Domingos Faria, que comercializa, como bom sofista, as suas lições de lógica proposicional junto dos professores do ensino secundário, João Branquinho, Desidério Murcho, Aires Almeida, João Sá Água, Manuel Maria Carrilho, Guido Imaguirre, Célia Teixeira e a maioria dos mestres e doutorados em filosofia em Portugal sustentam uma errónea lógica proposicional que envergonha a tradição filosófica.
Todos eles defendem, por exemplo, que «no silogismo modus ponens é uma falácia afirmar o consequente da primeira permissa na segunda premissa» . Formalizando:
P ⇒ Q
Q
∴ P
Ora não é verdade que esta fórmula seja obrigatoriamente uma falácia. Vejamos um exemplo:
Se vou a Lisboa visito o Terreiro do Paço.
Visitei o Terreiro do Paço.
Logo, fui a Lisboa.
Por conseguinte, o inspector de circunstâncias formalizado acima está mal teorizado na lógica proposicional. Deveria dizer-se que no caso de o consequente Q estar contido - geograficamente ou conceptualmente - no antecedente P a afirmação de Q na segunda premissa é válida. Esta é a formalização correcta, começando por P contém Q:
P⊇ Q
P ⇒ Q
Q
∴ P
Assim há duas modalidades correctas do silogismo modus ponens: a que afirma na segunda premissa o antecedente da primeira e a que afirma na segunda premissa o consequente da primeira premissa. Onde está isto nos tratados de lógica, nos manuais escolares adoptados em Portugal? Não está. Só a falta de humildade, a arrogância universitária dos instalados nas cátedras impede a livre discussão e o pôr de parte uma lógica que Frege, Bertrand Russel e Wittgenstein não souberam formular e criticar devidamente. Centenas de milhar de alunos do ensino secundário são ensinados e questionados segundo esta errónea lógica, um sucedâneo da filosofia ensinada sob regime fascista, sem lugar a contestação.
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© (Direitos de autor para Francisco Limpo de Faria Queiroz)
O recente livro de Desidério Murcho (18 de Maio de 1965-) «Lógica Elementar», das Edições 70, espelha os equívocos desta pseudo ciência que é a lógica proposicional tornada obrigatória para todos os alunos dos cursos científicos e humanísticos do ensino secundário em Portugal.
A SUPRESSÃO DA DISTINÇÃO ENTRE DISJUNÇÃO EXCLUSIVA E DISJUNÇÃO INCLUSIVA, UM PASSO EM FRENTE
Em todos os manuais de filosofia do ensino secundário em Portugal, inclusive no de Desidério Murcho e Aires Almeida, se postula que na lógica proposicional há disjunção inclusiva e disjunção exclusiva. Publiquei há um ano, a 5 de Setembro, neste blog o artigo «Equívocos da Lógica Proposicional: disjunção inclusiva e disjunção exclusiva» que desmistifica esta falácia, artigo que afirma o seguinte:
Um dos equívocos da lógica proposicional é a falaciosa distinção entre disjunção inclusiva e disjunção exclusiva. No Manual Essencial Filosofia 11º em voga em muitas escolas do ensino secundário em Portugal lê-se:
«A disjunção inclusiva é representada por V.
«A disjunção exclusiva é representada por W.
Por exemplo:
«Os livros estão escritos em prosa ou em poesia».
PVQ
«Os livros estão escritos ou em prosa ou em poesia».
PWQ
Neste último sentido, é claro que uma alternativa exclui por si só a outra».
(Amândio Fontoura, Mafalda Afonso e Maria de Fátima Vasconcelos, Essencial Filosofia 11º, Santillana, pág 71).
Esta distinção é uma falácia. Dizer, por exemplo, «Vou ao Porto ou vou a Lisboa» (disjunção inclusiva segundo esta lógica) é o mesmo que dizer «Ou vou ao Porto ou vou a Lisboa» (disjunção exclusiva segundo esta lógica proposicional). A disjunção é exclusiva em ambos os casos: ir ao Porto exclui, no mesmo instante, ir a Lisboa. O «ou..ou» é apenas uma forma mais enfática de dizer «ou». Na substância, não há diferença alguma entre estas «duas» disjunções.» (Francisco Limpo Queiroz, 5 de Setembro de 2018, in Filosofia e Epistemologia)
Neste livro «Lógica Elementar» de Agosto de 2019 que estamos a analisar, Desidério Murcho adopta a nossa tese sem qualquer autocrítica, fala apenas em disjunção, e, claro, sem referir o nome Francisco Limpo Queiroz, cujas publicações estão no Index de Desidério e da Lekton, site da web que recusou difundir a existência do nosso «Dicionário de Filosofia e Ontologia, dialética e equívocos dos filósofos» - uma atitude de fascismo epistémico praticada pelos senhores da universidade. Já Schopenhauer dizia que é incompatível ser filósofo e ser professor universitário de filosofia, visto que este último alinha com a maioria que lhe dá sustento e prestígio institucional e não admite estar errado para brilhar ante os alunos...
O SUJEITO DE UMA PROPOSIÇÃO SÓ PODE SER UM ENTE INDIVIDUAL? NÃO PODE SER UM ENTE COLECTIVO?
Em uma tentativa de derrubar a lógica aristotélica, Desidério escreve:
«Uma deficiência capital da lógica de Aristóteles é encarar a frase "Todo o grego é europeu» como se resultasse de se acrescentar um quantificador a uma frase que tem a mesma estrutura lógica de "Sócrates é europeu", o que é falso. Nesta última frase, atribui-se um predicado a "Sócrates" , que é um sujeito genuíno; mas na primeira "grego" não é realmente o sujeito da frase. (...) Dizer que todo o grego é europeu não é atribuir o predicado "europeu" ao sujeito "grego" mas antes atribuir os predicados "ser grego" e "ser europeu"a particulares: todo o predicado que tem o primeiro predicado tem também o segundo. Para desenvolver a lógica de Aristóteles diz-se então que "grego", naquela frase, é o termo sujeito; mas é da máxima importância não confundir termos sujeitos com sujeitos, pois os primeiros na verdade são predicados que estão num lugar sintático que noutras frases, ilusoriamente vistos como análogos é ocupado por sujeitos genuínos»
(Desidério Murcho, Lógica Elementar, Edições 70, pág. 297; o bold é colocado por nós).
Segundo Murcho, o sujeito de uma proposição não pode ser um ente colectivo, uma multidão: é obrigatório que seja um ente individual. Assim, por exemplo, na proposição «Os benfiquistas celebram o emblema da águia na camisa vermelha" o termo "os benfiquistas" não seria sujeito genuíno, mas sim predicado, Esquece que "os benfiquistas celebram.." é decomponível nas proposições «Rui Vitória celebra o emblema da águia na camisa vermelha», «Bruno Lage celebra o emblema da águia na camisa vermelha», «Luís Filipe Vieira celebra o emblema da águia na camisa vermelha», «Manuel Alegre celebra o emblema da águia na camisa vermelha», «Francisco Louçã celebra o emblema da águia na camisa vermelha», etc, etc. Como é possível que só o ente individual seja sujeito e que no colectivo desapareça o carácter de sujeito? E o termo Portugal? Não passaria a ser um predicado na proposição «Portugal é um país europeu» visto que se compõe de muitas cidades e concelhos como Lisboa, Porto, Beja, Braga, Coimbra, Évora, Faro, etc.?
Esta negação do sujeito universal trata-se de uma subversão falhada, nominalista, da lógica aristotélica. Desidério, como anti dialético pensador (de segunda classe) que é, elimina o termo intermédio. O termo "grego" funciona ora como sujeito ora como predicado consoante o contexto - isto é dialética - mas Murcho não o entende ou finge não entender, na ânsia de inovar no campo da lógica.
MURCHO ACEITA AS ERRÓNEAS LEIS DE MORGAN
Este manual de D.Murcho aceita como válidas as leis de Morgan, um erro colossal que demonstra o carácter enganador desta lógica. A primeira lei de Morgan enuncia-se assim:
«1ª Negação de uma conjunção:
A negação de uma conjunção é equivalente à disjunção das negações das suas proposições ou argumentos.»
Formalizemos:
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