Hannah Arendt (nascida Johanna Arendt; Linden, Alemanha, 14 de outubro de 1906 – Nova Iorque, Estados Unidos, 4 de dezembro de 1975) filósofa política alemã de origem judaica, discípula de Heidegger de cujo totalitarismo político se demarcou, possui diversos equívocos no seu pensamento, sem embargo da sua vasta cultura e de ser uma pensadora notável.
VONTADE COMO LIVRE-ARBÍTRIO OPÕE-SE A VONTADE COMO INÍCIO?
Escreveu a filósofa judia:
«Na minha discussão da Vontade mencionei repetidamente duas maneiras completamente diferentes de compreender essa faculdade: como uma faculdade de escolha entre objectos ou metas, o liberum arbitrium, que actua como árbitro entre fins dados e delibera livremente sobre os meios para os alcançar; e, por outro lado, como a nossa «faculdade de iniciar espontaneamente uma série no tempo» ou o «initium ut homo creatus est» de Agostinho, a capacidade do homem para iniciar porque ele próprio é um início».
(Hannah Arendt, A vida do Espírito, volume II-Querer, Instituto Piaget, páginas 174-175; o destaque a bold é posto por nós)
Há alguma falta de clareza nesta dicotomia estabelecida por Hannah Arendt: o livre-arbítrio inclui a «faculdade de iniciar espontaneamente algo no tempo.» Qualquer acto de livre-arbítrio é um início: se escolho, após demorada reflexão, frequentar um templo budista ou militar num partido político estou a usar a vontade como iniciadora de um processo. Portanto, o dilema que Arendt apresenta acima é um falso dilema: vontade com livre-arbítrio inclui vontade como força iniciadora, não se opõem entre si. O verdadeiro dilema, que Hannah Arendt não põe em relevo, ao menos nesta passagem, é o que opõe a vontade consciente, como livre-arbítrio, à vontade insconsciente, cega e transpessoal em Schopenhauer, que nos leva a criar o mundo fenoménico das árvores, rios e céus, e à vontade inconsciente como pulsão libidinal ou pulsão de Eros, em Freud, que nos leva a sexualizar tudo, isto é, a olhar as pessoas como objectos eróticos, em diferentes graus.
A OMISSÃO DE SCHOPENHAUER, ARAUTO DA VONTADE TRANSPESSOAL
Hannah Arendt discorre sobre a Vontade, na história da filosofia, no seu livro «Vida do Espírito, II, Querer. E considera Heidegger superior a Schelling no aspecto em que este último teorizou a Vontade personificada ao passo que Heidegger sustentaria a Vontade não personificada. Escreve:
«Foi nesta região de pura especulação que apareceu a Vontade durante o curto período do Idealismo Alemão. "Na instância final e muito alta", declarou Schelling," não há outro ser além da Vontade. A Vontade é o Ser primordial, e todos os predicados se aplicam unicamente a ela - falta de fundamentação, eternidade, independência do tempo, auto-afirmação! Toda a filosofia se esforça apenas por encontrar esta mais alta expressão". E citando esta passagem no seu What is called Thinking?, Heidegger acrescenta imediatamente: «Então, os predicados que o pensamento metafísico atribuiu ao Ser, Schelling encontra-os na sua forma final, mais alta... mais perfeita no querer. No entanto, a Vontade neste querer não significa aqui uma capacidade da alma humana; a palavra "querer" designa aqui o Ser dos entes como um todo" (acrescentarei os itálicos). Não há dúvida que Heidegger tem razão; a Vontade de Schelling é uma entidade metafísica mas, ao contrário das mais comuns e mais antigas falácias metafísicas, é personificada. Num contexto diferente, e com maior precisão, o próprio Heidegger resume o signifivado deste Conceito personificado: a falsa "opinião (que facilmente) resulta daí é que a vontade humana é a origem da vontade-de-querer , enquanto pelo contrário, o homem está a ser querido pela Vontade-de-querer sem sequer experimentar a essência de um tal querer".
(Hannah Arendt, A vida do Espírito, volume II-Querer, Instituto Piaget, páginas 172-173; o destaque a bold é posto por nós)
Mas Arthur Schopenhauer teorizou a Vontade transpessoal como a criadora do mundo que é mera representação (idealismo gnoseológico, imaterialismo) e Hannah Arendt omite-o nesse campo. Porquê?
É INTELIGENTE TROÇAR DA ASTROLOGIA HISTÓRICA DETERMINISTA?
Escreveu Arendt:
«Os homens, para sempre tentados a levantar o véu do futuro - com a ajuda de computadores ou horóscopos ou os intestinos dos animais sacrificiais - têm um cadastro pior para mostrar nessas «ciências» do que em quase todos os outros empreendimentos científicos».
(Hannah Arendt, A vida do Espírito, volume II-Querer, Instituto Piaget, página 175; o destaque a bold é posto por nós)
Neste texto, Arendt equipara o estudo matemático-astronómico dos factos históricos (astrologia histórica, diferente de psico-astrologia) à leitura dos intestinos de animais sacrificados... É uma pura falácia de Hannah. E manifesta a ignorância desta sobre o Ser: porque este é os 360 graus do Zodíaco, o movimento dos planetas e a corporalidade terrestre que daí se desprende.
Uma qualidade comum a quase todos os filósofos e professores de filosofia é não saber que os planetas comandam inteiramente o destino de cada homem, planta, animal e pedaço de matéria inerte e que a astrologia histórico-social, enquanto colectora e sistematizadora de factos empíricos, é uma ciência, mais exacta que a história, porque a esta acrescenta a astronomia, mais exacta que a psicologia, a sociologia, a economia, a antropologia.
Se Hannan Arendt possuísse a inteligência holística, que lhe faltou como faltou a Descartes, a Kant, a Leibniz, a Husserl, a Merleau-Ponty, a Heidegger, a Sartre, a Nozick, a Zizeck e a quase todos os outros doutorados em filosofia, abriria um livro de Efemérides planetárias e folheando-o, interrogar-se-ia sobre o facto de Hitler ter subido ao poder em 30 de Janeiro de 1933, com Júpiter em 22º do signo de Virgem e se ter suicidado em 30 de Abril de 1945, com Júpiter em 17º de Virgem (só uma vez durante 10 ou 11 meses, em cada 12 anos, Júpiter desliza no signo de Virgem que vai de 150º a 180º da eclíptica; é significativo que Júpiter em Virgem tenha elevado Hitler ao poder em 1933 e o tenha feito descer do poder em 1945 ).
Troçar do determinismo astral nos actos humanos individuais e político-sociais é próprio de «burros» - e as universidades, tal como as bibliotecas de filosofia e ciências, estão cheias desse tipo de «burros» licenciados, mestres e doutorados. Aliás, a história da filosofia é predominantemente a história dos «burros» académicos que sempre negaram a predestinação astral, é uma mistura de obscuridade mental e luz. Quanta vaidade a dos filósofos, ignorantes que presumem ser a vanguarda do pensamento humano, o juíz decisivo, quando, como Heideger ou Hannah Arendt, não conhecem sequer as posições planetárias ao longo da história e os factos sociais a que deram origem! Uma faculdade de Filosofia sem cadeiras de Astrologia Histórica não é digna do nome de universidade (universitas, saber universal).
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Hannah Arendt (14 de Outubro de 1906- 4 de Dezembro de 1975), judia alemã, discípula de Heidegger, usou, como este, a palavra «ser» com uma certa ambiguidade:
«A destruição do conceito antigo de ser só foi levada até ao meio. Kant destruiu a velha identidade do ser e do pensamento e com ele a ideia da harmonia préestabelecida entre o homem e o mundo. O que não destruiu, o que implicitamente preservou, foi o não menos antigo conceito, intimamente ligado à ideia de harmonia do ser preexistente cujas leis, em todos os casos, se impõem aos homens. » (Hannah Arendt, Compreensão política e outros ensaios, Antropos, Outubro de 2001, pág. 52; o destaque a negrito é posto por mim.)
Por que razão Kant só "destruiu metade do velho conceito de ser"? A que ser se refere Hannah Arendt: ao mundo material com suas leis? A Deus, espírito primordial? Não esclarece. Ambígua, tal como o seu mestre Martin Heidegger...É este o tipo de discurso habitual dos retóricos que triunfam entre as nuvens da imprecisão no céu institucional da filosofia.
A visão germanófila da filosofia, que Heidegger e Hannah Arendt possuíam, apaga o papel do bispo irlandês George Berkeley, predecessor de Kant, e verdadeiro autor, no século XVII, da revolução idealista que destruiu a exterioridade do ser, entendido como mundo de matéria, face ao pensamento, incluindo-o dentro deste último, reduzindo-o a ideia.
Kant é um imitador de Berkeley que desdenha este, falsificando o seu pensamento.
Prossegue H. Arendt:
« Sem dúvida, o homem de Kant tem a possibilidade de determinar os seus actos na base da sua boa vontade; ora esses actos encontram-se, eles próprios, submetidos à lei da causalidade, uma esfera essencialmente estranha ao homem. A partir do momento em que um acto do homem sai da esfera subjectiva, entra na esfera objectiva que é a causalidade, perdendo assim a sua qualidade de liberdade (...)»
«Quando Kant fez do homem o senhor e a medida do homem, rebaixou-o simultaneamente à condição de escravo do Ser. Cada um dos filósofos que se lhe seguiram a partir de Schelling, protestou contra esta degradação. A filosofia moderna ocupa-se ainda hoje com esta humilhação do homem acabado de se emancipar. É como se ainda o homem nunca se tivesse elevado tanto nem caído tão baixo...» (Hannah Arendt, Compreensão política e outros ensaios, Antropos, Outubro de 2001, pág. 93.o destaque a negrito é posto por mim. )
Há vários erros de Hannah Arendt nestes textos.
Um deles consiste em que a liberdade não se limita à esfera subjectiva, como diz Hannah, mas objectiva-se em acções políticas, económicas, etc., da esfera exterior: um sinal da liberdade, relativa, do povo grego, é a votação de 25 de Janeiro de 2015 que dá a vitória ao Syriza. Portanto, a liberdade entra na lei da causalidade social, exterior, e influi ou retorce esta enquanto lhe for possível.
Ao definir a lei da causalidade, como «uma esfera essencialmente estranha ao homem» Hannah Arendt equivoca-se: sendo o homem composto por dois «eu», o numénico e o fenoménico, encontra-se, este último, isto é, o eu corpóreo, físico, sujeito às leis de causalidade da fome, da sede, respiração, sono e vigília. Portanto, a causalidade necessária é inerente ao corpo humano que é parte integrante do homem. Não é estranha ao homem, como sustenta H.Arendt.
A afirmação «Quando Kant fez do homem o senhor e a medida do homem, rebaixou-o simultaneamente à condição de escravo do Ser.» é absolutamente ambígua, inconsistente. Que Ser é este? A natureza física? Deus? Ou nem um nem outro, como sustentava o seu mestre Heidegger, sem contudo definir o ser que caracterizava como «o mais próximo e o mais distante»? Arendt não é clara, joga na ambiguidade do termo.
Hannah Arendt não passa de uma vulgar filósofa de segunda categoria, ao alcance dos medianos que hoje dominam a quase totalidade das cátedras de filosofia.
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