Eis um teste de filosofia fora do estereótipo dos testes que os autores dos manuais escolares da Porto Editora, Leya, Santillana, Areal Editores, etc, divulgam. E sem questões de escolha múltipla que, frequentemente, são incorrectamente concebidas por quem não domína o método dialético e desliza para a horizontalidade da filosofia analítica vulgar.
Agrupamento de Escolas nº1 de Beja
Escola Secundária Diogo de Gouveia, Beja
TESTE DE FILOSOFIA, 10º ANO TURMA A
3 de Março de 2016. Professor: Francisco Queiroz.
I
“A lei do salto de qualidade está presente na passagem da percepção empírica ao respectivo conceito empírico. O mítico Adão Kadmon possui na essência a luta entre Yang e Yin. O totaliratismo, de direita ou de esquerda, parece coadunar-se com a moral utilitarista de Stuart Mill, num certo aspeto, e com o imperativo categórico de Kant, sob outro aspeto.”
1) Explique, concretamente este texto.
2)Escolha e caracterize (qualidade, número, cor, planeta) cada uma de cinco esferas da árvore dos Sefirós e distribua-as segundo a lei da contradição principal, enunciando esta.
3) Construa um diálogo sobre a propriedade e a gestão das empresas e sobre a democracia parlamentar entre um anarquista, um comunista leninista, um socialista democrático, um liberal, um conservador e um fascista.
4) Relacione, justificando:
A) Temura, Gematria e Metafísica.
B) Realismo natural realismo crítico e idealismo.
C) Pragmatismo e cepticismo.
CORREÇÃO DO TESTE COTADO PARA 20 VALORES
1) A lei do salto qualitativo postula que a acumulação lenta e gradual em quantidade de um dado aspecto de um fenómeno leva a um salto brusco ou nítido de qualidade nesse fenómeno. Acumulando percepções empíricas similares (ver um cavalo baio, ver um cavalo branco, ver um cavalo negro) chega-se a um salto qualitativo que é a formação da ideia ou conceito empírico de cavalo no intelecto (VALE DOIS VALORES). O Adão Kadmon, mítico antepassado da humanidade, era andrógino, a sua metade direita era masculina e a metade esquerda feminina, por isso a sua essência é uma luta entre Yang (fogo, luz, expansão, masculino, alto, crescimento) e Yin (água, escuridão, contração, feminino, baixo, diminuição) (VALE DOIS VALORES). O totalitarismo, de direita (caso da ditaduras de Hitler e Mussolini) ou de esquerda (ditadura de Estaline ou de Kim Il Sung na Coreia do Norte) é todo o regime que suprime a autogestão e a democracia parlamentar, regime de liberdade de imprensa, greve, religião, associação política e sindical e impõe uma ditadura brutal de partido único, e não se coaduna com a filosofia da Stuart Mill porque este defendia que se deve agir visando proporcionar a felicidade à maioria das pessoas e a democracia é um regime de maiorias, em princípio, ao passo que o totalitarismo favorece a felicidade da elite ditatorial, uma minoria opressora da maioria. Também não se coaduna com o imperativo categórico de Kant porque este diz «Age de modo a considerares cada pessoa como um fim em si e não um meio» e o totalitarismo não respeita a individualidade de cada um, não deixa falar e votar livremente(VALE TRÊS VALORES).
2) A lei da contradição principal diz que um sistema de múltiplas contradições pode ser reduzido a uma só, organizando-as em dois blocos, podendo haver uma ou outra contradição na zona neutra. Ora ao contemplarmos a árvore das 10 sefirós da Cabala podemos agrupar duas esferas do pilar direito - Chesed (Misericórdia, Júpiter, cor azul e número 4) e Netzac ( Vitória-Emoção, Vénus, cor verde e número 7) num bloco oposto a duas esferas do pilar esquerdo- Gueburah (Justiça, Marte, cor vermelha, número 5) e Hod (Intelecto, Mercúrio, cor laranja e número 8), ficando Thiphetet (Sol) na zona neutra, fora de ambos os blocos. (VALE TRÊS VALORES).
3) Anarquista: «A propriedade das fábricas e de todas as empresas deve ser dos trabalhadores. Instituímos a autogestão, isto é, a assembleia geral de todos os operários, engenheiros e contabilistas toma decisões sobre salários, investimentos, vendas, etc. O patrão desaparece e desaparece o Estado de democracia parlamentar que não é mais que ditadura disfarçada dos capitalistas.»
Comunista: «A propriedade de todas ou quase todas as fábricas deve ser do Estado, dirigido por um partido marxista-leninista, que impedirá os patrões de extorquirem a mais valia à classe operária. A democracia burguesa que actualmente apoiamos, concorrendo às eleições e usando as liberdades, deve ser substituída pela ditadura do proletariado onde não há eleições livres nem imprensa livre como no capitalismo liberal».
Socialista democrático/ social-democrata: «A propriedade da grande maioria das empresas deve ser privada, isto é, estar na mão dos patrões que, em certos casos, devem aceitar a cogestão. Mas há empresas de sectores fundamentais - siderurgia, electricidade, televisão, etc - que devem estar na mão do Estado democrático. Este deve impor impostos progressivos aos capitalistas de modo a ter serviço nacional de saúde e escolaridade pública gratuita até ao final do curso universitário. Defendo a democracia parlamentar».
Liberal: «A propriedade das empresas deve ser privada pois os empresários são os criadores de emprego os motores primeiros da economia. Os subsídios de desemprego e o rendimento social de inserção deviam acabar ou ser reduzidos para estimular o mercado de trabalho. Defendo as privatizações, democracia parlamentar, a liberdade de imprensa, o capitalismo puro e duro.»
Conservador: «A propriedade das empresas deve ser privada pois os empresários são os criadores de emprego os motores primeiros da economia. Os subsídios de desemprego e o rendimento social de inserção deviam acabar ou ser reduzidos para estimular o mercado de trabalho. Defendo as privatizações, a democracia parlamentar, a liberdade de imprensa. Mas a democracia não deve permitir o aborto livre, o casamento de gays e lésbicas, a eutanásia: deve ser guiada por bons princípios religiosos, cristãos.»
Fascista: «As empresas devem ser de patrões nacionais e do Estado fascista e corporativo que, através da polícia política e da censura à imprensa impedirá a luta de classes, o sindicalismo livre, a imoralidade sexual. Não deve haver democracia parlamentar mas ditadura nacionalista que expulse a generalidade dos imigrantes e tenha por princípios «Deus, pátria, família» como princípios fundamentais». (VALE QUATRO VALORES).
4-A) A temura é a disciplina ou método da Kaballah (ensinamento secreto de itelectuais judeus) que estabelece correspondências de ideias entre palavras diferentes alterando a posição das letras e por vezes substituindo uma ou outra dessas letras ou abolindo-a. Exemplo: ROMA equivale a AMOR; BEJA equivale a IAVE porque se transforma em JABE e depois em IABE. A gematria é a disciplina da Kaballah que estabelece a correspondência entre cada letra e um número (exemplo: A=1, B=2, C=3, D=4, E=5, F=6, G=7, H=8, I,J,Y=9, K=10, L=20, M=30, N, ~ =40) de modo a obter o número que traduz a essência de cada palavra. BEJA (B=2, E=5, J=9 e A=1) vale 2+5+9+1=17, isto é DEZASSETE. Ambas estas disciplinas, temura e gematria, são metafísicas na medida em que ultrapassam a ciência experimental e trabalham com teses especulativas, de uma racionalidade holística discutível, a raiar a mística.(VALE UM VALOR)
2-B)- O realismo natural é a teoria segundo a qual a matéria é real e exterior às nossas mentes e estas espelham-na como ela é (exemplo: a erva é verde, o céu é azul). Realismo crítico é a teoria segundo a qual a matéria é real e exterior às nossas mentes mas estas não espelham como ela é. O realismo crítico de Descartes é a teoria qiue sustenta que há um mundo real de matéria exterior às mentes humanas composto de uma matéria indeterminada, sem peso nem dureza/moleza, apenas formado de figuras geométricas, movimento, números (qualidades primárias, objetivas), sendo subjectivas, isto é exclusivamente mentais, as cores, os cheiros, os sabores, as sensações do tacto, o calor e frio (qualidades secundárias, subjectivas). O idealismo é a corrente que afirma que o universo material não é real em si mesmo mas está dentro da nossa mente, como imagens e ideias. (VALE TRÊS VALORES)
2.C) Pragmatismo é a teoria que diz que devemos lidar, de forma útil, com os factos empíricos palpáveis e devemos pôr de parte a metafísica, os grandes princípios morais ou políticos inaplicáveis de momento. O cepticismo é a corrente que põe tudo ou uma parte das coisas em dúvida e é usado pelo pragmatismo. (VALE DOIS VALORES)
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© (Direitos de autor para Francisco Limpo de Faria Queiroz)
Eis um teste de filosofia do 10º ano de escolaridade em Portugal, evitando as perguntas de escolha múltipla em que o aluno coloca um X na hipótese que supõe estar certa e fica dispensado de explanar as suas ideias num corpo discursivo coerente.
Agrupamento de Escolas nº1 de Beja
Escola Secundária Diogo de Gouveia, Beja
TESTE DE FILOSOFIA, 10º ANO TURMA C
11 de Março de 2015. Professor: Francisco Queiroz
I
“A autogestão nas empresas, a cogestão e a nacionalização de empresas são valores ético-políticos e económicos aceites ou rejeitados como valores supremos por uma ou outra de três correntes como o comunismo leninista, o anarquismo e o socialismo reformista, sendo uma destas correntes classificada, por alguns, de totalitária. A figura andrógina do Adão Kadmon, da filosofia hermética, obedece de certo modo à lei da tríade e ao dualismo Yang-Yin»
I
1) Explique, concretamente este texto.
2) Relacione, justificando:
A) As quatro fases do processo alquímico e respectivas aves- símbolos, por um lado, e quatro correntes ético-políticas (três de direita e uma do centro).
B) O imperativo categórico em Kant, por um lado, multiculturalismo e valores ético-políticos fascistas, por outro lado.
C) Gematria, princípio holístico macrocosmos-microcosmos e lei dialética do uno..
CORRECÇÃO DO TESTE ESCRITO (COTADO PARA 20 VALORES)
1)«A autogestão nas empresas é o regime em que as fábricas, as explorações agrícolas, os hipermercados, as empresas de transportes são propriedade dos trabalhadores e não do Estado nem de patrões ou sociedades privadas: semanal ou mensalmente reune a assembleia de todos os operátrios, engenheiros e técnicos de contas da empresa e decide democraticamente os investimentos a fazer, a escala de salários, a repartição dos lucros, os horários de trabalho, etc. A autogestão é um valor central da doutrina anarquista que é contra o capitalismo privado e contra o capitalismo de estado marxista~leninista, anarquismo que defende a extinção do Estado, do exército profissional e das polícias e que promove a luta de rua (acção directa) e a greve geral revolucionária contra a democracia parlamentar ou burguesa. A cogestão nas empresas é o regime em que estas são propriedade privada de patrões mas estes incluem um representante da comissão de trabalhadores ou do sindicato na gestão da empresa concertando com estes os ritmos de trabalho, a escala de salários, etc. A cogestão é um valor central da doutrina da social-democracia ou socialismo reformista, isto é do capitalismo de centro-esquerda, corrente que defende a democracia parlamentar, os impostos progressivos sobre os ricos, o rendimento mínimo garantido e o subsídio de desemprego para todos os necessitados, o ensino secundário e universitário público gratuitos, o serviço nacional de saúde. O socialismo tem forte componente maçónica e defende uma economia de mercado, uma economia capitalista. A nacionalização é um valor central da doutrina comunista marxista-leninista que defende uma revolução política e social em que as fábricas e terras são nacionalizadas, isto é, passam das mãos de capitalistas privadas para o Estado gerido pelo partido comunista em nome do povo (ditadura do proletariado, sem eleições livres porque estas trariam o capitalismo de volta). Em democracia parlamentar, os comunistas concorrem às eleições, apesar de considerarem que os partidos vencedores - socialistas, liberais ou conservadores - ganham por serem subsidiados pela alta finança e grandes industriais, já que no parlamento apresentarão propostas de lei contra o fascismo clássico e a favor da classe operária. O mundo ocidental designa de totalitária a corrente marxista-leninista porque nos países em que se erigiu em poder de Estado acabou com a democracia liberal, impôs a censura à imprensa, proibiu a greve operária e tudo controla através de um partido único que se confunde com o Estado (VALE SEIS VALORES). O Adão Kadmon era, segundo relatos alquímicos, da filosofia hermética, - isto é, esotérica, inacessível às massas - o Adão primitivo, dotado de um corpo astral, que atravessava as pedras e a matéria, andrógino, hermafrodita - metade mulher (Sofia), metade homem (Adão), com duas cabeças em algumas representações, correspondente ao arcano XXI do Tarot - que viveria no Paraíso Terrestre, no limite entre o Pleroma (Mundo da Luz divina) e o Kenoma (Mundo do Vazio, das trevas exteriores). A lei da tríade diz que um processo dialético se divide em três fases: a tese ou afirmação, a antítese ou negação e a síntese ou negação da negação. Aplicando esta lei a Adão: a tese é a metade masculina do Adão, a antítese a sua metade feminina (Sofia)e a síntese o Adão-Sofia na sua totalidade. O dualismo Yang-Yin do taoísmo- Yang é o masculino, a luz, o calor, o dia, o movimento, a dilatação; Yin é o feminino, a sombra, o frio, o repouso, a contração - é patente no facto de a parte masculina de Adão ser yang e a parte feminina, Sofia, ser Yin (VALE TRÊS VALORES).
2) A) As quatro fases da Grande Obra alquímica são: nigredo, albedo, citredo e rubedo. As três correntes de direita política, são liberais, conservadores e fascistas/monárquicos absolutistas. Há várias maneiras de relacionar as fases alquímicas e as correntes políticas e mostrarei apenas uma dessas maneiras. Os fascistas - que faço corresponder à fase do nigredo ou da putrefação, sendo a ave símbolo o corvo - querem um Estado nacional, uma ditadura de partido único, defensor de um capitalismo controlado, sem direito às greves, à imprensa livre e ao lock-out, um Estado defensor dos valores tradicionais (masculinidade do homem, feminilidade e espírito de dona de casa na mulher; perseguição e punição de gays e lésbicas; respeito às igrejas católica, protestante ou islâmica e proibição do divórcio nos casamentos religiosos), profundamente anticomunista, antimaçónico e antiberal, xenófobo, isto é, expulsando imigrantes estrangeiros.
Menos à direita estão os conservadores - que faço corresponder à fase do albedo, da cor branca, com o cisne como ave-símbolo - em que há a separação das substâncias impuras; por exemplo, os conservadores como Churchill afastam-se dos fascistas como Hitler - defendem uma democracia parlamentar (regime de eleições livres de parlamentos, com muitos partidos a concorrer), liberdade sindical, de imprensa e de greve mas opõem-se a impostos progressivos sobre os ricos, ao casamento de gays e lésbicas, à legalização das drogas leves. Os conservadores defendem os valores tradicionais da família, do respeito a Deus e são contra o aborto livre.
À esquerda dos conservadores, mas ainda no campo da direita, estão os liberais, - que faço corresponder à fase do citredo, da cor amarela, e da policromia, cuja ave símbolo é o pavão - que defendem o capitalismo privado puro, poucos ou nenhuns impostos sobre os capitalistas, o fim do serviço nacional de saúde e do ensino universitário gratuitos, a privatização de quase todas as empresas públicas (correios, comboios, aviação, minas, siderurgia, etc), o quase desaparecimento do subsídio de desemprego e do rendimento mínimo garantido, a liberdade de os patrões despedirem os empregados sem os indemnizar. Os liberais, também com grande influência da maçonaria no seu seio, defendem a globalização da economia e a sinarquia, o governo mundial único numa base pluralista.
Ao centro, figuram os centristas, também defensores da democracia parlamentar ou burguesa - que faço corresponder à fase do rubedo ou fase vermelha, cujo ave símbolo é o pelicano, fase em que se acaba de produzir o lapis ou pedra filosofal capaz de dar ao homem um corpo adâmico, imaterial- com mais preocupações sociais, que se opõem ao capitalismo selvagem de liberais e conservadores e também ao comunismo, ao anarquismo e ao socialismo reformista embora sejam vizinhos deste último. Ao contrário dos liberais e conservadores, os centristas já defendem o Estado social, um Estado capitalista que confere protecção básica aos mais pobres, dando-lhes saúde gratuita nos hospistais, refeições gratuitas e outros apoios. John Rawls foi, nos EUA, o teórico desta corrente. Advogava que as leis deviam ser debatidas e votadas por grandes comunidades segundo uma democracia de base a coberto de um véu de ignorância, na posição original. (VALE CINCO VALORES).
2) B) O imperativo categórico de Kant é uma lei moral autónoma, formal, abstracta, variável de pessoa a pessoa, formulada no eu numénico ou racional, mas com equidade universal, sem interesses egoístas: «Age de modo que a tua acção seja como uma lei universal da natureza», isto é, faz o bem sem olhar a quem e nem mesmo a ti mesmo ou pune a todos, por espírito justo, sem olhar a quem. O multiculturalismo é a posição que diz que num país todas as comunidades - os nacionais de origem, os emigrantes africanos, latino-americanos, do leste, etc - devem estar em pé de igualdade ante o Estado e a lei: nas escolas devem ensinar-se as diversas línguas e culturas, qualquer imigrante se pode candidatar a presidente da república, deputado nacional ou autarca local, as diferentes religiões e o ateísmo devem ter direitos iguais, etc. Os valores ético-políticos do fascismo , ideologia de extrema-direita anticomunista que diz que o Estado nacional é tudo e o indivíduo é nada e deve haver uma ditadura de partido único sem eleições livres nem imprensa livre e perseguição a gays e lésbicas assumidos- são contra o multiculturalismo porque defende a expulsão de imigrantes e a subalternização das culturas minoritárias.(VALE TRÊS VALORES).
2)C) A gematria é a vertente da Cabala judaica que faz corresponder a cada letra do alfabeto um número (A=1, B=2, C=3, D=4, E=5, F=6, G=7, H=8, I, J, Y=9, K=10, L=20, M=30, N=40, etc.) e isso exprime a lei dialética do uno que diz que no universo tudo se relaciona e nada está isolado: as letras correspondem a números, os planetas a partes do corpo humano, etc. Também a gematria exprime o princípio holístico macrocosmo-microcosmo que diz que o grande universo se espelha no pequeno universo, em qualquer pequena coisa do mundo inferior: assim cada número existente no mundo dos arquétipos ou no universo inteiro se liga ou reflecte em cada letra dos livros, jornais e papéis quotidianamene escritos ou lidos por seres humanos (VALE TRÊS VALORES).
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f.limpo.queiroz@sapo.pt
© (Direitos de autor para Francisco Limpo de Faria Queiroz)
Eis um teste de filosofia, o segundo do segundo período lectivo. Evitaram-se as escorregadias questões de escolha múltipla que, em muitos casos, não permitem ao aluno exibir e desenvolver o seu saber filosófico. A última questão sobre a ideia absoluta segundo Hegel espelha o facto de a turma ter escolhido estudar os valores religiosos.
Agrupamento de Escolas nº1 de Beja
Escola Secundária Diogo de Gouveia , Beja
TESTE DE FILOSOFIA, 10º ANO TURMA B
27 de Março de 2014. Professor: Francisco Queiroz
I
“Todos consideram o belo como belo,
é nisso que reside a sua fealdade.
Todos consideram o bem como bem,
é nisso que reside o seu mal.
Porque o ser e o nada engendram-se.(…)
Por isso o santo adopta
A táctica do não-agir
E pratica o ensino sem palavra.”
LAO TSE
1) Explique o significado deste poema característico do taoísmo, indicando se nele há Yang e Yin.
II
2) Relacione, justificando:
A) Esfera dos valores vitais e esfera dos valores espirituais em Max Scheler.
B) Imperativo categórico em Kant, autogestão e situação original na teoria de Rawls.
C) Empirismo, e racionalismo.
D) Gematria e objectivismo intra-anima.
E) As três fases da Ideia Absoluta na História, segundo Hegel, e teísmo, panteísmo e panenteísmo.
CORRECÇÃO DO TESTE DE FILOSOFIA (COTADO PARA 20 VALORES)
1) Ao dizer que a fealdade do belo reside no facto de todos o considerarem belo, o filósofo nega o objectivismo estético, o triunfo do pensamento da maioria sobre a minoria e afirma a preponderância da subjectividade de cada um. É um paradoxo aparente. O taoísmo permanece um individualismo quietista, baseado no não-agir. O mesmo sucede com o bem: o filósofo nega o unanimismo ético, isto é, o diz que o facto de todos acharem "bem" um determinado ente ou acção torna estes maus. Em todo o Yang (fogo, verão, dilatação) há um pouco de Yin (água, inverno, contracção) e viceversa: em todo o belo há algo de feio e em todo o feio há algo de belo. O «ser e o nada engendram-se» significa a dialéctica da vida: o «ser humano» nasce do nada e ao morrer transforma-se em nada. Sabendo que tudo devém e desaparece, o santo taoísta, seguidor do Tao - isto é ao ritmo ondulatório da natureza: semear-regar-colher, inverno-primavera-verão-outono,vaivém das ondas, etc - do universo, pratica o não agir: não se exibe, não procura ir à televisão ou ser eleito para cargos políticos ou económicos em empresas. não faz grandes viagens, não lança guerras, etc. Pratica ainda o ensino sem palavras, através do gesto, do olhar e de uma (não) acção exemplar. O Yang (fogo, dilatação, movimento) está no poema expresso no ensino sem palavras, que exprime o movimento de transmissão de ideias, e o Yin (água, contração, repouso) exprime-se no repouso do não agir.(VALE QUATRO VALORES).
2) A) Segundo Max Scheler, a esfera dos valores vitais refere-se aos estados anímicos e inclui os valores de: nobre e vulgar, amor-paixão e ciúme, cólera, inveja, sentimentos de vitória e de derrota, de juventude e de velhice, de coragem e cobardia, de vaidade e humildade, de saúde e de doença, etc. Opõe-se-lhe a esfera de valores espirituais, essencialmente intelectual, que inclui os valores estéticos (belo, feio, sublime, horrível), os valores éticos (bem, mal, justo injusto) e os seus derivados do direito (legal, ilegal, etc) os valores do conhecimento da verdade (filosofia) e os derivados deste (ciências: matemática, física, biologia, história, etc). (VALE TRÊS VALORES).
2) B) O imperativo categórico ou verdadeira lei moral, gerado pelo eu numénico ou racional, enuncia-se assim: «Age de modo que a tua acção seja como uma lei universal da natureza», que a todos se aplica com imparcialidade, incluindo a ti mesmo. Autogestão, conceito anarquista, significa a gestão das fábricas, hipermercados, lojas, bairros, escolas feita pelos próprios trabalhadores, moradores ou estudantes dessas empresas ou instituições: a assembleia reune, decide os salários, as escalas de trabalho e férias, sem patrões nem directores.Situação original é, em John Rawls, uma situação ideal de democracia de base em que toda uma população de uma cidade ou região se reune para debater e aprovar leis, sob um véu de ignorância, isto é, ignorando a profissão e a importância social e financeira de cada um. Estes três conceitos possuem em comum a noção de democracia basista fundada na liberdade individual. (VALE TRÊS VALORES)
2-C) Empirismo é a corrente gnosiológica que sustenta que as nossas ideias são cópias desbotadas das percepções empíricas, estas últimas são a principal ou única fonte de conhecimento. Racionalismo é a corrente gnosiológica que sustenta que a principal ou única fonte das nossas ideias é a razão, o raciocínio, marginalizando ou negando mesmo as percepções empíricas, e que as nossas ideias não são cópias das percepções sensoriais. São duas correntes opostas. (VALE TRÊS VALORES).
2-D) A gematria é uma teoria da Kaballah (Cabala ou tradição secreta judaica) que estabelece que cada letra do alfabeto equivale a um número e que Deus fez o mundo com as 22 letras do alfabeto hebraico. Exemplo: A=1, B=2, C=3, D=4, E=5, etc...A objectividade intra anima é o facto de a generalidade de as pessoas partilharem entre si a mesma opinião, a mesma percepção de algo, ainda que este algo não seja perceptível ou palpável, de forma indiscutível, na realidade exterior. Pode considerar-se que a gematria é um objectivismo intra anima, uma verdade comum a todos os iniciados na Cabala, que não é aceite por muitas pessoas ditas «mais terra a terra». (VALE DOIS VALORES).
2-E) Hegel divide a história universal da ideia absoluta ou Deus em três fases: a fase lógica ou do ser em si, na qual só existe um espírito, Deus, antes de criar o universo material o espaço e o tempo, espírito ou ideia absoluta que se limita a pensar (isto corresponde ao teísmo, doutrina segundo a qual há um ou vários deuses independentes da natureza física); a fase da natureza ou do ser fora de si em que Deus se aliena em matéria bruta, isto é, se transforma em astros, sol, montanhas, rios, rochas, plantas e animais não humanos (isto corresponde ao panteísmo, doutrina que sustenta que Deus é a natureza física e biológica); a fase da humanidade ou do ser para si, em que Deus renasce, como espírito livre, em forma de homens que lentamente, progridem em direcção à liberdade de espíriro que é regresso à primeira fase. (esta terceira fase corresponde ao panenteísmo, doutrina que afirma que Deus é tudo, a natureza material, a humanidade e é Ele mesmo como espírito transcendente). Este progresso exprime-se através de três formas de estado sucessivas- no início, o despotismo oriental, em que só um homem é livre, séculos depois o estado greco-romano, em que só alguns homens são livres e por último o estado do cristianismo reformado por Lutero em que todos os homens são livres de examinar a Bíblia sem a manipulação do clero católico romano, completado em 1789-1799 pela revolução francesa que implantou a democracia baseada na liberdade, igualdade e fraternidade (VALE CINCO VALORES).
© (Direitos de autor para Francisco Limpo de Faria Queiroz)
Eis um teste de filosofia, o primeiro do segundo período lectivo. A temática da filosofia hermética e do simbolismo das catedrais/ geometria sagrada justifica-se porque serve de base à visita de estudo a monumentos de Sevilha e enquadra-se nos pontos do programa do 10º ano de filosofia em Portugal «O que é a filosofia», «Valores Estéticos/ Artísticos» e «Valores Religiosos».
Agrupamento de Escolas nº1 de Beja
Escola Secundária Diogo de Gouveia com 3º Ciclo, Beja
TESTE DE FILOSOFIA, 10º ANO TURMA B
19 de Fevereiro de 2014. Professor: Francisco Queiroz
“A cosmogonia de Pitágoras de Samos implica quatro passos, tem algo em comum com a gematria. A essência, segundo Platão, não está no mesmo nível que a essência segundo Aristóteles. O princípio da correspondência macrocosmosmicrocosmos liga a catedral medieval à natureza física que a envolve."
1) Explique, concretamente, cada uma destas frases.
II
2) Construa um diálogo de valores ético-políticos (mínimo: 12 linhas) entre um anarquista, um comunista leninista, um socialista democrático, um liberal, um fascista, de modo a que no diálogo explicite as definições dos conceitos de «nacionalização de empresas», «privatização de empresas», «autogestão», «cogestão», «estado de direito democrático», «totalitarismo».
3) Relacione, justificando:
A) Imperativo categórico em Kant e princípio da ética de Stuart Mill.
B) Contratualismo de John Locke e teoria de Marx sobre a natureza dos Estados feudal e capitalista.
C) Hedonismo sensualista e epistemologia.
CORRECÇÃO DO TESTE DE FILOSOFIA (COTADO PARA 20 VALORES)
1) A cosmogonia de Pitágoras de Samos diz que o universo se formou a partir de quatro números-figuras arquetípicos: do vazio surge um ponto que simboliza o número um; o ponto divide-se em dois, gerando a linha recta, que é o número dois; da recta sai um ponto que ao projectar-se através de infinitas rectas sobre a recta original gera um plano, que é o número três; do plano sai um ponto que prpjectando-se segundo três rectas sobre o plano gerando a pirâmide de três lados ou tetraedro, que é o número quatro. A gematria é a atribuição a cada letra de um número (por exemplo A= 1, B=2, C=3, N=40, Z=400) . Tanto a cosmogonia de Pitágoras como a gematria consideram os números como essências dos entes. (VALE TRÊS VALORES). A essência, em Platão, é o arquétipo (de Belo, Bem, Homem, Árvore, etc) e encontra-se no mundo supraceleste, inteligível, por isso se diz que é transcendente (nível superior), mas em Aristóteles as essências, formas eternas,estão nos próprios objectos materiais («O Belo só está na rosa e nas coisas belas», «a essência rosa não está fora de cada rosa existente no real físico»), isto é, são imanentes (nível inferior) e não há mundo inteligível separado. (VALE DOIS VALORES). A filosofia hermética, nascida na Antiguidade e atribuída ao mítico Hermes Trimegistus, baseia-se no princípio da correspondência macrocosmo-microcosmo que se enuncia assim:«o que está em baixo é como o que está em cima, o microcosmo é um espelho do macrocosmo». A catedral medieval é um microcosmo, que reflecte, em pedra, ponto por ponto, a natureza biofísica exterior, que é o macrocosmo, com as suas paisagens. As abóbadas e a parte superior das paredes correspondem ao céu, as colunas de pedra correspondem às árvores, a pia baptismal aos lagos e rios, a rosácea ou grande janela circular ao sol, as janelas estreitas de vitrais às estrelas, os altares às montanhas (VALE DOIS VALORES).
2) Anarquista: «Sou contra o capitalismo e todas as formas de Estado. Defendo a autogestão, isto é, as fábricas, hipermercados, empresas agrícolas, de transportes, pescas, deixam de ter patrões e passam a ser geridas por assembleias de trabalhadores (operários, economistas, engenheiros), nivelando-se os salários.»
Comunista leninista: «Sou contra o capitalismo mas, ao contrário dos anarquistas, defendo a nacionalização, isto é, a passagem para as mãos do Estado das grandes e médias empresas ou mesmo de todas. Defendo a ditadura do proletariado: desaparecem as eleições livres porque os partidos da direita as ganham graças ao financiamento dos ricos, só o partido marxista concorre e domina o Estado.»
Socialista democrático: «Não sou contra o capitalismo, porque permitre criar riqueza em grande quantidade, sou contra o capitalismo selvagem que não protege os operários. Defendo a cogestão, isto é, a empresa é propriedade dos patrões mas o conselho de administração inclui um representante dos trabalhadores ou do sindicato. Defendo as eleições livres, a liberdade de imprensa, greve, associação política e manifestação de rua, bases do estado de direito democrático.»
Liberal: «Sou a favor do capitalismo, da privatização das empresas, isto é, de estas passarem a pertencer a patrões (privados), sou apoiante da livre concorrência entre as empresas, da liberdade de o patrão despedir operários. Sou contra o comunismo que é um totalitarismo de esquerda, isto é, um estado de partido único com censura à imprensa, e contra o fascismo que é um totalitarismo de direita. Defendo o Estado de direito democrático ou democracia pluralista.»
Fascista: «Sou a favor do capitalismo nacional sob uma ditadura de extrema-direita tradicional na qual o povo inteiro obedece ao chefe de Estado e ao partido único, não há liberdade de greve e manifestação de rua, os imigrantes são expulsos do país, a censura é estabelecida na televisão, na imprensa e no ensino, gays e lésbicas são perseguidos e neutralizados. Sou contra o Estado de direito democrático, criação da maçonaria liberal e socialista.» (VALE SEIS VALORES).
Nota: Este diálogo pode ser estruturado de outras maneiras.
3) A) O imperativo categórico é a verdadeira lei moral em Kant: age como se quisesses que a tua acção fosse uma lei universal da natureza. Por outras palavras: ou comem (ou pagam) todos por igual ou não há moralidade. O princípio da maior felicidade, base da ética de Start Mill, defende que se deve preferir a felicidade da maioria dos envolvidos numa situação à felicidade da minoria e que os prazeres superiores (filosofia, literatura, ciência, amizade, solidariedade, etc) são preferíveis aos prazeres inferiores (comer, beber, possuir oiro ou dinheiro, etc). Kant e Mill opõem-se, em certa medida. Se um barco com 150 passageiros naufraga e só se podem salvar 30 vidas em salva-vidas, o imperativo de Kant é, aparentemente, impraticável mas não o utilitarismo de Stuart Mill: salvam-se as mulheres e as crianças (estas são potencialmente, as portadoras de maior felicidade porque têm um largo futuro diante de si) e ficam para morrer os homens e o capitão (VALE DOIS VALORES).
3) B) O contratualismo é a filosofia que justifica o Estado como resultado de um contrato social. No caso do filósofo inglês do século XVIII John Locke, este sustentou que o Estado brota de um contrato social entre os proprietários livres para superar o "estado de natureza" (país sem lei) e reveste a forma de Estado liberal, baseado na livre eleição de um parlamento multipartidário de onde sai o governo e baseado na liberdade de imprensa e na separação tripartida de poderes. Karl Marx foi um filósofo não contratualista na teoria sobre o Estado: para Marx, o estado é um aparelho de violência e imposição de uma classe sobre outras classes sociais. Assim, o Estado feudal seria a ditadura dos senhores feudais, incluindo o rei, sobre os servos da gleba que trabalhavam gratuitamente metade da semana para os aristocratas e o monarca e o Estado capitalista, mesmo na sua forma de Estado de direito democrático, defendido por Locke e outros, seria a ditadura da burguesia ou classe dos patrões sobre o proletariado ou classe operária desprovida de propriedade industrial, comercial e rural e de dinheiro para influenciar e manobrar os partidos de direita ou centro-esquerda que vencem sempre as eleições legislativas nacionais(VALE TRÊS VALORES).
3) C) O hedonismo sensualista é a corrente que sustenta que o maior bem é o conjunto dos prazeres sensoriais (comer, beber, desenvolver práticas sexuais, experimentar casas e automóveis confortáveis, ter muito dinheiro, etc) e o maior mal é o conjunto das dores físicas e desconforto físico (fome, sede, doença física, pobreza, morte, etc). A epistemologia é a reflexão sobre as ciências, as perguntas que a filosofia faz a cada ciência. A epistemologia pode perguntar ao hedonismo sensualista que se toma a si mesmo como ciência ética e metaética: será o prazer sensorial identificável com o bem ou, em muitos casos, o prazer é ou traz o mal? (VALE DOIS VALORES).
© (Direitos de autor para Francisco Limpo de Faria Queiroz)
Eis um teste de filosofia, o primeiro do segundo período lectivo, que não usa o terreno pantanoso das perguntas de resposta múltipla que é típico dos sectários da filosofia analítica, pobres em pensamento. Os professores portugueses podem e devem resistir ao analfabetismo filosófico promovido pelos partidários da filosofia analítica vulgar, objectivamente ao serviço da manipulação e despolitização da juventude. Há muitos professores que são tão ignorantes que não conhecem a teoria triádica da história de Hegel, a teoria dos três mundos em Platão, as leis da dialética, o idealismo de Berkeley e de Kant - apenas conhecem as leis de Morgan, os inspectores de circunstâncias e umas tantas banalidades filosóficas.
Escola Secundária Diogo de Gouveia, Beja
TESTE DE FILOSOFIA, 10º ANO TURMA B
14 de Fevereiro de 2013. Professor: Francisco Queiroz
I
«“O Tao não age e, no entanto, tudo se faz por seu intermédio”, dizia Lao Tse. O templo cristão da Idade Média foi construído segundo o princípio da correspondência microcosmo-macrocosmo, de que a teoria platónica da participação é um exemplo, e implicava uma certa mística, incluindo a gematria da Cabala.»
1) Explique concretamente este texto.
II
2) Relacione, justificando:
A) Máxima, Imperativos Categórico e Hipotético, e Vontade Heterónoma e Autónoma em Kant.
B) Dualismo antropológico no estoicismo e três partes da alma em Platão.
C) Ética utilitarista de Stuart Mill, relativismo e subjectivismo moral.
III
3) Disserte sobre os seguintes temas:
“O livre-arbítrio, o fatalismo e o determinismo na acção humana. Os quatro arquês e a cosmogénese segundo Pitágoras de Samos ”.
CORRECÇÂO DO TESTE, COTADO PARA UM TOTAL DE 20 VALORES
1) O Tao, origem e ritmo do universo, oscilação permanente entre o Yang, (dilatação, calor, fogo, dia, alto, som) e o Yin (contração, frio, água, noite, baixo, silêncio), não age, isto é, não actua com intencionalidade, acontece espontaneamente. E tudo se faz por seu intermédio: semear e colher obedece aos ritmos da lua, o trabalho nos escritórios, escolas ou nos campos obedece à alternância dia-noite (Tao), a cura das doenças demora X dias (obedecendo ao Tao), as estações o ano desenrolam-se segundo o Tao, etc. (ESTAS FRASES VALEM TRÊS VALORES). O templo cristão da Idade Média era um microcosmo (pequeno mundo organizado) que reflectia o macrocosmo (o grande universo): por isso a catedral medieval tinha a forma de um homem (Cristo) de braços abertos. A abside correspondia à cabeça de Cristo e estava voltada para Oriente, onde nasce o Sol símbolo de Cristo. O altar corresponde ao coração e o transepto aos braços abertos. As naves ao tronco e pernas de Cristo.Assim o que está em baixo (o templo) é espelho do que está em cima (um gigantesco corpo de Cristo atravessando o universo). A teoria da participação em Platão sustenta que os entes do mundo da matéria participam, isto é imitam, dos arquétipos ou modelos perfeitos existentes no mundo inteligível. Assim as estátuas de Cristo na catedral participam no modelo inteligível que é o Cristo vivo, na transcendência. Isto implica mística ou seja união íntima com a divindade. E comportava a gematria, uma disciplina da Kabalah judaica, que faz corresponder letras a números (exemplo: A=1, B=2, C=3, D=4). Por exemplo, sendo o nome de Cristo em grego equivalente ao número 888, o eixo que liga a base do altar à cúpula da catedral de Troyes mede 88 pés e 8 polegadas - medida intencional. (VALE QUATRO VALORES).
2) Máxima, segundo Kant, é um princípio moral subjectivo que cada pessoa adopta. A máxima deve ser transformada em imperativo categórico, isto é, na verdadeira lei moral que, à partida, tem uma formulação abstracta: «Age como se quisesses que a tua acção fosse lei universal da natureza», isto é, aplicável a todos sem distinções. Exemplo: A máxima «Gosto de ajudar pessoas como´higienista naturopata, ensinando-lhes a cura das doenças através da alimentação vegetariana» pode ser transformada no imperativo categórico: «Ensina todas as pessoas do mundo a alimentar-se mediante frutos, legumes frescos e cereais de modo a evitarem e curarem todas as doenças e aplica a ti mesmo essa mesma arte dietética». O imperativo categórico baseia-se na vontade autónoma, livre, do eu racional.
O imperativo hipotético, ou falsa lei moral desenhada no eu inferior, corporal, não racional, enuncia-se assim: «Age de modo a beneficares acima de tudo a ti mesmo, familiares e amigos, secundarizando as outras pessoas ou mesmo prejudicando-as.» Baseia-se na vontade heterónoma (isto é a vontade estranha ao eu racional), nos desejos corporais egoístas. Muitas máximas do tipo «Em primeiro lugar, eu e sempre eu», «Ganhar dinheiro e enriquecer sem me preocupar com a pobreza de outros é o meu lema» dão corpo a este imperativo. (VALE TRÊS VALORES).
2) B) O dualismo antropológico no estoicismo, filosofia baseada na aceitação do destino e no lema «Aguenta e abstèm-te», consiste em dividir o ser humano en 2 polos: o eu racional ou guia interior, que consegue dominar as paixoes e filosofar; o eu animal ou corpo, fonte das paixões da ambição, da cólera, dos prazeres da carne.
O eu racional equivale, em Platão, ao Nous, ou razão intuitiva, a parte superior da alma, que apreende o Bem, o Belo, o Justo e outros arquétipos; o eu corporal equivale à parte inferior da alma ou Epytimia, sede dos prazeres da comida, bebida, acumulação de dinheiro e bens materiais, etc. A parte intermédia da alma é o Tymus ou Tumus e faz a síntese entre as outras duas: enquanto sede da honra, da coragem e do brio militar tenderá a estar ligada ao Nous. (VALE TRÊS VALORES).
2) C) A ética utilitarista de Stuart Mill tem como pilar o princípio da maior felicidade, isto é, propiciar a felicidade à maioria das pessoas envolvidas numa situação, mesmo prejudicando uma minoria de pessoas. É aplicada de forma relativista, isto é, de forma variável, segundo a classe social, a sociedade, a época. Exemplo: a felicidade de um grupo de pessoas X que venceu o euromilhões poderá ser aplicar o dinheiro na compra de casas e automóveis de luxo, mas a felicidade do grupo de pessoas Y que venceu, em outro concurso, o euromilhões poderá consistir em edificar casas de acolhimento para sem abrigo ou crianças orfãs. O subjectivismo é a teoria que afirma que a verdade é íntima, varia de pessoa a pessoa. Ora, em numerosos casos, existe subjectivismo na apreciação do que é fazer feliz a maioria. (VALE TRÊS VALORES)
3) O livre-arbítrio é a capacidade de escolher, mediante reflexão, os seus valores e as suas acções. É compatível com o determinismo, princípio segundo o qual nas mesmas circunstâncias as mesmas causas geram os mesmos efeitos, mas é incompatível com o fatalismo, doutrina segundo a qual não existe liberdade nenhuma, nem na natureza física nem no ser humano, e tudo está rigorosamente predestinado.
Na doutrina de Pitágoras de Samos há quatro princípios (arquês) de todas as coisas que configuram a cosmogénese (nascimento do cosmos) do seguinte modo: do vazio surge um ponto (número um); o ponto desdobra-se em dois que afastando-se formam uma linha recta (número dois); da recta sai um ponto que projectando-se sobre ela segundo infinitas rectas gera um plano (este é o número três); do plano sai um ponto que, projectando-se segundo três linhas rectas sobre esse plano, gera o tetraedro ou pirâmide de três lados (esta é o número quatro). Estes números-figuras, combinando-se entre si, formam todos os objectos do universo (árvores, planícies, animais, homens, etc). A soma dos quatro números figuras essenciais dá 10, o número divino ou tétrade. (VALE QUATRO VALORES).
© (Direitos de autor para Francisco Limpo de Faria Queiroz)
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