Nicolai Hartmann, o fundador de uma ontologia analítica, identifica erroneamente subjetivismo com idealismo:
«É indispensável, se se quer dar à teoria do conhecimento um fundamento ontológico, que se possa demonstrar a existência de um irracional. Sem dúvida, bastaria em rigor provar que há um ser-em-si, para cortar pela raíz todo o subjetivismo. Mas esta prova só poderia ser fornecida permanecendo nas generalidades; ela daria simplesmente o ponto de vista abstrato da realidade ôntica em geral. Isso bastaria para cortar rente todas as formas de idealismo especulativo desde que o idealismo pretende trazer uma explicação positiva da origem do ser recorrendo seja ao subjetivismo seja à lógica; mas isso não suprimiria a possibilidade do ceticismo, a epoché puramente negativa.»
(Nicolai Hartmann, Les principes d´une méthaphisique de la connaissance, Tome I, pag 320, Aubier, Editions Montaigne, Paris, 1945; o negrito é posto por mim).
Há erros noológicos importantes no pensamento de Hartmann aqui expresso. Existir o ser-em-si não elimina o subjetivismo, isto é, a teoria segundo a qual a verdade gnosiológica, ética, estética, etc, varia de sujeito a sujeito, é moldada de forma diferente no interior de cada consciência. Existe o ser-em-si chamado aparelho de Estado - governo, parlamento, finanças públicas, corpos de polícia e exército, escolas, hospitais e as respetivas sedes físico-arquitetónicas - e há uma multiplicidade de interpretações a favor ou contra esse ser-em-si, uma multiplicidade de subjetivismos. Um defende o regresso do Estado à forma monárquica corporativa, outro à forma de monarquia liberal constitucional, outro preconiza o Estado social-democrata, outro a extinção do Estado a favor do poder popular autogestionário, etc.
Também não é correto colocar em disjunção subjetivismo e lógica: «recorrendo seja ao subjetivismo, seja à lógica». O subjetivismo não se opõe, por essência, à lógica: cada subjetividade desenha uma lógica própria, particular, usando princípios lógicos gerais como o princípio da não contradição. Subjetivismo opõe-se a objetivismo como contrário, lógica opõe-se a absurdo como contrário. Saibamos arrumar as espécies e os géneros nas respetivas prateleiras.
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