Zubiri entendeu que as chamadas qualidades secundárias (cores, sons, cheiros, sabores, calor-frio, tacto, etc.) são tão reais quanto as qualidades primárias (forma, tamanho, movimento, número). Ainda que, segundo muitos físicos, não existam na natureza o verde e o vermelho mas tão só radiações electromagnéticas que o olho humano percebe como verde e vermelho, o grande filósofo espanhol Xavier Zubiri sustentou que o verde ou o vermelho são reais em si, na percepção - ou impressão de realidade - que tenho, por exemplo, de esta rosa vermelha.
«Lo real "en" la impresión puede no ser real más que en la impresión. Pero esto no quiere decir que no sea real "en" ella. Hoy sabemos que si desaparecieran los animales videntes, desaparecerían los colores reales; no desaparecerían meramente unas afecciones impresitas, sino que desaparecerían realidades. Lo que sucede es que estas realidades no lo son más que "en" la impresión. Lo real "allende" la impresión continua incólume. Ahora bien, esto no es un juego de palabras. Porque lo real es siempre y solo lo que es "de suyo". Lo real "allende" no es real por ser "allende", sino que es real por ser de suyo algo allende. "Allende" no es sino un modo de realidad. Realidad, repito, es formalidad del "de suyo" sea en la impresión, sea allende la impresión. Lo impresivamente real y lo real coinciden, pues, en ser formalidad del de suyo; esto es, coinciden en ser reales.» (Xavier Zubiri, Inteligencia Senciente, Inteligencia y Realidad, Alianza Editorial, Fundación Xavier Zubiri, Pág. 152; la letra negrita es añadida por mi)
Repare-se no que Zubiri sublinha: «Além de (allende) não é senão um modo de realidade. Realidade, repito, é formalidade do «em si mesmo» (de suyo) seja "na" impressão, seja "além d" impressão.» Há, portanto, duas zonas da realidade: a sensível e a inteligível, com o mesmo grau de veracidade.
Estamos, pois, longe de Heidegger quando este afirmou em Sein und Zeit: «O ser é o transcendens, pura e simplesmente». Para Zubiri, o real está ora na transcendência ora na imanência, ora além de, ora aquém de: não é o lugar, a proximidade maior ou menor ao sujeito, aquilo que o faz ser real, mas sim o seu carácter autosubsistente, de absoluta autonomia ou formalidade primordial do «em si mesmo». O verde é um «em si» tão real como o comprimento de onda - outro «em si», além do olhar - que objectivamente lhe corresponde.
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