Vários autores da área da lógica sustentam que o conceito de absurdo se situa fora do eixo verdadeiro-falso.
Eis o que se lê num manual de filosofia português para o 10º ano de escolaridade:
«Há ainda frases declarativas que não são nem verdadeiras nem falsas - não têm valor de verdade - são absurdas.
Exemplos:
«A saudade é amarela.»
«O infinito está deitado.»
(in Filosofia 10º ano, Areal Editores, de Maria Margarida Moreira, revisão de Álvaro dos Penedos, página 30).
Em primeiro lugar, não é absurdo sustentar que a saudade é amarela. Os sentimentos podem exprimir-se através de cores invisíveis como dizem os místicos que, supostamente, vêem a aura de cada ser humano. É provavelmente falso, ou provavelmente verdadeiro, que a saudade seja amarela mas não é absurdo.
Deverá dizer-se, com rigor, que o conceito de absurdo, isto é, ilógico, contrário à razão ou à ordem da natureza, encontra-se ora no campo do falso ora no campo além do dilema verdadeiro-falso comprovado, ou seja, no terreno do provável (verosímil-inverosímil).
Ao contrário do que sugere este manual, o absurdo é, frequentemente, uma modalidade do falso confirmado e, nos restantes casos, uma modalidade do provavelmente falso.
Exemplos de absurdo como falso comprovado: «Quatro é igual a doze vezes doze»; «aquele fardo de palha era um cavalo há minutos atrás».
Exemplo de absurdo como provavelmente falso: «O infinito nasceu do nada e este nasceu do infinito».
O absurdo pertence sempre à qualidade do falso, em acto ou em potência. Do mesmo modo que o conceito de validade pertence sempre à noção de verdade, em acto ou em potência. Logo, aqueles que propagam a tese de que «os argumentos são válidos ou inválidos mas nunca verdadeiros ou falsos» e que dizem que «validade está totalmente separada da verdade, situa-se além desta» lavram em erro: validade é verdade formal,
abstracta, esquemática, potencial e verdade (substancial) é realidade comprovada.
© (Direitos de autor para Francisco Limpo de Faria Queiroz)
Livraria online de Filosofia e Astrologia Histórica