Sábado, 5 de Março de 2011
Yang e Yin na Cosmologia contemporânea

 

Segundo o taoísmo, milenar filosofia chinesa, o Tao é a «mãe do universo», o princípio de tudo, e ramifica-se em duas tendências, uma centrífuga a outra centrípeta: Yang e Yin.

O Yang ou princípio masculino significa: luz, dilatação, para fora, fogo, calor, vermelho, alto. O Yin ou princípio feminino significa: escuridão, contracção, para dentro, água ou terra, frio, azul, baixo. 

Duas leis pautam a relação Yang-Yin: 

1) Demasiado Yang origina Yin. Exemplo: as estrelas ardem (demasiado yang) e transformam elementos leves como o hidrogénio e o hélio (yang) em elementos mais pesados como o ferro (yin).

2) Demasiado Yin origina Yang. Exemplo: quando um electrão se aproxima do núcleo (demasiado yin) liberta energia (yang).

 

As noções de Yang e Yin além de um conteúdo absoluto, estável, em si, apresentam um conteúdo relativo, provisório, relacional, para outro: assim, a água e a terra são yin face ao fogo, mas a terra é mais yin - concentrada, imóvel, escura - do que a água.

A luta Yang-Yin encontra-se presente na realidade física e nas teorias que a espelham ou interpretam. Vejamos exemplos:

 

A) A electrodinâmica quântica (QED), teoria de Richard Feynman, tem dois parâmetros: a carga e a massa do electrão. A carga é yang e a massa é yin.

 

B) Segundo a teoria de Maxwell, a electricidade (yang) e o magnetismo (yin) são duas faces da mesma moeda, geradoras de uma onda electromagnética, ao interagirem. A luz é uma onda electromagnética, uma cadeia de campos eléctricos em torno de campos magnéticos.

 

C) A radiação ultravioleta (cor yin) possui um comprimento de onda mais curto (yin) do que a luz violeta visível. A radiação infravermelha (cor yang) possui um comprimento de onda mais longo (yang) do que a luz vermelha visível.

 

D) Há quatro forças fundamentais, duas delas yin, de tendência contráctil, e duas outras yang, de tendência expansiva.

Assim, existem:

 

1) A gravidade ou força gravitacional (yin), força atractiva que mantém unido o sistema solar e evita a explosão das estrelas. É a mais fraca das quatro forças mas aquela que se exerce numa maior vastidão. A magnitude relativa é de 10 e o seu mediador o gravitão, partícula de massa nula.

 

2) O electromagnetismo (yang) que inclui a luz, as ondas de rádio e televisão,  microcondas, raios X, radar, baseado na transmissão dos fotões. A sua magnitude relativa é dez elevado à potência de 39,  o mediador é o fotão. O campo magnético é o resultado de uma corrente eléctrica.

 

«Na Terra, a força electromagnética é, por vezes, suficientemente forte para se sobrepor à gravidade. Por exemplo, friccionando um pente, é possível levantar pedaços de papel de uma mesa. A força electromagnética contraria assim a força descendente da gravidade e é dominante sobre outras forças até 0,0000000000001 da polegada (aproximadamente a dimensão de um núcleo).» (Michio Kaku, Jennifer Trainer, Para além de Einstein, pag 18, Publicações Europa-América).

 

3) A força nuclear forte (yin), é a interacção entre os quarks e os gluões e tem um curtíssimo raio de acção de dez elevado à potência menos treze. Mantém coeso (yin) o núcleo de cada átomo:  mantém os protões unidos entre si,por serem compostos de quarks, vencendo a força repulsiva entre os protões, e mantém unidos os neutrões, compostos de quarks, no núcleo de cada átomo.  A interacção forte possui a magnitude relativa de dez elevado à potência 41 e o seu mediador é o gluão: é cerca de cem vezes mais forte que a força electromagnética, cerca de dez elevado à potência onze maior que a força fraca e cerca de dez elevado à potência trinta e nove maior que a gravidade.

 

4) A força nuclear fraca (yang) é a força que cinde as partículas e constitui, por exemplo, a radioactividade - ou desintegração (yang) de um núcleo instável de urânio com emissão de partículas alfa, beta, radiações electromagnéticas de alta frequência gama e poeiras até que o núcleo fique estável (yin) - e provoca o calor desenvolvido pelo núcleo de um reactor de energia nuclear gerador de electricidade. Os seus mediadores são os bosões W e Z e a sua magnitude relativa é de dez elevado à potência 29. Juntamente com o electromagnetismo constitui a força electrofraca.

 

E) A teoria da relatividade especial de Einstein postula que o tempo se retrai e ralentiza (yin) à medida que um corpo acelera (yang) o seu movimento de translação. Assim, o tempo no interior de um foguetão em movimento no espaço sideral é mais lento do que em Terra. Há , pois aqui, uma simetria de unificação: o espaço (yang) unifica-se com o tempo (yin), a energia (yang) unifica-se com a matéria (yin).

 

F) A teoria da relatividade geral de Einstein postula que um raio de luz (yang) se encurva ao passar na proximidade de uma grande massa (yin), por conseguinte dotada de força gravítica(yin). Modela, pois, a gravidade em função da curvatura espaço-tempo.

 

G) A conversão da matéria (yin) em energia (yang) pode efectuar-se mediante a cisão do átomo que liberta a imensa energia (yang) conservada no seu núcleo.

 

H) A teoria quântica, criada por Max Planck, postula que a onda de luz (yang) como toda a energia é divisível em «quantas» ou pequenas partículas (yin).  

 

G) O princípio da incerteza de Werner Heisenberg estabelece que é impossível conhecer em simultâneo a velocidade (yang) e a posição (yin) de uma partícula como o electrão. O acto de observar um electrão no átomo faz com que o feixe luminoso de fotões desloque a posição do electrão.

 

I) Na vida de uma estrela, a fornalha termonuclear existente nela (yang) dilata a estrela, até esta se tornar uma gigante vermelha (yang) mas gasta-se e a força de implosão da gravidade (yin) passa a dominar a estrela e fá-la colapsar, durante milhões de anos ou num simples instante, desabando o núcleo da estrela sobre si mesmo (yin) e transformando-se em buraco negro (yin).

 

J) A teoria da relatividade generalizada domina o macrocosmos (yang) e a teoria quântica domina o microcosmos (yin).

 

K) Durante o dia, a luz do sol embate nas moléculas de ar em todas as direcções e dispersa-se (yang) fazendo ver o céu como azul (yin). Vemos o pôr do sol avermelhado (yang), porque a luz se desloca horizontalmente até aos nossos olhos por uma grande quantidade de ar. Na Lua, que não tem ar para dispersar a luz do sol, o céu é visto de cor negra, mesmo de dia.

 

L) Quando um electrão situado na camada mais interna (yin) do átomo, é atingido por uma certa quantidade de energia (yang) , salta para a camada imediatamente a seguir, mais externa (yang). Em seguida, logo que seja possível, salta para a posição inicial, mais interna, mais próxima do núcleo (yin) devolvendo a energia (yang) que usara.

 

www.filosofar.blogs.sapo.pt
f.limpo.queiroz@sapo.pt

 

© (Direitos de autor para Francisco Limpo de Faria Queiroz)

 



publicado por Francisco Limpo Queiroz às 18:25
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