Terça-feira, 18 de Outubro de 2016
Teste de Filosofia do 10º ano, turma C (Outubro de 2016)

Eis um teste de filosofia do 1º período que se insere nas linhas abertas do programa de filosofia do 10º ano de escolaridade em Portugal.

 

Agrupamento de Escolas nº1 de Beja

 

Escola Secundária Diogo de Gouveia, Beja

TESTE DE FILOSOFIA, 10º ANO TURMA C

 

18 de Outubro de 2016. Professor: Francisco Queiroz

I

“Heráclito era panteísta mas Platão defendia um teísmo. A filosofia comporta metafísica, ética, estética e epistemologia. A racionalidade dos filósofos reduz a uma unidade ou a uma dualidade a multiplicidade das aparências empíricas.”

 

1)Explique, concretamente este texto.

 

2) Relacione, justificando:

A) Yang, Yin e Tao no taoísmo.

B) Epithymia em Platão e corpo como cárcere da alma.

C) Demiurgo, Arquétipo e teoria da participação, em Platão.

D) Subjectivismo e ideologia.

 

CORREÇÃO DO TESTE COTADO PARA 20 VALORES

1) Heráclito era panteísta, isto é, defendia que os deuses não existem acima e fora da natureza biofísica mas fundem-se com esta,estão dentro desta. Declarou: «Deus é a abundância e a fome, o dia e a a noite, o Inverno e o Verão; embora assuma múltiplas formas, à semelhança do fogo que, aspergido por aromas, toma o nome dos perfumes que exala». Platão era teísta, isto é, sustentava que Deus ou arquétipo do Bem estava fora da natureza física, num mundo inteligível, acima do céu visível e que um deus inferior, o demiurgo, desceu à matéria moldando nesta cópias das formas dos arquétipos de Árvore, Cavalo, Montanha, Homem, etc, criando assim o Mundo Sensível (Kósmos Asthetos) (VALE TRÊS VALORES). A filosofia ou arte de pensar racionalmente e especulativamente a vida, o mundo, o homem e as divindades comporta metafísica, isto é, especulação sobre o suprafísico e o infrafísico, o mundo incognoscível do «além» ou da psique humana, ética, isto é, doutrina do bem e do mal, do justo e do injusto na ação humana, estética, isto é, doutrina do belo e do feio, epistemologia, isto é, interrogação e reflexão sobre as ciências (ex: será que as vacinas previnem as doenças ou infectam o corpo?) (VALE TRÊS VALORES). A racionalidade, isto é, o pensamento lógico dos filósofos reduz a uma unidade, a uma só essência, as muitas aparências das coisas, os milhões de objectos físicos - é o caso da filosofia de Tales que diz que a água, uma única essência, é o constituinte de tudo, árvores, pedras, terra, animais, etc - ou a uma dualidade,isto é, a dois princípios opostos - é o caso da ontologia de Platão em que a dualidade engloba os arquétipos do Mundo Inteligível e a matéria caótica do Sensível (VALE TRÊS VALORES).

 

2) A) O Tao é a mãe do universo, algo de obscuro e silencioso que circula por toda a parte e é o modelo do céu e divide-se em duas ondas formando uma sinusoidal: o Yang (alto, calor, dilatação, verão, som, sol, vermelho, movimento, exterior) e o Yin (baixo, frio, contração, inverno, silêncio, lua, azul, imobilidade, interior). A sucessão dos dias e das noites, do trabalho e do repouso das sementeiras e colheitas, representa o ritmo yang-yin, faz parte do Tao do universo. (VALE TRÊS VALORES)

 

2)B) Epithymia ou concupiscência é, segundo Platão, a parte inferior da alma que contém os prazeres da carne (comer, beber, possuir propriedades agrícolas, ouro e prata) e acaba por prender o Nous ou parte superior da alma que aspira a subir ao Inteligível. Assim o corpo, a epithymia, com o peso das suas paixões materiais aprisiona a alma espiritual (VALE TRÊS VALORES).

 

2)C) Arquétipo é um modelo de perfeição - há os arquétipos de Bem, Belo, Justo, Número Um, Número Dois, Triângulo, Cubo, Cone, Esfera, Homem, Mulher, Árvore, etc- imóvel, espiritual e eterno, num mundo acima do céu, que serve de modelo ao deus operário ou demiurgo na construção do mundo Sensível inferior. Este desce à matéria caótica e molda nela formas semelhantes às de cada arquétipo. Assim os cavalos físicos, as montanhas físicas participam ou imitam os arquétipos de cavalos e montanhas. (VALE TRÊS VALORES).

 

2)D)  Subjectivismo é a teoria que afirma que a verdade varia de pessoa a pessoa, é íntima, subjectiva. Ideologia é uma doutrina, um conjunto de ideias e valores, característicos de uma dada classe ou grupo social - exemplos: o liberalismo, o fascismo, o comunismo, o judaísmo, o islamismo -  que, podendo ser objectivos, isto é, professados por milhões de pessoas, implicam escolhas subjectivas (VALE DOIS VALORES).

 

 

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Terça-feira, 4 de Novembro de 2014
Teste de filosofia do 10º C (Outubro de 2014)

 

Eis um teste de filosofia . Evitamos as perguntas de escolha múltipla que, por vezes, enfermam de um deformado espírito de «minúcia» frequentemente manchado por falácias disjuntivas.

Agrupamento de Escolas nº1 de Beja
Escola Secundária Diogo de Gouveia , Beja
TESTE DE FILOSOFIA, 10º ANO TURMA C
29 de Outubro de 2014. Professor: Francisco Queiroz

 

I

 

“Em Tales de Mileto, como em Heráclito, as múltiplas aparências empíricas ocultam uma só essência. As essências em Platão são transcendentes e em Aristóteles são imanentes. A filosofia combina, em diferentes proporções, cepticismo, dogmatismo e relativismo. A teoria hilemórfica de Aristóteles sustenta que a proté ousía brota de dois princípios opostos, um dos quais existe originariamente em potência».

 

  1. Explique concretamente este texto.

II

 2. Relacione, justificando;

A) Filosofia, racionalidade, especulação e empiricidade.

B) Esfera dos valores vitais e sentimentais e esfera dos valores espirituais, na teoria de Max Scheler

C) Demiurgo, doutrina da participação e reminiscência em Platão.

D) O tó tí, o tó on, o ser (einai) e a espécie (eidos) na teoria de Aristóteles.

 

 

CORRECÇÃO DO TESTE COTADO PARA UM TOTAL DE 20 VALORES

 

1-) Em Tales de Mileto, as múltiplas aparências empíricas - exemplo: as montanhas, os céus, os rios, os animais, as árvores - são feitas de uma mesma essência que é a água, o arquê ou princípio material do universo. Deus, inteligência que não criou a água, moldou a partir desta o cosmos. Em Heráclito, as múltiplas aparências empíricas ou seja os muitps objectos que aparecem aos orgãos sensoriais são uma só coisa, isto é, fogo transformado, arrefecido de diversos modos. (VALE TRÊS VALORES). As essências são as formas eternas e imutáveis tanto em Platão como em Aristóteles. Em Platão, elas são arquétipos de Bem, Belo, Justo, Número Um, Número Dois, Triângulo, Homem, etc, existentes no mundo Inteligível acima do céu visível, por isso são transcendentes, estão além (trans) do universo físico. Em Aristóteles, as essências são formas eternas e imóveis inerentes ou imanentes aos objectos físicos - exemplo: a essência sobreiro está em todos os sobreiros reais, físicos, porque não há mundo inteligível (VALE DOIS VALORES). A filosofia, ou interpretação autónoma do mundo e da vida, implica cepticismo, doutrina que diz ser impossível chegar à verdade, conhecer a estrutura oculta das coisas e os seus fins, dogmatismo, doutrina que afirma certezas diversas, relativismo, doutrina que afirma que a verdade e os valores variam de época a época, de povo a povo, de classe a classe social e até de pessoa a pessoa (VALE TRÊS VALORES). A teoria hilemórfica (hyle é matéria-prima universal; morfos é forma) de Aristóteles sustenta que cada coisa individual ou primeira substância (proté ousía) como, por exemplo, este cavalo cinzento, se forma da união entre a forma eterna de cavalo que existe algures e a hylé ou matéria-prima universal, indiferenciada, que não é água nem fogo nem ar, nem terra mas que estava em potência, isto é não existia a não ser virtualmente mas passa a existir em acto ao juntar-se à forma (VALE DOIS VALORES).

 

2-A) A filosofia, ou interpretação livre do mundo e da vida, comporta racionalidade, isto é, lógica,  especulação, isto é, formulação de teses mais ou menos indemonstráveis através da experiência - como por exemplo: o mundo é um fogo eterno que ora se acende ora se extingue; Deus está rodeado de nove coros de anjos; não há vida espiritual após a morte corporal - e empiricidade, isto é, uma apreciável quantidade de dados empíricos - as manchas de petróleo nos mares são coisas empíricas que entram na filosofia ecologista; os campos cultivados por cooperativas agrícolas são factos da experiência que entram nas filosofias socialista e comunista. (VALE TRÊS VALORES).

 

2-B)  A esfera dos valores vitais e sentimentais é a dos valores anímicos situada entre o prazer e a dor puros, vegetativos, e os valores intelectuais. Comporta os seguintes valores: nobre e vulgar, sentimentos de vitória ou de derrota, de juventude e de doença, de ciúme ou de tranquilidade afectiva, de coragem ou de cobardia, de paixão amorosa e ódio, etc. A esfera dos valores espirituais, em Max Scheler, engloba os valores éticos (bem, mal; justo-injusto), estéticos (belo-feio), filosóficos (verdadeiro-falso) e os valores anexos de referência do direito (legal-ilegal) e das ciências empíricas (verdadeiro utilitário- falso utilitário), sendo uma esfera mais intelectual do que a dos valores vitais. (VALE DOIS VALORES).

 

2-C)    O demiurgo é o deus operário que desceu do mundo inteligível e com a ajuda dos deuses do Olimpo   imprimiu na matéria no caos as formas dos arquétipos de árvore, de leão, de homem, de montanha, etc, gerando assim o mundo sensível do devir ou mundo do outro. A esta imitação dos arquétipos na matéria chama-se doutrina da participação.  A reminiscência é a lembrança vaga que cada alma (Nous) guarda do mundo dos arquétipos onde esteve antes de encarnar (exemplo: tenho a reminiscência de triângulo e é dela que extraio o saber de que a soma dos seus 3 ângulos internos é 180º) e é também um aspecto da doutrina da participação, visto que liga o mundo superior ao mundo inferior (VALE DOIS VALORES).

 

2-D)    O tó tí é o quê-é ou seja a forma, essencial ou acidental, de algo. Exemplo: o tó tí da espiga de trigo é a forma desta e distingue-se do tó tí da espiga de milha e do tó tí do rosto humano. O tó ón é o ente, o que é, o existente, qualidade que é comum aos diferentes tó tís: o tó ón da espiga de trigo não se distingue do da espiga de milho. O ser ou einai é para Aristóteles o existir, um predicado geral: os homens são, as árvores são, os números são, etc.  A espécie (eidos) é a forma comum a vários indivíduos   e, por isso,   cada espécie tem um tó tí próprio.   (VALE TRÊS VALORES).                   

 

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Quinta-feira, 1 de Maio de 2014
Equívocos no manual «Filosofia 11º ano» da Plátano Editora (Crítica de Manuais Escolares - LIX)

 

 

Algumas imprecisões integram o livro do professor  Filosofia 11º ,de Luís Rodrigues,  com Fernando Rua como consultor científico, da Plátano Editora.

 

A FILOSOFIA ´DISTINGUE-SE DA CIÊNCIA PELO MÉTODO? OU PELO DOMÍNIO EM QUE SE AVENTURA?

 

Lê-se no manual:

 

«1. O que distingue a filosofia de outros saberes?»

«A filosofia é uma forma de saber racional que se distingue de outros saberes, especialmente da ciência pelo método - à argumentação crítica sem recurso a testes empíricos ou provas formais.» (Luís Rodrigues,  Filosofia 11º , Fernando Rua como consultor científico,  Plátano Editora, pág 266).

 

Crítica minha: o que distingue, essencialmente, a filosofia da ciência não é a ausência de recurso a testes empíricos - a filosofia usa-os, como por exemplo, ao referir os 6 milhões de judeus exterminados na 2ª Guerra Mundial pelos nazis, no caso da filosofia antinazi; ao referir os exemplos de Júpiter em Peixes nas revoluções liberal de esquerda 24 de Agosto de 1820, radical de 14 de Maio de 1915 e antifascista de 25 de Abril de 1974 no caso da nossa filosofia da astrologia histórica. Ademais, a ciência argumenta criticamente muitas vezes sem provas empíricas como é o caso da teoria do Big Bang: há quem defenda que há galáxias com 70 000 milhões de anos o que contraria a tese de o Big Bang se ter dado há 15 000 milhões de anos.

 

O que distingue a filosofia, das ciências, é o movimento do pensamento filosófico na metafísica, no reino além dos factos positivos, visíveis e palpáveis. As ciências estão todas impregnadas de filosofia - desta ou daquela filosofia. Por exemplo, dizer que a vacina (vírus e toxinas) «ensina o corpo a defender-se contra futuros ataques de certa doença» é pura filosofia subjectiva que já foi incorporada no senso comum. Cada filosofia prolonga a investigação das ciências além da fronteira do visível e do palpável, e por isso decompõe-se, como a luz branca, em múltiplas «cores» ao atravessar o prisma limite do mundo visível. Há muitas filosofias sobre o mesmo tema testável. Platão faz residir as essências no mundo inteligível, Aristóteles fá-las residir no mundo da matéria, cujo fundo é também metafísico. O método racional, tanto quanto possível assente em dados empíricos, é comum à filosofia e às ciências, ainda que estas recorram a métodos particulares.

 

A FILOSOFIA NÃO É SUBJECTIVA?

 

Diz o manual:

 

«2. Podemos dizer que a filosofia é subjectiva?

Não. Há verdades objectivas em filosofia porque esta não é o reino da pura e simples opinião. O problema é alcançar a resposta objectivamente verdadeira a uma questão básica e fundamental.» (Luís Rodrigues,  Filosofia 11º , Fernando Rua como consultor científico,  Plátano Editora, pág 266).

 

Crítica minha; a filosofia é um misto de subjectividade e objectividade. Por isso,é parcialmente incorrecto dizer que não é subjectiva. O existencialismo, de Kierkegaard a Sartre, acentua a subjectividade do indivíduo como a fonte da filosofia livre e criadora. Dizer que o nosso eu racional tem capacidade para dominar, em certa medida, os instintos mais baixos é uma verdade objectiva mas dizer, como o filósofo estóico Marco Aurélio, que se pode permanecer impassível enquanto nos torturam ou cortam aos pedaços é uma tese subjectiva.

 

AS CONFUSAS PERGUNTAS DE ESCOLHA MÚLTIPLA

No caderno do professor, que faz parte do Filosofia 11º ano de Luís Rodrigues, figuram questões de escolha múltipla mal formuladas. Eis exemplos.

 

«Considere os enunciados seguintes. Selecione a alternativa correcta.

 

1.1 A. Deves cumprir o prometido.

       B. Não há homens em Marte.

       C. Precisarias de ajuda.

       D. Não achas que me fizeste esperar muito?

        (Luís Rodrigues,Caderno do professor, Filosofia 11º ano, Plátano Editora, pág 56) 

 

Segundo o autor só a frase b é proposição.

 

Crítica minha: há duas proposições ou frases declarativas, a B e a C («Precisarias de ajuda»). A frase «precisarias de ajuda» pode ser tomada como uma frase assertiva: «Sem dúvida, precisarias de ajuda naquela conjuntura», o que é o mesmo que dizer, como uma proposição 

 

1.2  A.  A guerra na Síria é imoral e fraticida.

        B. Qualquer vacina contra a malária tem de ser barata.

         C. Em geral, os quadros de Miró têm menos valor do que os de Picasso.

         D. O aquecimento global pode ameaçar a subida do nível do mar.»

   (Luís Rodrigues,Caderno do professor, Filosofia 11º ano, Plátano Editora, pág 56).

 

Segundo Luís Rodrigues, só a hipótese A está certa.

 

Crítica minha: As quatro respostas estão certas, são todas frases declarativas. Não sabemos o que Luís Rodrigues entende por proposição mas reduziu, sem dúvida, o conceito desta de forma inaceitável. Dizer que «os quadros de Miró valem menos que os de Picasso» não é uma proposição? Ora vamos lá a pensar seriamente, Luís Rodrigues! A proposição é uma afirmação ou negação construída sobre a realidade efectiva ou sobre a possibilidade. Dizer «é possível que o aquecimento global faça subir o nível do mar»  é uma proposição porque se ancora em duas contrárias entre si: «o aquecimento global faz ou fará subir o nível do mar» ; «o aquecimento global não faz ou não fará subir o nível do mar». Como pode uma proposição englobante - pois a possibilidade abarca o "sim" e o "não" - deixar de ser proposição? Como podem a tese e antítese comstituirem proposições e a síntese não?  

 

Este tipo de perguntas de escolha múltipla formam um terço das questões da prova de exame nacional de filosofia do 11º ano. E, em regra, este possui algumas dessas questões mal formuladas.

 

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Sábado, 21 de Setembro de 2013
A capitulação de Wittgenstein ante as ciências positivas

 

A última fase de Ludwig Wittgenstein (26 de Abril de 1889, Viena de Austria - 29 de Abril de 1951, Cambridge) caracterizada como quietismo filosófico, é a capitulação completa da filosofia antes as ciências empíricas e a matemática. Wittgenstein anula o poder especulativo da filosofia, a capacidade desta derrubar tal e tal ciência, tal ou tal ideologia, tal ou tal tese:

 

«126. A Filosofia, de facto, apenas apresenta as coisas e nada esclarece nem nada deduz. - E uma vez que tudo está à vista, também nada há a esclarecer. Porque aquilo que está talvez oculto, não nos interessa

«Poder-se-ia também chamar Filosofia a tudo o que é possível antes de todas as novas descobertas e invenções.»

 

«127. O trabalho do filósofo consiste em reunir memórias para um determinado fim.»

 

«128   Se se quisesse estabelecer teses em Filosofia, nunca seria possível discuti-las, porque todos estariam de acordo com elas

 

(Ludwig Wittgenstein, Investigações Filosóficas, pag 263, Fundação Calouste Gulbenkian; o destaque a negrito é posto por mim).

 

O que Wittgemstein nos propõe aqui é a anti-filosofia: desaparece a subjectividade, a aventura especulativa de cada um .Não filosofamos sobre se os medicamentos químicos escondem os sintomas e deixam a doença reprimida no interior do corpo, em vez de curar verdadeiramente, não filosofamos sobre se há Deus ou deuses ou eternidade das almas humanas, não filosofamos sobre se temos ou não livre-arbítrio, nem sobre a inteligência da natureza, biofísica, não filosofamos sobre a lei da tríade estabelecida por Hegel ( ao ser em si sucede o ser for de si e a este o ser para si), etc.

 

A Filosofia desce ao nível do mais rasteiro senso comum, da descrição dos sentidos, do triunfo da opinião da esmagadora maioria, do consenso generalizado. Assim a Filosofia seria apenas história da filosofia (reunião de memórias) e estaria presa nas correntes do observável, do empiricamente testável. O Nous - a inteligência metafísica - seria abandonado a favor da Empeiria, a experiência sensorial.

 

 

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Quarta-feira, 28 de Março de 2012
Heidegger acusou, sem base, Kant de encobrir o «ser no mundo» do sujeito

 

«O Ser e o Tempo», essa "bíblia" da fenomenologia, escrita por Heidegger, é um livro de dupla face: nele, ideias e raciocínios brilhantes juntam-se a paralogismos e equívocos de que o grande público, e mesmos os especialistas em Heidegger, não se dão conta. Escreveu Heidegger:

 

« Antes de tudo, há que advertir que Kant usa o termo "existência" para designar a forma de ser que na presente investigação se chama "ser diante dos olhos". (...)

«O simples facto de que Kant peça uma prova da "existência das coisas fora de mim" mostra que põe o ponto de apoio do problema no sujeito, no "em mim". Consequentemente, desenvolve-se a própria prova partindo da mudança dada empíricamente em mim. »

«Pois só em mim é experimentado o tempo que suporta a prova. O tempo é quem dá o apoio para o salto demonstrativo do "fora de mim". (...)

«O que prova Kant - concedida a legitimidade da prova e da sua base - é o necessário "ser diante dos olhos juntamente" um ente mutável e um ente permanente. Mas a coordenação dos entes "diante dos olhos" nem sequer quer dizer já "o ser diante dos olhos juntamente" um sujeito e um objeto. E uma vez provado isto, continuaria encoberto o ontologicamente decisivo: a estrutura fundamental do "sujeito", do "ser aí"  como "ser no mundo". O "ser diante dos olhos juntamente" o físico e o psíquico é ôntica e ontologicamente em toda a linha distinto do fenómeno do "ser no mundo"».

(Heidegger, El Ser y el tiempo, pag. 224-225, Fondo de Cultura Económica) 

 

Contrariamente ao que Heidegger afirma, Kant não ocultou a estrutura do sujeito como "ser no mundo". Kant sustentou que o sujeito é o criador ou co-criador do mundo fenoménico, das paisagens terrestres e celestes e seus objetos materiais, e que não existe um dualismo ontológico rigoroso entre sujeito e objeto fenoménico:

 

«Esta hipótese de união entre duas substâncias, a pensante e a extensa, tem por fundamento um dualismo grosseiro e transforma estas substâncias, que são meras representações do sujeito pensante, em coisas subsistindo por si. Pode-se, pois, demolir a falsa concepção da influência física, mostrando que o fundamento da sua prova é nulo e fictício.»

«O famoso problema do que pensa e do que é extenso acabaria assim, se fizermos abstração de tudo o que é imaginário, simplesmente em saber como é possível num sujeito pensante em geral, uma intuição externa, ou seja, a intuição do espaço ( do que o preenche, a figura e o movimento). A esta questão não é possível a homem algum encontrar uma resposta e nunca se poderá preencher essa lacuna do nosso saber, mas somente indicar que se atribuem os fenómenos externos a um objeto transcendental...» (Kant, Crítica da Razão Pura, páginas 367-368, nota de rodapé, Fundação Calouste Gulbenkian; o destaque a negrito é posto por mim).

 

Como este excerto denota, Kant não considerou o sujeito como um espectador do mundo entendido como "ser diante dos olhos" (concepção realista, dualista) mas antes como um criador do mundo, um "ser no mundo" em sentido heideggeriano.

 

Também não parece que a existência da mudança - da sucessão e dos seus correlatos duração e da simultaneidade, características do tempo, segundo Kant - constituissem, para Kant, meios de prova de um mundo exterior, como sustenta Heidegger. O facto de, na concepção de Kant, o tempo ser o sentido interno e o espaço o sentido externo não faz com que o tempo seja o trampolim de prova do "mundo exterior". Este, como mundo exterior ao corpo físico - distinção que Heidegger, Russel e outros não fazem, o que prova a  inépcia destes ao estudar a gnosiologia de Kant - está dado automaticamente na intuição pura de espaço e não carece de prova. Quanto ao verdadeiro mundo exterior ao espaço e ao espírito humano em geral, é impossível de demonstrar a sua existência ainda que a razão o idealize composto de númenos (Deus, alma imortal, mundo como totalidade).

 

Heidegger nunca compreendeu integralmente Kant, tal como a generalidade dos filósofos contemporâneos. Excetuarei Hegel e Schopenhauer e algum outro. Nem Heidegger, nem Bertrand Russel, nem Witgenstein, nem os catedráticos que hoje lecionam nas universidades mais prestigiadas entenderam, a fundo, o pensamento kantiano. Nenhum destes, nem mesmo Heidegger, clarificou o duplo sentido que Kant atribui às expressões análogas "fora de nós"  e "mundo exterior":

 

1) O espaço está fora do nosso corpo mas dentro do nosso espírito, do vasto sector deste denominado sensibilidade, um «salão» imenso onde cabe a natureza visível, audível e palpável, feita de montanhas, céus, árvores, corpos de animais e humanos, isto é, fenómenos.

 

2) Os númenos ou coisas em si estão, presumivelmente, fora do nosso corpo e do nosso espírito envolvente e constituem o verdadeiro mundo exterior. ,

 

O «Ser e o Tempo» de Heidegger é, por conseguinte, um livro com erros importantes no plano da ontognosiologia, em especial da ontognosiologia de Kant, mas o estilo retórico e emaranhado de Heidegger, sem embargo da originalidade intelectual deste, subjuga o público vulgar e os académicos, que, mais ou menos acríticos,  fingem compreender os paralogismos do grande filósofo alemão do século XX. Sou, presumivelmente, um dos únicos a gritar:«O rei (Heidegger), supostamente vestido com um fato invisível (de sapiência retórica), vai nú!».

   

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Segunda-feira, 19 de Março de 2012
David Hume considerava a matemática um conhecimento a priori? (Crítica de manuais escolares - XLI)

 

Diversas imprecisões sobre David Hume são veiculadas nos manuais de filosofia para o ensino secundário. Um exemplo é o do manual «A arte de pensar» da Didáctica Editora, no qual se lê que «David Hume reconhece que há conhecimento a priori»:

 

 

«A priori e a posteriori»

 

«Os exemplos mais óbvios de verdades necessárias são as verdades matemáticas, as quais se limitam a exprimir relações de ideias. Mas são também conhecidas a priori, pois basta-nos usar o conhecimento para conhecê-las ou o raciocínio dedutivo para demonstrá-las. Por sua vez as verdades sobre questões de facto são contingentes e são conhecidas a posteriori, defende Hume. Mas o que significa tudo isto? »

«Significa que o conhecimento a priori, apesar de absolutamente certo, não é acerca do mundo, pois a sua verdade é independente de qualquer observação do mundo. Portanto, Hume reconhece que há conhecimento a priori, mas acrescenta que este conhecimento não é substancial, no sentido em que nada nos diz sobre o que existe fora do pensamento, nem nos diz como são as coisas no mundo. Isso só a posteriori podemos sabê-lo. » (Aires Almeida, Célia Teixeira, Desidério Murcho, Paula Mateus, Pedro Galvão, A arte de pensar, Filosofia 11º ano, pag. 158, Didáctica Editora; o destaque a negrito é posto por mim).

 

Ora, David Hume disse exatamente o oposto: em matemática, não há conhecimentos a priori. Vejamos o que escreveu:

 

«Geralmente, os matemáticos alegam que as ideias que lhes servem de objeto são de natureza tão refinada e tão espiritual que não entram na concepção da imaginação, mas devem ser compreendidas por uma visão pura e intelectual, de que só as faculdades da alma são capazes. A mesma opinião anda espalhada pela maior parte da filosofia e é principalmente utilizada para explicar as nossas ideias abstratas e para formar a ideia de um triângulo que, por exemplo, não seja nem isósceles, nem escaleno, nem se restrinja a um determinado comprimento e proporção dos lados. É fácil de ver por que é que os filósofos gostam tanto desta teoria das percepções espirituais e refinadas: é que por este meio encobrem muitos dos seus absurdos e podem recusar submeter-se ao juízo das ideias claras, recorrendo a ideias obscuras e incertas. Porém, para destruir este artifício não temos senão que refletir no princípio tantas vezes repetido de que todas as nossas ideias são cópias das nossas impressões.»( David Hume, Tratado da natureza humana, pags 106-107, Fundação Calouste Gulbenkian; o destaque a negrito é colocado por mim).

 

 

Hume diz que é um absurdo pretender, como o fazem muitos matemáticos e filósofos, que as ideias abstratas são obtidas por uma visão pura e intelectual, que não derivam de dados empíricos, isto é, que são obtidas a priori. Para Hume, esta teoria das percepções espirituais ou refinadas, a priori, esquece que as ideias são sempre singulares e a ideia de triângulo isósceles é cópia de impressões sensíveis de um triângulo isósceles determinado. Não há, segundo Hume, ideias nem cálculos matemáticos a priori, ao contrário do que acima afirmam os autores de «A arte de pensar».

 

HUME É CÉTICO OU NÃO?

Escreve ainda a «Arte de pensar»:

 

 

«Cepticismo moderado»

 

«Apesar das suas conclusões céticas, Hume não é um cético. Isto porque, ao contrário dos céticos, Hume defende que não devemos abandonar as nossas crenças intuitivas na existência do mundo exterior ou na existência de relações causais reais. Isto porque abandonar as nossas crenças tornaria a nossa vida impossível e poria em causa o nosso instinto de sobrevivência.» (Aires Almeida, Célia Teixeira, Desidério Murcho, Paula Mateus, Pedro Galvão, A arte de pensar, Filosofia 11º ano, pag. 163, Didáctica Editora; o destaque a negrito é posto por mim).

 

 

Assim, segundo este texto, Hume produz conclusões céticas mas não é um cético. É cético e não é cético, diz a «Arte de pensar». É um pouco confuso, convenhamos...Quererão os autores dizer que Hume é cético em algumas áreas e dogmático noutras? É preciso ser claro. Em quais? É realista? É idealista? Sobre isto, a «Arte de Pensar» é omissa. Basta dizer que é cético? Não, porque, pelos vistos, o nevoeiro do ceticismo não cobre a totalidade das afirmações de Hume.  

 

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Quinta-feira, 8 de Março de 2012
O pseudoparadoxo de Burali-Forti (fragilidades da filosofia analítica anglo-saxónica- V)

 

O "paradoxo de Burali-Forti" é um argumento da teoria dos conjuntos considerado verdadeiro pela filosofia analítica anglo-saxónica. Blackburn  enuncia-o assim:

 

«Paradoxo de Burali-Forti - O primeiro paradoxo a ser descoberto na teoria dos conjuntos. A todos os conjuntos bem ordenados é atribuído um número ordinal. Estes ordinais podem ser comparados: de quaisquer dois se pode dizer que são iguais, ou que um é mais pequeno e o outro maior. Eles formam, por sua vez, um conjunto bem ordenado. O ordinal deste conjunto tem de ser maior do que qualquer ordinal que pertença ao conjunto. Seja C o conjunto de todos os ordinais. Uma vez que é um conjunto bem ordenado, tem um número ordinal, w, que tem de ser maior do que qualquer elemento do conjunto. Mas C era o conjunto de todos os ordinais e tem de incluir w

(Simon Blackburn, Dicionário de Filosofia, pag 316, Gradiva, 2007; o destaque a negrito é posto por mim).

 

Trata-se de um pseudoparadoxo. Exemplifiquemos. Apliquemos este problema da teoria dos conjuntos aos 10 países latinos que existem na Europa, partindo do princípio que cada país é um conjunto de habitantes, atribuindo um número a cada um : a San Marino (cerca de  30 000 habitantes) o número 1, ao Mónaco (cerca de 32 000 habitantes) o número 2,  a Andorra (cerca de 78 000 habitantes) o número 3, à  Suíça (cerca de 7,8 milhões de habitantes) o número 4,  à Bélgica (cerca de 10,4 milhões de habitantes) que tem a Valónia, região de língua francesa, o numero 5, a Portugal cerca de 10,5 milhões de habitantes) o numero 6, à  Roménia (cerca de 22,2 milhões de habitantes) o número 7, a Espanha (cerca de 46 milhões de habitantes) o número 8, a Itália (cerca de 60,3 milhões de habitantes) o número 9, a França (cerca de 65,4 milhões de habitantes) o número 10.

 

Assim C é o conjunto de todos estes ordinais (1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9, 10) e tem de ter um número w - seja por exemplo 11 - maior do que qualquer elemento do conjunto.

E Blackburn escreve acima, delineando o dito paradoxo: «Mas C era o conjunto de todos os ordinais e tem de incluir w

Perguntamos: por que carga de água C tem de incluir w?  O conjunto [1,2,3...10] tem de incluir o número 11? É absurdo. É evidente que C não se inclui a si mesmo enquanto número 11 (w) ao lado dos números de escalão inferior que são os seus elementos. O erro aqui é similar ao do paradoxo de Russel que rebaixa a espécie - um conjunto de entes similares - à condição de elemento ou parte de si mesma.

 

Os matemáticos não são fiáveis,  no plano da especulação, não se inserem, em regra, no raciocínio multidimensional que caracteriza a verdadeira filosofia. É muito simples desmascarar este pseudoparadoxo da teoria dos conjuntos mas, pelos vistos, nem Russel, nem Wittgenstein, nem Quine, nem Samuel Kripke, nem Nagel, nem Blackburn, nem Anthony Kenny, nem João Branquinho, nem José Gil, nem a generalidade dos académicos actuais e do século passado o fizeram. Teremos que nos curvar e calar ante uma universidade de obnóxios doutorados em filosofia que veneram pseudoraciocínios de aparência matemática?  

 

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Quinta-feira, 1 de Março de 2012
O paradoxo do mentiroso, um pseudo paradoxo (fragilidades da filosofia analítica anglo-saxónica- III)

 

O "paradoxo do mentiroso" é um argumento aceite como válido pela filosofia analítica anglo-saxónica. Blackburn o enuncia-o assim:

 

«Paradoxo do mentiroso - Paradoxo alegadamente devido a Epiménides. Há um certo número de paradoxos que pertencem à família do mentiroso. O exemplo mais simples é a frase «Esta frase é falsa», que tem de ser falsa se for verdadeira, e verdadeira se for falsa. Uma sugestão de solução é afirmar que a frase nada diz; mas as frases que nada dizem não são, no mínimo, verdadeiras. Nesse caso, consideramos a frase " Esta frase não é verdadeira" que, se nada diz, não é verdadeira e, logo, é verdadeira (a este tipo de raciocínio chama-se por vezes "o paradoxo fortalecido  do mentiroso"). Outras versões do mentiroso, introduzem pares de frases, como uma inscrição na parte da frente de uma camisola que afirma " A frase na parte de trás desta camisola é falsa" e outra na parte de trás que afirma "A frase na parte da frente desta camisola é verdade". É claro que, tomadas isoladamente, ambas as frases são bem formadas, e, se não fosse pelo que a outra afirma, poderiam ter dito algo verdadeiro. Por isso qualquer tentativa para afastar o paradoxo afirmando que as frases envolvidas não têm significado enfrenta problemas.»

(Simon Blackburn, Dicionário de Filosofia, pag 320, Gradiva, 2007; o destaque a negrito é posto por mim).

 

Há aqui uma pura manipulação sofística, um pseudo raciocínio: a frase, dita por um mentiroso, é falsa se for verdadeira, é verdadeira se for falsa. É óbvio que isto é uma impossibilidade lógica: verdadeira, em que sentido? Falsa, em que sentido?  Obrigatoriamente, terá de ser em sentidos diferentes e isso Blackburn e os seus partidários não discernem e não explicam. A dialética é, para eles, estranha. A sua analítica analisa, isto é, decompõe em elementos diversos, menos do que a dialética. Blackburn não pensa dialeticamente: mistura no mesmo plano, verdade e falsidade, o que viola o princípio da não contradição.  Como é que uma frase é falsa sendo verdadeira? Está-se a confundir o fundo com a forma, o conteúdo com o continente, a locução com o locutor.

 

Trata-se de um pseudoparadoxo, o que se descobre pela aplicação do método dialético e do seu princípio «um divide-se em dois». Não existe um só enunciador da frase «Esta frase é falsa» mas dois: o mentiroso em acto e o mentiroso em potência. Se é o mentiroso em acto que diz «esta frase é falsa», a frase seria, logicamente, verdadeira, se tivesse algum conteúdo: o mentiroso em acto está obrigado a mentir. Se é o mentiroso em potência, ou seja, alguèm que no momento presente fala verdade mas que virá ou poderá vir a mentir no futuro, a frase «Esta frase é falsa», se porventura tivesse algum conteúdo, seria igualmente verdadeira, embora com conteúdo concreto diferente da frase dita pelo mentiroso em acto.

 

Quando se diz «esta frase é falsa» não se distingue entre o  triplo sentido da palavra verdade: como essência ideal, ligada a referentes ideais, teoréticos, como essência confirmada no plano da existência material e como existência linguística.

 

 

Blackburn afirma confusamente acima: «Nesse caso, consideramos a frase " Esta frase não é verdadeira" que, se nada diz, não é verdadeira e, logo, é verdadeira (a este tipo de raciocínio chama-se por vezes "o paradoxo fortalecido  do mentiroso").»

Então a frase que nada diz, não verdadeira,  é verdadeira? É pura sofística. É confundir, numa amálgama, planos distintos. Se a frase nada diz,  é falsa enquanto essência mas é verdadeira enquanto existência linguística, construção formal de palavras. A dialética, como ciência do uno, dos géneros e das espécies, impõe distinguir os vários sentidos de um mesmo conceito-termo, as várias ramificações deste, mas não é praticada por estes senhores da filosofia "analítica" que sofrem o fetichismo das palavras, os «efeitos especiais» destas, sem penetrar o sentido mais profundo de cada uma.

 

Ao considerar a frase "esta frase não é verdadeira" não se distingue, em regra, que há duas proposições dentro da mesma frase, uma que funciona como enunciado a outra como enunciador : cada proposição possui o seu domínio próprio mas o pensamento caótico, sofístico, confunde-as . Se a frase interior é falsa como essência, isto é na sua relação com o referente, a frase exterior, englobante e judicativa sobre a primeira, é verdadeira. Não há paradoxo nenhum nisto.

 

Se disser «A frase "o número atómico do oxigénio é 78"  é falsa»,  esta frase é verdadeira enquanto reportando-se a objetos reais, os átomos e os seus constituintes eletrónicos: sabe-se, de acordo com a tabela periódica dos elementos químicos, que o número atómico do oxigénio é 8. O que é falso é a frase dentro da frase ( a que está balizada por aspas: "o número atómico do oxigénio é 78", a que chamo a frase interior )  não a frase como enunciado global. Esta última só pode ser dita por alguém que fala verdade neste momento - o mentiroso em potência - e não pelo mentiroso em acto. Este dirá apenas: "o número atómico do oxigénio é 78".

 

Dizer «esta frase é falsa» pode significar: é falsa no seu conteúdo concreto mas é verdadeira enquanto invólucro externo desse conteúdo. Portanto não há aqui nenhum paradoxo, mas apenas sofisma, confusão do terreno do verdadeiro com o terreno do falso. A palavra frase é tomada, sem que as pessoas se apercebam, em dois sentidos distintos, um anterior-interior e o outro posterior-exterior, este último um juízo de verdade sobre o primeiro. Há duas frases: a primeira é "esta frase"  - uma frase oculta, com aspecto de sujeito, frase de sentido indeterminado, hermeticamente fechada como uma boneca russa dentro da outra - e a segunda é "esta frase é falsa". Ora como pode a boneca russa mais pequena fechada no interior da maior avaliar o aspecto desta? Não pode. E como pode a boneca russa maior avaliar o aspeto, o valor de verdade, da que está fechada no seu interior? Não pode.

 

Quando se diz na parte da frente da camisola " A frase na parte de trás desta camisola é falsa"  e na parte de trás se lê "A frase na parte da frente desta camisola é verdadeira" não há aqui nenhum paradoxo real. Afinal, qual é a frase em questão? É vazia. Ora o paradoxo não actua sobre o nada, só existe quando há conteúdos determinados, como por exemplo, o paradoxo «Deus ama infinitamente todas as pessoas e condena ao sofrimento eterno as que forem malvadas e impenitentes apesar de as amar». Amar e castigar eterna e inflexivelmente são contrários que se excluem no mesmo ente em relação ao mesmo objeto.

 

Diz-se que é um paradoxo o facto de o cretense Epiménides ter dito o seguinte: «Todos os cretenses são mentirosos". Não há paradoxo nenhum, porque Epiménides podia ser mentiroso ocasional - não se mente sempre, em regra - e proferir esta afirmação sendo ela verdadeira

 

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Domingo, 18 de Dezembro de 2011
A central filosófica transcendente

 

Continuamente, a central filosófica transcendente, essa «internet» noética, que atravessa o cosmos e abrange cada um de nós como um seu prolongamento- refiro-me aos que pensamos profundamente, que somos uma minoria reduzida entre os cidadãos de  um país e somos também uma minoria escassa entre os milhares de professores de filosofia nos ensinos público e privado - envia-nos ondas de reflexão que plasmamos na escrita. Eis algumas breves reflexões, relativamente comuns, se excetuarmos o que se refere à sincronicidade onomástica, que a inteligência cósmica me dispensou.

 

AS DUAS ORDENS QUE CONFLUEM EM CADA UM DE NÓS- Há duas ordens que confluem em cada ser humano: a da espiritualidade, centrada no saber teorético e na tranquilidade, e a da corporalidade, centrada no alimentar-se, vestir-se, empregar-se e ganhar dinheiro, relacionar-se sexual ou socialmente com outras pessoas, etc. Se nos entregarmos unicamente à primeira dessas ordens, a segunda começa a protestar através da fome e enfraquecimento corporal, da perda de conforto material, de contatos sociais, etc. Se nos entregamos exclusivamente à segunda, a primeira começa a turvar-se e a requerer o seu espaço. Há que equilibrar.

 

AMAR É COMO COMER - Amar é o alimento da alma e de algumas glândulas corporais. Nesse sentido, equipara-se perfeitamente a comer. Ao amarmos outra pessoa deglutimos essa pessoa no "esófago" da alma e incorporamo-la em nós. Por isso, na inflamada cena da paixão, dizemos: «Vou-te comer..» Mas se uns comem «o corpo de Cristo» na forma de hóstia, porque não havemos de comer, ainda que momentaneamente, a alma sentimental de uma pessoa que nos agrada? 

 

 AMAS? NÂO AMAS? - É tudo uma comédia. Levamos demasiado a sério o amor à pessoa A ou B, por instinto de sobrevivência: «Preciso dela ou dele...». É o nosso ego que está primeiro.Ter um parceiro certo é um sedativo, um apoio, uma massagista ou uma cortesã de cama. Nada mais. Mas isso é muito e nada...No mar dos afetos que são milhões de pessoas, a caravela do nosso "eu" tem que lançar âncora ou encontrar águas calmas e estáveis. Casamento, união amorosa duradoura - tudo biombos que nos protegem da plena abertura à luz que cega ao sairmos da caverna de nós mesmos. E os deuses são as balizas deste caótico jogo de futebol...

 

ESCRAVIDÃO - Não somos escravos do ato sexual, os que atingimos um certo promontório espiritual. Mas somos escravos da beleza, seja ela beleza de corpos, de almas, de ações, de livros e teorias, de leis e costumes, ou do Belo em Si arquetípico.

 

 A CASUALIDADE NÂO EXISTE - Milhares de exemplos extraídos quotidianamente do fluxo das notícias nos telejornais "demonstram" que a casualidade não existe. Somos governados por séries de factos que obedecem à mesma onomástica, aos mesmos sons e ideias - o que revitaliza a tese de Platão no «Crátilo» de que as palavras são pinturas do ser, da essência das coisas e a tese da sincronicidade de que «a mesma ideia ou forma se dá em simultâneo em contextos diferentes, desligados uns dos outros na aparência».

 

 

Em 29 e 30 de Março de 2012, as ideias e nomes de FRANCISCO, FRANÇA, RIBEIRO, BI, AMORIM e CASTELO estão em foco:no dia 29, o sucateiro FRANCISCO Leitão, o "rei Ghob", residente numa casa-CASTELO, é condenado pelo tribunal de Torres Novas a 25 anos de prisão pelo assassinato de duas jovens e um jovem, com ocultação de cadáveres; no dia 30, passa mais um aniversário sobre o nascimento de FRANCISCO Sabaté, «El Quico», o mais. célebre guerrilheiro antifranquista do "maquis", que na Catalunha vibrou sucessivos golpes armados, até 1960, contra a ditadura de Franco, a polícia prende 19 radicais islâmicos em FRANÇA, José RIBEIRO e CASTRO (sugere: CASTELO) é o único deputado das direitas PSD-CDS que, no parlamento, vota contra a proposta de revisão do código laboral apresentado pelo governo de Passos e Portas, o BIc de Mira Amaral assina o contrato de compra do Banco ao Estado português, o funcionário do BIngo (evoca:BI) do Benfica é assaltado por 2 homens na praceta Celestino RIBEIRO, na Cruz de Pau, sendo roubado em 5000 euros, noticia-se que Américo AMORIM, vai em breve tornar-se o novo chairman da GALP, Carlos Abreu AMORIM, deputado do PSD, reune com a Associação Nacional de Freguesias, para suavizar o impacto da lei que eliminará cerca de 1400 freguesias de Portugal.

 

Em 28 e 29 de Março de 2012, as ideias e nomes de SÂO JOSÉ e de TOLA estão em foco: um incêndio florestal assola a povoação de TOLA, em Penela, realiza-se em TOULOse (evoca: TOLA) o funeral de Moahamed Merah, membro da revolução islâmica mundial, que assassinou 3 soldados franceses e um professor e 3 alunos de uma escola judaica em Toulouse, França, o telejornal da RTP exibe professores do colégio de SÃO JOSÉ em Coimbra, preocupados com a decisão das freiras da congregação de Santa Catarina de Siena que, no dia 28, anunciaram o fecho do colégio em Junho de 2012, um telejornal noticia que Anabela Borges, de 38 anos, foi mal operada às varizes no dia de SÂO JOSÉ, 19 de Março, no hospital Garcia da Orta de Almada e, dias depois, viu ser-lhe amputada uma perna abaixo do joelho, por imperativo de sobrevivência.

 

 

Em 27 e 28 de Março de 2012, os nomes e ideias de LISTA, FARMÁCIA, META e SIM estão em foco nos noticiários televisivos: no dia 27, o 1º ministro Pedro Passos Coelho visita o porto de SINES (evoca: SIM), um incêndio eclode junto ao tribunal de SINtra (evoca: SIM), a equipa de futebol do METALIST (evoca: META e LISTA) chega a Lisboa onde irá defrontar o Sporting, a Polícia Judiciária (PJ) faz buscas em 30 FARMÁCIAS e residências numa investigação de fraude lesiva do Serviço Nacional de Saúde e concretizada através de farmácias, apreende um iate, 14 automóveis de luxo, e quadros valiosos; no dia 28, são distribuídas LISTAS telefónicas da Portugal Telecom na cidade de Beja, a família luso-brasileira GraCINdo (evoca: SIM), que inclui atores de telenovelas, faz um espetáculo de rua em Póvoa de Lanhoso, Minho, em homenagem ao falecido Paulo GraCINdo cujas raízes são minhotas, a RTP1 emite o programa «Rua dos REMÉDIOS» (evoca: FARMÁCIA) que revela como toxicodependentes trocam a METAdona que lhes é dado por heroína e cocaína.

 

Em 23 e 24 de Março de 2012, as ideias e nomes de MAL, MASCARENHAS, EDUARDO e LARANJA estão em foco: no dia 23, eclode um golpe militar no MALi (evoca: MAL), noticia-se que José Vaz de MASCARENHAS (evoca: ), o telejornal da TVI exibe EDUARDO MASCARENHAS, pai de uma criança que, supostamente, recebe maus tratos no infantário que frequenta; nos dias 23 e 24, decorre o 34º Congresso do PSD, o partido côr de LARANJA, decorre em Vidigueira, Beja, a feira alimentar-artesanal «A pão e LARANJAS» com figurantes e cenas alusivas à época de D. Manuel I e do envio da esquadra de Vasco da Gama à Índia; no dia 24, desloco-me a esta feira na Vidigueira e reencontro Joana que não me via há anos e me trata por "EDUARDO", mais de 100 voluntários do movimento "Limpar Portugal" recolhem lixo lançado sobre as rochas e terras da Boca do INFERNO (evoca: MAL), no concelho de Cascais.

 

De 18 a 20 de Março de 2012, o morfema FBI está em em foco: no dia 18, o estudante FáBIo (sugere: FBI) Palma, de Baleizão, cumpre aniversário; no dia 20, é exibido em Beja, em sessão única, o filme «J. Edgar» sobre a vida de J.Edgar Hoover, o fundador do FBI, a polícia de investigação criminal dos EUA

 

 

Em 18 e 19 de Março de 2012, BARBOSA e BRANCO e FORTE em foco: no dia 18, o telejornal da SIC exibe uma Grande Reportagem sobre jovens que têm 20 anos de idade em 2012, na qual Maria Teresa BARBOSA, atriz de teatro, de 20 anos, declara que «hoje há uma banalização do sexo entre os adolescentes, as pessoas oferecem-se muito (no plano corporal íntimo)», 37 ativistas do grupo Damas de BRANCO que exigem a libertação dos presos políticos em Cuba, são detidas pela polícia em Havana, a nova Cidadela de Cascais, Pousada de Cascais do grupo Pestana, na antiga FORTALEZA (evoca: FORTE) de Nossa Senhora da Luz, abre as suas portas ao público; no dia 19, o Presidente do Automóvel Clube de Portugal (ACP), Carlos BARBOSA, declara ser “despropositado” e incompreensível o novo aumento do preço dos combustíveis que entra hoje em vigor e diz esperar que o ministro da Economia lhe explique as razões porque diz que «Nem eu nem nenhum português entende como é que em 2008 o barril de Brent estava "a 160 dólares e nós tínhamos combustível mais barato, ao passo que hoje o preço do barril é de 124,98 dólares», António BARBOSA e os restantes membros da Comissão de Trabalhadores dos Estaleiros de Viana do Castelo ouvem da boca do ministro da Defesa, Aguiar BRANCO, o plano de privatização dos Estaleiros que o governo levará a cabo, José Luis FORTES, Inspetor Geral do Trabalho, declara aos media que o acosso sexual e moral nas empresas e serviços tem vindo a aumentar.

 

Em 18 e 19 de Dezembro de 2011, os nomes de DOMINGOS e VÍTOR estão em foco: no dia 18, o Sporting Clube de Portugal, treinado por DOMINGOS Paciência, perde 2 pontos ao jogar contra a Académica, em Coimbra; no dia 19, o ex diretor-geral do Fundo Monetário Internacional, DOMINIQUE Strauss Kahn, volta à vida pública num evento em Pequim, onde exprime críticas ao presidente francês e à chanceler alemã, e compara o euro a uma jangada prestes a afundar-se, VÍTOR Constâncio declara ser impensável a dissolução do euro, VÍTOR Bento, em entrevista a «Público», afirma «Sou contra a saída do euro, mas o país deve discutir esse assunto.»

 

 

 

Em 16 de Dezembro de 2011, CINCO, TREZE E RIO em foco: de manhã, a torre CINCO de TREZE pisos do bairro do Aleixo na cidade do Porto é implodida por mais de 150 explosivos num espetáculo presenciado pelo presidente da câmara do Porto, Rui RIO, num barco sobre o RIO Douro, à noite, o Benfica vence por CINCO golos contra um o RIO Ave, de Vila do Conde, na jornada TREZE da Liga de Clubes.

 

 Em 14 e 15 de Dezembro de 2011, INSPETOR DA PJ, ALBERGUE, ROXO e LETRAS em foco: no dia 14, um INSPETOR da PJ é baleado numa perna por um traficante de armas que foge de automóvel, junto às portagens de ALBERGARIA-A-Velha (evoca: ALBERGUE) na A1, é posto à venda mais um número, desta vez com capa de cor ROXA, da revista "Interage" dos professores da Escola Secundária Diogo de Gouveia, em Beja, o advogado Ricardo Sá Fernandes acusa de incompetência o INSPETOR DA PJ João ROUXInol (evoca: ROXO) em sessão do caso desaparecimento de Rui Pedro no tribunal de Lousada; no dia 15, cumprem aniversário a professora bejense Manuela LETRAS e o poeta, homem de LETRAS e professor de matemática José António Martinho Marques, natural de ALBERnoa (evoca: ALBERGUE), Beja.

 

Em 11 e 12 de Dezembro de 2011, CARDOSO, MAR e PALMA em foco: de madrugada, José Rui CARDOSO, operário da construção civil, é morto à facada em Fânzeres, GondoMAR, e à noite, Oscar CARDOZO marca o único golo do jogo entre o MARítimo e o Benfica, no Funchal; no dia 12, a Casa Real espanhola considera que o comportamento do genro de Juan Carlos, Iñaki Urdangarín, investigado por alegados delitos de falsificação de documentos, prevaricação, fraude e desvio de fundos públicos, não parece ser exemplar e anunciou que o duque de PALMA deixará de participar em actividades oficiais, o jornalista João PALMA Ferreira fala na SICN.

NOTA: O rosto de José Rui CARDOSO - fotografia no «Correio da Manhã» de 12 de Dezembro - é muito parecido com o do futebolista CARDOZO, o que é notável como analogia.
 
Em 10 e 11 de Dezembro de 2011, as ideias de MOURO, A LIDERAR BRANCOS E NU em foco: no dia 10, o Real Madrid, clube de equipamento BRANCO, treinado por José MOURINHO (evoca: MOURO) é vencido por 1-3 pelo Barcelona FC, clube que tem o estádio de Camp NOU (evoca: NU); no dia 11, devido a avaria num avião Falcon, o ministro da Defesa José Pedro AGUIAR-BRANCO e a sua comitiva ficam retidos em NOUakchott (evoca: ), capital da MAURItânia (evoca: MOURO), onde termina uma reunião da iniciativa 5 + 5, os telejormais mostram um ladrão a conduzir a carrinha roubada nos EUA.

AGUIAR BRANCO na MAURITÂNIA sugere... MOURINHO A GUIAR OS (JOGADORES) DE BRANCO. Não é curioso que no espaço de poucos horas ambos sofram percalços?

 

  

Em 9 e 10 de Dezembro de 2011, RICARDO, AMARAL/TAMARA, GIL e 22 em foco: no dia 9, RICARDO AMARAL, tenente da Força Aérea que pilotou o helicóptero que salvou 6 pescadores de Caxinas, em 2-12 (sugere: 22), é homenageado em Viseu, o BIC de Mira AMARAL compra o BPN, GIL Garcia, líder da minoria revolucionária do Bloco de Esquerda, anuncia que vai abandonar este com 200 militantes; no dia 10, o jornalista RICARDO Jorge Pinto comenta a situação europeia no programa «Bom dia Portugal» da RTP-1, Miguel Gonçalves, coordenador da Sociedade Planetária, fala na RTP1 do planeta Kepler 22-b, bastante similar à Terra na sua posição em torno de uma estrela, eu como TÂMARAS (evoca: AMARAL), João Vasconcelos, da comissão de utentes da A 22, no Algarve, apela ao não pagamento de portagens nessa via, num telejornal, chega ao fim a era GILberto Madaíl como presidente da Federação Portuguesa de Futebol.
 
Em 8 e 9 de Dezembro de 2011, as ideias de CUBO, CARVALHO, VILA e BELO em foco: no dia 8, às 0.30 horas, um grupo com cerca de 20 jovens, todos entre os 18 e 20 anos, envolve-se num cenário de pancadaria à porta da discoteca BBC, em BELÉM (evoca:BELO), Lisboa, um homem de 67 anos é encontrado morto com um tiro na cabeça em CUBOS, Mangualde, o Vaticano anuncia para breve uma visita do papa a CUBA, o professor da ESDG Fernando VILAS CARVALHEIRAS cumpre aniversário; no dia 9, o telejornal da SIC noticia que a teleportagem na A 25 em VILAR (evoca: VILA) FORMOSO (evoca: BELO) não funcionou na véspera e noticia ainda que, em 14 de Novembro, o médico anestesista Mário CARVALHO fez anestesias em 17 operações cirúrgicas, algumas em simultâneo, no Hospital de Braga, o que é ilegal.

 

 

BONDADE DA CRISE: DIMINUIR A VACINAÇÃO - «Não faz sentido fazer 3 doses da vacina da meningite C - diz Francisco George, diretor-geral de saúde a um telejornal - porque só houve 6 casos em adultos em Portugal.» Eis uma confissão dos vacinadores: as vacinas não servem para nada. Só têm sido incentivadas porque os laboratórios farmacêuticos faturam milhões de dólares ou euros junto do Estado ao vender a este o pus de animais doentes batizado com o nome de «vacina» que o povo ignorante e estúpido aceita.

 

 

A factualidade abundante, que a história quotidianamente nos traz, permite-nos erguer torres de teorias filosóficas. Ninguém diga, com propriedade, que a filosofia nada tem a ver com o mundo empírico, uma vez que ela é, em grande parte, uma abstração deste após imergir sensorialmente nele.    

 

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Segunda-feira, 7 de Março de 2011
Equívocos de Rambaldi sobre o Pirronismo e a Teoria Conjecturalista de Popper

 

Em «Oposição/ Contradição», um artigo muito interessante sobre a dialéctica, Enrico Rambaldi desenvolveu variados equívocos.  Passemos a analisar alguns.

 

O REALISMO DA CONTRADIÇÃO NÃO É EXCLUSIVO DA DIALÉCTICA (INTERNALISTA) 

 

Após descartar o senso comum por rejeitar a racionalidade da existência de contradições e oposições e "não ser significativo", Rambaldi escreve:

 

«Entre os modos de entender a oposição e a contradição que, pelo contrário, são significativos, um é o de evidenciá-las, para negar que seja possível um juízo de verdade, ou para contradizer um discurso e sobre ele construir outro; um segundo é o de analisá-las para delimitar o campo do saber; um terceiro, realista, é o de considerá-las o motor de todo o desenvolvimento.» (Enrico Rambaldi, Oposição/Contradição, Enciclopédia Einaudi, volume 10, pag 45, Casa da Moeda).

 

Esta distinção está confusa: há realismo da contradição - ou seja existência autónoma desta, fora da mente humana - tanto na segunda posição como na terceira, esta última heraclitiana/ hegeliana /marxista. O realismo não pode restringir-se à doutrina que coloca a contradição como motor interno de desenvolvimento de todos os entes e processos. É realista também a doutrina que reconhece a contradição como forma externa às coisas e entre estas mas não situada na essência interna de cada coisa.

 

Quanto ao cepticismo, não se trata de privação absoluta: o cepticismo apenas nos priva da certeza ontológica, mas não da imagem sensorial gnoseológica. Assim, o céptico possui algo, a verdade da aparência em si mesma e a dúvida metódica sobre a meta-aparência, a essência oculta, o ser do fenómeno.

 

O CEPTICISMO PIRRÓNICO É SUBJECTIVISMO RADICAL NEGATIVO? E O CONJECTURALISMO DE POPPER É SUBJECTIVISMO MODERADO CONSTRUTIVO?

 

Rambaldi designa o cepticismo de subjectivismo radical negativo:

 

«Subjectivismo radical negativo»

«(...) Na sua forma mais rigorosa (pirronismo), o cepticismo não deixa qualquer possibilidade de que este ou aquele juízo possa, mesmo fortuitamente, ser verdadeiro, mas demonstra , pelo contrário,  a necessidade da dúvida universal. » (Enrico Rambaldi, Oposição/Contradição, Enciclopédia Einaudi, volume 10, pag 45-46, Casa da Moeda; o negrito é colocado por mim).

 

Esta definição de cepticismo é parcialmente errónea: o cepticismo comporta juízos verdadeiros, para o cepticismo pirrónico o juízo «sinto calor neste dia de verão» é verdadeiro, porque se reporta a sensações, a percepções empíricas. Para os cépticos, a dúvida não é universal no sentido de extensão total, de abrangente de todo o tipo de representação e ideação. A dúvida hiperbólica desenvolvida por Descartes, essa sim, foi total, mas não coincide com o pirronismo. Descartes duvidou das percepções empíricas, do "eu", de tudo, Pirron duvidou só do lado oculto, física ou especulativamente falando.

 

Na verdade, o cepticismo pirrónico não é um subjectivismo radical negativo: Pirrón não negava que vissemos o céu como azul e sentíssemos como salgada a água do mar, simplesmente negava que pudéssemos saber (intelectualmente ou sensório-idealmente)  o que é o sabor salgado e se a côr existe mesmo no céu ou não. É um objectivismo antimetafísico e anti-racionalista: objectivismo no seu duplo sentido, porque a doutrina é perfilhada por muitos e porque capta o objecto exterior tal como é, na sua aparência visível e palpável; anti-racionalismo porque nega à razão o poder de arquitectar certezas por si mesma, para além da evidência sensorial E a teoria de Popper de que «as ciências são conjuntos de conjecturas, inverificáveis como teses» não é, senão, um cepticismo pirrónico.

 

Rodolfo Mondolfo escreveu:

 

«Os primeiros cépticos, PIRRÓN e TIMÓN, colocam três problemas capitais para o sábio: qual é a natureza das coisas; que atitude devemos assumir face a elas; que resultará dessa atitude. À primeira questão respondem (desenvolvendo motivos do relativismo de Heráclito e de Protágoras): só conhecemos o que sentimos; podemos afirmar que o fenómeno tal como nos aparece, por exemplo que o mel nos parece doce, mas que tal seja o seu ser em si. E por isso, a resposta à segunda questão é que devemos reconhecer e seguir os fenómenos, mas suspender o juízo sobre o que está oculto (a coisa em si); desta maneira temos no fenómeno o critério necessário para a conduta prática, sem possuir o inalcançável critério da verdade objectiva.» ( Rodolfo Mondolfo, Breve Historia del pensamento antiguo, Editorial Losada, pág 75, Buenos Aires, 1953; o negrito é posto por mim).

 

E Rambaldi classifica, de forma errónea, a teoria das conjunturas e refutações de Karl Popper de subjectivismo moderado construtivo:

 

«1.2 Subjectivismo moderado construtivo»

«Nem todas as perspectivas que excluem (ou se recusam a examinar a examinar se) os conceitos podem recapitular o mundo exterior implicam, no entanto, um tal pessimismo. Existem, pelo contrário, algumas que desenvolvem um uso heurístico positivo de contradições e oposições. Assim, Popper critica grande parte da epistemologia sua contemporânea porque ela lhes não concedia espaço adequado.» (Enrico Rambaldi, Oposição/Contradição, Enciclopédia Einaudi, volume 10, pag 46, Casa da Moeda; o negrito é colocado por mim).

 

Popper não é, em termos de princípio filosófico, mais construtivo do que Pirron ou Carnéades, autor do probabilismo, um cepticismo diferencial. Sucede que Popper é um céptico pragmático e, como tal, valoriza a acção, os exemplos corroborados, mas nega certeza a qualquer doutrina científica fundada na indução, excepto à matemática e à ontologia realista (o mundo material subsiste fora do meu espírito). Não há, pois, razão para esta distinção entre subjectivismo radical negativo e subjectivismo moderado construtivo, quando se põe Pirron num prato da balança e Popper no outro. Decerto, a obra de Popper é muito mais substancial do que a de Pirron mas a posição filosófica é, talvez salvo uma ou outra diferença, a mesma: cepticismo.

 

Nem o cepticismo pirrónico clássico nem a teoria de Popper são espécies do género subjectivismo. Subjectivismo pertence ao género "número de sujeitos que perfilham uma doutrina" e cepticismo é espécie do género «grau de certeza de uma doutrina».

 

 www.filosofar.blogs.sapo.pt
f.limpo.queiroz@sapo.pt

 

© (Direitos de autor para Francisco Limpo de Faria Queiroz)

 



publicado por Francisco Limpo Queiroz às 16:48
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