Hierarquizar géneros e espécies, de forma correcta, não é apanágio da generalidade dos filósofos, nem da generalidade dos autores de manuais escolares, em particular dos intelectualmente míopes da «filosofia analítica». No seu manual escolar «Filosofia, 10º ano», Luís Rodrigues, estabelece a seguinte divisão dos campos da filosofia:
«1.2. Se há vários problemas filosóficos, há várias disciplinas filosóficas?
A resposta é sim. Cada disciplina filosófica tem os seus problemas específicos, embora haja problemas que podem interessar a mais do que uma área de filosofia. (...) Desde já, damos-lhe uma ajuda nomeando algumas disciplinas filosóficas importantes e os seus problemas fundamentais (..)
Filosofia da acção.
Disciplina cujo objecto de estudo é a acção, estudando o papel das crenças, dos motivos, das preferências e das intenções das nossas acções. (...)
Filosofia dos valores
Disciplina cujo objecto de estudo é a natureza dos valores. Eis algumas das suas questões. O que são valores? São objectivos ou subjectivos? (...).
Ética ou filosofia moral
Disciplina que procura responder ao problema de saber como devemos viver. Esta questão é habitualmente dividida em duas questões menos gerais: 1) Como distinguir uma acção correcta de uma moralmente incorrecta? . 2) O que devemos fazer da nossa vida para a tornar boa e valiosa? (...)
Filosofia da religião
(...)
Estética
(...)
Filosofia política
(...)
Filosofia do direito.
(...)
Filosofia do conhecimento.
(...)
Metafísica.
(....)
(Luís Rodrigues, Filosofia 10º ano, 1º volume, páginas 15-18, Plátano Editora).
Há erros nesta hierarquização. A ética é uma espécie dentro dos géneros filosofia da acção e filosofia da contemplação ou conhecimento puramente intelectual. E a ética é também um compartimento - uma espécie - dentro da casa que é a filosofia dos valores - um género. Não podem pois pôr-se no mesmo plano horizontal, ética e filosofia dos valores, ética e filosofia da acção como o faz Luís Rodrigues. É confusão de níveis. E qual é a relação entre filosofia dos valores e filosofia da acção? Qual se encontra, dialeticamente falando, mais elevada? Nada disto é esclarecido nesta enumeração simplista.
O pensamento dialético, de que Heráclito é formalmente o introdutor na filosofia ocidental antiga, a dialética que Platão anunciou e da qual se afastou não poucas vezes, o pensamento dialético de que Aristóteles foi o maior representante na Antiguidade clássica ocidental, é ignorado. As mentes "analíticas" das universidades e liceus do nosso tempo limitam-se a compartimentar, de forma atabalhoada, os conceitos, e carecem da perspectiva angular do todo.
© (Direitos de autor para Francisco Limpo de Faria Queiroz)
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