Nas 514 páginas do Guião «Conhecimento, Género e Cidadania no Ensino Superior» da autoria de Cristina C. Vieira (Coord.), Conceição Nogueira, Fernanda Henriques, Fernando M. Marques, Filipa Lowndes Vicente, Filomena Teixeira, Lina Coelho, Madalena Duarte, Maria Helena Dias Loureiro, Paula Silva, Rosa Monteiro,Teresa-Cláudia Tavares,Teresa Pinto, Teresa Toldy, Virgínia Ferreira não há uma definição clara e precisa do que se entende por género. O documento proposto aos professores pelo Ministério da Educação é anticientífico na medida em que é impreciso, confuso, embora animado do propósito nobre de proteger as mulheres, os homossexuais, os bissexuais e os transexuais da violência machista. Lê-se no Guião:
«No campo da psicologia, e no âmbito de uma tentativa de compreensão do comportamento dos homens e das mulheres ao longo do ciclo de vida, uma das visões mais consensuais do conceito de género foi influenciada pelos trabalhos de Janet Spence (1985; 1993), que o considera de natureza multidimensional e o explica recorrendo aos princípios do desenvolvimento humano. Quer isto dizer que ao falarmos de género nos referimos a um conjunto de componentes, que incluem, para citar apenas algumas, a identidade de género, a orientação sexual, os papéis de género, as características da personalidade, as competências pessoais e os interesses.» (Guião «Conhecimento, Género e Cidadania no Ensino Secundário», pág. 25; o destaque a negrito é posto por nós).
Esta definição não é concreta. clara. E é parcialmente tautológica quando diz que género inclui a identidade de género e os papéis de género. O que é o género, afinal?
Noutros pontos do Guião denuncia-se a visão estereotipada do género mas nunca se diz qual é a visão correcta de género:
«Além disso, os traços avaliados como positivos nas mulheres envolviam,sobretudo, o seu relacionamento com as outras pessoas, como o ser afectuosa, meiga ou sensível características estas que habitualmente integram a visão estereotipada de feminilidade. Nos homens eram mais valorizados aspetos como o ser audacioso, independente ou empreendedor, os quais caracterizam a visão estereotipada de masculinidade. »(Guião «Conhecimento, Género e Cidadania no Ensino Secundário», pág. 38)
«Robert Smith (2010), por exemplo, fez um estudo onde alertou para a necessidade de analisar detalhadamente a forma como o arquétipo masculino influencia as oportunidades para mulheres e homens se envolverem em iniciativas empreendedoras e o prejuízo que isso representa para as mulheres. O autor considera o machismo, o heroísmo e o excessivo assumir de risco bem como o hedonismo, a arrogância e a superconfiança como elementos constitutivos dos discursos sociais acerca “do empreendedor” (Smith,2010). Também num estudo com estudantes do ensino superior, em Portugal, concluiu-se que existe uma valorização de atributos como liderança, dinamismo e criatividade ou inovação, associados à ideologia Schumpeteriana de empreendedorismo. Verificou-se também uma associação entre atributos do “empreendedorismo” e atributos estereotipadamente masculinos; emergiu maior heterogeneidade nas representações de mulher empreendedora pela evocação de atributos associados ao estereótipo de feminilidade (simpatia, beleza, elegância, vaidade) (Rosa Monteiro, Catarina Silveiro e Fernanda Daniel, 2015). Importa perceber que se trata de facto de estereótipos e representações associadas a homens e mulheres, com impactos muito nefastos sobre as oportunidades e escolhas de uns e outras. É fundamental desmontar estas concepções estereotipadas e polarizadoras que afastam as mulheres simbólica e concretamente do empreendedorismo, porque o associam a caraterísticas supostamente masculinas. Na discussão deste assunto importa recuperar exercícios de desconstrução de estereótipos de género e da divisão polarizadora e dicotómica entre masculino e feminino, de forma a compreender que a atividade empreendedora... (Guião «Conhecimento, Género e Cidadania no Ensino Secundário», pág. 487; o destaque a negrito é posto por nós).
Abolir a distinção entre masculino e feminino é tão ridículo como abolir a distinção entre diabético e não diabético ou abolir a distinção entre patrão e operário...Será um estereótipo sustentar que a maquilhagem é uma tendência predominantemente feminina e o uso da barba uma tendência masculina?
Deixemos algumas perguntas a que o Guião e os teóricos em que se apoia parecem incapazes de responder:
- Um casal gay a que género pertence? Masculino ou feminino? Se um dos gays é sempre o parceiro activo na união física pode ser considerado de género masculino e o outro, o passivo, de género feminino?
-Um rapaz que se traveste e mantém exclusivamente relações sexuais com mulheres, rejeitando a homossexualidade, de que género é: masculino ou feminino?
Ao apagar as diferenças psicossomáticas entre homem e mulher, classificando-as como visões estereotipadas, os teóricos da ideologia de género estão apenas a tentar criar cidadãos amorfos, abertos a todo o tipo de práticas sexuais, sem censura, exceptuando a pedofilia, bem entendido.
A noção de género não deveria referir-se à dicotomia masculino-feminino porque essa é um subgénero, isto é, uma espécie dentro de um de seis géneros, o heterossexual. Os géneros são: género heterossexual, género autosexual ou autoerótico, género bissexual, género homossexual, género transexual, género assexual. Esta classificação não é teorizada nem sequer abordada no «Guião» dominado por um confuso ecletismo.
Género deve pois definir-se em função da orientação sexual, secundarizando as características que lhe são associadas (os papéis sociais, o tipo de vestuário, os orgãos genitais, etc.). O Guião é incapaz de definir a contradição principal nas componentes que faz entrar no conceito confuso de género. De facto, o aspecto dominante é a orientação sexual e não a dicotomia masculino-feminino sem embargo de esta vigorar no seio do género heterossexual.
O lema «igualdade de género» assenta no «políticamente correcto», em nome da tolerância desculpa e nivela todos os gostos, mas não traduz os diferentes graus de verdade biopsicológica inerentes aos diversos comportamentos sexuais: o sexo anal é impróprio porque causa endocardite bacteriana, uma doença do coração resultante da migração para o coração das bactérias fecais que atravessam a parede do intestino, arranhada por um orgão sexual; o acto heterossexual com penetração da vagina pelo pénis é o mais natural e apropriado à biologia. Não se pode fugir a isto por mais «inventivos» que sejam os amantes.
© (Direitos de autor para Francisco Limpo de Faria Queiroz)
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