José Antonio Fortea, sacerdote católico exorcista, nascido em Barbastro, nordeste de Espanha, em 11 de Outubro de 1968, a terra do padre José María Escrivá de Balaguer, teoriza sobre o demónio e o inferno. Analisemos algumas das suas teses.
O TEMOR DO DEMÓNIO NÃO TEM SENTIDO?
Em um esforço para apagar ontologicamente o poder do demónio e o correspondente medo que causa nos seres humanos escreveu:
«O temor do demónio deve-se aos males que nos possa causar na vida material (doenças, desgraças) ou na vida espiritual (fazer-nos pecar ou condenar-nos). Mas tais males não estão na sua mão. As desgraças e doenças só nos acontecerão se Deus permite, e o pecado e a condenação só se nós queremos. Portanto, o temor do demónio não tem sentido, pois tudo está nas mãos de Deus. O temor do demónio é, portanto, teologicamente infundado, não tem sentido. Com Deus, não há razão para temer o demónio. Portanto, ser crente e temer o demónio supõe uma contradição.»
(José Antonio Fortea, Suma Daemoniaca, Tratado de Demonologia e Manual de Exorcistas, Paulus Editora, Junho de 2018, pág. 88; o destaque a negrito é posto por nós).
Parece-nos que isto contradiz a 1ª Carta de São Pedro (5-8) em que o apóstolo diz:
«Sede sóbrios e vigiai! O Diabo, vosso adversário, anda ao redor de vós, como um leão que ruge, buscando a quem devorar. Resisti-lhe firmes na fé, sabendo que os vossos irmãos, que estão espalhados pelo mundo, sofrem as mesmas aflições».
NO INFERNO, SÓ HÁ O FOGO DO REMORSO?
E sobre o inferno escreve o padre Fortea:
«Questão 95 -Que penas há no inferno?»
«Existe fogo? Sim, existe o fogo do remorso. Fogo material, não, pois os demónios não estão em nenhum lugar, nem nenhum castigo corporal lhes pode já causar dano.
«Este remorso que já nada pode apagar, que arde no interior de cada espírito condenado, que atormenta espiritualmente os espíritos, é o fogo que não se apaga (Marcos 9,48), o fogo eterno (Mateus 25,41), a fornalha de fogo (Mateus, 13, 42), o fogo ardente (Hebreus 10, 27) o lago de fogo e enxofre (Apóstolos 19,20), a Geena do fogo (Marcos 5,22), a chama que atormenta (Lucas, 16,25). (...)
«Ao falar da condenação, a Bíblia não apresenta Deus como o torturador. Usa termos impessoais como fogo, trevas, ou lago de enxofre. A condenação, portanto, é o afastamento de Deus e é a tortura que cada espírito aplica a si próprio pela deformação do espírito. Deus não criou os sofrimentos infernais, o inferno é fruto da deformação de cada espírito.»
(José Antonio Fortea, Suma Daemoniaca, Tratado de Demonologia e Manual de Exorcistas, Paulus Editora, Junho de 2018, pág. 111; o destaque a negrito é posto por nós).
Esta descrição suavizadora, quase diria subjectivista do inferno não coincide com o mar de fogo pejado de demónios com formas horríveis e corpos humanos a arder que os pastorinhos terão visto na Cova da Iria em 13 de Julho de 1917 em visão facultada por Nossa Senhora.
OS DEMÓNIOS GOZAM A FELICIDADE DE EXISTIR?
José Antonio Fortea sustenta que os demónios, na sua fealdade e malícia, dão glória a Deus e gozam da felicidade no seu grau mais baixo que é a sensação de existir:
«Os demónios, como se disse, mostram a justiça terrível de Deus, mostram a sua santidade e a sua sabedoria ao criar tal ordem na Criação. Uma ordem tão perfeita que nem o mal pode destruir arquitectura tão divina. Teria sido preferível que não existisse o mal, mas existindo embeleza a catedral disposta pela mente da Santíssima Trindade .A catedral tem as suas altas torres, mas também as suas criptas e lúgubres subterrâneos» (...)
«E, voltando à férrea lógica dos conceitos teológicos, há também que considerar que os demónios não sofrem em todos e em cada um dos momentos. Inclusive, eles gozam do dom da existência. A existência é um dom. E embora sofrendo em muitos momentos, embora vivendo uma vida afastados de Deus, os demónios gozam do grau mais baixo de felicidade, a felicidade de existir. Sofrem em muitos momentos, mas noutros gozam da potência racional do conhecimento. De maneira que, inclusivamente para eles, é preferível existir a não existir.»
(José Antonio Fortea, Suma Daemoniaca, Tratado de Demonologia e Manual de Exorcistas, Paulus Editora, Junho de 2018, pág. 107; o destaque a negrito é posto por nós).
Eis uma questão filosófica a que os suicidas respondem de uma maneira particular: não existir, que implica não sofrer, é pior do que existir sofrendo de forma lancinante?
UM CASO QUE PROVA A EFICÁCIA DO EXORCISMO
Os filmes sobre exorcismos têm, segundo o padre Fortea, a virtude de mostrar a realidade da possessão diabólica, ainda que em alguns casos não espelhem a verdade toda. Escreve:
«Muito diferente foi o caso da possessão de Mount Rainier em 1949, o qual teve um final muito diferente daquele que aparece no filme. Um final tão extraordinário que se optou por não o pôr, já que se considerou que ninguém iria acreditar. A libertação do demónio na última sessão foi assim:
«O demónio que falava através do menino com uma voz horrível cheia de ódio disse: "Não irei sem que seja pronunciada certa palavra mas o menino jamais a dirà (...) Não é suficiente, deve dizer uma grande palavra, refiro-me a uma grande palavra. Nunca direi essa palavra, nunca direi essa palavra."
«O exorcismo prosseguiu e, de repente, o menino falou com uma voz num tom tão autoritário como digno. O possesso disse: "Sou São Miguel e ordeno-te, Satã, que abandones o corpo no nome de Dominus, imediatamente, agora,agora".
«Dominus em latim significa "Senhor". Ouviu-se um som que descreveram como uma detonação muito forte e que foi ouvida por muitas pessoas no hospital dos Irmãos de Santo Aleixo, em S.Louis; pessoas que não sabiam que se estava a fazer um exorcismo, trabalhadores que inclusive estavam nas oficinas do hospital. Nesse momento o possesso ficou liberto e voltou a si.»
«O menino não se lembrava de nada, mas lembrava-se de uma visão de São Miguel a lutar com Satanás. Curiosamente, nesse mesmo dia, à mesma hora que o demónio saiu, essa mesma visão foi vista no outro lado da cidade, na igreja de São Francisco Xavier, por vários sacerdotes jesuítas, que afirmam ter visto subitamente uma luz intensa que iluminou o altar principal e a abóbada sobre o altar, e na qual se via São Miguel a lutar com Satã».»
(José Antonio Fortea, Suma Daemoniaca, Tratado de Demonologia e Manual de Exorcistas, Paulus Editora, Junho de 2018, pp. 241- 242; o destaque a negrito é posto por nós).
O ANTICRISTO NÃO É O DEMÓNIO
A distinção entre o Anticristo, a Besta o Dragão/ Serpente nos evangelhos e do Apocalipse de São João é frisada por José Antonio Fortea:
Questão 87: A besta do Apocalipse é o Diabo?
«Não, o Apocalipse distingue muito bem entre três figuras: o AntiCristo, a Besta e o Dragão (ou Serpente). O Anticristo é um homem, a Besta é um poder político que leva a guerra aos confins do mundo, e o Dragão (ou Serpente) é o Diabo».
(José Antonio Fortea, Suma Daemoniaca, Tratado de Demonologia e Manual de Exorcistas, Paulus Editora, Junho de 2018, pág. 104 ; o destaque a negrito é posto por nós).
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