Popper era um céptico que dava uma no cravo e outra na ferradura, isto é, uma no cepticismo e outra no dogmatismo. Pregava um cepticismo pirrónico - não podemos estar certos de nada, além das aparências dos sentidos - e um dogmatismo simultâneo - exemplos: aceitamos provisoriamente que a tabela periódica dos elementos é verdadeira, que o evolucionismo de Darwin é verdadeiro, que a escatologia marxista de que o comunismo é o fim da história é falsa, etc. Escreveu:
«Estamos, pois, constantemente, em busca de uma teoria verdadeira (uma teoria verdadeira e relevante) ainda que não possamos nunca dar razões (razões positivas) para mostrar que encontrámos realmente a teoria verdadeira que buscávamos. Ao mesmo tempo, podemos ter boas razões - isto é, boas razões críticas - para pensar que aprendemos algo de importante: que progredimos em direcção à verdade.» (Karl Popper, O realismo e o objectivo da ciência, Lisboa, Publicações Dom Quixote, pp 57)
Em termos simples, Popper dizia que a melhor teoria não é a verdadeira, porque a verdade é inatingível, mas a que mais se aproxima da verdade. Se não podemos nunca demonstrar que encontramos a verdade, como podemos falar de «progresso em direcção à verdade»? Não podemos. Seria preciso acreditar que tal tese, tal modelo é a verdade. Mas esta está encoberta por um nevoeiro invencível, de acordo com Popper.
Há em Popper a mesma incoerência que em Kant: este pensava o númeno ou coisa em si incognoscível - equivalente à verdade em Popper - mas dizia ser impossível demonstrar que há númeno - tese equivalente ao cepticismo pirrónico de Popper. É como um corredor de bicicleta que vê a meta e se aproxima dela mas diz que nunca lá consegue chegar porque não a vê nem conhece exactamente onde se situa.
in «Dicionário de Filosofia e Ontologia, Dialética e equívocos dos filósofos», de Francisco Queiroz, pags 510-511
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