de filosofia a que se responde com uma simples cruz, construímos, por razões de disciplina comunitária uma matriz comum solicitada pela Inspeção Geral de Ensino, e construímos um teste em que entra este tipo de perguntas.
Agrupamento de Escolas nº1 de Beja
Escola Secundária Diogo de Gouveia , Beja
TESTE DE FILOSOFIA, 11º ANO TURMA A
17 de Maio de 2017. Professor: Francisco Queiroz
GRUPO I (10 pontos x 5)
Em cada questão, indique a única resposta correcta de entre 4 hipóteses
1) O realismo gnoseológico ou ontognoseológico é a corrente que sustenta que…
A) A matéria física está dentro da nossa mente e fora da nossa mente.
B) A ideia e a matéria são uma e a mesma coisa.
C) A matéria física está fora da nossa mente e do nosso corpo.
D) O cepticismo é o mesmo que o realismo.
2) Paul Feyerabend sustentou que
A) A metafísica deve ser abolida.
B) As ciências universitárias estão livres de ideologia e de interesses de lobbies
C) A inteligência do homo sapiens do mito era superior à do homem de hoje.
D) A indução amplificante não vale nada.
3) São ciências hermenêuticas:
A) A matemática e a lógica.
B) A filosofia, a psicologia, a antropologia.
C) A biologia, a geologia, a química.
D) Aquelas que excluem qualquer interpretação e só fazem experiências.
4)O idealismo não solipsista subjectivo sustenta que:
A) A matéria é real em si mesma.
B) A matéria não é real em si mesma e cada um a inventa a seu modo pessoal.
C) Não se sabe se a matéria é real ou irreal e cada um pensa de modo diferente.D) O cepticismo é a única teoria válida.
D) O cepticismo é a única teoria válida.
5)O princípio da falsificabilidade em Popper:
A) Impede que se escolha qualquer teoria como científica.
B) Não impede que se escolha uma teoria em cada ciência na condição de ela ser tida como conjectura.
C) É a mesma coisa que o princípio da incerteza de Heisenberg.
D) Afirma que não há demarcação entre astrologia e astrofísica, valem o mesmo.
GRUPO II (60+40 pontos)
1)Explique concretamente o seguinte texto:
«O positivismo lógico difere do conjecturalismo de Popper na posição face à indução amplificante. A incomensurabilidade dos paradigmas não dá vantagem nem à ciência normal nem à ciência extraordinária segundo Kuhn. O ultra-objecto de Bachelard exige arredar os obstáculos epistemológicos.»
2)Explique os três estádios da existência segundo Kierkegaard e a afirmação «Deus é, não existe, o homem não é, existe».
GRUPO III (50 pontos)
Explique concretamente o seguinte texto:
«O ser-aí de Heidegger equivale ao ser-para-si de Sartre mas o primeiro transporta o ser ao passo que o ser-para-si carrega o nada. Para Heidegger o homem é o pastor do ser e a linguagem é a casa do ser.»
CORREÇÃO DO TESTE COTADO PARA 200 PONTOS (20 VALORES)
GRUPO I (50 PONTOS)
1-C)......................................10 PONTOS
2-C).......................................10 PONTOS
3-B).......................................10 PONTOS
4-B)........................................10 PONTOS
5-B).........................................10 PONTOS
GRUPO II (6O PONTOS)
1) O positivismo lógico, doutrina que sustenta que a verdade se limita aos factos empíricos e suas relações lógico-matemáticas, baseia-se no paradigma da indução amplificante: a partir de alguns ou muitos exemplos empíricos pode induzir-se uma lei geral necessária. Isto opõe-se ao paradigma conjecturalista anti-indutivo de Karl Popper pois, segundo este, as teses das ciências empíricas e empírico-formais não passam de conjecturas e é impossível verificar todos os exemplos correspondentes a uma dada lei (exemplo: mesmo que eu só veja milhares de cisnes brancos ninguém garante que não haja cisnes azuis ou verdes), logo a indução amplificante não tem valor dogmático científico. Apenas se pode corroborar isto é tornar verosímil uma tese de base empírica(VALE VINTE PONTOS) . A incomensurabilidade dos paradigmas é a impossibilidade de medir e comparar globalmente dois ou mais paradigmas, de os medir no seu todo. Por exemplo, é incomensurável preferir o heliocentrismo ao geocentrismo e vice-versa. Sendo a ciência normal aquela que é dominante entre a comunidade científica de uma dada época - por exemplo, a teoria do Big Bang na astrofísica é hoje a ciência normal - e a ciência extraordinária é aquela que é marginal - a teoria do universo estacionário, que não nasceu de um ovo infinitamente pequeno, de Fred Hoyle é hoje ciência extraordinária - nenhuma delas se superioriza à outra sob este ponto de vista da incomensurabilidade. (VALE 20 PONTOS). O ultra-objecto em Bachelard, que é um objecto empírico-racional, invisível no todo ou em parte, concebido pela razão (exemplo: os átomos, os quarks e leptões; os buracos negros e a matéria escura do cosmos) só é idealizado ou descoberto se removermos todo e qualquer obstáculo epistemológico, ou seja, todo e qualquer entrave ao conhecimento científico (por exemplo: a primeira experiência, algo enganadora; o preconceito; a falta de microscópios, computadores, telescópios e outros aparelhos necessários, etc)(VALE 20 PONTOS).
2)Segundo Kierkegaard, filósofo existencialista cristão, há três estádios na existência humana: estético, ético e religioso. No estádio estético, o protótipo é o Don Juan, insaciável conquistador de mulheres que vive apenas o prazer do instante, e sente angústia se está apaixonado por uma mulher e teme não a conquistar. O desespero é posterior à angústia: é a frustração sobre algo que já não tem remédio ou que se esgotou. Ao cabo de conquistar e deixar centenas de mulheres, o Don Juan cai no desespero: afinal nada tem, o prazer efémero esvaiu-se. Dá então o salto ao ético: casa-se. No estado ético, o paradigma é do homem casado, fiel à esposa, cumpridor dos seus deveres familiares e sociais. Este estado relaciona-se com o essencialismo, doutrina que afirma que a essência, o modelo do carácter ou do comportamento vem antes da existência e condiciona esta. A monotonia e a necessidade do eterno faz o homem saltar ao estádio religioso, em que Deus é o valor absoluto, apenas importa salvar a alma e os outros pouco ou nada contam. Abraão estava no estádio religioso, de puro misticismo, quando se dispunha a matar o filho Isaac porque «Deus lhe ordenou fazer isso». O estádio religioso é o do puro existencialismo, doutrina que afirma que a existência vive-se em liberdade e angústia sem fórmulas (essências) definidas, buscando um Deus que não está nas igrejas nem nos ritos oficiais. Neste estádio, o homem casado pode abandonar a mulher e os filhos se «Deus lhe exigir» retirar-se para um mosteiro a meditar ou para uma região subdesenvolvida a auxiliar gente esfomeada. A escolha a cada momento ante a alternativa é a pedra de toque do existencialismo. Kierkegaard acentuava a noção de angústia, essa liberdade bloqueada, essa intranquilidade que surge antes ou durante muitos actos decisivos (exemplo: a angústia do aluno antes de saber a nota do teste, a angústia da mãe antes do parto, etc). Kierkegaard situa o paradoxo no interior do estado religioso e diz que se deve amar e seguir a vontade de Deus apesar de não compreendermos esta. (VALE TRINTA PONTOS).a afirmação «Deus é, não existe, o homem não é, existe» significa que Kierkegaard atribui ao termo «ser» e «é» o sentido de eternidade e imutabilidade, própria de um Deus incriado e indestrutível, e ao termo «existe» os sentido de nascimento/crescimento/eclínio/morte e alteração a cada momento, traços da condição humana (VALE 10 PONTOS).
GRUPO III (50 PONTOS)
1) O ser-aí, na teoria de Heidegger, é cada homem na sua subjectividade que carrega dentro de si o ser, isto é, a essência geral do universo e da humanidade e equivale ao ser-para-si que, em Sartre, é a consciência pensante, distinta do ser em si que é o mundo dos corpos (árvores, automóveis, animais, etc ) - que carrega em si o nada porque Sartre afirma que, ao nascer, não somos nada, psíquicamente falando, nem bons nem maus (VALE 30 PONTOS). Para Heidegger, o homem é o pastor do ser significa que o ser, a essência geral humana e inumana, é o patrão do ser-aí, isto é de cada homem: o ser chama uns a ser pintores, outros a ser operários fabris, outros a ser professores, sacerdotes, navegadores, agricultores, obriga todos a respeitar a tradição cultural do seu país, etc. A linguagem é a casa do ser significa que, apesar da sua natureza transcendente e imanente ao homem e ao mundo, a linguagem não é arbitrária, não diz ao acaso, refere-se a uma estrutura ordenada a que chamamos ser e designa as várias modalidades deste: ser-aí, ser com, ser no mundo, ser junto a, ser para a morte, etc. (VALE 20 PONTOS).
© (Direitos de autor para Francisco Limpo de Faria Queiroz)
Eis um teste de filosofia fora do estereótipo dos testes que os autores dos manuais escolares da Porto Editora, Leya, Santillana, Areal Editores, etc, divulgam. E sem questões de escolha múltipla que, frequentemente, são incorrectamente concebidas por quem não domína o método dialético e desliza para a horizontalidade da filosofia analítica vulgar.
Agrupamento de Escolas nº1 de Beja
Escola Secundária Diogo de Gouveia, Beja
TESTE DE FILOSOFIA, 11º ANO TURMA B
11 de Maio de 2016. Professor: Francisco Queiroz.
I
«A incomensurabilidade dos paradigmas, na teoria de Thomas Kuhn, é compatível com as revoluções científicas que implicam dois tipos em cada ciência. O ser de Parménides não é, segundo alguns, o mesmo que o ser em si e o ser-para-si na teoria existencialista de Sartre. Sartre afirmou que «O inferno é o Outro», Kierkegaard sustentou que «Deus não existe, é, o homem existe, não é».
1) Explique estes pensamentos.
2)Relacione, justificando:
A) Os três estádios da existência em Kierkegaard, salto, desespero e paradoxo .
B) Realismo crítico, e doutrina de Einstein
C) Princípio da incerteza de Heinsenberg, cinto protector e heurística na epistemologia de Imre Lakatos, e conjecturas e testabilidade em Popper.
CORREÇÃO DO TESTE COTADO PARA 20 VALORES
1) A incomensurabilidade dos paradigmas é a impossibilidade de medir exactamente o valor de cada doutrina científica e das suas rivais: não se pode dizer que o heliocentrismo é melhor que o geocentrismo, em termos globais, ainda que se possa dizer que, neste ou naquele aspecto (exactidão/experimentação, fecundidade, etc) um deles é superior ao outro. É compatível com a teoria das revoluções científicas em Kuhn. Esta consiste em afirmar que as ciências se desenvolvem segundo a lei do salto de qualidade: durante décadas ou séculos uma ciência é aceite pela comunidade científica e designa-se por ciência normal mas vão-se acumulando lentamente anomalias até que surge um paradigma ou modelo teórico oposto, chamado ciência extraordinária que acaba por substituir a ciência até então dominante (revolução científica) . (VALE TRÊS VALORES) O ser em Parménides é uma essência abstracta, eterna, imutável: é uno, homogéneo, imóvel, esférico, contínuo, invisível e imperceptível aos sentidos, coincidindo com o pensar ou sendo alcançável pelo pensar (consoante as interpretações idealista ou realista). É diferente do ser em Sartre pois este último reveste-se de duas modalidades materializáveis e mutáveis: o ser em si (os objectos físicos da natureza e da sociedade: os rios, as casas, as classes sociais no aspecto económico e material) e o ser para si (a consciência humana, individual ou colectiva). (VALE QUATRO VALORES) Sartre afirnou que «o inferno é o outro» o que pode ser explicado assim: a mulher que amamos ou o amigo a quem confiamos os nossos segredos podem tornar-se um «inferno» para nós se nos atraiçoarem, roubarem, difamarem ou agredirem fisicamente. Kierkegaard diz que Deus é, atribuindo ao termo é o sentido de existência eterna sem alterações, e disse que o homem não é, visto que a existência humana está em incessante mudança não é algo de fixo, invariável. (VALE TRÊS VALORES).
2-A) Segundo Kierkegaard, filósofo existencialista cristão, há três estádios na existência humana: estético, ético e religioso. No estádio estético, o protótipo é o Don Juan, insaciável conquistador de mulheres que vive apenas o prazer do instante, e sente angústia se está apaixonado por uma mulher e teme não a conquistar. O desespero é posterior à angústia: é a frustração sobre algo que já não tem remédio ou que se esgotou. Ao cabo de conquistar e deixar centenas de mulheres, o Don Juan cai no desespero: afinal nada tem, o prazer efémero esvaiu-se. Dá então o salto ao ético: casa-se. No estado ético, o paradigma é do homem casado, fiel à esposa, cumpridor dos seus deveres familiares e sociais. Este estado relaciona-se com o essencialismo, doutrina que afirma que a essência, o modelo do carácter ou do comportamento vem antes da existência e condiciona esta. A monotonia e a necessidade do eterno faz o homem saltar ao estádio religioso, em que Deus é o valor absoluto, apenas importa salvar a alma e os outros pouco ou nada contam. Abraão estava no estádio religioso, de puro misticismo, quando se dispunha a matar o filho Isaac porque «Deus lhe ordenou fazer isso». O estádio religioso é o do puro existencialismo, doutrina que afirma que a existência vive-se em liberdade e angústia sem fórmulas (essências) definidas, buscando um Deus que não está nas igrejas nem nos ritos oficiais. Neste estádio, o homem casado pode abandonar a mulher e os filhos se «Deus lhe exigir» retirar-se para um mosteiro a meditar ou para uma região subdesenvolvida a auxiliar gente esfomeada. A escolha a cada momento ante a alternativa é a pedra de toque do existencialismo. Kierkegaard acentuava a noção de angústia, essa liberdade bloqueada, essa intranquilidade que surge antes ou durante muitos actos decisivos (exemplo: a angústia do aluno antes de saber a nota do teste, a angústia da mãe antes do parto, etc). Kierkegaard situa o paradoxo no interior do estado religioso e diz que se deve amar e seguir a vontade de Deus apesar de não compreendermos esta. (VALE TRÊS VALORES).
2) B) O realismo crítico é a teoria que afirma que há um mundo material anterior às mentes humanas e independente destas que o captam de maneira distorcida. O realismo crítico em Descartes consiste em postular o seguinte: há um mundo de matéria exterior às mentes humanas, feito só de qualidades primárias, objetivas, isto é, forma, tamanho, número, movimento. As cores, os cheiros, os sons, sabores, o quente e o frio só existem no interior da minha mente, do organismo do sujeito, pois resultam de movimentos vibratórios de partículas exteriores já que o mundo exterior é apenas composto de formas, movimentos e tamanhos. .Assim, a rosa não é vermelha, é apenas forma e tamanho. O ramo de rosas é apenas formas, tamanho e um certo número de unidades, não tem cor, nem cheiro, nem peso. O mármore não é frio nem duro, o céu não tem cor. Podemos dizer que a doutrina de Einstein é um realismo crítico na medida em que sustenta as seguintes teses, entre outras:
a) O espaço e o tempo não são realidades separadas, existe o espaço-tempo variável de lugar a lugar, não há um tempo absoluto universal.
b) O espaço-tempo não é feito de planos sobrepostos e linhas rectas como sustenta a geometria , é irregular e encurva na proximidade de grandes massas (exemplo: a esfera de metal deforma o lençol esticado, criando uma cova no centro).
c) A luz cuja velocidade é 300 000 quilómetros por segundo acompanha a curvatura do espaço tempo, não viaja em linha recta (um raio de luz lançado em direção a uma estrela tenderia a voltar à Terra dado que o universo é fechado)
d) Quem viajasse a uma velocidade próxima da da luz envelheceria muito mais lentamente do que os habitantes da Terra;
e) A massa de um corpo aumenta com o aumento da sua velocidade de deslocação. (VALE TRÊS VALORES)
2-B ) O princípio da incerteza de Heisenberg estabelece ser impossível conhecer em simultâneo a velocidade e a posição de um electrão ou partícula do mesmo género microfísico: ou se conhece a velocidade ou se conhece a posição, o que sugere a nuvem electrónica, uma «fotografia» de um turbilhão. Imre Lakatos, epistemólogo, defendeu que a ciência se estrutura em Programas de Investigação Científica (PIC). Cada um destes tem três níveis: o núcleo duro, conjunto das teses imutáveis; o cinto protector, conjunto das teses revisíveis, que podem ser rectificadas ou substituídas; a heurística, conjunto dos métodos de investigação livre, teórica e prática, que pode confirmar ou anular o PIC. Karl Popper sustenta que as ciências empíricas ou empírico-formais não passam de conjuntos de conjecturas, hipóteses,na linha de David Hume, duvida da indução amplificante, achando que há sempre excepções a uma dada lei da natureza e considera ser impossível verificar essa lei pois teríamos de estudar centenas de milhar ou milhões de exemplos concretos. Popper diz que só é possível a corroboração ou confirmação de alguns exemplos através da testabilidade, isto é, realização de testes experimentais. Assim a incerteza real ou potencial é comum a Heisenberg, ao cinto protector de Lakatos e às conjecturas de Popper. .(VALE QUATRO VALORES).
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